Autistas na População em Situação de Rua no Brasil

Este artigo apresenta o trabalho conjunto entre o Autistão e o MNPR para dar visibilidade e garantir direitos a pessoas autistas em situação de rua.

No mesmo movimento, relatamos o Seminário Internacional “População em Situação de Rua: cuidado integral e direitos já! (Fiocruz Brasília, 22–23/10/2025), onde entregamos o projeto à Ministra dos Direitos Humanos e dialogamos com gestores públicos, pesquisadores e movimentos sociais.


Parte A — Nosso projeto Autistão–MNPR (‘Zero Autistas nas Ruas’)

Vídeo introdutório: projeto Autistão–MNPR e a Embaixada do Autistão em Brasília

Depois da realização do seminário, foi gravado na Embaixada do Autistão em Brasília um vídeo de apresentação do projeto comum “Zero Autistas nas Ruas”, que tem como objetivo apoiar pessoas autistas em situação de rua, em cooperação entre a Organização Diplomática do Autistão e o MNPR.

O vídeo foi realizado pelo representante do MNPR no Rio de Janeiro, nas instalações da Embaixada, e apresenta tanto o conceito do projeto quanto uma breve introdução ao espaço da Embaixada do Autistão e comentários sobre o Seminário Internacional da Fiocruz. É uma forma de contextualizar visualmente o diálogo e o compromisso entre as duas organizações.

O vídeo acima serve como introdução ao conteúdo apresentado neste relato, conectando a visão institucional do projeto Autistão–MNPR com as observações feitas durante o seminário relatado a seguir.


Documento completo do projeto Autistão–MNPR

Esses documentos foram elaborados em cooperação direta entre a Organização Diplomática do Autistão e o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), com o objetivo de orientar políticas públicas baseadas em acessibilidade, direitos humanos e participação autista.

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MNPR como parceiro natural do Autistão

O MNPR reúne legitimidade social, capilaridade e escuta direta da população em situação de rua. O Autistão aporta conhecimento específico sobre acessibilidade para pessoas autistas — inclusive as invisibilizadas nas ruas —, além de propostas concretas de políticas públicas. Em conjunto, é possível identificar, acolher e proteger pessoas autistas em situação de rua, reduzindo o sofrimento gerado pela falta de consideração ao autismo e construindo caminhos efetivos em moradia, saúde, trabalho e convivência comunitária.



Parte B — Seminário Internacional “População em Situação de Rua (Fiocruz Brasília, 22–23/10/2025): observações e registros

Como isso se conecta ao nosso projeto: o seminário foi a janela institucional para apresentar o dossiê, testar a recepção do tema “autismo–rua” e construir uma rede de contatos para implementação.

Seminário: Introdução e motivação

Relato institucional de um representante da Organização Diplomática do Autistão, participante convidado/observador, em articulação com o MNPR (Movimento Nacional da População em Situação de Rua).

Nos dias 22 e 23 de outubro de 2025, um representante da Organização Diplomática do Autistão participou, como observador e ao lado de um representante do MNPR – Movimento Nacional da População em Situação de Rua, do Seminário Internacional “Pessoas em Situação de Rua: cuidado integral e direitos já!, no auditório da Fiocruz Brasília (fiocruzbrasilia.fiocruz.br), sede pública com placas oficiais de inauguração presidencial, vinculada ao SUS e a órgãos federais.

Meses antes, Autistão e MNPR identificaram e registraram a interseção entre autismo e situação de rua — tema amplamente ignorado, com muitos autistas vivendo nas ruas sem reconhecimento. Elaborou-se conjuntamente o documento-projeto para enfrentar essa problemática; a presença no seminário teve por foco apresentar a pauta, ouvir e abrir diálogo com atores públicos e sociais.

Local, organização e participação

O evento foi organizado pelo coletivo Trilhas de Cuidado nas Ruas (trilhasdecuidadonasruas.ensp.fiocruz.br), com presenças institucionais como o Ipea e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), entre outras. Foram duas jornadas completas (aprox. 8h–18h), com pausas para refeições.

O seminário foi aberto ao público, com inscrição prévia; para pessoas em situação de rua, houve facilidades para participação mesmo sem inscrição (coerente com o propósito). As refeições foram gratuitas para todos, com prioridade de fila para a população em situação de rua (elas comiam antes). No primeiro dia, havia relativamente poucas pessoas em situação de rua; no segundo, compareceram dezenas, fortalecendo diversidade e representatividade.

 

Ambiência, acessibilidade e clima humano

Clima respeitoso, acolhedor e solidário — a conhecida “magia do Brasil”: oradores(as) muito aplaudidos(as) e público diverso (pesquisadores, docentes, representantes públicos, militantes e pessoas em situação de rua). A acessibilidade sensorial foi adequada para pessoas autistas: nem muito quente nem frio; sem som excessivo.

Uma cena marcante: um jovem em situação de rua acomodou-se discretamente, com todos os pertences, no alto do auditório — transpondo a rua para dentro do espaço, sem bloquear passagens. Em vez de incômodo, trouxe autenticidade ao propósito do encontro (inclusive com o odor natural de roupas não lavadas há algum tempo), reforçando a coerência entre tema e prática.

Autoridades presentes e entrega de documentos

No primeiro dia, esteve presente a Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, muito aplaudida.

A Ministra Macaé Evaristo, falando

O representante do Autistão, ao lado do colega do MNPR, entregou pessoalmente o documento sobre a interseção autismo–rua; a Ministra pareceu interessada no material. Recordou-se que, em 14/11/2024, durante o G20 Social no Rio de Janeiro, ela havia recebido um dossiê volumoso do Autistão (entregue em mãos, à sua saída do Museu do Amanhã). A Ministra não se lembrava disso; ainda assim, ver novamente o logotipo do Autistão pode favorecer reconhecimento institucional e continuidade do diálogo.

No segundo dia, compareceu a Secretária-Executiva do MDHC ( 2 da pasta), reforçando o caráter público e oficial dos trabalhos.

Diálogos, reações e contatos estabelecidos

As principais conversas deram-se fora das mesas (intervalos/corredores). O Autistão expôs de forma clara a pauta autismo–situação de rua. As reações foram educadas, interessadas e encorajadoras; muitos reconheceram tratar-se de um tema importante e pouco abordado e forneceram contato, o que indica interesse real.

  • Anderson Miranda (MDHC, vice-presidente CIAMP-Rua): muito solícito; contato compartilhado.
  • Joana Darc Bazílio (presidente CIAMP-Rua).
  • Gustavo Matta (docente Fiocruz): receptivo; propôs encontro posterior.
  • Marco Natalino (Ipea): muito interessado nas explicações sobre autismo; contato compartilhado.
  • Cristiane Xavier (Defensora Publica RJ / Nudedh): jà nos encontramos num evento daPop Ruano ano passado no Rio de Janeiro.
  • Luciana Ortiz (juíza federal CNJ / PopRuaJud): interesse em transições pós-prisão; o Autistão dispõe de exemplos da França, e falamos também da acessibilidade da justiça para autistas.
  • Phillippe Leite (Banco Mundial): esclareceu uma demanda de contribuição feita ao Autistão pelo Banco; contato compartilhado.
  • E mais pessoas (sem sempre lembrar o nome)

“Arte no Trecho!


“Saudade” – Jeferson Machado Luz (2025)

Depoimento: “Meu nome é Jeferson, tenho 28 anos, sou de Porto Alegre – RS. Estou há pouco tempo na situação de rua e não vou ficar muito tempo, já estou pra sair, porque sei que Deus tem um propósito pra minha vida. Hoje é dia 1 de outubro de 2025, aniversário do meu filho Jorge Vicente. Eu sinto muita saudade dele, por isso fiz esses corações partidos. Criatividade pra mim é ser diferente das coisas iguais. Eu me considero criativo, de certa forma. A pop rua precisa ser criativa, senão vira lanche. Eu não gostaria que os pesquisadores do Seminário Trilhas soubessem mais nada sobre nós, eu só queria que nos ajudassem.


“Autorretrato” – Isaías da Silva dos Santos (2025)

Depoimento: “Meu nome é Isaías, eu venho de Ilha de Itaparica, venho de Salvador. Sou artesão de rua, também gráfico, . Então eu resolvi fazer essa arte aqui porque me estimulou, é uma ocupação, , uma sinceridade que nos leva a algo de entendimento. Então eu resolvi fazer eu, porque ao invés de fazer outra pessoa, eu fico reconhecido, enquanto pessoa. Para que eles me observem com bons olhos. Então eu resolvi entrar nessa arte para que eu possa me apresentar ao público de alguma maneira.”


Autismo invisível nas pautas de rua: constatação, impacto e integração necessária

No Seminário Internacional “População em Situação de Rua: cuidado integral e direitos já! (22–23/out), o tema autismo esteve ausente nas falas públicas analisadas; a pauta foi apresentada apenas pelo representante do Autistão em interações paralelas.

Como verificamos

  • Corpus: transcrições integrais de todas as mesas e falas (manhã e tarde, 22–23/out).
  • Busca: “autismo”, “autista(s), “neurodiversidade”, “neurodivergente(s), “acessibilidade para autistas” e menções equivalentes.
  • Critério: ocorrência explícita ou implícita (ex.: protocolos, metas, orçamento, serviços dedicados).

O que encontramos

  • Nenhuma ocorrência dos termos acima nas plenárias analisadas.
  • Menções genéricas a “acessibilidade/deficiência” sem vínculo com autismo ou neurodiversidade.
  • Temas dominantes (sem interface autista): ADPF 976; Plano Ruas Visíveis; governança interfederativa; Moradia Primeiro; violência institucional; documentação/identidade; saúde/assistência; trabalho e renda; gênero e raça.

Por que isso importa

A ausência de autismo nas políticas de rua reproduz invisibilidade e alimenta uma cadeia de exclusões que pode levar à rua: incompreensão familiar → barreiras escolares → obstáculos no trabalho/serviços → perda de renda → impossibilidade de moradia → rua. Para autistas, isso produz dupla discriminação: ser autista e estar em situação de rua.

O que integrar nas políticas (sem medicalizar)

  • Acessibilidade comunicacional: linguagem direta, instruções passo-a-passo, previsibilidade de fluxos, mediação escrita/visual nos atendimentos.
  • Acessibilidade atitudinal: escuta paciente, não confrontativa, tempo ampliado de atendimento, respeito a modos de comunicação diferentes.
  • Acessibilidade sensorial e ambiental: pontos de atendimento com baixa sobrecarga sensorial (ruído, cheiros intensos, luz), espaços de espera tranquilos e previsíveis.
  • Procedimentos inclusivos SUS–SUAS–Habitação: entrada coordenada, gestão de casos e baixos requisitos (não condicionar atendimento a documentação completa; oferecer apoio para obtê-la).
  • Moradia Primeiro com suporte específico: acompanhamento que considere hiperfoco, rotinas, sensorialidade e comunicação preferida do morador.
  • Formação de equipes: conteúdos sobre autismo para eCR/APS, assistência, abordagem social, acolhimento e segurança pública (enfoque antiviolência e antiaforofobia).

Indicadores e metas sugeridos

  • Processo: % de equipes (SUS/SUAS) capacitadas em autismo; % de unidades com protocolo de acessibilidade sensorial/comunicacional implementado.
  • Acesso: tempo mediano da 1ª resposta para autistas em rua; % de atendimentos com mediação escrita/visual; % de cadastros concluídos com apoio.
  • Resultado: % de estabilização habitacional em 6/12 meses; redução de no-shows após adaptações; satisfação do usuário autista (escala simples).
  • Financiamento: linha orçamentária identificável para acessibilidade autista em rua (formação, adaptações ambientais, materiais, apoio de pares).

Identificação responsável

“Identificar autistas” não é aplicar checklists rasos. Exige observação qualificada, leitura de micro-sinais e conhecimento da natureza do autismo, evitando rótulos indevidos e estigmas. Quando houver indício, ofertar acessibilidade sem exigir rótulo formal para garantir direitos.

Distinção essencial: autismo (natureza) transtornos do autismo. Essa diferença é fundamental para políticas não-defectológicas. Entenda aqui



Transmissões e vídeos oficiais do evento

As gravações completas do Seminário Internacional “Pessoas em Situação de Rua: cuidado integral e direitos já! estão disponíveis no canal oficial da ENSP/Fiocruz no YouTube. Essas publicações registram as mesas e falas dos dois dias de atividades, incluindo as participações das autoridades, pesquisadores e representantes da população de rua.

Os vídeos são fontes valiosas para contextualizar as observações e análises aqui relatadas, permitindo ver a atmosfera humana, as reações do público e a diversidade das falas.

1) Abertura, objetivos e enquadramento

A mediação inicial apresentou o propósito do seminário: inspirar uma nova compreensão social sobre a população em situação de rua; reconhecer subjetividades, histórias e potências; inovar no cuidado integral e nas respostas intersetoriais; e influenciar políticas públicas baseadas em direitos humanos e justiça social.

Houve destaque para a participação ativa de pessoas, movimentos e instituições na construção de redes colaborativas de pertencimento, dignidade e transformação coletiva.

Mesa de honra: Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania (Macaé Evaristo), deputada federal Ana Pimentel, Secretaria Nacional de Cuidados e Família (Laís Abramo/MDS), presidência do IPEA (Luciana Servo), direção da ENSP/Fiocruz (Marcos Menezes) e CIAMP Rua (Anderson Miranda).


2) Centralidade das pessoas em situação de rua e diretrizes políticas

Moderadores e palestrantes reforçaram que as pessoas em situação de rua são sujeitos de direito e devem estar no centro da formulação e execução das políticas públicas.

Destacou-se a importância da comunicação pública e da participação social como pilares estruturantes.

Defendeu-se a criação de uma política de Estado, superando visões assistencialistas ou caritativas, com intersetorialidade real (assistência, saúde, educação, moradia, segurança, cultura, trabalho e renda) e continuidade garantida por recursos e governança adequados.


3) Intervenções institucionais – ENSP/Fiocruz, MDS e IPEA

ENSP/Fiocruz: saudou a parceria com o coletivo Trilhas do Cuidado, Fiocruz Brasília e IPEA. Enfatizou que o tema é historicamente invisibilizado e deve integrar agendas regionais e globais. Defendeu a produção de evidências científicas para combater desinformações e qualificar políticas, propondo a criação de bases integradas de dados (MDS, saúde, etc.).

MDS (Laís Abramo): apresentou a população em situação de rua como prioridade do SUAS, com ações via Centros POP, Serviço de Abordagem Social e acolhimento especializado.

Destacou a articulação com a recém-sancionada Política Nacional de Cuidados — direito a ser cuidado, a cuidar e ao autocuidado —, garantindo o direito de mães em situação de rua permanecerem com seus filhos.

Dados do CadÚnico: aproximadamente 355 mil pessoas registradas, sendo 74% beneficiárias do Bolsa Família e 7% do BPC.

Defendeu a recomposição orçamentária integral do SUAS e a vinculação constitucional de recursos para assegurar previsibilidade e expansão.

IPEA: em diálogo com movimentos, mencionou a proposta de criação de um ODS específico para a população em situação de rua, como instrumento de advocacy, monitoramento e coordenação baseada em evidências.


4) Participação social e CIAMP Rua

Anderson Miranda (CIAMP Rua): ressaltou a transversalidade das políticas e a corresponsabilização interministerial (11 conselheiros/as da sociedade civil e 11 ministérios).

Anunciou que a posse do CIAMP Rua Nacional ocorrerá na abertura da 13ª Conferência Nacional de Direitos Humanos.

Defendeu a superação da imagem do “coitadinho”: pessoas em situação de rua são cidadãos de direitos.

Apontou como prioridade a estratégia “Moradia Primeiro”, garantindo estrutura mínima (geladeira, fogão, alimentação) e monitoramento federativo contínuo.


5) Experiência internacional – Cidade do México

Apresentação da metodologia dos “4 As”:

  • Acolhimento

  • Atenção

  • Ativação (reapropriação da história e do projeto de vida)

  • Acompanhamento (apoio próximo para autonomia)

A experiência articula diversas instituições: educação, saúde, segurança, identificação civil, cultura e assistência.

Censo 2024 da Cidade do México:

1.124 pessoas em situação de rua; 86% homens; 90% entre 18 e 60 anos; menos de 1% adolescentes; 86% com algum tipo de deficiência; quase 60% com 1–10 anos nas ruas; maioria nascida na própria cidade; menos de 2% migrantes e cerca de 1,5% LGBT+.

Houve pico durante a pandemia de COVID-19, seguido de tendência de redução, monitorada por censos e equipes em campo.


6) Direito à cidade e “produção do comum”

Foco no direito à cidade, na mobilidade urbana digna (sem jornadas de quatro horas até o trabalho), em espaços urbanos não degradantes e na autoestima como dimensões de cidadania.

Defesa da incorporação das “cidadanias insurgentes” e das experiências coletivas às políticas públicas (SUAS/SUS), repensando os espaços institucionais de acolhimento com base nas necessidades reais: ter teto não é o mesmo que ter lar.


7) Estruturas, economia política e implementação

Discussão sobre os determinantes estruturais: capitalismo, desigualdade extrema, concentração de renda nos “super-ricos” e precariedade de famílias dependentes do Bolsa Família.

Reconhecimento de que políticas setoriais isoladas não resolvem o problema — é preciso articulação intersetorial e interfederativa.

“O diabo mora na implementação”: mesmo com orçamento, leis e planejamento, é necessário tempo de maturação, governança em rede e cadeias de articulação espelhando os sistemas SUS e SUAS para a política “decolar”.


8) Programas e ações locais (Fiocruz Brasília / Unopop)

Destaques:

  • Comunidade de Prática em Atenção Primária à Saúde para pessoas em situação de rua (parcerias BID/CONASEMS).

  • Supervisão clínica institucional das equipes de saúde.

  • Plano de Ação Interinstitucional – DF.

  • Capacitação de agentes de segurança pública para abordagens não punitivas (álcool e outras drogas).

  • Iniciativas premiadas pela OPAS/APS Forte (ex.: Psicoidados, 2021).

  • Revista Traços e outras experiências de geração de renda e comunicação.

O Unopop foi apresentado como um hub articulador nacional dessas práticas e parcerias.


9) Encaminhamentos e avisos finais

  • Anúncio da sistematização de 38 experiências a serem apresentadas no dia seguinte (8h–11h).

  • Agradecimentos às participações presenciais e remotas.

  • Avisos culturais e logísticos: exposição “Arte no Trecho”, atividade musical durante o almoço e banquinha de geração de renda “Irmãos de Rua”.

[Intervenant 19]
Olá, um bom dia a todas as pessoas aqui presentes e a que nos assistem através do canal da Ensp.

[Intervenant 6]
Fiocruz. Sejam todos bem-vindos. Informamos que este evento conta com intérprete de Libras e pedimos a gentileza de que todos que tiverem fala, que façam antes a sua autodescrição.

Eu me chamo Estela Santos, sou pesquisadora do Nupop, é o núcleo de população vulnerável aqui da Fiocruz Brasília, e sou coordenadora da Escola Nacional Pop Rua, e também faço parte do projeto Trilhas do Cuidado. Eu sou uma mulher branca, eu tenho 1,75 de altura, meu cabelo é curto, cacheado, meus olhos são castanhos, agora eu estou vestindo uma calça preta, uma blusa branca e um cachecol da cor verde, e é um prazer estar aqui com todos vocês. Estamos aqui hoje reunidos para o Seminário Internacional Pessoas em Situação de Rua, Cuidado Integral e Direito Já, uma realização do coletivo Trilhas de Cuidado nas Ruas, fruto da parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz, Fiocruz Brasília e Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, o IPEA.

Gostaríamos de agradecer o apoio da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, em especial para Ana Luíza Caldas, nossa parceira na realização deste evento. Neste momento, gostaríamos também de registrar nossos sinceros agradecimentos à deputada Ana Pimentel, pelo apoio fundamental à realização deste seminário e por seu compromisso com a pauta da saúde, dos direitos humanos e da população em situação de rua. Estendemos também nossos agradecimentos à Fiocruz Brasília, esta casa parceira essencial na construção deste evento e nas diversas ações do coletivo Trilhas de Cuidados na Rua.

O nosso seminário busca inspirar uma nova compreensão social sobre a população em situação de rua, reconhecendo suas subjetividades, histórias e potências, inovar nas formas de cuidado integral e nas respostas intersetoriais, influenciar políticas públicas e práticas institucionais com base nos direitos humanos e na justiça social e incluir, de forma formativa e participativa, pessoas, movimentos sociais, instituições, entidades e coletivos na construção de redes colaborativas que fortaleçam o pertencimento à dignidade e à transformação coletiva na busca da dimensão nacional e internacional pelo cuidado da pessoa em situação de rua. Para dar início ao seminário, convidamos para o dispositivo de honra e para recepcionar as autoridades convidadas, Gustavo Mata, coordenador em conjunto com Marcelo Pedra do Nupop, neste ato representando a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damasio, acompanhado da coordenadora do coletivo Trilhas do Cuidado nas Ruas, Eline Engström.

[Intervenant 19]
Convidamos a ministra de Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, a deputada federal Ana Pimentel, a secretária nacional de Cuidados e Família, Laís Abramo, neste ato representando o secretário de Assistência Social, André Quintão, a presidenta do Instituto de Pesquisa

[Intervenant 6]
e Economia Aplicada, Luciana Servo, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Sérgio Arouca, Marcos Menezes, e o nosso querido coordenador-geral do CIAMP Rua, Anderson Miranda.

[Intervenant 19]
Sejam todos bem-vindos. Se quiserem tomar seus assentos, fiquem à vontade. Passamos a palavra agora para o coordenador-geral do CIAMP Rua, Anderson Miranda.

[Intervenant 9]
Oi, bom dia a todos, a todas e a todes. A gente dá bom dia fora do microfone, para as pessoas, PCD, de baixa visão ou sem visão auditiva poder saber aonde nós estamos. Sou Anderson Miranda, negro, 1,67 metros, usando uma camisa, uma creme de saco, uma calça azul desbotada, um chapéu marrom.

Eu fico muito contente, porque assim, quando a gente entra no governo federal, muitas vezes a gente tem que seguir o rito, e quando a ministra Macaé chegou, eu pedi uma audiência, ela falou, não, eu que preciso de uma audiência com você de 15 minutos. Obrigado, viu, ministra, pela confiança. E nós sentamos e eu falei para ela, ministra, eu peço a vossa excelência que eu possa usar o meu traje.

Ela falou, você ande do jeito que você achar que você deve utilizar. Não, aqui não tem essa tuição. Então sempre eu gosto de tratar isso, porque a rua tem que ser respeitada e respeitar também.

Então, mais uma vez, gratidão, ministra, por esse carinho. Falar do Siamp Rua, eu gostaria de pedir a toda a equipe do Siamp Rua, os conselheiros, conselheiras, que ficassem de pé, por gentileza. São pessoas, organizações, movimentos, com trajetória de rua, e aí também quero pedir aos companheiros e as companheiras da população Estação de Rua que ficassem de pé, por favor, uma salva de palmas, porque é importante para nós, .

Eu tenho, obrigado, esse seminário é com nós e é para nós, , a rua sempre fala como as pessoas PCDs, como os indígenas, não falar dela sem ela, sem a participação. E quem vos fala aqui tem mais de 35 anos de trajetória de rua, vivenciei a rua há mais de 35 anos, mês de novembro, , poso o presidente Lula dia 27 de outubro, eu faço aniversário depois dele, eu completo 50 anos. Estar no governo, estar coordenando um Siamp, um comitê intersetorial de monitoramento e acompanhamento, não é uma pauta problema da assistência social, ou problema da saúde.

Ela é intersetorial. Ela é trabalho, moradia, saúde, educação, cultura, esporte, cuidados, porque a gente envelhece na situação de rua, hoje nasce na situação de rua, , cuidar das companheiras, cuidar dos companheiros, e é importante. Então esse seminário, pra nós, é fundamental, importante, trazer que população em situação de rua não é problema, é solução.

Muitas vezes nós iremos pra situação de rua por alguma questão familiar, mas sempre as pessoas falam, não, é drogadito, não, é porque tá na droga. Eu mesmo, enquanto eu vivi meus quase 30 anos em situação de rua, eu não bebia. Eu fui beber depois que eu saí da rua, porque eu perdi muitos amigos, e a situação nos levou, então a gente não criminalizar essa população, e trazer isso hoje pra dentro do viés dos direitos humanos, dentro do Ministério dos Direitos Humanos, dentro da Secretaria Nacional, , o governo, a gente sempre tinha uma coordenação, uma coordenação, uma coordenação, hoje nós temos uma diretoria que tem que cuidar dessa população, e o nosso pedido ao Presidente da República é uma Secretaria Nacional de Políticas pra População em Situação de Rua.

Que essa secretaria, que ela não tem que sair do MDHC, mas que ela tem que atuar, que os outros ministérios têm que trazer recurso, investimento, diálogo, política, , a população de rua avançou muito, porque a porta de entrada é a assistência social, sim, mas não pode só ser a assistência social, não pode só ser a saúde, tem que ser as outras políticas, e isso a nossa ministra sempre nos fala. Então o SIAMP vem pra monitorar, pra acompanhar, pra fiscalizar, pra dialogar com os estados e com municípios, pra fortalecer na política da saúde, da assistência, da educação, da moradia, moradia primeiro, não é só dar a casa, mas é garantir a estrutura dentro da casa, geladeira, fogão, comida, que ela possa acessar, esse é o nosso papel. Então esse seminário, ele traz essa importância do fortalecimento, de a gente dialogar, de conversar.

Nós vivemos muito ainda na caridade, não é no assistencialismo, o que é assistencialismo é a política, é trazer a política, é a continuidade da política, quando a gente olha no decreto. Mas trazer a política pra essa população. A gente vive muito ainda, ah, eu dei um prato de comida, agora eu vou pro céu, não é isso que nós queremos.

Ah, eu fiz isso, eu vou, não é isso mais que nós queremos. Nós queremos política pública de verdade. Então eu faço essa fala aqui com uma pessoa, com os companheiros e companheiras, a maioria das pessoas que estão aqui hoje com trajetória de rua saíram dela, e hoje são lideranças como eu, que estão representando movimento, organizações, e eu estou no governo há três anos, fortalecendo, dialogando e discutindo.

Primeira pessoa com trajetória de rua, contratada no governo federal pra atuar na política com a população em situação de rua. Eu queria começar com essa fala que pra nós é importante. O Lula não, não vou dar não, os movimentos me indicaram e a ministra Macaé garantiu a continuidade.

O CIAMP tem o seu papel, nós temos onze conselheiros titulares da sociedade civil, onze suplente, onze ministérios, que nós cobramos de cada ministério essa participação. Esse mês o CIAMP entra em eleição da sociedade civil, e a gente já tem um compromisso. A posse do CIAMP Rua Nacional será na abertura da conferência, da 13ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, pra fortalecer esse comitê, como bem a ministra disse.

Não podemos mais ficar no coitadinho, são cidadões e cidadãs de defesas, de políticas e de garantias. Parabéns ao seminário, parabéns à organização, pra nós é importante. CIAMP presente.

Obrigado, gente.

[Intervenant 12]
Com a palavra agora, Ana Pimentel. Bom dia, eu quero começar aqui saudando nossa ministra Macaé, querida ministra que veio aqui prestigiar esse evento tão importante mais uma vez, marcando o compromisso que ela tem com a luta em defesa das pessoas em situação de rua, é uma honra partilhar essa mesa, sendo mineira também, com a senhora nesse momento. Cumprimentar o Anderson, que fez uma fala, nos brindou aqui também com uma fala tão potente politicamente, e ao cumprimentá-los quero cumprimentar a mesa toda, quero também quebrando o protocolo, cumprimentar uma pessoa muito especial, que foi quem me mobilizou pra estar aqui no dia de hoje, que é a Denise, querida amiga, conterrânea de Juiz de Fora, e cumprimentando a Denise também, dá um abraço caloroso em todo mundo que tá aqui, são muitos amigos, amigas, gestores, militantes, pessoas que vêm, e nós todos e todas estamos aqui reunidos hoje pra falar de uma pauta, um tema que é tão fundamental, porque na verdade nós estamos falando de pessoas. E eu fiquei pensando, Anderson, o que eu poderia contribuir no dia de hoje? Você fez a fala já, depois que você falou, eu pensei, o que eu poderia falar, a partir de uma colocação tão forte e importante que você colocou, e acho que o tema mais necessário e fundamental da gente recolocar é a importância das políticas intersetoriais, e de nós constituirmos um projeto de país, e portanto todas as políticas, a partir da ideia, que é uma ideia radical, mas que é uma ideia fundamental, que é a defesa do direito das pessoas em situação de rua. Nós precisamos, todos os dias, nos lembrar daquilo que inclusive foi a força motora da Constituição, do Sistema Único de Saúde, é que nós precisamos defender todas as vidas, e vida com dignidade.

Nós precisamos, e nos contextos políticos que nós vivemos hoje, retomar aquilo que deveria ser óbvio, e que infelizmente não é óbvio, porque o nosso país hoje tem uma parte que optou em utilizar a violência como arma política, como método político. Nós ainda temos isso, e são as mesmas pessoas que hoje também fazem com que a defesa todos os dias da política seja a instabilidade da democracia. Nós vivemos num país que ainda hoje a nossa democracia é instável.

Nós acabamos de passar por vários capítulos, porque teve o 8 de janeiro, que foi um marco, e que ele foi contundentemente uma tentativa de golpe no nosso país, mas depois do 8 de janeiro, nós temos todas as semanas atos com tentativas de quebra da nossa democracia ainda nesse momento. Então, nós precisamos nos manter firmes e convictos de que a defesa da democracia é a nossa principal luta política da contemporaneidade. E a mais importante no dia de hoje, que é a defesa da vida, e defender as pessoas em situação de rua é a defesa mais forte da defesa da vida, porque nós conseguimos defender com dignidade as pessoas em situação de rua nos seus vários contextos, e ao afirmar isso, nós estamos defendendo um projeto de país, que é o mesmo projeto de país, e eu sempre gosto de afirmar isso, é o mesmo projeto de país que nós defendemos quando nós constituímos o Sistema Único de Saúde, que é afirmar que nós precisamos de um país em que tudo seja para todos, que aqueles e aquelas que vivem o seu cotidiano para produzir o país, eles precisam receber direitos, nós não podemos aceitar que as pessoas recebam violência, que as pessoas recebam exclusão, que as pessoas recebam opressão. Então, acho que essa é a mensagem que eu queria passar nessa manhã, que mais uma vez a gente esteja de maneira unificada e conjunta com a defesa das pessoas em situação de rua, a defesa da vida no seu sentido máximo, e a defesa de um projeto de país que seja radicalmente democrático, porque para as pessoas em situação de rua, a verdade é que nunca houve uma democracia completa, aliás, no nosso país nunca houve uma democracia completa, e a afirmação da defesa das pessoas em situação de rua, junto com a defesa da democracia, é a defesa contundente de um projeto de país que seja verdadeiramente igualitário, um projeto de país que seja verdadeiramente justo, e um projeto de país que seja verdadeiramente solidário. Então, viva as pessoas em situação de rua, viva um país democrático, solidário e justo, e aproveito também para fazer um cumprimento muito especial a Fiocruz, que sempre também nos coloca em encontros muito potentes e importantes, localizando os debates públicos que são necessários de serem feitos. Então, um ótimo seminário, ótimos debates, e a gente segue juntos aí nas nossas trincheiras de lutas, com amorosidade, defendendo as nossas políticas sociais e defendendo a vida das pessoas em situação de rua.

[Intervenant 6]
Por uma questão de agenda governamental, chamo agora a ministra Macaé Evaristo, para que possa partilhar conosco.

[Intervenant 11]
Bom dia, gente. Bom dia, gente. Eu quero saudar a Fiocruz por essa iniciativa, juntamente com os movimentos de população em situação de rua, fazer aqui um cumprimento à nossa deputada Ana Pimentel, que eu sei que contribuiu muito para que a gente pudesse estar aqui nesse momento.

Saudar o Anderson Miranda, , gente? Eu posso ficar aqui só saudando, porque o Anderson já falou, já deu o nosso recado. Cumprimentar a Heline, coordenadora do Trilhas do Cuidado nas Ruas, agradecer por essa parceria.

Saudar a Luciana Servo, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. Daqui a pouco eu vou fazer uma casinha de caboclo para ela. Vou cumprimentar o Marco Menezes, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Serja Arouca.

O Gustavo Mata, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e coordenador do Nupop. Laís Abramo, companheira querida na luta por uma política de cuidado nesse nosso país. E a Ana Luíza Caldas, do Ministério da Saúde, que está chegando.

Enquanto a Ana chega, eu dou meu recado aqui e peço desculpas a vocês, porque nós estamos realizando a Conferência Nacional LGBTQIA+. E quando a gente está em regime de conferência, a vida fica tumultuada, mas estamos muito felizes de iniciarmos essa conferência depois de tanto tempo sendo interditada. E a gente está aqui também tratando de um tema muito difícil ainda de ser tratado no nosso país, que é das pessoas em situação de rua.

Porque muitas vezes a situação de rua vem antes dessa palavra pessoas, porque o nosso país ainda divide muito, e olha para a rua e para as pessoas em situação de rua como se elas não tivessem humanidade. Então nós temos muitas lutas que enfrentar no campo político e, eu vou dizer, no campo humanitário, que é de sair dessa tensão entre aqueles que querem nos desumanizar e a nossa luta por trazer humanidade para toda a nossa população. E que a gente possa reconhecer os direitos.

Primeiro direito de ser, de existir, o direito de amar quem quiser. Segundo direito à vida, o direito à saúde, o direito à educação, o direito à moradia, de não ser discriminado, de não ser violentado. E a gente fala aqui, ontem, gente, nós começamos a conferência LGBT com uma notícia muito triste vindo de Belo Horizonte, do meu estado, que foi o assassinato de uma mulher trans que vivia em situação de rua em Belo Horizonte.

E foi uma coisa, eu falo que é uma cena que, infelizmente, ainda a gente precisa conviver com ela no nosso país e nós jogamos aqui um papel fundamental, todas as instituições que estão aqui, que é a luta permanente para a gente acabar com esse preconceito. Mas a gente sabe que, por trás desses preconceitos construídos, tem um projeto de sociedade, tem um projeto de país, que é um projeto de opressão, que é um projeto excludente e que não é um projeto só para o Brasil, é um projeto para o mundo. E que nós, hoje, no governo do presidente Lula, fazemos essa disputa para dentro do país, mas fazemos isso no cenário internacional.

E aí a casinha de caboclo vem aqui, viu? Porque aqui a gente tem o Anderson, que é o nosso coordenador dessa política e do Ministério da Educação. Então está ali a Malu também, que eu estou vendo, que trabalha com a gente, coordena essa política.

Mas a gente tem também o embaixador ali, que eu estou vendo, da população em situação de rua, que tem batido na tecla que a gente precisa construir um ODS da população em situação de rua. Então é por isso que eu estou olhando para o IPER e falando, vamos arrumar uma casinha de caboclo para você nos ajudar a construir, como é que nós vamos construir esse ODS? Para a população em situação de rua.

Mas a gente fala disso e basta a gente olhar para o mundo. Quem que é a população em situação de rua? Na maioria dos países são aquelas pessoas que são tratadas como os outros, aqueles que não estão dentro do escopo da colonialidade, porque nós somos imigrantes, nós somos negros, nós temos aqueles que não têm trabalho, ou supostamente não têm trabalho, aqueles que não têm os meios de produção.

E essa construção vai sendo feita em cada lugar de uma forma. Mas a gente vê, como diz o Franco Fanon, como que a gente vai criando esse lugar do colonizado, que é um lugar que não deveria nem existir, porque nossas vidas não podem existir. Então, eu saúdo a realização desse seminário, acho que temos muito o que aprofundar, transformar a situação da população em situação de rua no nosso país, mas compreender que a gente tem uma luta muito importante.

Se a gente não frear esse modo de produção capitalista, se a gente não frear essa forma de compreender o planeta, que tem como foco a exploração total, se é sugar o trabalhador até virar suco, e sugar o planeta até não existir nada, a gente não vai parar essa situação. Então, saúdo a todos vocês, dizemos que somos aliados nessa construção, vamos construir políticas para a população em situação de rua, começando com moradia, , gente? Moradia primeiro, dizer que a gente tem direito, todas as pessoas têm direito à moradia e têm direito à terra.

Um beijo grande para vocês, e a nossa equipe segue firme aí no seminário. Agradecemos.

[Intervenant 6]
Com a palavra, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Sérgio Arouca, Marcos Menezes.

[Intervenant 10]
Bom dia, bom dia a todas, todos e todes. Bom dia. Eu sou um homem branco, com cabelo preto liso, estou hoje aqui usando uma blusa azul clara, com um blazer azul escuro por cima.

Quero permitir também, vou falar aqui sentado, , quero cumprimentar aqui a mesa, primeiro aqui a ministra Macaé, é uma honra estar aqui com a senhora, cumprimentar o Anderson do CIAMP, a deputada Ana Pimentel, que é uma parceira nossa de muitas lutas, Laís Abramo do MDS, também a Luciana Servo do IPEA, a secretária Ana Caldas deve estar chegando, que é também fundamental nessa agenda, nesse processo aqui. Quero cumprimentar todas, todos e todos que estão aqui presencialmente, quem está nos acompanhando online, aqui na plateia, queria cumprimentar duas mulheres aqui, em nome de todas, todos e todos, a professora Sônia Fleury, que é uma honra tê-la aqui, e também Patrícia Canto, que é vice-presidente adjunta da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, da presidência da Fiocruz.

Então, cumprimento todos vocês, dizer que quero iniciar falando, cumprimentar o nosso coletivo Trilhas do Cuidado, pelo trabalho, toda a parceria, esse coletivo que tem a parceria fundamental da Escola Politécnica, da maior unidade da Fiocruz, da Gireb, do IPEA e de todas e todos que constroem esse coletivo no dia a dia. Eline, quero te cumprimentar, cumprimentando toda a equipe, aqui o Gustavo, a equipe da Gireb, a nossa equipe da comunicação da ENSP e da Gireb, todos os profissionais da comunicação que estão aqui, porque a comunicação, a comunicação pública é fundamental nesse momento, como sempre, ela é estruturante na implementação das políticas públicas, então cumprimentar todas e todos vocês aqui que estão fazendo esse trabalho fundamental.

Quero iniciar também, falando da alegria e do prazer de estar aqui para a nossa escola, falar aqui rapidamente, mas dizer, quem não viu ainda, poder passar ali naquela exposição que está ali, porque é sensacional a exposição, é emocionante as mensagens, as imagens, diz muito do que é esse projeto, , Eline, que vocês vêm construindo. É ciência, é arte, é movimento, são as pessoas em situação de rua que sabem da sua realidade e que fazem, e que devem ser o centro da implementação das políticas. Então queria saudar também quem organizou, quem fez, quem construiu aquela exposição ali e parabenizar de novo esse coletivo que tem sido muito importante para a implementação das políticas, mas em particular as ruas visíveis, acho que todo esse projeto aqui é fundamental para a implementação, para o avanço das ruas visíveis, nessa perspectiva dos direitos humanos e, diria também, antes da justiça, socioambiental. Eu acho que essa é uma marca muito importante, toda a organização do seminário, ele foi pensado, eu vi que vocês organizaram com todo cuidado, e a agenda traz um debate superimportante. Primeiro, essa perspectiva internacional, e fortalece várias agendas da nossa escola e da Fiocruz, .

Hoje, a nossa escola, ela é centro colaborador da Organização Mundial da Saúde, da OPAS, e da Organização Mundial da Saúde, para o fortalecimento dos sistemas de saúde. E essa agenda aqui é um grande exemplo de como a gente pode atuar e deve atuar nesse centro colaborador, numa perspectiva fundamental hoje, gente, que é dessa articulação na região das Américas, em particular aqui no Sul Global, mas na nossa América Latina. É fundamental que essa pauta seja colocada nessa perspectiva dos direitos humanos e da justiça socioambiental, como vocês vêm fazendo.

Então, acho que o seminário tem essa característica muito importante para nós. O outro é que dialoga com um setor, uma área fundamental hoje no debate com a sociedade, que é a justiça. E vocês colocaram esse debate na programação.

E, para ir fechando aqui, dizer que também na programação tem um debate fundamental hoje, que é o fortalecimento, e o governo do presidente Lula tem feito isso de uma forma muito contundente, que é da atenção primária em saúde. A secretária Ana Luísa não está aqui, mas queria já saudar também por uma grande entrega que está sendo feita à sociedade e aos movimentos sociais hoje, que é o Censo das Unidades Básicas de Saúde, e dizer que são mais de 400 mil agentes de saúde espalhados por esse Brasil. Então, é muito importante que a gente possa dialogar com essa política para avançar com a política também das ruas visíveis e todas as outras que são tão transversais e fundamentais nesse processo.

E, para finalizar aqui, queria também dizer da importância fundamental para a gente, para nós da Escola Nacional de Saúde Pública e da Fiocruz, que é esse papel fundamental hoje, da academia, das instituições de pesquisa, no fazer com a sociedade, fazer com os movimentos sociais. Então, esse aqui é um exemplo radical de como a gente deve fazer. Então, acho que esse, para mim, é a marca central desse seminário e todo o trabalho que vocês vêm fazendo.

E para dizer também que, aproveitando aqui as palavras da deputada Ana Pimentel, tudo isso que está acontecendo é fundamental, nesse momento, dizer que nós estamos num momento de um governo que defende a vida, que defende o SUS e que defende a democracia nesse país. E se tem uma questão hoje central que está sendo colocada em um debate global, mas fundamental para o nosso país hoje, que o presidente Lula tem colocado muito, que é a soberania nacional, a soberania só vai ser, de fato, avançada, concretizada e é fundamental defendê-la hoje, com democracia, mas, fundamentalmente, sem ninguém deixado para trás. Então, parabéns pela organização do seminário e vamos em frente, vamos para a luta.

Obrigado.

[Intervenant 6]
Passamos a palavra para a presidenta do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, Luciana Servo.

[Intervenant 7]
Bom dia a todos e todas. Eu sou uma mulher negra, de 1,68 metros, estou trajando a camiseta aqui do Trílias, estou com um blazer com motivos étnicos, uma camisa preta e sentada numa cadeira aqui em frente à plateia, com cabelos ondulados na altura do ombro. Eu queria começar mandando o meu abraço através da equipe para a ministra Macaé Varisto.

Eu também sou mineira, assim como a Ana, então acho que deu um trio de mineiras aqui, sou de Montes Claros, mas a Macaé é uma referência na minha vida de movimento social, inclusive, desde muito tempo, porque eu acho que política se faz na base, política se faz, de fato, na base. E a gente, às vezes, em Brasília, acaba ficando muito distante dessa base e se perdendo um pouco nessa distância. E aí eu aproveito também para cumprimentar também o Gustavo e a parceria com a Fiocruz, eu venho da área de saúde antes de assumir a presidência, 27 anos no IPEA, 20 deles na área de saúde, trabalhando com o SUS, e a Fiocruz é parceira de última hora, e eu não me canso de falar o que seria do Brasil na pandemia se não houvesse a Fiocruz e não houvesse o SUS.

Então, a gente tem sempre que lembrar disso. Cumprimentar aqui também a minha querida parceira de sempre lá, Isabramo, uma referência para a gente também, a Eline, que coordena esse projeto do Coletivo Lindo, do Trilhas, que o IPEA tem o prazer de estar junto, o Marco Menezes, e aí em nome de cumprimentar todos vocês. Eu diria que uma das questões principais é que a nossa instituição é criada há mais de 60 anos para pensar o desenvolvimento nacional, e o IPEA vem pensando o desenvolvimento nacional, mas eu acho que muito recentemente, a partir da democratização, o IPEA começa a fazer isso olhando para um olhar muito mais aberto do que essa ciência desconectada, que é uma ciência que produz publicações, mas não dialoga com o objeto e o público do seu trabalho. E a gente deve estar aqui, há duas pessoas que eu não posso deixar de agradecer, que têm isso como veia e como trabalho, que é o Marco Natalino e a Joana Mustapha, que estão aqui na plateia, eu peço parabéns para eles.

Porque eu estar no IPEA eu aprendo o tempo todo o que é que é a nossa missão, de qualificar a tomada de decisão do Estado e o debate público, e a gente tem essa veia científica na ciência, a política, a ciência da meritocracia, que é muito distante do que a gente de fato acredita, do que a gente de fato tem que fazer. E a gente também está o tempo todo, e através deles, durante a minha posse lá na presidência eu tive o prazer de ter o pessoal do movimento Pop Rui, foi um momento muito lindo, o Flávio estava lá, a Joana estava lá, e foi sensacional, e eles trazem para dentro do IPEA todo esse processo do fazer de fato, e não fazer só uma ciência desconectada da realidade. Por isso eu agradeço muito a vocês dois e toda a equipe que está trabalhando junto, porque a gente está aqui porque vocês estão e porque vocês têm essa noção do que é você ser o servidor público, que é ser uma pesquisador dentro de uma instituição como o Estado, uma instituição de Estado que tenta qualificar as políticas públicas.

Para além disso, eu acho que tem uma outra coisa, que é quando saem os primeiros números do IPEA, usando registros administrativos, que chocam pelo aumento da população de rua, isso também nos traz uma missão e um dever, não dá para a gente falar de desenvolvimento exclusivo, se a gente está falando do desenvolvimento completamente desconectado, ou pelo menos não o modelo de desenvolvimento que a gente imagina que seja um desenvolvimento inclusivo. Como é que eu vou falar de desenvolvimento se eu invisibilizo uma parcela significativa da população?

Se eu olho pela janela do carro, pelo retrovisor, sem de fato olhar e sem de fato trabalhar? E aí nesse sentido, essa conexão, e o Flávio já esteve lá no IPEA também, conversando com nossa equipe sobre os indicadores, vai estar na mesa com o Marco Natalino, ela é fundamental para a gente, de fato, entender o processo, entender a população, entender o que a gente pode chamar, de vez em quando, de público-alvo, mas que é muito mais do que isso, são agentes da política. E faz todo sentido que esses agentes da política, eles sejam, de fato, participantes na construção dessa política, e por isso que é muito importante o trabalho que o Anderson está fazendo, a abertura da Ministra do Macaé, toda essa coordenação, porque você não vai tratar de um problema tão complexo tratando de um ministério só, de uma perspectiva só.

Algumas políticas talvez tenham dimensões muito grandes, como a política do SUS, a política de educação, mas todas as outras são fundamentais para essa construção. E aí, uma outra coisa importante que esses estatísticos, esses números trazem é o que o processo que a gente chama de advocacia, de defesa do fenômeno. Então, eu digo que muito mais do que, de fato, fazer uma influência pela política pública, os números nos ajudam a pensar a política a partir de um diálogo, e aí como nos cobra a Ministra Macaé de um ODS, por quê?

Porque isso é um processo de advocacia, e aí, nesse sentido, o ODS 18, a partir do qual ela começa a nos cobrar um ODS de população de rua, ele é entendido como uma coisa que deveria estar em todos os outros 17 ODS. E eu acho que talvez um primeiro compromisso que a gente possa assumir é começar a olhar para os nossos cadernos ODS, fazendo essa análise da população de rua nos outros 17 ODS, e depois construir, talvez, uma estrutura, porque tem uma estrutura de decisão política para uma definição de um ODS nacional para a população de rua. Isso é muito maior do que o IPE, e o IPE, no máximo, pode se comprometer a tentar analisar e tentar colocar os instrumentos para isso, e aí usar o que a gente chama de apoiar com evidências a tomada de decisão do Estado, mas sabendo que essa tomada de decisão também é uma das pesquisas do IPE, ela evidencia várias etapas do ciclo de políticas públicas que dependem, não só da participação social, mas de todos esses atores que estão aqui. E, para isso, esse evento, que o IPE tem o orgulho de estar participando, ele é fundamental, ele é fundamental para trazer as bases do que a gente vai levar à frente também nessa discussão coletivizada para esse problema da questão da população e situação de rua. Então, é agradecer pela oportunidade de estar aqui, agradecer aos meus colegas que fazem isso possível, agradecer toda a interação que a gente tem com as outras instituições públicas.

Eu vou agradecer aqui a Hermínia, que nos provocou para entrar num protocolo com a Fiocruz, a Sônia, que tem nos provocado em outros campos, o Rômulo, que é um parceiro também, e tantas outras pessoas que estão aqui, porque a gente só consegue fazer e dar conta das dimensões da nossa desigualdade social e estrutural se a gente trabalhar junto e se a gente trabalhar com essa ideia de desenvolvimento inclusivo. Sem isso, a gente não vai conseguir avançar, de fato, na mudança estrutural que esse país precisa.

Então, meu abraço a todas e todas, desejo um excelente evento para todas e todas. Um evento produtivo, que seja uma continuidade de uma construção que vem sendo feita há muitas mãos e há muito tempo. Muito obrigada.

[Intervenant 6]
Para o uso da palavra, a secretária nacional de Cuidados e Família, Luiza Abramo.

[Intervenant 8]
Bom dia a todas as pessoas. Eu sou uma mulher branca, de cabelos castanhos lisos, olho azul, estou vestindo uma calça vermelha, uma camisa em um blazer cinza e um lenço colorido de preto, vermelho e laranja. Eu queria, em primeiro lugar, agradecer muito o convite para participar desse seminário tão importante.

Eu estou aqui representando o secretário nacional de Assistência Social, André Quintão. Cumprimentar a Fiocruz e todas as instituições organizadoras. Em nome da Luciana e do Anderson, cumprimentar todas as pessoas, principalmente as organizações e pessoas em situação de rua.

Eu entendo que esse seminário é um espaço muito importante de diálogo técnico, mas também de escuta e de diálogo com os movimentos que representam a população em situação de rua. E gostaria de reafirmar aqui o compromisso do MDS, através do SUAS, do Serviço Único de Assistência Social, com a construção de respostas intersetoriais e humanizadas para a população em situação de rua. Se falou aqui muito da intersetorialidade, que é realmente um tema chave, fundamental, que se expressa na composição do SEAMP e também do Ruas Visíveis.

E ao lado de políticas tão fundamentais como educação, saúde, moradia, também está a política de assistência social, ou para as pessoas que estão aqui representando os outros países, o que se chama, em outros lugares, a proteção social não contributiva, que é algo central nessa construção. A população em situação de rua é prioridade da política de assistência social, especialmente através da rede de atendimento do SUAS, composta pelos centros POP, pelo Serviço de Abordagem Social e pelo acolhimento especializado de adultos e famílias em situação de rua. Mas também a população em situação de rua é um público específico e muito importante da política nacional de cuidados, que acaba de ser aprovada, a lei que institui a política acaba de ser sancionada no final do ano passado, pelo presidente Lula, e ela inclui o reconhecimento do direito a ser cuidado, mas também do direito a cuidar e ao autocuidado.

E na construção dessa política, nós ouvimos vários setores da população, entre eles a população em situação de rua através do SEAMP, e uma questão que apareceu muito forte lá foi o direito a cuidar, além do direito ao cuidado, o direito principalmente das mulheres em situação de rua, do direito a cuidar dos seus filhos e filhas, de permanecer junto com as crianças nesse momento, e esse é um tema que eu acho que também é muito importante para ser parte desse diálogo.

Bom, em termos das ações, rapidamente, desenvolvidas no âmbito do MDS, eu destacaria, em primeiro lugar, o CADÚNICO, como um instrumento muito importante de identificação e caracterização das pessoas em situação de rua. Desde 2009, eu imagino que as pessoas saibam disso, mas eu só queria reforçar, existe um formulário específico para as pessoas em situação de rua, que permite justamente caracterizar melhor essa população, e isso é um instrumento fundamental para elaborar políticas públicas mais adequadas, considerando a localização territorial, a composição, o sexo, a raça, a etnia, a idade, porque na população em situação de rua, existem também, evidentemente, além das crianças e das pessoas adultas, pessoas idosas, pessoas com deficiência, que merecem um tratamento considerando essa situação. Bom, com base nos dados do Cadastro Único, nós sabemos que foram identificadas mais ou menos 355 mil pessoas em situação de rua, das quais 74% recebem o Bolsa Família e 7% recebem o BPC.

Então, aí seriam 263 mil pessoas que recebem o Bolsa Família e quase 20 mil pessoas que recebem o BPC, que é uma política, sem dúvida, bastante importante. Além disso, o serviço de acolhimento para adultos e famílias é essencial para garantir a proteção social às pessoas em situação de vulnerabilidade, abordagem social, como sabem as pessoas que trabalham no tema e as próprias pessoas em situação de rua. Ela fortalece a presença do Estado nas ruas, exatamente para pensar que as pessoas em situação de rua são pessoas, como disse a ministra Magalhães, são sujeitos de direito, então essa abordagem tem essa perspectiva, e evidentemente o MDS e o SUAS fortalecem justamente essa perspectiva e não a perspectiva punitivista, por meio de equipes especializadas que identificam pessoas em situação de vulnerabilidade e promovem vínculos com a rede de acolhimento. E os centros POP, que oferecem atendimento diurno para pessoas em situação de rua, disponibilizando informações, orientação, alimentação, higiene, atividades socioeducativas e encaminhamento para acolhimento e outros serviços. Esses são os três serviços principais do SUAS.

E aqui eu queria expressar o compromisso do governo federal, a partir do início do governo do presidente Lula, com a recomposição dos valores destinados a essas políticas. Nesses três serviços, eu não vou ter tempo de dar as cifras aqui, que já vi o cartazinho indicando que eu tenho que ir terminando a minha fala, mas houve praticamente o dobro dos recursos que eram destinados no começo do governo até hoje, houve praticamente o dobro, um aumento entre 97% e 99%. Isso é suficiente?

Claro que não. Mas isso é um compromisso fundamental de reconstrução das políticas e dos serviços e do pacto federativo que tinham sido destruídos no período anterior ao início do governo do presidente. E aí tem uma questão muito chave que é a inexistência, no caso do SUAS, dos recursos orçamentários vinculados constitucionalmente, como é o caso da saúde e educação.

Então essa inexistência, dessa vinculação, dificulta a previsibilidade, dificulta a continuidade, a permanência e a ampliação dos serviços. E a cada ano a gente tem a discussão de qual vai ser o orçamento etc. Mas a luta também, e com isso eu termino, essa é uma luta importante que o MDS tem travado com diversos setores da população, com o Conselho Nacional de Assistência Social, por garantir recursos vinculados constitucionalmente também para o SUAS, que é um serviço único de extrema importância no Brasil para garantir a proteção social universal, baseada em direitos para as pessoas que mais necessitam. Então é isso, eu queria de novo agradecer a oportunidade de estar aqui e colocar à disposição o MDS para continuar essa discussão, muito obrigada.

[Intervenant 6]
Convidamos agora o nosso pesquisador e representante da Fiocruz Brasília, Gustavo Mata.

[Intervenant 5]
Bom dia, aproveitando para falar fora do microfone. Bom dia a todas as pessoas, é um prazer estar aqui representando a diretora Fabiana Damasio, que infelizmente teve um problema de saúde pessoal na sua família e não pôde estar aqui presente junto conosco, mas desde já mando um grande abraço e me trouxe a responsabilidade de representá-la aqui institucionalmente pela Fiocruz Brasília. Queria saudar também a mesa aqui, em nome aqui da Luciana e do Anderson, tentando pegar alguns polos desde a academia, do Instituto de Pesquisa e da participação social.

E desde já como é bom, como é bonito, como é revigorante a gente conseguir novamente fazer conferências abertas, conferências livres, diálogos livres, coisa que durante algum tempo infelizmente dominou o Estado brasileiro e que nos silenciou de uma maneira muito prejudicial à nossa democracia. Então eu queria muito saudar esse espaço de participação social, o espaço de diálogo com a sociedade, de diferentes instituições, de diferentes setores do governo, desde o Ministério de Desenvolvimento Social, do MDHC, o Ministério da Saúde, o Ministério da Justiça, tantos parceiros que nós temos feito ao longo desse tempo, especialmente aqui na Fiocruz Brasília, onde nós temos diferentes ações que estão colocadas.

Então queria também dar boas-vindas, eu prometo, eu vou ser breve, porque eu acho que o debate, a Eline estava falando um pouquinho sobre isso, já começou, a gente já começou o seminário, já existem aqui discussões, argumentos, e eu quero também tentar aqui sendo da Fiocruz Brasília e ao mesmo tempo sendo da Ensp, que também é uma honra muito grande que eu sou docente da Ensp, e também saudando aqui Rômulo Paz, que é diretor do Centro Estudo Estratégico, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e que em breve teremos o nosso grande congresso, o Abrascão, final de novembro e início de dezembro aqui em Brasília e também com ampla participação social para discutir os rumos da discussão da saúde coletiva, da equidade e da participação social.

Eu queria agradecer enormemente, uma vez que nós estamos sediando aqui a parceria com o Eline e com o Ipea, e especialmente a nossa equipe do Unupop, em nome de Estela, Maiara, Regiane, Gilberto, Tamires e tantos outros que participaram e se empenharam enormemente para organizar esse seminário e nossa equipe também da Fiocruz Brasília na organização desse desafio de estar acolhendo tantas pessoas e tantas discussões importantes. Mais uma vez, é uma felicidade muito grande estar sediando esse seminário internacional, trazer para uma discussão tão invisibilizada historicamente, quase que um resultado de um certo metabolismo social perverso que inviabiliza vidas, narrativas, subjetividades, histórias, gêneros, raça, discussões das mais diversas formas e que hoje tem aqui uma possibilidade de uma discussão de um seminário internacional, trazendo para cá e reunindo em uma mesma sala pessoas do movimento social, representantes da população de situação de rua, equipes e pesquisadores de diversas instituições, representantes do governo, das políticas públicas e isso é fundamental, isso é a missão da Fiocruz e isso nos fortalece e nos felicita assim enormemente de estar podendo produzir esse papel. Laís já comentou alguns números importantes que estão aqui nos levantamentos do cadastro único e também é importante dizer que a ONU, em um estudo recente, divulgou também a situação de aproximadamente cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo vivendo ou em situação de rua ou em moradias extremamente precárias, como favelas e outros lugares.

Então mais do que nunca a discussão que está colocada aqui nesse seminário colose como uma pauta que não é só uma pauta local, como o próprio seminário e seu alcance nos trazem, mas também uma pauta de ordem regional e global. Acho que o Marco foi muito feliz na sua fala ao tentar trazer isso como uma discussão de política internacional, regional e de proteção social na América Latina. Eu acho que isso também são temas importantes para a gente desenvolver.

Há diferentes parceiros aí nesse processo, como instituições de pesquisas, eu como pesquisador não posso me omitir em relação a isso, tendo o Ipea como parceiro também nesse processo, a gente poder desenvolver mais pesquisas, ampliar os dados que estão disponíveis, realizar os linkages necessários entre os dados do MDS, dados da saúde e tudo isso. Isso envolve uma questão muito importante, que é a ação interdisciplinar e a ação intersetorial. Isso não pode se tornar um conceito banal.

Esse governo tem tentado fazer isso, apesar de ter recursos muito escassos e o tempo todo atacados por diversas ordens e diversas iniciativas, no sentido de que o Estado não deve prover proteção social à sua sociedade e aos seus cidadãos. Então eu acho que essas são questões importantes e para combater isso e também as deflagradas fake news que o tempo todo tentam levar à sociedade, construir opiniões que nos levem a um Estado cada vez mais excludente, a gente precisa fornecer evidências, a gente precisa analisar políticas, a gente precisa subsidiar políticas públicas para melhorá-las. É importante dizer, elas existem, mas a gente precisa melhorá-las, a gente precisa aprimorá-las e só conseguimos aprimorá-las com a participação da sociedade.

Luciano, eu fico super feliz desse diálogo dos movimentos sociais com a Ipea na discussão dos dados. No Sedax, a gente tentou, tem tentado fazer isso também com os resultados dos dados das análises sobre Bolsa Família, com determinados setores da sociedade e isso é super importante para a gente avançar análises que sejam mais pertinentes a responder as demandas das sociedades no diálogo com a pesquisa e com o Estado e com as ações governamentais. Eu queria também chamar a atenção aqui para um conjunto de ações que são desenvolvidas aqui pelo Unopop, que é o nosso núcleo de análise de políticas e situação de populações vulnerabilizadas e eu estou recente aqui na Fiocruz Brasília, minha tentativa junto com meu colega Marcelo Pedra, que coordena o núcleo Unopop e que tem coordenado essas ações há muitos anos junto com a sua equipe, entre elas, por exemplo, a Comunidade de Prática de Atenção Primária à Saúde da População em Situação de Rua, tendo como parceiros o BIDI, o Conazen, a Supervisão Clínica Institucional para Equipes de Saúde com experiência de formação, com parceiros secretários estaduais, municipais, a Revista Traços, se vocês andarem pelos bares aqui em Brasília, terão pessoas oferecendo a revista, adquirem a revista, contribuam com esse processo, é aqui no Rio de Janeiro, Psicoidados, uma estratégia de atendimento psicossocial remoto no contexto do SUS, durante a pandemia de Covid-19, foi premiada pelas iniciativas APS Forte da OPAS em 2021, como uma das 11 experiências de excelência durante a pandemia, isso é importante dizer, fruto do esforço desse trabalho, a ação, a Plano de Ação Interinstitucional para Atenção da População em Situação de Rua, no DF, o Programa de Qualificação de Atores de Segurança Pública para a abordagem de pessoas em situação de vulnerabilidade com problemas na relação com álcool e outras drogas, uma parceria importante com o Ministério da Justiça, no sentido da gente tentar criar um diálogo e mudar a forma de acolhimento e de atenção à situação de população de rua, a partir da formulação e qualificadores desses atores públicos, enfim, uma série de ações que nós temos desenvolvido aqui e colocar também a disposição, o núcleo, no sentido de ser um hub, ser um hub que possa estabelecer essas relações, que possa avançar nesses processos, que possa ser um centro e um parceiro colaborador, no sentido de avançar as políticas para a população em situação de rua e em vulnerabilidade. Eu queria lembrar que nessas situações também, eu coordenei durante algum tempo, durante não, acho que a rede Zika e Ciências Sociais ainda continua, o Zika ainda é uma realidade, infelizmente, para muitas famílias e a gente precisa chamar atenção para isso, mas o Zika tem um fator muito importante, ela chama a atenção dos problemas, das demandas e da invisibilidade das crianças e pessoas com múltiplas deficiências.

Temos pessoas com deficiências nas ruas, nós temos crianças nas ruas, a maior parte da sua população é negra, cerca de 80%, se eu não me engano, dessa população é negra. Então mais uma vez, isso é fruto de um metabolismo social excludente que insiste em deixar essas pessoas e esses cidadãos fora do alcance da proteção social e da cidadania. Então acho que esse debate, esse seminário que nós estamos aqui hoje iniciando e já colocamos aqui algumas pautas de discussões, eu acho que fortalece isso e eu queria chamar a atenção para duas questões importantes, mais uma vez, a necessidade do avanço das pesquisas, de uma pesquisa engajada junto com os movimentos sociais no sentido de levantar proposições e aperfeiçoamento de políticas públicas e o desafio da intersetorialidade. Não podemos mais competir entre os recursos, existem análises, existem problemas reais acontecendo com a situação brasileira e que nós temos que avançar no aperfeiçoamento das políticas públicas para que a gente possa promover mais solidariedade, mais colaboração e menos competição. Obrigado.

[Intervenant 6]
Passamos a palavra para Eline Engström, coordenadora do Tríades de Cuidado nas Ruas.

[Intervenant 3]
Bom dia, vou ficar em pé porque acho que expressa um pouco essa vontade de estar junto com vocês, de estar perto, , e, enfim, saudar as pessoas aqui presentes, todos que estão aí nos assistindo pelo canal Fiocruz. Eu sou uma mulher branca, de cabelos meio mexados, meia-idade, já passei dos 60, e estou vestindo uma roupa que depois é que eu vi, está nas cores do seminário, azul e amarelo, então estamos entrosados.

[Intervenant 19]
Oi, voltou.

[Intervenant 3]
Alô, alô, alô. Oi, agora sim, estou vestindo a camisa do Tríades do Cuidado nas Ruas e acho que foi preparado com muito carinho pela nossa equipe, que eu gostaria de agradecer a todas as pessoas que nos ajudaram a realizar esse evento, cumprimentar a nossa mesa, Anderson, que já falou muitas coisas e trouxe propostas que já estamos anotando ali, Luciana, parceira do Ipea, deputada Ana Pimentel, que já expressa o quanto que essa mesa está sendo, trazendo a diversidade e a pluralidade, colega da Fiocruz Brasília, que já trabalhamos em várias outras iniciativas, Laís, que é uma referência para a gente nessas políticas de cuidados, li bastante ela, Marco, nosso diretor, que tem nos apoiado como coletivo, e assim, só quero agradecer.

Acho que já saíram questões aqui, que deixei meu papel, não vou pegar mais, porque acho que é de coração agradecer a participação de tantos colegas empenhados nessa discussão. Temos aqui gestores, gestores federais, gestores municipais, gestores dos estados, que a gente vai anunciando à medida que o seminário vai sendo realizado. Temos pessoas do movimento social, da sociedade civil, padre Omari, a equipe que está aqui, mais tarde o padre Júlio deve estar chegando, pesquisadores, trabalhadores do consultório na rua, técnicos, enfim, pessoas, esqueci alguém, alunos, enfim, estamos com uma diversidade de pessoas aqui, e essa diversidade, Romulo, Sônia, nossos pesquisadores, e que vamos estar aqui juntos já já nessa mesa, e assim, acho que a ideia desse seminário, falando breve, é que a gente possa produzir evidências, sim, é importante termos evidências, porque as políticas públicas baseadas em evidências, elas são mais sustentáveis, a gente faz uma advocacia melhor, mas não basta ter evidências, ? A gente precisa aplicá-las, avançar, construir, e que essas pesquisas e a ciência implicada modifiquem essas práticas. Então acho que o objetivo do seminário é um pouco esse, trazer esses olhares múltiplos, mas também podemos, na diversidade, termos alguma unidade, convergência em termos de princípios, quais são os valores éticos, morais, e que vão subsidiar nossas políticas.

Esses valores vão constituir um modelo de cuidado que a gente quer, que, assim, temos muitas políticas, políticas de saúde, a gente tem um consultório na rua hoje, 300 equipes, a meta é de aumentar mais, enfim, temos a assistência social, como a Leide falou, Bolsa Família, o BPC, as questões da moradia, temos o legislativo que nos apoia, a DPF, e estou vendo também aqui, Cristiane da Justiça, então assim, trazer esses olhares, o movimento social, os pesquisadores, mas mais do que políticas, essas multiplicidades de políticas, a gente precisa de convergência dessas políticas, ter instâncias que dialoguem, e Anderson falou de uma secretaria, pode ser que sim, acho que ter mesas de trabalho que integrem efetivamente essas políticas, e com isso é o cuidado integral.

O cuidado integral não é só a pessoa, mas são questões, é para lidar com a complexidade dessa situação, os problemas estruturais, as ações institucionais, interinstitucionais que precisam haver, e as questões individuais, singularizar os projetos de vida, o que cada um está precisando ali naquele momento, e acho que com isso a gente espera, nesse seminário, produzir algumas dessas reflexões, com boas notícias de caminhos e propostas. Eu acho que eu não poderia deixar de falar nesse momento que é de celebração, mas também de colocar que a gente quer superar toda essa violência institucional que tenha cometido essa população.

A gente tem ainda notícias como assassinatos de pessoas em situação de rua, que se citou no Rio, e que com massacres anteriores, isso não é novo, tivemos a Céia, a Candelária, e a gente quer superar isso, esses crimes de ódio, que hoje ainda tem muito dessa visão de que culpabiliza as pessoas, os indivíduos são culpados, e é isso que a gente quer superar, mostrar que, e ainda existem tensões nesses paradigmas, que formam as nossas políticas, de ser, de culpabilizar e de, não é, da caridade que você fala, ?

A gente quer políticas e modelos que incluam as pessoas, que tratem como sujeitos de direito, que proponham moradia digna, não é qualquer moradia, uma moradia digna, saúde, do jeito que precisa ser, com todos os recursos que a gente tem para a população, da atenção básica, nas redes de atenção à saúde, nas urgências e emergências, o SAMU tem que atender essas pessoas, que não pode, a população de rua não vou, então isso tudo é uma compreensão de que é direito, e não estou nem elencando todas as outras políticas, trabalho e renda, cultura, enfim, que acho que o plano ruas visíveis é uma potência para integrar todas essas iniciativas e outras da justiça, da contra violência institucional, onde a gente espera aqui poder trazer um pouco dessa discussão nesses dois dias.

A gente queria fazer até mais, viu, três dias, porque a gente foi ver que não dava para ter tudo que a gente queria, mas a gente está entendendo isso como um primeiro momento, nos comprometemos a fazer sínteses e a poder divulgar e tentar colaborar, que o seminário não seja só, eu falo para a Denise, não é só um evento, a gente que passe com o vento, mas que ele se consolide em outras situações, outras práticas, em outros momentos que melhorem um pouco a vida da população.

Então, muito obrigada a todos, todas e todos, teremos um bom trabalho nesses dias, e com isso encerro essa mesa, que já nos trouxe muitas provocações. Obrigada a todos.

[Intervenant 6]
A secretária de Atenção Primária e Saúde, Ana Luisa Caldas, pede desculpas, ela teve imprevisto na agenda e por isso ela não pôde comparecer. Agradecemos a todas as pessoas do dispositivo de honra pelas suas falas e pedimos a gentileza de tomarem seus assentos no auditório. ...internacional, e para se juntar também, a pesquisadora Eline Engström, convidamos a todos para a mesa Que Mundo É Esse? Realidades e Possibilidades de Transformação para a Proteção Social da População em Situação de Rua. Nesta mesa, teremos a honra de contar... Eu peço silêncio no auditório, por gentileza?

Agradeço. Nesta mesa, teremos a honra de contar com a participação de Diana Alarcon, doutora em economia pela Universidade da Califórnia, especialista em relações internacionais, desenvolvimento econômico e análise de políticas, e atualmente, assessora especial da Presidente do México, Cláudia, que participará via webconferência. Convidamos ao palco Sônia Fleury, pesquisadora sênior do Centro de Estudos Estratégicos Antônio Ívo de Carvalho da Fiocruz, no tema de democracia, proteção social e federalismo, coordenadora do dicionário de favelas Marielle Franco.

Convidamos também Rômulo Paz, pesquisador da Fiocruz, Minas Gerais, e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. A Isabel Litscha, professora ou doutora em sociologia do desenvolvimento pela Universidade de Paris, especializada em política social, gestão social e desenvolvimento humano, que estaria conosco hoje, mas teve um contratempo e não pôde comparecer, mas fez questão de gravar um vídeo que nós vamos exibir daqui a pouco.

[Intervenant 19]
Agora com a palavra, Diana Alarcón, via webconferência. Obrigada.

[Intervenant 4]
...perpetuando esses ciclos de exclusão social. O modelo 4A, então, tenta romper com esse ciclo, atendendo os diversos aspectos da problemática de maneira íntegra. Então, é um enfoque de equidade de gênero e direitos humanos em primeiro lugar?

É um enfoque que reconhece a necessidade de fazer um trabalho, uma atenção personalizada, sustentada e estruturada para esta população? São intervenções que estão centradas em tarefas, ou seja, estabelecem metas concretas e que podem ser alcançadas em curto e médio prazo, são tarefas acordadas com as pessoas, o que fortalece sua agência, seu sentido de alcance e sua motivação. E é um enfoque de inclusão, de inclusão cidadã e de bem-estar social.

O modelo se baseia no princípio de que todas as pessoas têm o direito de uma vida digna, com oportunidades de participação, autonomia e pertencença comunitária. A inclusão, então, não é apenas um assunto de acesso a serviços, mas a possibilidade de reconstituir seus vínculos sociais, fortalecer capacidades e exercer cidadania plena. A continuação, lhes conto muito brevemente em que consiste este modelo 4A de inclusão social para pessoas em situação de casa.

Está basado em, como diz seu nome, 4As, acercamento, atenção, ativação e acompanhamento. E muito rapidamente descrevo em que consiste cada uma destas etapas. Acercamento.

O primeiro contato com pessoas em situação de rua se realiza através de brigadas em pontos identificados de pernocta e socialização. Estas brigadas estão integradas por profissionais, psicólogos, trabalhadores sociais, personal médico, que buscam estabelecer um diálogo inicial e gerar confiança mediante um acercamento empático, sensível, baseado no reconhecimento da pessoa como sujeito de direitos. , se a pessoa o permitir, se levanta uma cédula individual que recopila a informação básica e garantiza a proteção dos dados personagens.

A segunda A, atenção, tem a ver com o momento em que as pessoas aceitam o acompanhamento das brigadas de rua, inicialmente em um centro de valorização e canalização, onde se faz uma avaliação geral de seu estado de saúde e se elabora um perfil básico que abarca cinco dimensões. Médica, psicológica, toxicológica, psiquiátrica e social. A partir daqui, as pessoas acedem a serviços de alimentação, a seo e hipernocta e quem manifesta interesse em deixar de viver na rua, são levados a um espaço chamado techo.

Um albergue transitório que oferece hospedagem, atenção básica de saúde, reabilitação de adicções, se for o caso, e atividades educativas e de inclusão laboral que estão orientadas para uma vida independente. O terceiro elemento, a terceira A, tem a ver com a ativação. Esse é o momento de facilitar que as pessoas avancem a trabalhar em seus projetos de vida e em comunidade.

É um processo de reconhecimento, de reapropriação da história própria do qual surge o câmbio que estão esperando ou que se vê esperando para suas vidas. Uma vez que as pessoas completaram essa etapa de ativação, vem a quarta etapa, o acompanhamento. Nessa fase, é oferecido um apoio próximo e de seguimento às pessoas que já começaram a construir um novo projeto de vida.

O objetivo dessa quarta etapa é acompanhá-las em seu caminho para uma vida autônoma, assegurando-se que estão em condições físicas e emocionais para sustentar esse processo e exercer plenamente seus direitos fora da rua. É importante dizer que cada uma dessas quatro etapas é acompanhada por todas as instituições do governo da cidade que têm interesse nesse processo de trabalho com as pessoas em situação de rua. Há um instituto responsável por essa agenda, mas é um instituto que coordena os trabalhos com a Secretaria de Educação, a Secretaria de Saúde, os Centros de Acompanhamento, a Secretaria de Segurança, e, muito importante, a identificação legal das pessoas em situação de rua.

Muitas vezes, elas não têm acesso aos serviços do governo porque não têm uma cédula de identidade, uma carta que as identifique com seus dados pessoais. Esse processo, então, é um processo em que o governo completo, todas as instituições do governo, acompanham e têm uma parte de responsabilidade na atenção das pessoas em situação de rua. Vou terminar com uma lâmina.

Não sei se podem me ajudar a colocá-la. É a lâmina que diz Conteo. O que quero mostrar são, simplesmente, alguns dados básicos do último censo que fizemos, o último ano de governo em que estivemos na cidade, no ano de 2024, em que se contaram, e esse é um conteo completo, ou o mais completo que conseguimos, há toda uma discussão sobre o levantamento de censos, que posso conversar, que posso contar um pouco se tem interesse, mas, no último censo que levantamos, identificamos na cidade 1.124 pessoas em situação de rua. Na anterior, por favor. Na anterior lâmina. 1.124 pessoas em situação de rua, 86% são homens, 14% são mulheres, 90% são pessoas entre 18 e 60 anos, menos de 1% são meninos e adolescentes de 12 e 17 anos, 86% da população que temos em condição de rua tem alguma discapacidade, e quase 60% tem estado de 1 a 10 anos vivendo em situação de rua. A maior parte da população em situação de rua nasceu na Cidade de México, ou seja, são originais da Cidade de México, só uma terceira parte são do interior da República, e menos de 2% é população migrante. Menos de 2%, 1.5%, pertencem à comunidade LGBTQI, e esses são os dados últimos, como disse, que temos. Acredito que o tempo acabou, agradeço muito a sua atenção, e fico aqui para ouvir o resto dos panelistas.

Muito obrigada.

[Intervenant 3]
A fala estava bem baixa, a Diana trouxe a experiência que foi implementada pelo governo do México, na Cidade de México, e ela é assessora da Presidente, na época, a prefeita Cláudia Sheinbaum. E é uma metodologia que ela está apresentando de quatro As, que é ascericamento, que é abordagem de... Isso, uma abordagem para essa população, baseada no acolhimento, na atenção, na ativação, e a última, acompanhamento, certo?

E aí ela coloca para cada uma dessas etapas algumas atividades que são desenvolvidas, algumas metas, indicadores que possam ser avaliados para cada um desses processos. Então, é um relato de experiência que foi realizado e que também tem sido monitorado, acompanhado, através de censo. Então, ela coloca uma metodologia que foi realizada, os censos, nos pontos, várias equipes na rua, naquele ponto, naquele território, e, com isso, eles têm monitorado essa tendência.

Durante um período, houve aumento, na época, Covid, etc., e depois eles têm observado uma redução do número de pessoas em situação de rua. Eu estou falando isso tudo porque eu vi o texto dela, que está aqui, algumas coisas ela apresentou, essa coisa do censo ela falou um pouco aqui, e é assim, a nossa perspectiva é depois disponibilizar esse material para que a gente possa analisar com um pouco mais de detalhamento. Então, obrigada, Diana.

Como é que estamos aqui no vídeo? Podemos? Eu queria, antes de você colocar, só queria dizer o seguinte, a fala inicial da Diana, ela estava se locomovendo de Washington para Atlanta, chegou lá, houve um problema na conexão e ela não pôde vir, porque os voos de Atlanta para o Brasil são reduzidos, e daí queria me desculpar já com ela por toda essa situação, mas agradecer pela disponibilidade dela ter colocado aqui algumas das suas ideias pelas tecnologias, que às vezes ajudam, às vezes não muito, mas a gente procura trazer a ideia central, e eu acho que vamos debater depois com os nossos dois colegas. A gente também está com um vídeo da professora Isabel Licha, no caso da Isabel, ela já tinha avisado antes que estava com problemas de ordem pessoais lá, e que então ela enviou um vídeo que a gente... Como teve antecedência, a gente conseguiu colocar legenda e também enviou um texto que eu consegui até fazer um resumo desse texto de uma forma mais organizada, caso tenham algumas dúvidas que depois a gente possa estar discutindo, certo?

[Intervenant 15]
Então vamos lá. Estratégia de informação, educação e comunicação com o fim de difundir conhecimentos e apoiar a implementação de políticas públicas intersectoriais em território selecionado. O meu trabalho se titula Abordagem integral da população em situação de rua, desafios globais e estratégias efetivas, e tem como propósito ressaltar a importância de abordar a problemática desde um enfoque integral e multidimensional que reconheça a interação de múltiplos elementos e promove soluções coordenadas entre diversos setores.

Se examinam nesse trabalho princípios claves desses enfoques, como o enfoque baseado em direitos, as intervenções preventivas, os modelos de vivência primeiro e a colaboração interinstitucional. Então se trata de uma proposta de análise integral do fenômeno, da população em situação de rua, a nível global, abordando sua complexidade, as causas subjacentes e enfoques efetivos para sua atenção. O texto planteia a magnitude do problema a nível global, com estimações que superam os 150 milhões de pessoas sem hogares em todo o mundo, se reconhece a heterogeneidade do grupo, que inclui desde pessoas sem techo até imigrantes, jovens, mulheres, pessoas com problemas de saúde mental e adicções, entre outros.

Igualmente, este estudo identifica a multiplicidade de fatores estruturais, institucionais e individuais que origina e perpetua a problemática, como a pobreza, a desigualdade, a falta de vivência e os limitados serviços de saúde e bem-estar social. Assim mesmo se analisam as graves consequências que congelem a situação de rua, incluindo a invisibilidade, a criminalização e a exclusão social. O documento apresenta exemplos paradigmáticos de políticas e estratégias efetivas implementadas em diferentes países, demonstrando resultados alentadores na redução do problema.

Além disso, se analisa o debate acadêmico atual sobre as causas da pobreza, da exclusão e da desigualdade, assim como os desafios emergentes, como o câmbio climático e a digitalização, que contribuem a exacerbar a problemática. Em síntese, o trabalho oferece um análise integral e fundamentada do fenômeno de população em situação de rua, sentando as bases para o desenho e implementação de soluções mais efetivas e duraderas.

[Intervenant 3]
Ela discutisse a questão da magnitude como um fenômeno global, traz alguns dados de alguns dos países e de fontes. Também acho bem interessante o texto dela, por trazer algumas fontes de informação que têm avaliado globalmente essa população. E também ela traz alguns autores interessantes, e ela cita aqui no texto, acho que o Castelo citou, que trazem essa importância dessa abordagem multidimensional, trazendo a discussão dos fatores estruturais, institucionais e individuais que, de certa forma, perpetuam esse ciclo de exclusão.

Também achei bem interessante ela trazer essa discussão das mudanças ambientais e todo o impacto que isso tem trazido para o aumento dessa população, da população em situação de rua, que são atingidos de forma, às vezes, bem perversa por todas essas emergências ambientais, causando migrações e também relacionadas à violência. E a questão da digitalização aborda como uma barreira de acesso a vários serviços, já que hoje muitas das questões são vias digitais, e essa população não tem, muitas vezes, acesso a essas questões. Ela também fala dessa questão da importância de coordenação institucional, participação social e redes acadêmicas.

Eu acho que é interessante. E, por fim, acho que esse finalzinho ficou cortado. Ela fala da importância de revisão dos nossos marcos teóricos.

Que modelo de cuidado é esse que a gente está pensando? Que tipo de… Baseado nos direitos humanos, mas que tem implicações de acordo com cada realidade.

Ela cita o caso da Finlândia, por exemplo, que conseguiu… O caso da Finlândia, que conseguiu avançar na experiência de moradia. Ela cita o caso do Canadá, que tem atuado bastante em relação a jovens no sistema de prevenção.

E iniciativas dos Estados Unidos, cuidados continuados. E fala um pouco, ainda, da escassez, ou da sistematização de algumas experiências da América Latina. Mas a gente vai contar aqui no nosso seminário com algumas dessas experiências.

Colômbia, a colega da Argentina que está aí, Florencia, enfim. Também temos aqui a presença de, não anunciei antes, mas de colegas do Banco Mundial, representantes, que vão trazer um pouco também essa abordagem global da discussão. Bom, então, com isso eu passo para a Sônia.

[Intervenant 1]
Bom, bom dia. Eu queria muito agradecer à Denise a importância de me convidarem para que eu me mergulhe num tema que não é o meu tema. E que eu pudesse, de alguma forma, estudar mais, compreender mais, me acercar mais dessa problemática e, de alguma forma, tentar trazer um olhar meu, que trabalho com cidadania, políticas sociais, para esse debate.

Bom, a pergunta é que mundo é esse? Então, vou tentar falar um pouco do mundo é esse, que produz a invisibilidade da população e produz a população em situação de rua e também produz a invisibilidade desta população. Eu, quando comecei a pensar sobre vir para cá e falar e tudo mais, me veio uma lembrança da minha infância, muito forte, e que não me saía da cabeça.

Essa lembrança era da Cananete e do meu pai, nós morávamos em fazenda, numa estrada rural, chovendo, escuro, e uma população coberta com cobertores, andando pela estrada, um grupo, andando por aquela estrada e tocando um sininho. Isso voltou muito fortemente na minha cabeça. Eram leprosos.

Eram leprosos que se visibilizavam através do sininho, para avisar as pessoas que eles estavam passando e que esperavam algum tipo de ajuda ou o que seja, mas também avisavam para as pessoas que tinham medo e que queriam se afastar daquilo. Então, essa cena traz muito da invisibilidade e da tentativa do sininho de se tornar visível. É um momento em que há um conjunto de emoções que são mobilizadas nesse encontro.

Emoções, por exemplo, de repúdio a corpos abjetos de parte da população que não quer estar em contato com aquilo que ela repudia. E, por outro lado, pessoas que se sentem humilhadas, e que são vistas como perigosas e que podem trazer algum problema para a sociedade. E que são humilhadas, repudiadas e tudo isso.

Então, essa experiência traz muito do meu sentimento e acho que essa questão da população de rua tem que ser tratada tanto do ponto de vista teórico e político, também do ponto de vista emocional. As emoções que estão envolvidas nesse encontro e desencontro da sociedade em relação a isso. E, na parte teórica, eu fui recorrer ao Foucault, que trabalha com a questão da exclusão, do cercamento das pessoas, a partir da lepra.

Ele começa falando desse momento dessa sociedade em que aqueles que são considerados corpos abjetos, sejam eles leprosos, sejam eles pessoas com problemas de saúde mental e tudo isso, devem ser isolados da sociedade em grandes asilos. Esse foi um momento em que a sociedade excluía com cercamento. Cercar as pessoas para que elas não contaminassem a sociedade ordeira.

Posteriormente, ele vai falar, ele vai na história das doenças, olhando como é que a sociedade lida com a exclusão. E aí ele vai falar da avariula, em que aí já tem a questão da vacinação e aí as pessoas já veem a noção de riscos e de vulnerabilidades para tratamento e diferenciação das pessoas. E, por fim, ele fala da noção de governamentalidade.

Ou seja, há um momento, que é o momento mais atual, em que a sociedade procura governar, o poder procura governar os próprios comportamentos e as atitudes, de tal forma que se tornem previsíveis. E aqueles que são... Então, as pessoas já não são mais cercadas, as pessoas podem circular pelos territórios.

Por que elas circulam? Porque, supostamente, elas já são os corpos docilizados, corpos dóceis, produtivos, porque as disciplinas vão controlar o tempo, o espaço e os comportamentos. Ou seja, é o governo das mentalidades.

Então, as pessoas já estão dentro do que é chamado dos trilhos. Como é que isso é compatibilizado com uma sociedade que nas constituições fala da igualdade? Fala que todos são iguais.

A igualdade, ninguém é igual, todo mundo é diferente. No mundo não existe a igualdade. A igualdade é uma construção política, como dizia Ana Arendt.

Agora, ao mesmo tempo que essa sociedade se postula como um poder para todos, porque é tratado todos iguais, está no primeiro item de todas as constituições, ela consegue, através dessas disciplinas e dessas formas, mecanismos de operar, as desigualdades, as diferenças e a hierarquização. Então, o que o Foucault vai falar é que tem o direito que está nessa esfera da igualdade e o contradireito que está por baixo, no subterrâneo das igualdades. Eu, por exemplo, trabalhei muito com essa noção de contradireito para falar da saúde.

Identificando que a peregrinação das pessoas de uma unidade à outra, porque elas não estão atendidas, é exatamente essa expressão do contradireito. Nós temos lá que todo mundo tem direito à saúde, no SUS e tudo mais. Mas, quando a pessoa não é atendida, o que se manifesta é o contradireito.

Assim como nós falamos que a população em situação de rua tem direito a várias coisas, mas se, por acaso, pedem um endereço, se, por acaso, exigem que ela esteja vestida de certa forma, se comporte de certa maneira, isso funciona como normas que separam hierarquias e que excluem comum contradireito. Então, na verdade, o que outro autor, que se chama Dagamben, vai falar é que, ao lado do estado de direito, vai existir sempre, nessa sociedade, o estado de exceção. Para uma parte da população, você vai trabalhar dentro dessa esfera do direito e, para outra parte, que podem ser as favelas, que podem ser as ruas, essas pessoas são pessoas que não fazem parte daquilo que foi estabelecido como cidadãos de direito.

Para elas é negada essa condição e fazem isso a partir dessa dissociação entre o indivíduo. O indivíduo é sempre um ser. De um lado, um ser político e, de outro lado, um ser humano, um ser biológico.

E a população de rua, quando se faz essa diferença entre separar o ser político e o ser animal, ela não é nem animal, nem político. Ela fica numa zona intermediária, mas que, por exemplo, o Mbembe vai falar é uma forma de você, ao separar essa população dessa forma, você também está criando a possibilidade que ela seja um outro indesejável e, portanto, passível de extermínio. Porque a exclusão é diferente da desigualdade.

A desigualdade é um parâmetro em que há uma noção por trás de igualdade, mas a exclusão é outro, é alteridade, é aquilo que não sou eu e que não faz parte da mesma sociedade que eu. Essa situação, essa construção social, que é uma construção, permite os assassinatos, por exemplo, de pessoas em situação de rua e tudo isso, eliminar o outro. Essa construção toda, essa teoria, é muito europeia e muito sem saída.

Agora, eu pego um outro autor brasileiro, que é professor da Universidade do ABC, que se chama Paulo Lima, e ele fala dessa mesma situação, usando esses mesmos autores, mas ele fala, e ele usa uma metáfora que eu vou usar nesse texto, nessa minha fala, da metáfora dos trilhos, ou seja, essa construção da sociedade te leva a viver dentro de certos trilhos. Você tem que ser dócil, trabalhador, está pobre, miserável, mas tem que trabalhar, tem que ir ao trabalho todo dia, mesmo que não consiga comer e tudo mais, sem se revoltar. Mas ele fala o seguinte, mesmo tendo trilhos, existem trilhas, que é até o lindo nome desse seminário.

As pessoas podem construir alternativas que são as trilhas. E eu acho que o Movimento Nacional de População de Rua é o maior exemplo de uma construção totalmente inusitada, não pensada, não pensada que poderia existir, e que existe, e que se manifesta como uma trilha que foi construída pelos próprios moradores de rua. Então, dentro, em situação de rua, eu estou falando, eu não sou do ramo, então eu vou errar e vou aprendendo.

Então, a proposta dele é que a gente possa sair dos trilhos e criar trilhas. Uma tese que eu queria defender aqui é sobre a questão social. Esse conceito de questão social é uma coisa importante.

O que é a questão social? Ela é alguma coisa que emerge no momento e que é um analisador da impossibilidade da sociedade de gerar coesão social. Eu acho que, tanto a violência urbana, hoje em dia, quanto a existência cada vez maior de uma população em situação de rua, são, hoje, a questão social.

É ela que evidencia para a sociedade que essa coesão, essa igualdade, ela não existe. Então, o primeiro ponto meu é o seguinte, a invisibilidade é construída e é rechaçada porque ela espelha a própria sociedade. A invisibilidade, a população em situação de rua, a violência urbana, elas espelham o que nós não queremos ver, que é o mal-estar dessa sociedade que nós construímos.

Então, eu vou para os trilhos agora. Os trilhos. Quais são os trilhos pelos quais a sociedade coloca parte grande da população?

A pobreza, a desigualdade e a rua. Esse é o trilho. Eu peguei alguns dados que eu vou passar muito rapidamente sobre a questão da condição de pobreza que é altamente associada à existência da população em situação de rua.

Nós temos um terço dos trabalhadores brasileiros recebendo até um salário mínimo. E apenas 7,6% dos trabalhadores recebem acima de cinco salários mínimos. Dados foram divulgados pelo IBGE no censo...

Foi no NACOFRE. Perdão, de 2022. E nós temos um salário que entre os 31 países da Organização da OCDE é um dos mais baixos deles.

Nós tivemos, recentemente, uma retomada no governo Lula da revalorização do salário mínimo, redução da subocupação. Todos esses dados estão aí. Aumento real de rendimento da população trabalhadora, redução no desemprego e que, num quadro de melhoria da condição dessa população mais pobre, não é isso?

Mesmo com uma situação econômica que existe com taxa de juros altíssima e tudo mais. Reduzindo, inclusive, um pouco a informalidade. A pergunta que fica é a seguinte, por que essas medidas de política econômica da pobreza, que eu chamo de política econômica da pobreza, que são salário mínimo, aumento do salário mínimo, diminuição da informalidade, da desocupação e tudo isso, não resultaram, inclusive conjugadas com políticas assistenciais de aumento da cobertura do Bolsa Família, do Cádio Único e tudo mais, não resultaram na redução da população de rua? Acho que essa é uma questão que nós temos que nos aprofundar.

Houve um crescimento muito grande, o Natalino mostra isso nos estudos do IPERA, da pandemia. Mas, depois da pandemia, não houve redução. Continua crescendo.

Eu acho que essa é a grande questão. Então, para mim, a resposta é o seguinte, existe uma produção sistemática da população em situação de rua. E nós temos que ver que medidas de economia da pobreza não resolvem.

E nós temos que pensar outro tipo de medida para avançar nisso. Inclusive, nós tivemos avanços enormes, tiramos o Brasil do mapa da pobreza, avanços na segurança alimentar, mas, mesmo assim, nós ainda temos uma população que a PNAD Contínua mostra isso em 2024, dois em cada três domicílios em renda de até um salário mínimo estão na situação de insegurança alimentar. Pode não ser a mais grave, mas ainda estão em situação de insegurança alimentar.

E, fora isso, a própria informalidade que leva as pessoas a essa condição de insegurança de renda enorme, atingindo principalmente uma população feminina, negra, que são as empregadas domésticas, que estão, em grande parte, na informalidade. 70% das trabalhadoras domésticas estão na informalidade e recebem abaixo de um salário mínimo. Então, essa é uma população que luta pela sobrevivência.

Então, essa condição de estar no limiar da sobrevivência é constantemente na insegurança. A pergunta que fica, então, é isso. Que outras políticas...

Você falou muito de intersectoralidade, que é claro que é fundamental nas políticas do cuidado, nas políticas de acolhimento e nas políticas, inclusive, de moradia. Mas que outras políticas nós temos que ousar pensar que também produzem isso constantemente? Senão nós vamos estar tratando de mitigar, mas não de alterar essa situação.

Eu acho que nós não podemos nos conformar com só mitigar essa situação de pobreza, de insegurança e de limiar da sobrevivência que pode cair na população em situação de rua. Eu acho que nós temos que pensar na macropolítica econômica. Essa é a minha proposta, de que nós não podemos nos conformar com a micropolítica e nem com as políticas econômicas da pobreza.

Então, nós temos uma situação de que há uma transformação enorme na produção. O capitalismo sempre teve, como Marx dizia, a produção de uma superpopulação relativa. No caso, até mesmo uma massa marginal acima do exército industrial de reserva.

Mas as transformações com a globalização, com a incorporação tecnológica e tudo mais, trouxeram isso para um nível assustador. Que hoje é chamado precariato. Precariado, desculpe, por vários autores.

Que é uma população que não encontra uma estabilidade no mercado de trabalho. E que nós temos hoje esse bando de meninos de moto morrendo a cada dia, em cada esquina, entregando comidas e outras coisas, em situação de total insegurança em relação a acidentes, aposentadoria e o dia de amanhã são também sobreviventes. Então, essa é uma questão de que nós temos que ter um sistema de proteção social que não pode mais estar só baseado na carteira de trabalho.

Nós temos que pensar nessa população de empreendedores autônomos e que hoje está na condição de insegurança absoluta. Nós temos outro tema econômico que eu acho muito importante, que é a financiarização da economia. Por que todo mundo falou aqui que tem várias políticas importantes, mas os recursos não são suficientes?

Nós temos que pensar, por que os recursos para a proteção social não são longe de serem suficientes? Não são adequados minimamente para o SUS, para a educação, para a assistência social, para a população em situação de rua. Por que eles não são suficientes?

Porque o Brasil paga um trilhão por ano de juros da dívida. E essa questão não é discutida. Esse um trilhão é tirado do cuidado.

Ele é tirado da atenção que nós tínhamos que dar à população, às demandas da população. Essa financiarização que transformou os estados, que antes os estados de bem-estar social, os estados eram arrecadadores. Arrecadavam e distribuíam.

Agora os estados são os principais devedores. Eles não são mais arrecadadores. E quando ameaçam arrecadar dos super-ricos, o Congresso veta.

Como está hoje em discussão. Porque não se pode tocar nisso. Mas esse mesmo Congresso que veta qualquer possibilidade que o governo vai voltar, agora vou insistir, de taxar bets, de taxar ganhos de capital e outros que estão isentos, os super-milionários e tudo mais.

Esse Congresso constantemente vai falar que nós temos que desvincular o salário mínimo das políticas de proteção, porque o BPC, as aposentadorias, todas elas estão vinculadas ao salário mínimo e o ganho no salário mínimo vai implicar em grandes problemas econômicos. O pagamento da dívida, não. Então essa financiarização é um tema ligado à questão do cuidado e nós não podemos restringir nosso olhar ao micro, ao cuidado em si, e não a tudo que leva as pessoas a estarem demandando e sem condições.

A outra coisa também importante, eu acho, é o fato de que essa financiarização tem levado a população trabalhadora a um grau de endividamento maior do que já existiu antes. E é esse endividamento que leva a pessoa a não conseguir pagar o aluguel, não conseguir comprar comida, não conseguir pagar o gás e acabar indo para a rua, porque ela tem obrigações em relação a isso. Outra questão importante de política que eu acho que também tem que ser considerada entre nós é a política de combate às drogas.

Enquanto nós tivermos uma política de combate às drogas, que permite, é uma política que permite o crescimento do domínio territorial nas favelas e periferias por traficantes e milicianos e autoriza o Estado a entrar matando. Então nós temos a violência, a população está submetida à violência de um lado, que é a violência do ilegalismo, e de outro lado a violência estatal que leva inúmeras pessoas à morte, ao encarceramento de jovens negros e ao aprisionamento, como na época dos leprosos, de jovens também em comunidades terapêuticas que são, sabemos em muitas delas, exatamente o grau de violência institucional que são submetidos. Então acho que a política de guerra às drogas tem que ser realmente articulada a uma política de direitos humanos e a uma política de saúde sem a qual nós não adianta falar que vai ter gente saindo para as ruas e saindo para uma situação de insegurança absoluta decorrente da própria política de combate às drogas. Bom, essa questão...

Outras políticas eu acho que são mais claramente vinculadas como as políticas habitacionais, de urbanização, de emprego e tudo mais. Eu passo para o último ponto, que é a ideia relacionada às trilhas. Eu acho que uma questão muito fundamental é que essas pessoas que são arrancadas dos trilhos e saem fora, elas são então vistas como indesejáveis, como pessoas que estão fora da norma, como pessoas que ou são invisibilizadas ou não são reconhecidas como sujeito de direito.

Então a luta é por duas questões que vários autores têm. É reconhecimento, por um lado, reconhecimento como sujeito de direito, como a ideia que a própria Ana Elente fala, o direito a ter direito. Essa pessoa precisa ser reconhecida como pessoa que tem direito a ter direito, por um lado.

E por outro lado, como também um sujeito de redistribuição, em que o Estado tem obrigação de garantir a qualidade de vida e bem-estar para essa população. Sem o quê? Se não há reconhecimento e há privação de direitos, aí vem um conjunto de outras questões que são o desrespeito, o maltrato, a degradação, as violações e a própria ofensa.

Quais são as alternativas para isso? A pergunta que se fazia no enmenta que foi nos mandados. Eu acho que as trilhas têm que ser construídas através do cuidado, da solidariedade e do comum.

Essa é a minha proposta. Eu me recorro muito a um autor, Leschner, que era um chileno, que fez um estudo quando o Chile estava bombando, a América Latina toda com problema, e o Chile crescendo 7% do PIB ao ano. E ele fez um estudo e encontrou um enorme mal-estar na população.

Diz como é que pode esse povo todo estar tão insatisfeito? E o que é a razão disso? Se a economia está crescendo?

É que as questões não passam só pela economia. A subjetividade importa muito. E nós temos que, de um lado, encarar a economia, como eu falei, e a macroeconomia e tudo isso, incluí-la nas nossas propostas.

E, por outro lado, entender o impacto disso nas subjetividades. O que ele encontrou nesse estudo dele? Um conjunto de medo.

A população com medo, mesmo numa fase de crescimento econômico alto. Quais eram os medos fundamentais que ele encontrou? O medo ao outro.

Medo do outro achando sempre que o outro pode te causar alguma agressão. O medo da exclusão econômica e social. E o medo da falta de sentido.

De que a vida não lhe pertence e não sabe que sentido pode ter essa vida. Então ele fala, essa subjetividade importa muito. Nós temos que trabalhar com relação a esses medos que a população, que nós vivemos.

Nós vivemos constantemente com medo do outro que pode nos agredir a qualquer momento. Medo de ser excluído, cair na hierarquia social. E medo de não termos sentido na vida.

A razão pela qual hoje nós temos um número de suicídios de adolescentes abismal. Dessa ideia de qual é o sentido da vida que tem para mim. Então é contra essas coisas nós temos.

Sabe por quê? O que ele fala é o seguinte. Os medos são forças muito poderosas.

E essas forças poderosas podem ser presas da manipulação. Nós conhecemos isso durante o período do governo Bolsonaro. Como as pessoas são aprisionadas por essa proposta simples, vamos matar o outro, eliminar o outro, para que a gente não tenha medo dele nos agredir.

Então não é só uma questão de subjetividade, é uma questão de democracia. Manipular esses medos à ultradireita leva a população a um nível de sociabilidade violenta que não é só nas favelas. Nós hoje todos tendemos a resolver os conflitos com agressão.

O feminicídio, o aumento do feminicídio, em todas as classes sociais, é uma expressão enorme disso. Não se resolve mais os conflitos através de busca de entendimento ou através da apelação institucional à justiça. Se resolve tirando uma arma e matando uma pessoa que pode ser um ente familiar ou o que seja.

Então acho que essa volta do conflito redistributivo é uma coisa muito importante. E queria dizer o seguinte, eu acho que os governos progressistas da América Latina, a onda rosa que teve na América Latina nos anos 2000, também são em parte responsáveis pela situação que nós estamos vivendo de desencanto muito grande. Razão pela qual esses governos foram substituídos por um governo autoritário e populista.

Por quê? Porque ao invés de criar políticas públicas emancipatórias, de construir junto com a população cidadãos construíram consumidores através de distribuição de renda, que é muito importante, é emergencial, mas que tinha que ser necessariamente acompanhada de políticas de construção de um projeto político de transformação e de emancipação da sociedade e de distribuição do poder. Nós temos que discutir a questão do poder.

Esse poder não pode continuar na mão de elites que exploram o país, que exploram a população, que culturalmente difundem valores, não só conservadores, mas de eliminação da alteridade de tudo isso. E acho que nós temos que pensar em modelos de política diferenciados, e o cuidado é um lugar de construção contra a hegemônica. Ele pode vir a ser.

Por quê? Porque o cuidado implica na alteridade. Onde tem o cuidado tem o outro.

Pode ser uma política que está lá no papel enorme, mas no fim da linha são dois seres humanos em um colóquio singular. Este colóquio singular, que pode ser o da assistência, que pode ser o da saúde, esse colóquio singular é o momento de encontro de alteridades que pode se transformar em um projeto de emancipação, mas pode também ser um momento de subalternização. Depende do Estado e do agente que está ali.

Ele pode estar subordinando o menino na escola, o morador em situação de rua, ele pode estar subordinando a pessoa que vai, a LGBT que vai a um posto de saúde por ser humilhado, desprezado, e não ser uma pessoa que está construindo a sua emancipação. Mas ele pode também ser o espaço de construção de uma contra-hegemonia, de um contrapoder. E é isso que a gente propõe com um conceito que eu trabalho, que é de Estado pedagógico.

O Estado tem que ser, em todas as suas interações, em todos os seus agentes, parte de um projeto pedagógico no sentido de Paulo Freire. Um sentido de esperançar, um sentido de, junto com a população, em diálogo com a população, de uma forma dialógica, entender. E não é o Estado fazer propaganda do que ele está fazendo.

Isso não é comunicação. Isso aí é propaganda. O Estado dialógico é aquele que comunica porque ele ouve.

Ele tem que ouvir primeiro para poder comunicar. Tem que entender as demandas, os sofrimentos da população e entender que, junto, é possível construir um novo país, é possível construir uma nova sociedade. É isso que eu me proponho e acho que vocês todos também.

[Intervenant 3]
Querida, muito obrigada por essas palavras, pelas bonitas palavras e pelo apontar caminhos para a gente pensar. Muito obrigada mesmo. O nosso convidado, Rômulo Paz, debatendo essas questões, trazendo um pouco de toda a vivência dele como pesquisador, como gestor e como pessoa implicada também nessa temática.

Obrigada, Rômulo.

[Intervenant 2]
Obrigada. Bom dia a todas e todos. Eu me autodescrevo.

Eu sou um homem branco, de 66 anos, de barba branca, já tive cabelos e o que sobrou também é branco. Uso uma camisa branca de mangas compridas, estou à esquerda do palco e falarei daqui sentado. Bom, primeiro eu queria cumprimentar, então, a coordenação desta casa, a Fabiana Damas e o Augustavo Mata por nos receber.

Queria cumprimentar a Eline, que me convidou e com a qual temos trabalhado juntos nessa grande pesquisa sobre população e situação de rua. Lamento, Diana, não ter tido a oportunidade de te revir. Teria sido um prazer enorme te reencontrar aqui em Brasília.

Queria cumprimentar a Sônia Fleury, Isabel Litcher e também alguns amigos que estão na plateia, como Marco Natalino, como Carla Bronzi, Bronzo, Flavio Lino, que também participam deste grande trabalho. Queria registrar a presença do padre Júlio Lancellotti, a qual temos a honra de ter aqui neste evento. As reflexões que eu queria fazer, de uma certa forma, são reflexões que a gente faz no grupo de pesquisas de Belo Horizonte, da qual Rafaela Marinho e Maria Cecília Araújo fazem parte, e também com Rosilene Rocha, que tem me ensinado muito sobre assistência social nos últimos 20 anos.

Acho que tem duas palavras que aparecem com muita força nas várias falas, uma mais explícita e outra implícita. A primeira é complexidade. Nós estamos falando de um conjunto de fenômenos complexos.

E a segunda é desafios. Ou seja, como é que a política pública pode responder a estes desafios de uma demanda tão contemporânea e tão complexa. Esse é o meu ponto de partida.

Por ser complexo, nós podemos partir de várias fontes do conhecimento para refletir sobre este fenômeno. Podemos, por exemplo, começar da história. As sociedades, e sobretudo as cidades, produzem população em situação de rua desde que nós temos registros sobre as cidades.

Se nós olharmos da construção das cidades, sobretudo das cidades com registro de dois mil anos para cá, nós vamos encontrar que observadores, historiadores, cronistas, etc., filósofos, falam em população em situação de rua. São contextos muito distintos do que nós vivemos hoje e vivemos em outros tempos da história, mas estavam presentes. Então, a primeira questão que eu queria trazer.

As sociedades, e as cidades sobretudo, produzem população em situação de rua, mas elas são muito distintas. Os seus contextos são muito distintos. Significa que os fatores geradores também são distintos.

Mas isso é antigo. Primeira observação que eu queria fazer. Se vocês olharem, por exemplo, a própria formação da Europa, a formação da Europa é um processo contínuo de deslocamento de populações e de produção de populações em situação de rua em contextos históricos extremamente dramáticos.

Povos que foram completamente substituídos por outros povos que, por sua vez, foram deslocados ou mesmo eliminados. Isso aconteceu também nas Américas. Entretanto, o contexto de hoje pode ser melhor explicado por outras fontes do conhecimento.

Primeiro, podemos pegar a demografia. A queda muito grande no número de filhos por família, ou seja, as famílias cada vez menores, e um processo também de arranjos familiares, de desobrigação das famílias do cuidado com as pessoas mais vulnerabilizadas das suas famílias. Os idosos, os doentes, e doentes crônicos, sobretudo, e também portadores de sofrimento mental.

Então, esses novos arranjos familiares explicam muito dessa reconfiguração do espaço, sobretudo espaço urbano, de como as pessoas vão se situar. Nós podemos pegar a economia. Partindo de uma referência, o Piketty, por exemplo, quando ele fala do hipercapitalismo.

Os atributos do hipercapitalismo, uma sociedade baseada numa exploração do trabalho em níveis altíssimos, na intensidade, e também numa exigência de performance muito alta, produtora de sofrimento. Aí também, como característica desse hipercapitalismo, uma sociedade da hiperexposição digital. E do medo das pessoas, em relação também a essa vivência de serem canceladas, também pelo controle que o mundo digital permite, e também pela nova exigência de produção, de ser bem sucedido, de mostrar a outros, exibir aos outros esta condição.

Então, nós temos, portanto, na economia, ou numa leitura mais contemporânea, uma sociedade produtora de sofrimento e de desigualdade. Se nós pegarmos a política, antes de chegar na política pública, na própria saúde pública, nós vamos encontrar o sofrimento mental crescente, nós vamos encontrar a solidão como um fator muito característico dessa sociedade. Nós nunca estivemos tão sós, apesar de meios, ferramentas tão eficazes de nos conectar.

Esta é a sociedade da angústia. E isto também pode explicar muito do que nós estamos conversando aqui neste momento. Nós podemos, então, partir para a política pública.

E aí nós pegamos o segundo ponto, o desafio, a perplexidade da política pública de enfrentar uma situação tão complexa. Primeira delas, nós temos, do ponto de vista geral, global, e também no Brasil, uma redução da pobreza absoluta. Mas, ao mesmo tempo, um crescimento da população em situação de rua, que é uma população especificamente em condições de pobreza absoluta.

Isso é um paradoxo. Nós, embora tenhamos crescido muito em termos de ofertas para as políticas públicas, para a população em situação de rua, elas são ainda muito insuficientes e elas são muito desconectadas. O nível de integração delas ainda é muito baixo.

Ainda que tenhamos experiências importantes, como os pontos de referência, por exemplo, para a população em situação de rua, do Ministério dos Direitos Humanos, mas que é um número muito pequeno. Nós tivemos, e eu tive a honra de participar desse processo de crescimento da política de proteção social no Brasil, tanto na extensão do Bolsa Família, surgimento e extensão do Bolsa Família, como na extensão do BPC e como no surgimento do Sistema Único de Assistência Social. Mas isso é uma questão fundamental.

É uma grande pergunta em termos de políticas públicas que me assombra, e deve assombrar o Daísa e deve assombrar outros que estudam com esse tema. Por que a nossa política de proteção social, apesar de ter crescido, ela hoje bateu no teto para responder às demandas da população em situação de rua? Os dados que Laís Abrama mostrou aqui, uma cobertura importante em termos de Bolsa Família e de BPC e um crescimento dessa população, um crescimento do número de idosos na rua, o crescimento do número de crianças na rua.

Isso é um fenômeno mais recente. Posterior à estruturação dos SUAS, nomeados dos anos 2000. Então, nós tivemos antes uma situação pré-SUAS com o fortalecimento dos SUAS, o surgimento do Bolsa Família e o nosso aumento da oferta da transferência de renda condicionada e não condicionada, nós tivemos uma mudança no panorama das ruas.

Depois, elas voltaram a crescer. E esta é um desafio importante para nós, de compreender porque, apesar da oferta de mais políticas de proteção social, a população em situação de rua continua crescendo e continua crescendo também para segmentos que eram menos presentes na rua. Me refiro, os idosos, me refiro às crianças.

E notem que, no caso do BPC, é voltado especificamente para as pessoas idosas pobres e pessoas com deficiência pobres e o Bolsa Família é voltado especialmente para as crianças. Na sua origem, e mesmo com todas as mudanças do programa, ele é focado em primeiro lugar para esse grupo. Então, este desafio coloca para nós uma questão de que nós estamos produzindo, mas não é só isso.

Queria me conectar com uma expressão que Sônia falou. O aspecto da subjetividade. Eu queria entrar um pouco nessas questões.

Nós temos estudado bastante população em situação de rua e um aspecto importante das pesquisas da população em situação de rua no Brasil é a pesquisa participativa. Isto é fundamental. É fundamental.

Não se consegue penetrar nesse nível de complexidade e compreender esses fenômenos sem a presença das pessoas que têm as vivências, a vivência da rua. E nós precisamos agora compreender também mais a subjetividade, a lógica das escolhas. Não apenas da determinação que é externa, mas diante das escolhas, da possibilidade de escolha, tanto do autocuidado em relação à saúde, que é o tema agora que o Mari Cecília tem trabalhado, como também em relação, por exemplo, à questão da moradia primeiro.

Dessas relações que se estabelecem com este equipamento novo em termos de proteção para as pessoas em situação de rua, como é que elas lidam com isso. Assim como nós aprendemos em relação ao centro POP. Também em relação às escolhas que fizeram que eles modificassem a sua lógica de atendimento, mas não o bastante para atender às várias queixas e críticas que os usuários têm desses equipamentos.

Ou em relação às abordagens, que elas têm se modificado, mas ainda devem muito em relação às demandas que estão colocadas. Então o que eu quero dizer a vocês é o seguinte. Em relação à política de proteção social voltados à população em situação de rua, o que eu gostaria de provocar, e aqui nós temos várias gestoras, vários gestores, vários ativistas fundamentais para que a gente possa evoluir na produção de um modelo que responda minimamente a essas demandas.

A primeira grande questão que me coloca, eu me coloco, e queria trazer para vocês, é que nós precisamos compreender mais a dinâmica das escolhas. Precisamos entender mais isso. Porque para cada política, a Diana Alarcon apresentou um pouco dessa questão, cada política para cada indivíduo, grupo de indivíduos, e isso está inclusive na natureza do serviço social brasileiro, na produção das teorias que orientam o serviço social no Brasil, e que as abordagens em função de cada caso, a Diana usa essa expressão, ela coloca para nós a necessidade de nós compreendermos e estabelecermos de uma certa forma um contrato social. O que é subjacente a isso?

No caso, por exemplo, da moradia primeiro, tem um contrato social forte ali estabelecido. E eu me pergunto se as partes envolvidas estão de acordo com os pressupostos deste acordo. E compreender esta dinâmica, esta subjetividade, porque senão vamos produzir uma política que seja precária, para dizer o mínimo.

Então, entender as escolhas e para isso nós precisamos produzir mais conhecimento sobre essas questões. Novamente, nos estudos que a gente tem feito em Belo Horizonte, quando estudávamos, por exemplo, redutores de danos e redutoras de danos, entender essas lógicas que presidem essas escolhas de mudar de lugar quando existe uma oferta e fazer com que essa oferta vigore e que ela funcione. Segundo ponto para mim, eu acho que nós precisamos integrar muito essa abordagem em termos de políticas públicas para a população em situação de rua.

Se é importante que nós tenhamos equipamentos especializados e nós estamos fazendo um esforço nesse sentido, é importante compreendermos essas experiências internacionais, muito importante compreender como Finlândia, como Alemanha, como o próprio Estados Unidos tem experiências diversas em relação a isso, mas lá também está crescendo e crescendo muito, crescendo muito. Como é que nós vamos, a partir dessas experiências, essa abordagem mais especializada, enfrentar essas demandas? Mas existem que eu chamo de responsabilidades distribuídas que cabem ao CRAS, cabem ao CREAS, mas cabem também aos centros de saúde, não apenas aos CAPS, cabem às várias unidades de saúde, compreendendo as demandas dessas populações, e são várias, e elas entendam como lidar com essas demandas, porque parte dos problemas que nós temos está ligado às barreiras de acesso.

As pessoas não sabem, as pessoas não sabem quem tem direitos, o servidor público não os trata como pessoas com direitos, e as pessoas então não sabem aonde recorrer. E às vezes, a própria, por exemplo, presença de médicos e médicas em vários desses equipamentos tem mudado a lógica do atendimento, isso é uma coisa também que a gente tem percebido, e fez um atendimento, muitas vezes, que caberia à atenção primária-saúde. Então há uma certa necessidade de nós reposicionarmos este aparato de atenção primária diversa, seja ele na assistência social, seja ele na educação, seja ele na saúde, seja ele na questão de segurança, e compreenda as demandas e as necessidades dessa população.

Então tem uma responsabilidade distribuída que precisa ser melhor organizada. Aí nós vamos chegar na questão da responsabilidade, ou nas atribuições mais especializadas, num segundo nível. E neste segundo nível não é apenas uma questão de escala.

Nós temos um problema grave de escala. Mas, para além disso, nós precisamos compreender melhor as demandas, e essa produção de conhecimento é fundamental, para que a gente possa ser mais eficaz nas respostas a essas demandas. Porque senão nós vamos continuar produzindo equipamentos e com uma sensação de que nós respondemos pouco.

Respondemos pouco. A última coisa que a gente precisa fazer na política pública é uma ação desesperançada. E achar que a gente faz pouca diferença.

Essa é a pior coisa que pode ter. Isso para qualquer trabalho no serviço público. Para qualquer trabalho no serviço público.

Então nós precisamos também melhorar este nível da atenção mais especializada. Eu não quero dizer no modelo hierárquico mais especificamente, mas aquele que não tem essa responsabilidade distribuída, tem uma responsabilidade específica no atendimento da população em situação de rua. E nós precisamos de dados para fazer esse planejamento, esta gestão e este monitoramento de maneira adequada.

Eu sei que esse é o tema da próxima mesa, então eu não vou dar spoiler. Mas o que eu quero dizer em relação a essa questão é que também nós avançamos no Brasil. O Cadastro Único é uma ferramenta potente.

Ela nos permite compreender várias questões. Os censos de população de rua, e vejam, por exemplo, no censo de Belo Horizonte de 1922, onde se aferiu que as pessoas declaravam sofrimento mental, 57,2% das pessoas entrevistadas declararam sofrimento. Esse também é um fator importante que está vinculado como causa e efeito, isso nós aprendemos também, a drogadicção como causa e efeito da condição de se estar na rua.

Então nós temos hoje um domínio maior sobre esse tema, mas ele é insuficiente. A própria questão dessa é uma discussão que eu participei com o IBGE há mais de 20 anos, sobre como recenciar a população em situação de rua. Já se avançou, e eu tenho muita convicção se o censo existir, ele pode deixar de existir porque a informação administrativa pode ser potente o bastante e a gente prescinda do censo, como aliás é na Holanda, como é na Dinamarca, como é na Noruega, como são em vários países que não tem censo mais porque o registro administrativo já permite que se faça isso, mas o próximo certamente nós teremos população em situação de rua, e ele agora está perto, enquanto não é nada. Então, esta é uma outra possibilidade.

Então, para fechar, para que ela não fique preocupada com as plaquinhas aqui, esse é o pior dos trabalhos que a gente pode ter na vida. É isso que a gente faz com os alunos de mestrado, você vai levantar a plaquinha para aquele monte de velho parar de falar muito. Exatamente.

Exatamente. Mas tem um bocado de jovem que fala muito também. Então, é o seguinte, nós temos um nível de complexidade grande e diverso, população em situação de rua, no Brasil é diferente da população em situação de rua, na Índia, em Bangladesh.

É outra coisa. Do ponto de vista cultural, do ponto de vista da compreensão social do fenômeno, da compreensão dos determinantes, que eu disse a vocês, se as cidades historicamente produzem menos casas do que pessoas, pelo efeito atrator, pela dinâmica econômica e pelas situações sociopolíticas diversas e agora ambientais, agora não sempre ambientais, mas agora temos uma compreensão disso, culturalmente a percepção de estar na rua é muito diferente.

Como também é diferente nas grandes cidades africanas. E é diferente nas grandes cidades africanas a seleção do norte e a seleção do centro e pro sul. É outra conversa.

Mesmo assim, nós, no caso brasileiro, que estamos nesse processo crescente e me preocupa, Diana, por exemplo, os números da cidade do México que você nos traz, eu achei baixos eu penso que o contexto mexicano pode ter muitas semelhanças com o contexto das grandes cidades brasileiras. Temo que possa haver uma certa invisibilização. Então, nós temos este momento, nós temos com os grandes desafios de política pública no Brasil.

Nós avançamos, mas nós devemos demais. E para isso nós precisamos compreender que é preciso ter uma política para a população em situação de rua, em todas as políticas. Compreender como cidadãos e cidadãs que têm especificidades nas suas demandas e que a política pública precisa compreender isso.

Nos seus equipamentos, nos seus registros e na sua abordagem integrada. Do contrário, nós vamos continuar produzindo até experiências interessantes, mas muito insuficientes na escala e na qualidade dessa abordagem. E a última coisa, eu volto à compreensão dos indivíduos.

Volto a isso pela seguinte razão. Existem escolhas, também. Não somos só fruto das nossas circunstâncias, mas nós precisamos compreender essas escolhas, em que contexto ela se dá e nas suas devidas motivações.

Vale para todos, vale para quando a gente quer fazer uma política pública eficaz e vale para todos que estão em situação de rua, todos e todas. Obrigado.

[Intervenant 3]
Muito obrigada as contribuições de Romulo ampliando a nossa compreensão sobre questões complexas. Bom, eu vou abrir para pequenas falas, quem tiver, pequenas eu digo falas curtas, queiram comentar questões. Queria anunciar a presença do Padre Júlio Lancelotti aqui.

Agradeço. A gente vai ter uma oportunidade de dialogar um pouco com o Padre Júlio à tarde e também com a professora Odaísa Esposati, que também vai estar conversando com a gente à tarde. Então, agradecer.

A gente, então, abre enquanto o pessoal está preparando lá alguma coisa do almoço, a gente vai ter um almoço aqui em frente, onde a gente tomou café, nesse mesmo lugar, mas, enquanto isso, a gente abre para algumas colocações e o Igor já nos avisa dali a pouco, quando a gente puder vai lá. Vai lá. Passa o microfone para lá?

Oi? Quem gostaria de estar comentando alguma questão?

[Intervenant 19]
Aqui, meu querido.

[Intervenant 20]
Bom, bom dia a todos. Primeiro, eu queria agradecer à mesa, agradecer. Acho que foi um momento de muito esclarecimento.

Ah, sim, eu sou Hugo Fagundes, trabalho na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, e agradecer à professora Sônia, eu não conhecia esse conceito do estado pedagógico, que eu acho que explica o mal-estar da minha existência. Foi sensacional organizar um pouco, trazer Paulo Freire para o meio de uma compreensão do momento contemporâneo e que acho que dá um certo alento. Pelo menos, se não são trilhas, mas volta a colocar um pouco a nossa reflexão nos trilhos.

Mas, com o professor Romulo, que fez uma brilhante análise, eu queria ouvir de vocês um pouco uma certa avaliação, um certo balanço do programa Ruas Visíveis. Porque ele foi lançado com toda pompa e circunstância nesse governo, com um orçamento que aparentemente seria o início para uma grande conversa, e a gente não vê mais resultado. Eu não vejo mais, eu não visualizo, e eu acho que eu sou um somos nós.

A gente não visualiza isso e seria muito importante para a comunicação do governo poder dar visibilidade aos ruas visíveis. Eu gostaria de ver uma palavra de vocês sobre isso. Obrigado.

[Intervenant 13]
Bom dia a todas e a todos. Eu sou Rosilene Rocha, eu trabalho no gabinete da Secretaria Nacional da Assistência Social lá no MDS. Também queria agradecer muitíssimo à professora Sônia e ao professor Romulo, dizer que é muito alentador, me encanta ver dois intelectuais do porte de vocês falarem também muito nessa perspectiva do encantamento, das subjetividades, eu acho que isso nos anima muito para a luta.

Então, muitíssimo obrigada. Eu só queria levantar uma questão para a gente pensar, a partir muito aí da menção do Romulo ao Centro de Referência da Assistência Social e muitíssimo a menção da professora Sônia, com relação à questão de por que a gente aumenta orçamento para o atendimento à população em estação de rua, e essa população continua aumentando no Brasil. Quer dizer, vocês é que são os estudiosos, eu tenho algumas pistas, intuições, a partir do 35 anos de trabalho com gerência e gestão de políticas públicas, especialmente na área da assistência social.

A gente sabe que governos não são bons em políticas públicas preventivas, governos tendem a responder aos efeitos dessa dinâmica social de criação de pobreza, quer dizer, a estrutura social que a gente vive, ela é uma estrutura social que produz pobreza, que produz vulnerabilidade. A mim parece que um dos problemas centrais é que a gente investe nos aspectos, inclusive da financiarização, que a professora disse, que são importantes, não vou nem discutir, nem, enfim, citar a importância dos programas de renda, especialmente numa sociedade tão desigual como a sociedade brasileira, mas a gente não discute os outros aspectos que poderiam ser os aspectos preventivos que, no caso da população em situação de rua, são muito importantes. O fortalecimento e o vínculo das dinâmicas familiares, o trabalho, que eu chamo de trabalho preventivo, porque isso também aparece nos estudos e no último censo a que o Romulo se referiu, que eu tive, inclusive, a oportunidade de coordenar na Prefeitura de Belo Horizonte, a gente vê muito isso. Pela primeira vez o censo, por exemplo, encontrou nas ruas população LGBT+, advindo não só de pobreza e de vulnerabilidade social o street censo, mas de problemas culturais e de preconceitos dessas famílias.

A gente encontrou população em situação de rua que envelheceu na rua, mas também população em situação de rua idosa, que por questões de cuidados familiares, de falta de cuidados familiares, estão na rua. E aí uma pista, nem vou dizer que uma resposta, uma solução, ela está no Sistema Único da Assistência Social, que são serviços socioassistenciais. A assistência social no Brasil, ela tem programas de renda, tem o BPC, enfim, embora tenha uma discussão por trás, mas também o Bolsa Família, que nos municípios são executados pela assistência social, mas ela tem serviços assistências sociais tipificados e financiados, que fazem esse tipo de trabalho.

Nos CRAS, que estão nos territórios e também nos CREAS. O que ocorre é que aqui hoje mesmo, na mesa de abertura, agora nessa mesa menos, a gente fala sempre da assistência social a partir dos programas de renda. Todo mundo fala do benefício de prestação continuada, fala do BPC, mas não fala dos serviços.

Então eu acho que esse é um aspecto importante, eu acho que o Rômulo também já trabalhou na gestão do MDS, tem toda a condição de falar um pouco mais, eu acho isso bastante importante, queria também chamar a atenção dos estudiosos para isso. Obrigada. Obrigada.

[Intervenant 3]
Tem mais alguém inscrito? Tem!

[Intervenant 14]
Temos mais. Vai lá, passa lá. Bom dia, gente.

Meu nome é Márcia, eu sou psicóloga, eu trabalho... Eu vou ter uma fala institucional e uma não institucional, porque eu trabalho na Promotoria da Infância e Juventude, aqui no MPDFT, e também faço parte de um coletivo que se chama Café com Escuta. A gente faz uma atividade na rua.

E eu quero começar a parabenizar o evento, está excelente, e vou pegar um pedaço da fala de Sônia, quando ela se refere ao contradireito das pessoas vivendo em situação de rua. As pessoas em situação de rua, que a gente ouve, quando estão na rua, elas vivenciam, a gente junto, esse contradireito o tempo inteiro. E aí eu vou fazer uma reflexão aqui, vou levantar uma coisa para a gente pensar um pouco.

Quando a gente olha aqui esse auditório, a grande maioria das pessoas não estão e não estiveram em situação de rua. Só para a gente refletir da dificuldade que é essas pessoas chegarem aqui para ouvir, para falar, para reivindicar os seus direitos. A gente tem um monte de gente boa, eu não estou criticando, a gente está aqui, inclusive eu, estou aqui também.

Mas aí a gente pensa, nas mesas, a gente tinha Anderson, que eu amo de paixão, é uma pessoa maravilhosa, que inclusive a gente estava junto em uma conferência semana passada, que saiu dos delegados para participar da Conferência de Direitos Humanos, e uma das coisas que a gente discutiu lá foi a possibilidade de facilitar a chegada dessas pessoas nos eventos. Porque as pessoas não conseguem chegar, apesar de a Fiocruz ter disponibilizado. Mas, mesmo assim, não é assim tão fácil.

Inclusive porque as pessoas têm dificuldade de chegar e é difícil, gente. E aí, como o Sônia falou, o contradireito começa aqui com a gente. O contradireito começa a aparecer aqui.

Por mais que a gente pense que a gente esteja disponibilizando e facilitando, a gente tenta. Mas não é fácil. E aí eu penso que essa escalada começa desde a fase da criança e adolescente.

Eu estava até conversando aqui com o Cris, que é defensora pública do Rio de Janeiro, e a gente faz parte de um grupo junto, que as crianças e adolescentes também não estão representadas aqui. E tem muita criança e adolescente. Como eu trabalho na infância, agora é o lado institucional, não só, mas também tem crianças e adolescentes em situação de rua, elas também são sujeitos de direito.

E, se você não faz a prevenção, como ela falou ali, é toda uma trajetória que elas começam. Muitas em situação de rua, onde a gente não tem os equipamentos para ampará-las. A gente não tem centro propinho, a gente não tem centro de convivência, cápsulas suficientes quando elas têm problemas de necessidade.

Eu estou falando tudo isso, gente, porque eu acho que aí Sônia colocou a questão da política... Você podia concluir. Pois não.

A questão da política que ela falou de combate, a gente precisa de prevenção. E a prevenção começa na infância e adolescência. Só para demarcar, a necessidade de a gente ter mais pessoas nas mesas em situação de rua, além de crianças e adolescentes e todas essas outras questões.

Obrigada.

[Intervenant 19]
Obrigada.

[Intervenant 18]
Olá. Então, bom dia. Eu me chamo Veridiana, eu trabalho há 25 anos com a população em situação de rua, vindo de uma trajetória na assistência social e agora na saúde, fazendo apoio às equipes de consultório na rua em Porto Alegre.

E há muitos anos que eu discuto também essa questão da população em situação de rua. Hoje eu compunho também o Comitê Nacional pelo Fórum Nacional da População de Rua. Mas a gente tem algumas coisas que a gente não fala quando se discute, porque justamente as duas políticas que mais chegam para essa população é a saúde e assistência.

Inclusive, só muda o CEP nos comitês, nas suas composições, que foi um avanço, uma conquista dos movimentos, através do Decreto 75.3, que institui a política nacional, a composição dos comitês, mas ainda assim a gente ainda vê representações só da saúde e assistência nesses comitês. E aí isso chega num limite. A gente tem um déficit habitacional nesse país imenso e muito pouco se discute sobre isso, e muito pouco a política de habitação chega para a população em situação de rua.

Na cidade de Porto Alegre, em 2015, nós tínhamos um levantamento dos prédios públicos e imóveis abandonados de 48 mil imóveis, só em Porto Alegre, onde desses 48, 6 mil eram públicos. E a população de rua naquela época estava num senso de 2.115 pessoas. A gente sabe que é muito mais.

Mas eu queria que vocês pudessem abordar isso um pouco, porque eu acho que o caminho seria uma articulação entre trabalho, renda e habitação, e a gente resolveria muito da questão da situação de rua nesse país. Acho que esse é um tema muito importante para ser abordado. Porque só assistência e saúde chegam num limite dado.

Obrigada.

[Intervenant 17]
Bom dia a todas e todos. Sou Luciano Freitas Oliveira, pesquisador em relação à questão da situação de rua há um bom tempo, e trabalhador do SUAS. Estive no Ministério e, agora, a oportunidade de estar como pesquisador bolsista no IPEA.

Primeiro, parabenizar pela brilhante exposição dos professores sobre essa produção social da situação de rua. Mas eu queria trazer um elemento, como uma segunda camada, que é essa reprodução cotidiana também. E, se eu puxar esse fio, como bem apresentado pela mesa, essa reprodução da vida na rua também viabilizada pelo modelo de atenção que temos no Brasil.

O modelo, por exemplo, que, de manhã, no centro pop, dorme no abrigo, vai no CAPS, e, nessa analogia, produzindo um labirinto onde as pessoas muitas vezes se perdem e não encontram saídas. E aí, se pensar em trilhas e reorganizar caminhos, pensar também nessa saída de uma mudança radical em relação ao modelo que temos, seja hoje discutindo assistência e saúde, reconhecendo que a situação de rua é a expressão mais radical do sem teto, de quem não tem onde morar. Então, quando eu penso nisso, e aí, para partilhar com vocês, nessa reprodução cotidiana mobilizada pelo próprio modelo estatal que eu produzo nas questões estruturais colocadas e também que rebate numa perspectiva até individual, mas reproduzida cotidianamente através de um modelo que ainda precisamos repensá-lo radicalmente em relação às nossas ofertas de políticas públicas, que avançamos muito, mas ainda presos nesse labirinto. Eu queria trazer para contribuir nessa construção de produção e reprodução. Muito obrigada.

[Intervenant 3]
A gente vai, com a fala da colega, encerrar as inscrições daqui, passar para a mesa, sabendo que a gente vai estar continuando à tarde, amanhã, e depois a Estela nos dar as outras orientações.

[Intervenant 16]
Bem breve, bem rápido mesmo. Sou Neia, sou do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e faço parte do CIAMP. A professora Sônia coloca muito a questão, quando ela colocou um pouco a questão da exclusão, ela trouxe um pouco de Foucault e trouxe a questão dos leprosos.

E aí eu queria que você colocasse um pouco, para a gente é muito forte, a questão racial. E aí, a partir da questão eugênica, a partir da eugenia. A gente pensa que a eugenia ficou lá atrás, mas a gente vê hoje um projeto eugênico colocado na sociedade, que é de exclusão, de colocados indesejáveis das pessoas, da eugenia com a higienização da limpeza das cidades.

Então eu queria que você comentasse um pouco disso e muito focado na questão racial, porque a população de rua tem classe e tem raça. Eu acho que a gente precisa deixar isso muito demarcado. A outra coisa que o professor colocou, que eu acho que para a gente é muito forte, é que, apesar de todos os programas, as pessoas continuam em situação de rua.

Aí eu queria que a gente pensasse um pouco, coletivamente, o que esses programas estão ofertando. O que a gente coloca? Se a gente fala assim, um Bolsa Família vai dar conta.

Quando a gente pensa que você vai procurar um aluguel, o valor do Bolsa Família não contempla. Que o programa da questão da moradia não está colocado para todos os lugares. Que não está contemplando o Brasil como um todo.

Então, para a gente pensar um pouco que, apesar de todas as políticas, não dá conta. E que a gente não pode dissociar da questão do capital. A gente vive numa sociedade extremamente capitalista, numa sociedade capitalista e num país extremamente desigual.

A gente tem pessoas que ganham... A gente viu a briga que foi no Congresso à questão dos super-ricos. Que tem pessoas que ganham 100 mil reais e tem outras que têm que viver, que as pessoas têm que viver com o Bolsa Família.

Então, é essa a sociedade que a gente está vivendo e que eu queria que vocês comentassem um pouco. Obrigada.

[Intervenant 19]
Agora a mesa pode dar... Ei, som? Agora vai.

[Intervenant 6]
Agora a mesa irá dar o retorno das falas e, posteriormente, eu finalizo a mesa com algumas informações e informes para vocês. Está bem?

[Intervenant 2]
Olha só. Primeiro, em relação às políticas mais específicas contemporâneas do governo Lula sobre população e situação de rua, haverá uma mesa com a Janine, que é a secretária executiva do Ministério dos Direitos Humanos. Eu acho que é importante esse momento para fazer uma reflexão sobre isso.

Apenas o que eu posso adiantar da minha experiência com implementação de políticas públicas é o seguinte. O diabo mora na implementação. Quer dizer, na política pública, o diabo mora na implementação.

Então, você ter um orçamento, ter um marco legal, ter um planejamento e fazer com que isso aconteça é outra conversa. Então, existem momentos em que a política pública leva um tempo para decolar. Por exemplo, na saúde, a própria atenção primária levou um certo tempo.

A saúde da família levou um tempo para decolar. Ela precisa do nível de maturação fazer as devidas articulações com essa cadeia, porque os SUAS, em grande medida, usam um certo espelhamento do SUS, Sistema Único de Saúde, onde você tem vários níveis de execução da política. Nível estadual, nível municipal.

Mas eu não queria ir muito nesse debate, porque eu acho que o momento de discutir esse assunto é nessa última mesa. Eu queria trazer um pouco e refletir mais sobre a reflexão que Rosilene traz. Vejam o seguinte.

Na questão da transferência de renda no Brasil, que é um dos programas mais excepcionais que nós já produzimos, eu me refiro à questão do Bolsa Família, mas o Bolsa Família, eu queria alertar a vocês uma questão. Ele foi desenhado para várias coisas e ele tem efeito colateral sobre outras tantas. Não estava no escopo do Bolsa Família estar direcionado à população em situação de rua.

Exato. Pois é. Não na sua origem, e aí eu ia complementar.

Nem depois. Então nós precisamos entender qual é o tipo de política que nós vamos fazer para responder a determinadas demandas. Agora o que me preocupa nessa questão particular da transferência de renda?

Quando nós começamos a estudar, eu fui secretário de avaliação inicialmente do MDS, depois fui secretário executivo, e quando eu era secretário de avaliação, começamos a fazer avaliação de como as famílias se comportavam frente aos beneficiários. E no caso do BPC, o BPC é uma das principais fontes de renda de famílias inteiras no Brasil. E isto fazia com que as famílias tivessem um esforço de retenção daquele beneficiário do BPC do grupo familiar.

Está acontecendo alguma coisa que a gente não compreende direito. Ter populações beneficiárias do BPC no passado em situação de rua eram muito raros. Agora cresceu.

E continua crescendo. Nós precisamos compreender o que está acontecendo. Quais são esses mecanismos que estão alterando a lógica de organização familiar que faz com que esses indivíduos não fiquem mais em casa.

O que está rolando? Nós precisamos compreender esse fenômeno. Acho que essa é uma das grandes perguntas da assistência social hoje no Brasil.

Indo então para a questão da relação de serviços benefícios. Os serviços de assistência social foram penalizados do ponto de vista orçamentário pesadamente durante o governo anterior mas eles continuam penalizados. Nós temos uma desproporção entre o volume de recursos transferidos e o recurso investido nos serviços.

Este é uma distorção no nosso modelo. Isso faz com que falte ancoragem para o trabalho de assistência social junto às famílias beneficiárias das transferências. Nós estamos com esse desequilíbrio já há muito tempo e não foi corrigido.

Eu queria alertar a vocês. Houve uma melhoria, mas isso. Então, implica que para que a gente possa ser eficaz na produção de política nós tenhamos capacidade de também reequilibrar o nosso modelo.

O que eu quero dizer com isso? Primeiro, em relação aos equipamentos, aos serviços contidos nesses equipamentos, porque os equipamentos representam muito mais do que um programa, mas sim um conjunto de ações. E no caso das transferências, a minha percepção é o seguinte.

Este país fez uma revolução na proteção social com suas e com o crescimento do BPC na cobertura e na implementação do Bolsa Família. É um novo momento e este novo momento implica uma transformação importante no nosso modelo de proteção social. Nós vamos ter que ser mais inovadores, mais criativos e mais específicos nas abordagens dos vários problemas, dentre os quais, em relação à população em situação de rua.

Enquanto nós não formos ambiciosos a esse ponto, nós vamos continuar fazendo essas constatações. Podemos ter aumentos orçamentários, mas continuaremos colhendo um aumento de demanda que a gente não está dando conta. E nós estamos pegando só um aspecto da demanda para a proteção social que ela é muito maior.

Eu termino dizendo o seguinte. Nos anos 80, se discutia muito na demografia brasileira que a tendência de redução do estado de proteção social, no caso mais da previdência propriamente, da redução de direitos, e isso aconteceu, e ela tende a acontecer ainda mais, por causa, inclusive, da mudança da estrutura etária da população, nós teremos uma desproteção que seria um dos motivadores para que tivéssemos mais pessoas na rua, idosos na rua. Então, significa o seguinte, que as pressões para que nós tenhamos mais gente nessa condição, elas continuam muito fortes.

E as nossas políticas precisam de mais potência, de mais integração e de mais criatividade. Então, o que nós precisamos, Rose, é mais ambição nesse enfrentamento. Você tem toda razão.

Nós reproduzimos um modelo diariamente e nós produzimos modelos que fazem a retenção dessa questão. Agora, eu insisto, gente, nós, não é só uma questão da oferta, é a questão da qualidade da oferta que implica uma melhor compreensão deste fenômeno. Obrigado.

[Intervenant 3]
A Diana levantou a mão aqui, podemos colocar ela? Diana?

[Intervenant 4]
Me escutam? Sim. Muito obrigada.

Eu, muito rápido, quero fazer talvez dois comentários. Um em relação a este último planteamento que fez uma das companheiras na sala. Estes são países capitalistas, sumamente desiguales.

Como fazemos para atender a uma população que tem demandas e condições extremas, muito específicas? E acho que aí está a reflexão. Quer dizer, facilitar o acesso desta população aos serviços, à cidadania plena, requer também uma visão de política social e econômica, como o planteava a Sônia, para todos.

Quer dizer, a universalização dos serviços. E acho que aqui temos o grande desafio. A população em condição de rua, eu dizia, desde o ponto de vista da experiência na cidade de México, requer atenção especial personalizada.

Mas uma vez que temos transitado esta primeira fase de contato, precisamos poder conectá-los com os serviços aos quais temos direito como cidadãos. E esse trânsito não é um trânsito simples, mas garantimos efetivamente esse acesso universal aos serviços sociais básicos. E aqui incluo a casa.

O grande tema da população em condição de rua em uma cidade como a cidade de México, uma cidade gentrificada, cara, etc., é o acesso à casa acessível. Aqui está, acho eu, um dos nodos que precisamos destravar. Na cidade de México iniciamos um processo de construção de casa acessível no centro da cidade, porque parte do problema também é esse, expulsamos as nossas populações para a periferia e, então, generamos essas condições de aleijamento, exclusão, etc., que, eventualmente, para algumas pessoas, resultam em uma condição de rua. Então, apenas dizer essa atenção personalizada à população para retorná-la à sua agência e aos seus direitos cidadãos, tem que ser acompanhado de uma visão universal da política social, incluindo a casa acessível. O segundo ponto que eu queria fazer, o Romulo dizia que vejo os números que apresenta a Diana e parecem muito baixos. O contato, efetivamente, é todo um tema, precisamos de outra mesa para discutir os problemas de levantamento de censos para esse grupo de população.

Em nosso maior esforço, contamos na rua, presencialmente, de forma simultânea, em toda a cidade, para poder levantar de forma efetiva o número de pessoas que estão na rua e que têm uma alta mobilidade. É todo um assunto. Estes são os melhores números que pudemos produzir, não por falta de cobertura, me parece, mas porque é complexo o levantamento, mas também não acho que estamos muito abaixo dos números de população na rua.

Houve um aumento, efetivamente, em algum momento, chegamos a ter 2.500 pessoas no censo anterior, e isto logrou baixar-se a partir deste modelo 4A que lhes apresentei. Muitíssimas graças.

[Intervenant 1]
Bom, eu não vou responder a cada uma das perguntas, não por falta de respeito às perguntas, mas é porque eu estou aqui aprendendo e gostei muito de ouvir todas as colocações, acho que são absolutamente pertinentes. Eu queria falar uma outra coisa. Eu li nessa exposição de arte maravilhosa que está aí, uma frase que me tocou muito.

A pessoa, o artista, dizia que, para viver na rua, tem que ser muito criativo. Eu acho que essa é uma chave sobre de onde podemos sair por trilhas. Por exemplo, eu sei que a pandemia aumentou muito o número de moradores na rua.

Acho que teria sido muito mais se as favelas e periferias não tivessem feito uma gestão do território, buscando recursos, distribuindo recursos, produzindo dados epidemiológicos em painéis, e foi uma coisa espetacular. Está tudo isso documentado em um projeto que eu dirijo, que chama Dicionário de Favelas Marielle Franco, que eu convido vocês todos não só a visitarem, mas também a escreverem sobre as suas experiências, os trabalhos que vocês fazem e tudo mais. A questão do projeto eugênico e da questão da raça, eu acho que é crucial tanto para entender a periferia e as favelas quanto a população de rua.

É um projeto político realmente de ou embranquece ou elimina. Isso está mais num texto que eu correria aqui e não deu para falar. Mas eu realmente acredito como esse artista que fala da criatividade, na ideia da cidadania insurgente.

Eu acho que há cidadanias insurgentes, o movimento nacional é uma experiência de uma cidadania insurgente improvável que acaba se dando visibilidade, reconhecimento e incidência na política. É claro que a política precisa mudar o modelo e muitas coisas, mas são conquistas que seriam impensáveis anos atrás. Agora, depende muito também com relação de forças.

Que governo que é esse? Não todo governo, o movimento será reconhecido, poderá buscar ser exterminado. Assim como os projetos e tudo mais.

O que eu vejo é que nós documentamos muito sobre como esses coletivos se organizam nas periferias e que dão sentido para além das próprias estruturas, por exemplo, familiares. Acho que não só as estruturas familiares são importantes, mas existem outras estruturas. Os coletivos de jovem na área de hip-hop, de funk e de tudo isso são coletivos que onde há solidariedade, há reconhecimento, há amizade.

E isso é fundamental e por isso eu acho muito incrível que quando surge toda essa ideologia neoliberal do empreendedorismo, do individualismo, do consumismo, os jovens se organizam em uma coisa chamada coletivos. Que é o oposto disso, porque se coletivizam mesmo vivências, experiências e acho que aí são os gérmens do comum. Nós temos que buscar o que é comum.

E esse comum é o direito à cidade, é o direito à locomoção, que não gastar quatro horas para poder chegar ao trabalho, é o direito a poder ter espaços urbanos que não sejam degradantes, porque quando você a política pública leva a espaços degradantes nas favelas, como a gente vê, isso degrada a autoestima. Isso leva a própria pessoa a se sentir inferior. E isso é projeto político.

Então eu acho que aproveitar essa experiência, e eu vejo muito pouco de aproveitamento, seja no SUAS, seja no SUS, seja em todas as outras coisas, dessas experiências coletivas que emergem como cidadanias insurgentes. O que essa maravilhosa experiência que houve na pandemia de organização, auto-organização das comunidades, não foi incorporada na política de saúde como deveria ser. E acho que em todas as outras.

Então, acho que nós temos que produzir o comum e produzí-lo a partir do que já está emergindo. Eu acho que emerge. Se a gente não vê, é porque nós também estamos inviabilizando.

E isso é um contradireito como a nossa colega falou. Esse espaço não é o melhor espaço para várias falas, ou para várias formas de se vestir, ou de se comportar, e tudo mais. Então, nós temos que pensar, esse é um espaço importante?

É, porque nós também precisamos institucionalizar e abrir esse espaço dentro da academia, e tudo mais. Mas outros espaços onde a população se sinta mais à vontade para se projetar, para se desejar, para falar, para se comportar, para as suas atitudes, também têm que ser pensados ao mesmo tempo. Assim como os próprios espaços institucionais de acolhimento e de política têm que ser revisados a partir das necessidades, que a própria população sabe por que aquilo não é um teto, e muito menos um lar.

Então, não é necessariamente ter um espaço coberto que gera uma forma adequada de atendimento dessas necessidades. Muito obrigado.

[Intervenant 3]
Bom, pessoal, então assim, acho que a gente chegou ao final dessa manhã tarde, com muitos questionamentos, reflexões, questões para pensar e continuar conversando. Algumas delas, com certeza, vão estar incorporadas nas discussões dos painéis. Outras, nos relatos de experiência.

Então, a gente trouxe, recebemos várias experiências, conseguimos sistematizar 38, que vão estar amanhã a partir de 8 horas. Vocês podem acessar a programação lá na frente. Então, de 8 às 10, 11 horas, a gente vai estar trazendo essas experiências e toda essa potência em diferentes temáticas.

Então, agradecer, Diana, por estar aqui, virtualmente. Sentimos muito a sua falta, assim, por toda essa questão dos imprevistos, mas acho que o seu texto e a sua fala nos trouxeram boas reflexões. Obrigada.

Obrigada, Isabel, também, que mandou o vídeo e o texto. Rômulo e Sônia, pela presença. Obrigada aqui a todas as pessoas.

Obrigada. Últimos informes? Apenas uma orientação para o almoço, tá bem?

[Intervenant 6]
O almoço de hoje é um almoço com base na cultura. Então, foi feita uma exposição que será melhor apresentada para vocês ao retorno do almoço. Então, eu convido vocês a ver essa exposição.

Se chama Arte no Trecho. Foi construída especialmente aqui para o Seminário Internacional Pop Rua, está certo? Nós também temos o projeto de geração de renda do Padre Júlio Lancelotti, produzido pelos Irmãos de Rua.

Ele tem uma mesinha ali do qual vocês podem verificar o que está sendo produzido, como que isso está ocorrendo. Nós também teremos musical vivo no almoço. O ambiente do restaurante é um ambiente pequeno.

Então, a gente tem que trabalhar no sentido de uma rotatividade, tá bom? As primeiras pessoas já começaram a se alimentar. E aí, obviamente que elas vão se levantando.

E aí a gente vai conseguindo entrar com a fila, tá bom? E os últimos agradecimentos, nós agradecemos ao Elton Teixeira e a equipe da Secretaria de Assistência Social de Niterói, por estar aqui. Elaine Medeiros, da Secretaria de Assistência Social de Nova Iguaçu, o Diácono Pedro, da Nossa Senhora do Bom Parto, o Padre Osmar, do Consórcio Cristo Redentor do Rio de Janeiro, Juliene Domingues, da Pastoral do Menor do Rio de Janeiro, Isabel Figueiredo, da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo, Márcia Caldas, Promotoria do DF, Caetana, da Fila do Reencontro de São Paulo, Aline Forasteiro, da Subsecretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, Márcia Torres, Assessora Especial do Gabinete da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Fátima, professora da UNB, e Rosilene Rocha, do Ministério de Desenvolvimento Social.

[Intervenant 19]
Aguardo vocês em breve. Obrigada.

 


Aberturas artísticas

  • Exposição “Amor de Papelão” (Ana Cláudia/Ana Figueiredo) – Etnografia com 20 casais no centro do Rio: vínculos afetivos como “sopro de vida” diante da morte social; resiliência e solidariedade mútua como traços recorrentes; quebra de estereótipos ao mostrar desejos, sexualidade e acordos de convivência apesar da falta de privacidade.

  • Exposição “Arte no Trecho” (Rejane Gomes) – Obras produzidas em oficina no Centro Pop de Taguatinga; devolutiva aos autores e convite para registros do público; afirmação da Pop Rua como produtora de cultura e conhecimento (“Nada sobre nós sem nós”).


Painel 1 — “Não Somos Invisíveis: informações para políticas públicas”

Aldaísa (PUC-SP)

  • Crítica a rótulos (“usuários”, “situação de rua”) e defesa de direitos antes do cuidado; falta de integração territorial entre assistência, saúde e educação; rede majoritariamente gerida por OSCs, sem padrão comum.

  • CadÚnico (ago/2025): 337.803 pessoas, com SP concentrando 42% (143.027).

  • Exemplo SP: 94.960 cadastrados (capital), 175 serviços; no estado: 705 serviços, 9.803 trabalhadores (≈14/serviço; abrigos ≈22/serviço); capacidade declarada 108.912 atendimentos; baixa articulação entre serviços.

  • Financiamento (quadro apresentado): Fundo Nacional ~R$48 mi (gasto total ~R$890 mi); Fundo Estadual ~R$54 mi; Fundos Municipais ~R$519 mi; OSCs ~R$7 mi.

Marco Natalino (IPEA)

  • Integração CadÚnico + registros civis: razão padronizada de mortalidade = 4,5× a população geral (homens 4,4; mulheres 5,0). Mesmo contra população de baixa renda, risco ainda 3,2× maior.

  • >6.000 óbitos (2024); excesso de mortes: 4.664 (esperadas ≈ 1.339). Subestimação provável por sub-registro.

Rinaldo Artes (USP/INSPER)

  • Uso de dados SISA/SISRUA/CadÚnico (SP, 2013–2023): “coortes de entrantes” mostram queda rápida de uso e estabilização em 10–15% após 24 meses; 27% usam só no 1º mês; 12% utilizam ≤10 dias em 2 anos; 40% retornam mesmo após “saídas qualificadas” (ex.: moradia).

  • Populações distintas entre sistemas: 45% dos cadastrados no CadÚnico não aparecem em SISA/SISRUA; 46% dos acolhidos não estão no CadÚnico; vinculação cresce com tempo de permanência e idade.

Flávio Lino (MNPR)

  • Levantamento internacional (G20/BRICS/UE) com estimativa >6,2 milhões de pessoas em PSR nos BRICS; defesa de ODS específico para PSR; proposta de carta de compromissos e levar o tema à COP30 (QR code para o relatório de ~80 págs.).


Mesa — Direitos, violações e papel da sociedade

  • Mediação (síntese): fenômeno complexo e multicausal; dados são essenciais mas insuficientes sem valores, decisão política e integração real; necessidade de comando público e padrões de rede.

  • Cristiane Xavier (Defensoria/RJ): atuação em identificação civil, monitoramento de execuções e corpos não identificados, sepultamentos gratuitos e transparência orçamentária; crítica a maquiagem urbana e contagens “infladas” por microatendimentos; proposta de Fundo Nacional/Estadual/Municipal da PSR com receitas finalísticas (ex.: indenizações coletivas).

  • Padre Júlio Lancellotti: crítica à lógica neoliberal e à “política pública como manutenção da miséria; chamado à autocrítica ética, coragem e insubordinação frente a práticas higienistas; não “vender a consciência” por financiamentos.

  • Intervenção (MNPR/AL): inclusão explícita da pauta LGBT+, especialmente pessoas trans (saúde/hormonização, violência, trabalho); exemplos de inclusão social com ações coletivas.


Painel 2 — Mulheres em Situação de Rua: cuidado integral, maternidade e equidade

  • Florencia Montes (Notan Distintes, Argentina): trajetória da organização transfeminista (assistência → espaço exclusivo de mulheres → gestão estatal autogestão); proposta metodológica transfeminista para acompanhamento; construção de corredor sudaca com a Rede Rua (SP).

  • Yara Flor (UnB/psicologia): maternidade como janela de cuidado e relançamento subjetivo (futuro, desejo, abandono de drogas/crime); denúncia de destituições baseadas em vulnerabilidade social em desacordo com o ECA; defesa de arranjos de cuidado compartilhado e crítica às hierarquias reprodutivas.

  • Joana Dark Basílio (CIAMP Rua/MNPR): testemunho de protagonismo e maternidade possível com apoio adequado; crítica a incapacitações judiciais e à deslegitimação de mulheres negras em PSR; chamada à ocupação de espaços de decisão por mulheres com trajetória de rua.


Encerramentos e avisos

  • Agradecimentos a convidados e coletivos; anúncio da programação do dia seguinte; informes logísticos (achados/perdidos).


Números-chave (em destaque)

  • 337.803 pessoas em PSR no CadÚnico (ago/2025); SP 42% (143.027).

  • Mortalidade 4,5× a população geral em 2024 (homens 4,4; mulheres 5,0); >6.000 óbitos e 4.664 em excesso.

  • Rede paulista: 705 serviços, 9.803 trabalhadores, 108.912 atendimentos de capacidade informada; baixa articulação.

  • Retorno após “saídas qualificadas”: ~40%.

  • BRICS (estimativa): >6,2 milhões em PSR; defesa de ODS específico.


Insights e propostas que emergem

  1. Direitos primeiro: cuidado integral precisa ser consequente ao reconhecimento de direitos, não o inverso.

  2. Governança pública com padrão de rede: coordenação estatal, protocolos intersetoriais e métricas não infladas por microatendimentos.

  3. Dados integrados e comparáveis: articular CadÚnico, SISA/SISRUA e registros civis, reconhecendo que cada base captura públicos distintos.

  4. Prevenção de retornos: programas específicos pós-moradia/pós-reconexão familiar/pós-trabalho para reduzir recaídas.

  5. Eixo de gênero e diversidade: políticas transfeministas e LGBT+ explícitas; maternidade como momento prioritário de cuidado, sem destituições por pobreza.

  6. Fundo(s) dedicados à PSR com receitas finalísticas para garantir continuidade e independência.

[Intervenant 9]
Boa tarde também a todos os presentes aqui conosco e para quem está acompanhando pelo YouTube no canal da Insp. Antes de compormos a mesa do painel 1, eu gostaria de chamar aqui no palco a artista Ana Figueiredo, idealizora da exposição Amor de Papelão, que irá passar a partir de agora aqui no telão. Ana, para que você possa nos apresentar sua arte, por gentileza.

[Intervenant 12]
Boa tarde a todos e todas. Eu sou Ana Cláudia, eu sou assistente social da prefeitura há 24 anos e essa exposição é fruto da pesquisa do meu doutorado. Eu fiz uma pesquisa etnográfica durante 12 meses no centro do Rio de Janeiro, acompanhando o cotidiano de 20 casais em situação de rua.

Eu fiz um textinho aqui porque acho que tem algumas questões que é importante destacar no âmbito dessa exposição e que, para não perder o fio da meada, eu vou preferir ler. Esta exposição retrata a trajetória de casais em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro, buscando compreender a partir das suas narrativas e tessitura dos vínculos afetivos amorosos construídos nesse contexto adverso da rua, marcado pela luta diária de sobrevivência, pelo isolamento e pela solidão e, ao mesmo tempo, como um espaço de construção de redes e afetos e vínculos. As imagens etnográficas que compõem esse trabalho documentam a rua e seus personagens, podendo contribuir para o rompimento de estereótipos e para ampliar a percepção sobre o modo de viver na rua e as diferentes relações afetivas que são construídas neste espaço.

As imagens somam-se ainda às narrativas e constituem o material etnográfico a ser interpretado. Constituem ainda objetivos desta pesquisa de escrever o perfil das relações conjugais, os tipos de alianças que são estabelecidas por esses casais, as estratégias de manutenção da relação face às questões impostas pela dinâmica da rua e às expectativas dos casais, as narrativas, a observação participante e os registros de imagem constituem recursos privilegiados de leitura do modo de vida desses sujeitos e suas percepções acerca da vida amorosa.

Os resultados desta pesquisa contribuem para alargar o debate sobre população e situação de rua e humanizar a discussão a partir da perspectiva que a vida amorosa é inerente à vida humana, independente em que lugar o sujeito está. Amor de papelão, embora tenha uma sonoridade poética, descreve a dura realidade da vida conjugal precária dos casais em situação de rua. Entre as suas principais características destaca-se a resiliência e a solidariedade mútua como um traço comum nestas relações.

Assim como os casais domiciliados, a conjugalidade é feita de acordos e pactos, considerando a condição em que vive. As escolhas pelos parceiros se dão com base nos processos identificatórios e afinidades. As relações estão sujeitas a interferências externas em razão da ausência de privacidade, aumentando as tensões e os conflitos.

A aparência do corpo e seus odores com frequência precarizados, assim como a ausência de privacidade imposta pela rua, não determinam o desejo e a atividade sexual desses casais. Em que pese às tensões e dificuldades do cotidiano, estas relações, em algumas medidas, representam um sopro de vida ante a morte social desses sujeitos. Então, assim, o objetivo é trazer realmente um novo olhar, humanizar um tema que é quase sempre abordado sobre uma perspectiva negativa.

Muito obrigada.

[Intervenant 9]
A exposição Amor de Papelão está sendo rodada aqui no auditório, desde quando a gente chegou. Recomendo que vocês também possam pesquisar sobre ela na internet. Tem o histórico dela, os vídeos, tudo completo.

É bem bacana. Gostaria de chamar agora Rejane Gomes, idealizadora da exposição Arte no Trecho, que está aqui no Café Ciência e Cultura, onde estávamos agora há pouco. Rejane?

[Intervenant 14]
Olá, pessoal. Boa tarde. Tudo bem com vocês?

Almoçaram bem? Tomaram café da manhã? Alimentaram o corpo?

E eu espero que a alma também. As obras que vocês puderam ver, talvez, de forma breve, num relance de olhar, lá no Café Ciência e Cultura, são todas obras produzidas por pessoas em situação de rua. Essas pessoas têm nomes, têm histórias, elas contam histórias.

E nessa exposição é apresentado o trabalho do William, do Osmar, do Isaías, da Érica, do Caio, da Liliane, do Everton, do Leandro, do Fabiano, do Jailson, da Irani, do Rafael, do Davi, do Jefferson, do Alberto, do Theo, da Daiane, da Joana, da Arki, do Igor, do Gilson e Lucas. Nomes que representam histórias, encontros, potencialidades. Nomes que, ao colocarmos como expositores em uma exposição de arte, a gente está honrando até o princípio do movimento nacional, Pop Rua.

Nada sobre nós sem nós. Consideramos aqui nessa exposição a Pop Rua como produtora de reflexão, de conhecimento, de cultura, como sujeitos da própria história, da própria autonomia, sujeitos produtores de cultura e de muito conhecimento. Então, eu quero convidar vocês, de repente, vocês puderem passar para ler as coisas que eles escreveram, os depoimentos que eles deixaram ali, que vocês possam também deixar um registro sobre o que vocês perceberam, o que vocês acharam, porque isso vai ser repassado para eles.

Eu quero fazer aqui um agradecimento especial a quem possibilitou essa exposição acontecer. Ela foi resultado de dois dias de oficina no Centro Pop de Itaguatinga, e ela expressa ali desenhos, colagens, pinturas das pessoas em situação de rua, que frequentam ali o Centro Pop de Itaguatinga. Eu quero agradecer a equipe da Comissão Científica, do Seminário Trilhas do Cuidado nas Ruas, na figura da Alematos, da Alizia, do Igor Cruz.

Quero agradecer a Amanda Campina, do Centro Pop de Itaguatinga, a Carmen Santana, o Gustavo Mata e o Marcelo Pedra, do Unupop, pelas ideias, pelo que nós podemos conversar a respeito também. Quero agradecer a equipe do Café Ciência e Cultura também, pelo apoio, pelo suporte. Então, fica o convite para que vocês possam apreciar.

Obrigada.

[Intervenant 9]
Agora, para compor a mesa do painel 1, Não Somos Invisíveis, Informações para as Políticas Públicas, convidamos ao palco Marco Natalino, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada. Convidamos Flávio Lino, secretário-executivo do Movimento Nacional da População em Estação de Rua, do Rio de Janeiro. Agora convidamos Carla Bronzo, da Fundação João Pinheiro.

Convidamos também Aldaísa para compor esta mesa. E, por webconferência, temos conosco Rinaldo Arts, doutor em Estatística pelo IME, da USP e filiado ao INSPER. Muito obrigada a todos, vamos começar.

[Intervenant 17]
Com a palavra agora... Só um momento. Tenho um comentário...

[Intervenant 9]
Apenas para melhor contextualização, Aldaísa é professora titular sênior da PUC-SP e autora da Lei Municipal de 1997 sobre os Direitos da População em Situação de Rua. Com a palavra agora, Marcos Natalino.

[Intervenant 17]
Corrigindo. Com a palavra agora, Aldaísa.

[Intervenant 3]
Certo que é uma questão de senhoridade. Muito obrigada. É que nós fomos acumulando atrasos necessários, mas o problema é que isso bate no horário do meu voo e daí não vai dar tempo.

Muito obrigada. Eu vou pedir só para o Igor, se aqueles... Está legal.

Então, primeiro, cumprimentar toda a equipe daqui, da Fiocruz, cumprimentar a IPEA através da equipe, do Natalino, todos os movimentos que aqui estão, com a própria população que vive a condição de rua. E eu queria aqui até dizer uma coisinha, sabe? Alguém reclamou antes, porque estava falando de situação de rua.

E aí, há um movimento atual, inclusive, que põe em discussão dizer situação de rua, indagando, mas o que é situação de rua? Porque isso, no processo histórico, foi algo que se conseguiu para tirar a discriminação. Mas, na verdade, na medida em que o nosso olhar se estendeu para moradia primeiro, a identidade de situação de rua parece que você está mostrando o primeiro débito para depois ter o direito.

E nós queremos o direito primeiro. Não o débito primeiro. Eu acho que esse é um processo, e eu acho que cumprimentar a Carla Bronzo aqui, eu não vou dizer velha companheira, mas companheira de muitas décadas, nesta luta, por quê?

Eu acho que toda a discussão da manhã, onde eu encontrei com o Sônia, nós só temos 40 anos de trajetórias e lutas a começar da introdução da assistência social na Constituição de 1988. Só para vocês verem o quanto nós somos velhos. Mas, mais do que isso, é o quanto essa luta é renida.

Então, eu começo um pouco dizendo o seguinte. Quando nós estamos aqui examinando pessoas em situação de rua, onde eu já coloquei essa minha questão de situação, porque, inclusive, há uma boa briga na assistência social quando aqueles que utilizam de serviços, e eu não chamo equipamento, nunca chamarei de equipamento, são serviços, não são prédios, são serviços, são relações. Então, aqueles que utilizam, quando eles são chamados de usuários, e o povo fica muito bravo.

Eu não sou usuário de droga, não. Que história é essa de ser chamado usuário? Há uma mania na assistência social de falar segmento e falar usuário.

São duas coisas ruins. São duas formas de expressão cujo significado não tem nem acolhida e nem identidade. Então, gostaria de dizer o seguinte.

Quando nós estamos dispostos a essa discussão e dizemos do cuidado integral e direitos já, temos que ter presente que direitos antecipam o cuidado. E a questão que nós temos uma imensa dificuldade é de efetivamente concretizar direitos. Concordo plenamente que nós precisamos de um aprimoramento de cuidados.

Mas, entendam bem, e esta plateia é bastante misturada para eu dizer isso, e vou dar os dados aqui para vocês. A maioria dos serviços de atenção à população de rua é gerida por organizações sociais. E nós não temos padrão de atendimento nesses serviços.

E cada organização, por mais compromisso que tenha, não significa que ela, de fato, é uma rede de relações com outras organizações. Já foi colocado aqui, inclusive, pelo ROMA, que nós não temos relação entre uma unidade de saúde, uma unidade de educação, uma unidade de assistência social, que partilham do mesmo território. Nós não temos relação.

Não existe um protocolo de integração territorial. E eu vou também sublinhar para vocês que, embora a gente fale população em situação de rua ou de rua, de rua não é desprezo, por favor, mas nós não podemos ter aqui na cabeça, quando fala rua, que nós estamos falando da mesma rua, com as mesmas características, com o mesmo modo de ocupação. Então, existe uma diversidade.

E essa diversidade, também colocada aqui, quando nós dizemos, Romulo diz assim, a população cresceu, mas a habitação não cresceu, porque ela virou mercadoria. E não direito, na verdade, de todos os humanos, tem nenhum teto. Nós vivemos ainda, embora foi colocada, e sei que Natalino tem uma força para isso, alteração do censo do IBGE, que não é bem alteração do censo, mas o modo pelo qual a população que está em situação de rua pode ser considerada como parte do censo.

Por quê? Porque o censo conta gente debaixo de teto. Gente de domicílio.

E não é o caso de população de rua. E isso é tão incrível, que o próprio formulário do Cádio Único pergunta quantas pessoas têm no mesmo teto. Então, passa a ser família se tem o teto.

Não é a relação, é o teto. Então, será que nós estamos falando de população de rua pela ausência de teto ou pela ausência de relação? Vejam que os coletivos formados mostram que a relação humana está posta.

E não é o teto que divide. Então, acho que aqui temos uma grande questão e que é, na verdade, produto, sim, de uma oferta de habitação tão só como mercadoria. E que, evidente, quem não tem o poder aquisitivo não vai ter.

E vai viver onde? Então, chegando aqui, nós vimos. Nós vimos algumas tendinhas.

[Intervenant 17]
Porque nem barraco é.

[Intervenant 3]
Barraco já foi. Agora é tenda. Certo?

Algumas de um plastiquinho pior, plastiquinho melhor, mas tenda. Então, mas é busca de um teto? Eu queria, primeiro, atender a isto e dizer o seguinte.

Olha, na verdade, o primeiro eixo que nós temos na discussão é não somos invisíveis pelo fato de estar na rua. Olha que contradição. Estar na rua é o máximo de exposição.

E, ao mesmo tempo, há uma invisibilidade. Não é considerado nos dados oficiais. Somos mais brasileiros, contados os que estão na rua, do que aqueles que estão no censo.

Não mais em quantidade comparativa, mas no sentido de acréscimo. Então, a invisibilidade, certo? Cega na cabeça a visibilidade que está posta imediatamente.

E aí nós, trabalhadores, os servidores públicos, e que, desse modo, também vai ter um gasto contido. Certo? Então, a questão efetivamente da proteção social, seja na Previdência Social, seja também nos benefícios de matriz assistencial, como o BPC, BPC tem 50 anos.

Era a Renda Mensal Vitalícia, criada em 1974. Tem 50 anos. Não é invenção de meia dúzia de gente de agora.

E nós temos o Bolsa Família, certo? Uma transferência de renda, que, como disse, poderia ser melhorada em várias coisas, mas que temos o quê? O Cade Único.

E o Cade Único não é efetivamente um instrumento de censo, censo de contagem. Mas aqui há um outro produto de luta. A população em situação de rua decidiu se inscrever no Cade Único.

Não é verdade mesmo? Quando, no começo, foi uma coisa de se autorizar que usassem o endereço do abrigo, do albergue, do que fosse, de um terceiro. Mas a população entendeu que ela deveria realmente se cadastrar.

E hoje, a fonte de informação que nós temos de pop rua é, na verdade, a informação do Cade Único, que está nos dizendo, em agosto de 25, que tem 337.803 cadastrados. Se tiver aí agora a número 15, eu aceito. Não é a bebida, não.

É o número da planilha aqui, por favor, certo? Por quê? Nós conseguimos, na verdade, com estes dados do Cade Único, e também dizer isso, gente, nós temos dados, mas eles não são tomados para decisão da política pública.

Com estes dados do Cade Único, vai dar ou não? O 15?

[Intervenant 17]
Ah, já está aí?

[Intervenant 3]
Ah, não deu. Bom, então eu vou falar para vocês. Acho que vai dar.

É a número 15, a tela 15. Pode pular. Então, essa aí.

De trás, você passou. Mais uma, deu aí. Pronto.

Então, vejam bem aqui, gente. São Paulo, estado, tem 143.027 cadastrados como pop rua. No todo dos cadastrados, dos 337.803 que eu falei com vocês, esse número de São Paulo indica que São Paulo, estado, concentra 42% da população cadastrada em condição de rua. 42%. Então, Distrito Federal e os outros estados vão tendo estes numerozinhos, o Amapá 01. Mas o que nós vamos notar?

O estado de São Paulo é o estado que tem mais metrópoles, tem três metrópoles. Tem mais concentração de habitantes e quanto mais concentração, não é à toa que nós falamos historicamente de Nova Iorque, de Paris, de São Paulo, porque essa concentração historicamente foi se constituindo. Então, mas isso nos dá...

Aí nós vamos para 17. É uma nova realidade. O fato da população de rua com bastante inteligência se cadastrar, a colocou, como foi dito aqui, pela sua precariedade de renda, mesmo que o limite seja terrivelmente baixo, de R$218,00 por capita, ela...

[Intervenant 17]
Você quer dizer que eu acabo?

[Intervenant 3]
Eu acabo com a população ou comigo? Com os dois? Eu sei, mas eu tenho que dar esse dado aqui principalmente.

Então, veja, o que eu estou colocando aqui para vocês é que São Paulo tem 73% dos cadastrados recebem PBF. Aí vocês vão ver os outros números. Nós temos, em alguns lugares, que chegou a 80% a cobertura, até 82%.

E temos outros que chegou a 68%. Pergunta. Por que não é?

A cobertura do Bolsa Família não se dá para todos. Por que não é, na verdade, uma renda básica para a população em situação de rua? Essa é uma questão.

Por que essa diversidade? E aí, como ela disse que eu tenho que parar, eu vou só... Espera um pouquinho só.

Olha que eu estou correndo. Eu vou pedir para ele só me mostrar mais uma questão aqui, que é a tela 28. Olha o salto.

28. Você achou? Tela 28.

Só isso aqui, para mostrar os serviços.

[Intervenant 17]
Como?

[Intervenant 3]
Isso aqui, isso mesmo. É certo. Então, vejam.

Essas são a população de rua e os serviços. São Paulo, cidade, capital, tem 94.960 cadastrados e 175 serviços. A maioria são abrigos.

E a abordagem social é uma coisa que também a gente nunca pode dizer do resultado. Pode? Porque é um negócio de saber se está na rua, se não está na rua.

Mas eu quero dizer, e agora não vai dar tempo, mas que a gente tem esta análise de todas as grandes regiões do estado de São Paulo. E, se você pular para o 30, nós vamos ter uma relação entre os serviços e a quantidade de trabalhadores. Nós temos 9.803 trabalhadores em 705 serviços para a população de rua, numa relação de 14 trabalhadores por serviço. Abrigo é o que absorve mais trabalhadores, são 22 trabalhadores para cada serviço. E as repúblicas, menos evidente, porque é a própria população. E o próximo, que é só a quantidade de atendimento, é dois mesmo, viu, agora?

A quantidade de atendimento, vejam que nós temos 108.912 respostas de atendimento pela capacidade desses 705 serviços, mas o modo pelo qual se atende em cada um dos serviços é diferente. Não dá para a gente achar que há aqui o sistema escalar, porque entre esses serviços não existe uma articulação. Um é independente do outro.

Não há qualquer racionalidade. E, por último, menos importante, quer dizer, não menos, está aqui um quadro para vocês que eu anunciei de forma breve no início sobre o desembolso dos fundos para atenção e assistência social. Está lá o Fundo Nacional com R$ 48 milhões para uma despesa total de R$ 890 milhões.

R$ 44, R$ 45 para R$ 900. O Fundo Estadual de R$ 519 milhões. E o fundo, e, na verdade, o fundo municipal, não falei besteira, de R$ 519 milhões é o fundo municipal, e de R$ 54 milhões é o fundo estadual, e também R$ 7 milhões que as próprias OSCIS colocam para o funcionamento.

Então, isso tudo está... A pesquisa depois eu vou colocar a serviço, a uso, porque eu acho que isso mostra que, ao propor a discussão de cuidados, nós temos que analisar as condições objetivas para chamar a política pública. E, efetivamente, essas condições podem ser consideradas uma política que, na verdade, leva em conta os direitos humanos e sociais.

Muito obrigada e desculpe.

[Intervenant 9]
Com a palavra agora eu tenho o doutor Marco Natalino. Peço que possam realizar também a audiodescrição de vocês antes de iniciar a fala.

[Intervenant 3]
É que eu só falei diretamente que eu e a Sônia já temos os cabelos brancos, e, pelo meu relato, eu sou uma pessoa idosa com uma camisa de bolinhas aqui, uma calça marrom, e buscando ainda, apesar da idade, permanecer na militância da luta dos direitos. Obrigada.

[Intervenant 2]
Boa tarde, pessoal. Sou Marco Natalino. Sou homem branco.

Não extremamente branco, mas branco. Cabelos longos ou sem cabelo, a depender do otimismo ou pessimismo da pessoa. Estou com uma jaqueta...

Estou com uma jaqueta jeans, calça jeans e uma camisa social. Tá bom. E eu vou falar para vocês aqui de uma pesquisa de integração de dados, de registros administrativos, no caso, dados de mortalidade dos cartórios e dados do cadastro único sobre pessoas em situação de rua.

Eu não sei se vocês conseguem botar a apresentação. Não. Assim, se aparecer pessoal, eu sei ela de cor, mas...

Ah, tá bom. O pessoal falou que está travado, mas eu vou atalhando a prosa aqui. Olha, já começou.

Então, só para dizer, essa pesquisa várias mãos, vários cérebros e, na verdade, ela é um primeiro passo de uma pesquisa maior sobre morbimortalidade da população em situação de rua em que a gente vai agregar dados também de causas de mortalidade, dados do Ministério da Saúde diretamente. Mas aqui, então, são pesquisadores do IPEA, um pesquisador do Centro de Estudos Demográficos da Catalunha, de Barcelona, e também um pesquisador do Fundo de População das Nações Unidas. No próximo slide aí, gente, eu, assim, em alguns slides tem muita coisa colocada, mas deixa eu ver se eu consigo passar.

Ele falou para eu apertar aqui. Mas, assim, tem coisas escritas ali, eu vou falar de forma mais simples, sem detalhar cada coisa, mas depois quem quiser pode olhar, pegar os detalhes. Só para dizer que, assim, essa questão da mortalidade da população em situação de rua não nasceu hoje.

Na verdade, desde que eu comecei a acompanhar esse tema, ele sempre foi muito forte, sempre foi muito importante na fala dos movimentos sociais e de todo mundo que trabalha com essa população. E, obviamente, mesmo antes de eu começar a trabalhar direto com isso, a questão do massacre da Sé. Teve uma repercussão nacional e, para quem não sabe, isso tem uma repercussão importante na cristalização do Movimento Nacional de População em Situação de Rua, bem como na inclusão do tema nas políticas públicas, na agenda pública.

Quer dizer, o massacre de 2004, em dezembro de 2005, sai um decreto, 2006, na verdade, instituindo um grupo de trabalho do governo federal para a pop rua, esse GTI. Três anos depois, sai a política nacional da população em situação de rua, cria o Ciampi Rua e também o Centros Pop. É do mesmo ano a apresentação dos resultados finais da Pesquisa Nacional para a população em situação de rua, aprendendo a contar, e em 2010 a população em situação de rua entra no Cadastro Único.

Eu estou apertando aqui. ! Enfim, é mais recente, , gente?

Pandemia, apagão dos dados, vocês devem ter acompanhado, a mortalidade da pop rua volta à agenda, com grande destaque, para quem puder ler a tese recente do Caio Reis, pela USP, sobre essa questão da mortalidade da pop rua em São Paulo, a partir de um olhar qualitativo, fica a recomendação. Mas exatamente nesse período de pandemia também se entra no Supremo Tribunal Federal para arguir que a condição das pessoas em situação de rua era inconstitucional. Porque a nossa Constituição, em último caso, ela defende direitos sociais, isso chegou ao plenário, isso chegou ao STF, e foi emitida uma medida cautelar que determina, entre muitas outras coisas, que deve ser feito diagnóstico permanente da população em situação de rua.

No mesmo ano, exatamente no mesmo dia da criação dos ruas visíveis, então é promulgado o decreto, esse 11.818, que institui um novo GT, e só sobre dados de pop rua. Esse GT se dividiu em dois, simplificando aqui, atalhando a prosa, um grupo ficou, o IBGE coordenou, e foi olhar a questão do censo, de fazer um censo da pop rua. E um segundo grupo, que o IBGE coordenou, ficou responsável por olhar a integração dos registros administrativos.

E o relatório final, a gente propõe ali que a integração de dados de saúde e do cadastro único é o principal eixo estratégico. Então, essa pesquisa vem como decorrência disso, como eu já falei, então, o que eu vou apresentar faz parte de um projeto maior, que se chama Desigualdade nas Condições de Vida e Saúde da População em Situação de Rua, Integração de Informações Sociais e de Mortalidade no Brasil. , no próximo slide, rapidinho, né gente?

Então, aqui, só essa pesquisa específica, calcular a taxa de mortalidade da pop rua no Brasil, compará-la com a da população em geral e com a da população de baixa renda, controlando pela pirâmide etária. Então, assim, o foco é apenas na mortalidade, não nas suas causas. Eu não estou fazendo desagregações regionais, tem uma série de coisas, detalhes, que são muito importantes, mas é uma pesquisa que eu estou trazendo os primeiros resultados aqui.

Então, digamos assim, eu vou mostrar uma foto da floresta, ? E com o tempo a gente pode falar um pouco das árvores e um pouco dessa diversidade que é composta nesse termo que não deixa de ser um pouco um termo guarda-chuva, ? População em situação de rua.

E que, na verdade, a gente está falando de trajetórias múltiplas, de uma grande diversidade que tem que ser levada em conta. , o meu lado mais rigor metodológico me obriga a falar, tem algumas limitações, ? Essa pesquisa que a gente vai apresentar, porque a gente não tem dados da declaração de óbito, ?

Do sistema de informação sobre mortalidade. E nem toda a população em situação de rua está no cadastro único, ? E tem alguns grupos especificamente que são mal representados.

Crianças e adolescentes, famílias em geral e pessoas em conflito com a lei, ? O método, os óbitos dos recém-nascidos são particularmente mal captados, ? Isso também gera uma subnumeração desse método, mas nesse caso isso não chega a ser um problema muito grande, como eu vou demonstrar.

E também só pessoas com CPF foram incluídas. Surpreendentemente, quando a gente puxa o painel da PopRua nos últimos 12 anos, a gente consegue o CPF de quase todo mundo lá. Mas eu acho que isso também revela uma barreira de acesso ao cadastro único, ?

Essa obrigatoriedade do CPF, isso não é trivial e é por isso, inclusive, que o SUS tem uma política de, olha, é legal a gente registrar todo mundo, mas o direito à saúde e a obrigação de cuidar, elas se sobrepõem a qualquer obrigação cadastral de identificação, ? E a verdade é que a gente vê ainda muitas barreiras de acesso dessa população às políticas públicas em geral, ? Então, assim, o importante é, eu vou apresentar números aqui que vocês vão ver, que são infelizmente chocantes, muito graves, e eu queria lembrar que ainda assim eu estou subestimando o tamanho do problema.

Esse senhorzinho aí, ? Só pra vocês saberem, é um sanitarista do século XIX, chamado Edwin Chadwick. Ele...

Isso é só pra explicar uma coisa pra todo mundo ficar na mesma página, ? Olha, como é que a gente compara dois grupos e a mortalidade, como é que está a saúde, etc.? Eu falo, não, vamos pegar o seguinte, vamos pegar a idade média de mortalidade, ?

Quantos anos as pessoas morram nesse município ou naquele outro município? Aí um outro cidadão, , o Nisson, que era um cara mais da área de seguros, atuarial, o cara das fontinhas mesmo, ele fala, olha, mas aí dependendo se você está comparando um município que tem um monte de idosos com outro que tem muitas pessoas novas, isso vai gerar um viés em teus dados e essa tua comparação é ruim, ? Então, contando essa história muito simplesinha, esse rapaz aí, o Nisson, ele falou, olha, o que você tem que fazer é padronizar essa tua taxa de mortalidade, ?

Quantas pessoas morrem dividido pelo tamanho da população pela pirâmide etária, ? Quando você padroniza pela pirâmide etária, aí sim você consegue ter, então, o que é chamado a taxa padronizada de mortalidade, ? Então, isso é uma forma, assim, mais simples e direta de explicar um conceito estatístico, matemático que é intuitivamente simples, mas que envolve algumas continhas, ?

Então, essa taxa de mortalidade, a taxa de mortalidade bruta, portanto, sem padronizar, ela mede o número de óbitos em determinada população dentro de um determinado período do tempo. E normalmente o denominador é por mil habitantes, não o denominador, ? É por mil habitantes, certo?

Já a razão padronizada de mortalidade é uma quantidade, ? Expressa como uma razão de chance, blá, blá, ? E compara o número de mortes observadas em uma população com o número de mortes esperadas usando uma população padrão como referência pra ajustar as diferenças na estrutura etária e, eventualmente, outros fatores, ?

Gênero é o normal que entra, ? Então, vocês estão vendo ali, tem uma imagenzinha, ? De duas pirâmides etárias diferentes.

A gente vai voltar a isso, ? Pro pessoal mais do números, matematicamente, a razão padronizada faz uma média harmônica das taxas de mortalidade por idade de sexo. Então, na esquerda de vocês, ?

Vocês veem a pirâmide etária da população brasileira do IBGE, ? Azuzinho, ? Homens, vermelhinho, mulheres, ?

Tem a demografia tem alguns conservadorismos, ? É assim que normalmente se faz. Mas olha a pirâmide etária da pop rua no cadastro único.

Ela é fortemente concentrada nas idades médias, pessoal ainda faz dos 40 a 45 anos, e fortemente tem um viés masculino muito grande. Fica difícil de ver, mas quem tiver aí com a visão de águia, ou só confiando que eu vou falar aqui, essa diferença, essa barrigona ali, ? Dos homens é dos adultos, ?

Das crianças, não. Nas crianças, tem meio a meio, ? E nos idosos, também não fica tão claro, porque na verdade as mulheres têm uma expectativa de vida maior.

Então, pra não dizer, , que não falei de o contrário das flores, talvez, causa dos fatores de risco, ? Isso a literatura mostra, ? Tem referência aí depois, pessoal, mas enfim.

Violência física, lesões intencionais, violência psicológica, estigma, discriminação e barreiras de acesso à saúde. Isso tudo causa os fatores de risco que geram mortalidade, uma mortalidade maior das pessoas em situação de rua, ? Falta de acesso a direitos humanos sociais, falta de conhecimento sobre os próprios direitos, que já foi falado aqui, ausência de fontes de renda, alimentação e sono inadequados, riscos psicossociais diversos, incluindo estresse crônico e depressão, intoxicações, uso problemático de álcool e outras drogas, infecções, incluindo hepatite, tuberculose e outras causas, e também doenças cardiovasculares, ?

E fatores de risco associados, ? Hipertensão, diabetes, o que também é agravado muitas vezes por falta de medicação. , , na literatura internacional, ali tem uma imagenzinha ali do relatório da Organização Mundial da Saúde, que em 2005, então, apresenta ali uma razão de mortalidade padronizada, ?

Mas com base no estudo dinamarquês, ? Então, vamos lá. Então, para os homens seria 2,8, ou seja, a razão de um homem em situação de rua via óbito é 2,8 a probabilidade de uma pessoa que está domiciliada.

Falando de outra forma, é 180% maior, ? Mulheres, não é 2,8, é 5,6 nesse estudo, pelo menos, causas naturais 2,6, lesões não intencionais 14,6, ? E causas desconhecidas 62,9.

Mostrando ali, não é uma questão da legibilidade estatística, ? Da capacidade mesmo do Estado e das organizações do Estado produzirem estatísticas sobre esse público, dada, enfim, essa invisibilidade específica, ? Porque essas pessoas são muito visíveis de vez em quando, mas para o Estado, em algumas coisas, fica bem invisível, ?

Aí tem um estudo mais recente dos Estados Unidos, do Mayer e companhia, que aí já usa Big Data, dados do Censo de 2010 dos Estados Unidos, não de 2010, o último, penúltimo, na verdade, integração de registros de 12 anos, e a errasão de mortalidade da 3,4 em geral, 3,3 para os homens, 4 para as mulheres, e aí ele também controla por pobreza, em comparação com os pobres domiciliados, daria 2,1. Grupos comparados, ? Então eu estou comparando aqui a população em situação de rua, ?

Minha fonte é o Cadastro Único, e o BCadastro CPF, que é uma base de dados de CPF que tem o ano do óbito, dados do óbito que vem do Sistema Integrado de Registro Civil, ou seja, dos cartórios, e eu tenho uma população ali da pesquisa que dá mais de 250 mil pessoas, ou seja, é bastante. Aí eu comparo com a população brasileira em geral, que aí a fonte do IBGE é além do BCadastro, 212 milhões de pessoas, mais ou menos, e eu comparo também com a população de baixa renda. Aí a ideia é um pouco alguém falar assim, não, mas as pessoas em situação de rua, elas veem a óbito com maior frequência não é só porque estão em situação de rua, é também porque elas estão em situação de pobreza.

Então aqui dá pra gente comparar e ver o quanto que isso é verdade ou não, ? Então, indo direto ao ponto, tá gente? Estão lembrando, uma coisa é a taxa de mortalidade bruta, outra coisa é a mortalidade padronizada, quando você considera pirâmide etária, ?

Então primeiro a taxa bruta, a pop rua, a taxa de mortalidade bruta está em 24,03 no geral, mulheres 17,4, homens 25, certo? Então aqui esse 24 significa o seguinte, 2,4% das pessoas em situação de rua, estavam em situação de rua em 31 de dezembro de 2023, vieram a óbito em 2024, ? População de baixa renda está 3,3 e população em geral 6, nesses dados, ?

Perdão, gente, população em geral aquele 6,5 ali está errado, é 7,05, ? Vocês estão vendo que baixa renda parece que é menor que a população em geral, ? Não é verdade isso, isso é por conta exatamente da pirâmide etária.

Como estava falando o Rômulo, o Cadastro Único e o Bolsa Família muita criança, criança tem uma taxa de mortalidade muito menor, então a gente já vai ver que isso muda. No próximo slide, aí eu já estou falando a razão padronizada de mortalidade da população em situação de rua em relação à população em geral e à população de baixa renda. Então o que é que aparece ali?

Não, pode voltar. Com a população em geral, homens 4,4, mulheres 5, ambos 4,5. Isso significa o seguinte, a razão de chance é 4,5.

4,48 para ser exato, ou seja, a probabilidade de uma pessoa em situação de rua via óbito, ano 2024, foi 348% maior do que a população em geral. Vocês pensam assim gente, uma pesquisa em saúde que identifica um risco de óbito que aumenta em 10% as suas chances de morrer, já é um resultado super importante, e a gente na nossa vida com certeza vai querer saber para tentar evitar aquele comportamento ou aquela causa. Aqui a gente está falando de 348%.

Então realmente a situação de rua faz mal à saúde, para usar um chavão. Mas voltando ali ainda, eu queria comparar com baixa renda. Por quê?

Se eu tivesse mostrado a pirâmide etária, ficaria mais claro, mas vocês veem que a razão de chance com a baixa renda diminui. Porque de fato uma parte da questão da alta mortalidade tem a ver com a pobreza. Então a baixa renda, essa razão de chance que é 4,48, na verdade é 3,2.

Ou seja, mesmo que a gente controle o renda, ainda assim você teria só com o efeito específico da situação de rua, um aumento de 223% na taxa de mortalidade. Na chance de via óbito. No próximo slide, isso aqui é só para dizer o seguinte.

Olha, os dados cadastro único até 18 anos não é muito bom, dos muito idosos também é difícil captar, é pouca gente. Então isso aqui é só para provar que se pegar só de 18 a 89 anos não vai mudar quase nada. Eu tinha mostrado 4,48 no slide anterior, aqui está dando 4,51.

Ou seja, a gente mantém a mesma interpretação. Aí claro, depois no texto a gente detalha e discute essas coisas, mas eu acho que aqui para o seminário o recado está mais que dado. E no próximo slide aqui eu acho que fica mais fácil para todo mundo entender.

Que é o excesso de mortalidade. Ou seja, imagina quantas pessoas a gente esperaria, pessoas em situação de rua, a gente esperaria que viria a óbito caso essas pessoas estivessem domiciliadas, se elas exibissem o mesmo padrão da população brasileira média. Então na verdade em 2004 vieram a óbito pelo menos 6 mil pessoas pessoas em situação de rua vieram a óbito 6 mil.

Os óbitos esperados seriam 1.339. Ou seja, as mortes em excesso 4.664 pessoas em situação de rua que vieram a óbito e que não seria esperado pela sua composição de idade e composição de gênero. Pois bem, terminando aqui, não é nem conclusões gente, porque eu sinceramente também fiquei muito tocado e foi chocante para mim enxergar esses números, conferir esses números, conversar com meus colegas, ver o quanto que isso é pesado. Mas assim, vamos lá.

Mais de 6 mil pessoas em situação de rua vieram a óbito em 2024. O número de mortes em excesso foi de 4.664. Em suma, a pop rua morreu uma taxa 348% maior que a população em geral, revelando uma desigualdade social extremamente elevada. Mesmo ao controlarmos as taxas por pobreza, para além de idade e gênero, a pop rua segue apresentando uma taxa muito maior.

E no próximo slide, olha, um comentário, a desigualdade é ainda maior entre as mulheres, embora seus números absolutos sejam menores. Tem questões específicas de gênero aqui que mereceriam mais tempo para ser dialogado, mas tem vulnerabilidades específicas das mulheres nas ruas que fazem com que essa taxa, comparado com as mulheres domiciliadas, fique maior ainda. Não só no Brasil, como no mundo.

Mesmo que os dados captem mal a pop rua menor de 18, maior de 89, as nossas estatísticas praticamente não se alteram. E, para terminar, os números apresentados aqui, embora chocantes, certamente subestimam o tamanho da desigualdade. Pois muitas pessoas em situação de rua não recebem a dignidade de ter nenhum registro em cartório relatando seu óbito.

Então, próximos passos, só para dizer, vamos calcular uma expectativa de vida, analisar fatores associados, por exemplo, será que o tempo na rua aumenta o risco, controlar controles mais refinados, geografia, etc. Com certeza. Causas da pessoa que está em situação de rua também, e aí a gente vai integrar com os dados do sistema de informação sobre mortalidade para pegar as causas de óbito.

Então eu estou muito interessado exatamente nas causas externas e nos homicídios. Eu estou realmente muito curioso para saber isso. Então, análise por causa de óbito, fatores associados por causa, a razão de padronizar de mortalidade por causa, etc.

E análise por acesso a políticas sociais também. Aí estão as referências, quem quiser depois pausar no YouTube, correr atrás de alguma, não vou perder muito tempo aqui, não. Pode passar.

É isso, gente. Obrigado.

[Intervenant 9]
Agora nós teremos a fala de Rinaldo Artes, que estará conosco via webconferência.

[Intervenant 17]
Pronto, me escutam?

[Intervenant 9]
Te escutamos, pode começar. Boa tarde.

[Intervenant 4]
Vamos lá. Boa tarde. Primeiro, eu gostaria de agradecer o convite para participar aqui dessa reunião.

Pedir desculpas por não poder estar presente e poder fazer essa apresentação via remota. E o trabalho que eu vou apresentar foi feito em conjunto com a professora Silvia Achori e a equipe do Centro de Estudos da População e Situação de Rua aqui da FIP. O que eu gostaria de...

O que eu vou apresentar, então, aqui vocês têm só um roteiro do que eu vou falar. Então, começar com uma introdução. O que...

Explicar um pouquinho qual o meu objetivo aqui. Fontes de informação que a gente utilizou no trabalho. E vamos falar um pouquinho de dinâmica do uso da rede de acolhimento do município de São Paulo.

E aí as conclusões. Bom, basicamente o meu objetivo aqui é mostrar o potencial que dados administrativos têm para que a gente obtenha informações sobre população de rua e assim eventualmente embasar o desenho de políticas públicas, avaliação de serviços, esse tipo de coisa. Mais do que chegar a conclusões, eu gostaria de levantar perguntas que você tem, que você tira quando analisa dados administrativos.

Os dados foram obtidos, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, e os dados foram obtidos mediante um termo de cooperação técnica. A gente trabalhou, na verdade, com três sistemas de registros, um é o CADÚNICO, então eu não vou falar do CADÚNICO, acho que todos conhecem. O primeiro é o CISA, o CISA, Sistema de Informação e Atendimento aos Usuários.

Esse sistema, ele registra o uso da rede de acolhimento da Prefeitura Municipal de São Paulo, abrigos e centros de acolhida. Então, como ele funciona? Quando você usa um abrigo, usa um centro de acolhida em São Paulo, você preenche um cadastro e você recebe um número de identificação.

Esse número de identificação é permanente, esse número de identificação vai acompanhá-lo daqui para frente. Toda vez que você volta a usar o sistema, isso é registrado nesse número de identificação. O fato de você ter esse tipo de registro te permite acompanhar uma pessoa ao longo do tempo.

O segundo sistema, o SISRUA, Sistema de Informação da Situação de Rua, é um registro da abordagem realizado pelo serviço de abordagem social. Então, equipes do SES percorrem as ruas de São Paulo, abordam as pessoas, fazem encaminhamentos e cada pessoa, em princípio, cada pessoa abordada, cada pessoa encaminhada, também recebe um número de identificação. E o número de identificação do SISRUA foi compatibilizado com o número de identificação do SISA.

Então, você sabe a mesma pessoa que está sendo abordada na rua, se esteve ou não em algum serviço de abrigamento do município. O que a gente recebeu foram dados do SIS e do SISRUA de 2013 a 2023. A análise foi feita a partir desses dados.

O CADÚNICO, uma extração que inclui dezembro de 2023, eu explico o porquê. Os dados foram todos anonimizados e compatibilizados nos três sistemas. Então, o mesmo indivíduo tem a mesma identificação nos três sistemas.

Eu vou começar com uma análise. Vocês conseguem ver o cursor?

[Intervenant 17]
Bom, então vamos lá.

[Intervenant 4]
Eu vou começar aqui com uma primeira análise. Eu vou tentar explicar um pouco o que é esse gráfico, esse feixe de segmentos. E para isso eu vou focar na última linha dessa tabela.

Essa linha aqui de março de 2021. Em março de 2021, 16.452 pessoas foram acolhidas no sistema, na rede de abrigamento do município de São Paulo. Dessas 16.452, 1.701 foram registradas pela primeira vez no sistema. Elas nunca haviam sido registradas anteriormente. E o que a gente fez foi acompanhar essas pessoas que entram no sistema. Então, das 1.701 pessoas que entraram em março de 2021, três meses depois da entrada havia 547. 547 pessoas das 1.701 estavam nos... ou estavam no sistema de abrigamento ou foram abordadas pelas equipes de abordagem social. Três meses depois.

271 pessoas, estou olhando aqui março de 2021, foram ou estavam no sistema de abrigamento ou foram abordadas pelo sistema de abordagem social 12 meses depois e assim vai. Então, cada linha dessas é o que a gente chama de uma coorte. Essa aqui é a coorte de março de 2021.

Estou apresentando aqui a coorte de 18, de 19 e de 20, além de 21. Para poder comparar todas as coortes, a gente fez o seguinte exercício. A linha amarela do gráfico refere-se a março de 2021.

Então, no tempo inicial, no momento de entrada, eu tenho 100% das pessoas. Então, 100% da linha amarela refere-se a 1.701 pessoas. E aí foi, mês a mês, qual é a porcentagem dessas pessoas que entraram no sistema no primeiro momento, qual a porcentagem que continuam em algum dos dois sistemas.

E a gente foi vendo isso ao longo do tempo. O que chama atenção é que o padrão é muito parecido. Na verdade, o 2021 se afasta um pouco, talvez por ter sido um ano de pandemia, mas a gente fez esse exercício com outras coortes também e o padrão é muito semelhante a esse que vocês estão enxergando.

Você tem uma queda abrupta, uma queda rápida no sistema de uso e depois uma estabilidade ao redor de 10% a 15% de uso depois de dois anos. Tem algo que é estável. O que isso pode estar indicando?

Primeiro, que existe um fluxo de pessoas que usam diferentes, pode ser várias coisas, eu vou levantar perguntas e eu não tenho resposta. Você tem várias alternativas, por exemplo, de hipernoite, que você, não necessariamente a pessoa que entra no abrigo vai ficar no abrigo o tempo inteiro, pelo contrário, algumas ficam pouco mesmo. E você tem uma variedade de alternativas de hipernoite.

Segundo, a pessoa pode ter saído do município, pode continuar ser uma pessoa em situação de rua, mas fora do município de São Paulo, então não vai ser contabilizado. Terceiro, a pessoa pode ter deixado a situação de rua. Então, quando você olha pra isso daqui, abre uma série de perguntas.

E a gente pode aprofundar um pouco mais. Como eu falei pra vocês, tem um cadastro que as pessoas preenchem quando elas se inscrevem, quando elas vão utilizar um serviço de abrigamento. Aqui, só como exemplo, eu peguei faixa etária como uma variável aqui de análise.

Então, juntei aquelas quatro cortes numa só, e a gente foi olhar aqui o que acontecia com as diferentes faixas etárias. As duas de cima são as faixas etárias mais velhas. As duas de baixo são as faixas etárias mais jovens.

Então você percebe uma tendência a uma maior permanência no sistema de uma pessoa mais velha, e uma tendência, repare que aqui você tem uma queda bem rápida nos mais jovens, no começo, as linhas de baixo, e uma tendência a... não vou falar saída do sistema, mas um uso talvez mais variado aí de opções de pernoite, ou eventualmente até saída de São Paulo, ou saída da condição de rua nas pessoas mais jovens. Essa foi uma análise.

A gente caminhou para uma segunda análise, também uma análise ao longo do tempo. A gente pegou aqui o período de janeiro de 2013 até dezembro de 2021, e a gente acompanhou só novos entrantes no sistema, só pessoas que entraram pela primeira vez no sistema nesse período, foram 117 mil pessoas, arredondando aí, iniciaram, e a gente acompanhou o que acontecia com essas pessoas nos dois primeiros anos. Então a pessoa entrou hoje, eu vou acompanhar os dois primeiros anos dessa pessoa.

E o que a gente reparou? Você tem cerca de 20, a primeira linha aí, cerca de 27% dessas pessoas saíram, não foram mais encontradas a partir do primeiro mês. Então usaram o sistema no primeiro mês e não foram mais encontradas no período de dois anos.

E por outro lado, você tem outros 27% de pessoas que não saiu até até um ano. Então tem um uso mais longo. Você tem pessoas com padrões de uso muito diferentes.

Uma pergunta interessante que se faz aqui é por quê? Por que você tem essas pessoas tem perfis diferentes? Você consegue de alguma maneira a partir do momento em que a pessoa entra no sistema ter alguma ideia de qual vai ser o uso futuro dela?

São perguntas em aberto. Ainda nessa mesma linha, a gente avançou aqui, são os mesmos dados, as mesmas 117 mil pessoas, a gente foi ver em quantos dias as pessoas utilizaram o sistema ao longo de dois anos. E aí é interessante porque das 117 mil pessoas, 12% em dois anos, não necessariamente em dias consecutivos, utilizaram o sistema por até dez dias.

Uma quantidade grande de pessoas que usam o sistema de uma maneira muito rápida, muito pouco frequente. E aí você pode levantar perguntas. Então, será que todo mundo que está usando o sistema de fato é população em situação de rua?

Será que não tem o caso do migrante que chega na cidade e não tem onde dormir, vai para um abrigo e depois sai? Se fosse censo de população de rua, pela definição operacional que se utiliza no censo, teria contado como população de rua. Mas é uma pessoa que tem uma característica diferente das outras.

Então, o que a gente repara aqui, você tem esses números esquisitos, 636 dias ou mais, que usa o sistema por um ano e três trimestres ou mais. Então, você tem desde pessoas que têm um uso intenso do sistema até pessoas que têm um uso bem esporádico do sistema. Você tem todo o aspecto.

Aí o interessante é saber porquê você tem essa diferença de uso. Até que ponto se você conseguir explicar essa diferença de uso, até que ponto você não poderia melhorar o serviço que é oferecido. Outra análise que a gente fez também usando o fato de você ter dados longitudinais e ser a mesma pessoa sendo acompanhada ao longo do tempo.

Algumas pessoas que saem do sistema da rede de abrigamento, ela diz porque sai. Então, por exemplo, algumas pessoas saíram porque encontraram moradia, outras, retorno à convivência familiar, inserção no mercado de trabalho, retorno ao local de origem. Esse tipo de saída aqui é denominada na Secretaria de Assistência Social de São Paulo como saídas qualificadas.

Supostamente, uma pessoa que tem uma saída qualificada teria resolvido, teria saído da situação de rua. Seria essa a ideia. Só que quando a gente olha aqui as desvinculações, você teve uma quantidade, por exemplo, grande de pessoas que se desvincularam por conta de moradia, terem obtido, conseguido alguma moradia, só que 40% dessas pessoas retornaram a usar, voltaram a usar o sistema de abrigamento depois.

A gente olhou até dezembro de 2023. Então, elas voltaram a usar o sistema de abrigamento. E se a gente olha, independente aqui da causa, da razão para ter saído a qualificada, essa proporção de retorno é bastante alta.

Então, por exemplo, a gente sabe que é muito difícil você fazer uma política de prevenção à situação de rua, para a população de modo geral. É muito difícil fazer uma política desse tipo. Mas tem um tipo de prevenção que você pode fazer, que você poderia imaginar uma política para isso, um programa para isso.

A pessoa que sai por um motivo de moradia, por um motivo retorno ao convivência familiar, inserção de mercado de trabalho, retorno ao local de origem, será que não dá para fazer um programa para evitar, prevenir que a pessoa volte à situação de rua? Eu sei quem são essas pessoas. É diferente de um programa de prevenção para a população geral.

As taxas são muito altas aqui de retorno. Eu vou pular isso daqui só por uma questão de tempo. No fundo, a moral da história era muito semelhante ao slide anterior.

Aí a gente foi fazer, olhar os registros, olhar o CISRUA, o CISA e o Cade Único e ver de que maneira você tem uma intersecção nesses serviços. E o que a gente observou? A gente pegou aqui, Cade Único de São Paulo só, isso já é um problema.

A pessoa pode estar no Cade Único de outra cidade e não estar contemplada aqui. Pessoas no Cade Único em São Paulo em 31 de dezembro de 2023. Quantas dessas pessoas a gente encontrou no CISA, no CISRUA, nos dois sistemas ou que não tem em nenhum dos sistemas?

E a gente nota que 45% das pessoas não está nem no CISA, nem no CISRUA. O que isso sugere? Sugere que a gente está falando de pessoas diferentes.

A gente está falando de populações diferentes. Quando uma pessoa é classificada como situação de rua no Cade Único, não é a mesma coisa que se a gente considerar as pessoas do CISA, CISRUA como pessoas de situação de rua. São grupos diferentes.

Aí eu fiz o exercício oposto. A gente pegou aqui pessoas adultas vinculadas em 31 de dezembro de 2023. Quantas tinham registro no Cade Único?

46%. Então a gente está falando de grupos diferentes. E o que é interessante?

Primeiro, quanto mais tempo a pessoa está no sistema, maior a vinculação ao Cade Único. Então quem está há mais de dois anos no sistema que começou, abrigamento ou no CISRUA, 61% das pessoas estão no Cade Único. Quanto mais idosa a pessoa, maior o percentual de pessoas que estão no Cade Único.

Então são dois sistemas. São sistemas diferentes que falam de populações diferentes. Isso é um cuidado que se deve ter com dados administrativos.

Então, só como conclusão final, CIS e CISRUA, você permite essa análise longitudinal e isso gera informação, isso gera dúvidas, e informações e dúvidas que se forem resolvidas podem ajudar no desenho de programas. São dados onde você tem uma disponibilidade fácil. Isso é feito todo dia.

A implementação já foi feita. Então são dados que você tem disponíveis. Então gerar informações a partir desses dados é relativamente fácil, não é uma pesquisa nova.

Você pode melhorar o cadastro para você ter mais informações e poder ir mais longe. E a grande limitação de dados administrativos em geral é saber a qual população aquela informação se refere. Quando eu olho o Cade Único, eu tenho uma população.

Quando eu olho CIS a CISRUA, eu tenho uma outra população. E quando eu olho um censo de pessoas em situação de rua, eu tenho uma terceira população. Eu posso usar o mesmo nome para as três, mas não são as mesmas pessoas.

Era isso. Agradeço. Espero não ter passado muito do tempo.

Agradeço a atenção de vocês.

[Intervenant 9]
Nós que agradecemos. Agora com a fala, Flávio Lino.

[Intervenant 1]
Boa tarde a todos e a todos presentes. Eu sou Flávio Lino, um homem negro de um metro e oitenta e cinco. Estou calçando um tênis dadidas preto e branco, uma calça jeans escura, uma camisa personalizada do Movimento Nacional de População em Situação de Rua em inglês e um blazer preto.

É uma honra estar aqui e poder participar desse espaço multidisciplinar de ideias e transformações, ouvindo experiências e relatos distintos de vários órgãos e sociedade civil. O Movimento Nacional da População em Situação de Rua não podia estar fora desse espaço, seja participando aqui, palestrando ou lá nas cadeiras, sendo representados pelo Movimento Nacional de Luta e Defesa da População de Rua. E também temos o Movimento Nacional de Meninos e Meninas em Situação de Rua, que compõe a triade dos movimentos que defendem a população em situação de rua em todo o território nacional, que está fora dele também.

Como eu disse, meu nome é Flávio Lino, eu fui o coordenador geral das atividades no G20, trabalhei a pauta da população em situação de rua no G20 social e em todo o ano de 2024 no G20. Nós nos colocamos ali em três grupos de trabalho do G20. Participamos da trilha de finanças, que era coordenada pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério das Relações Exteriores, e depois compomos ali o GT1, que é o GT de Economias Justas Inclusivas e Antirracistas, e o GT5, que é o GT de Saúde pelo C20 Brasil.

Então a gente pôde fazer contribuições significativas nesses espaços e que ocasionou a chegada do BRICS. Então a gente fez a entrega das nossas recomendações antes da saída do ministro Márcio Macedo, tivemos uma reunião com ele e aí conseguimos fazer a entrega desses dados, Natalino, que vão dar uma perspectiva global de como essa população só cresce porque a gente não tem metas definidas globalmente para que a gente possa ajudar essas pessoas a se reencontrarem com seus caminhos, mas com uma casa, com um lar, com uma habitação digna, seja ela acompanhada psicossocialmente ou seja ela sem essa ajuda, porque a gente entende também que na rua tem pessoas que se der uma chave hoje, vai conseguir sim entrar dentro de uma casa e gerir ela, com certeza, e outras vão precisar de ajuda. Então eu vou iniciar aqui, eu não sei se eu estou no controle ou se o colega vai controlar para mim ali.

Eu até imprimi aqui algumas coisas, mas eu vou ser bem rápido mas é muito importante que esteja na tela para que todos possam acompanhar. Eu também faço parte da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento da Secretaria-Geral da Presidência da República e também sou conselheiro titular no Comitê Interministerial de Mudança Climática, representando lá o Movimento Nacional de População de Rua.

[Intervenant 9]
Flávio.

[Intervenant 1]
Oi?

[Intervenant 9]
A gente está com um problema no computador que ele está travando e aí, caso a gente reinicie, a gente perde toda a conexão novamente.

[Intervenant 1]
Sim.

[Intervenant 9]
Então, infelizmente, a gente não está conseguindo projetar. Ele está aqui, eu estou vendo aqui o documento aberto mas ele não está conseguindo jogar no telão e apenas informar nessa dificuldade que a gente está tendo.

[Intervenant 17]
, então...

[Intervenant 1]
, . Obrigado, Helene. Então, o que nós trouxemos para dentro das discussões do Brics, ?

Primeiramente é importante dizer que eu consegui, ao longo de 2024, produzir dados consideráveis, consistentes sobre a temática de população em situação de rua, anteriormente no bloco do G20, dividido entre Cone Norte e Cone Sul, e posteriormente no bloco dos países do Brics. E isso... Eu posso dizer que eu não tive financiamento de ninguém.

Eu fiz tudo pelo celular, através do driver do Google, salvando uma página, depois indo descansar minha vista, depois salvando outra e fui construindo. Então, isso levou um ano, eu, nessa batida de fazer, e tendo que participar das reuniões. Só para vocês terem uma noção como foi tão cansativo, mas tão prazeroso ao mesmo tempo, só eu participei de quase 50 reuniões ao longo de 2024 do G20.

Pautando população em situação de rua em diversos espaços, desenvolvimento, economia, e outras questões. Então, aqui, a gente tem a capa desses dados, pode passar, que fala dos dados da população em situação de rua. Eu vou tentar fazer uma leitura aqui, um pouco rápida, para a gente ganhar tempo.

Então, eu vou direto ao ponto. No contexto da população em situação de rua, nós temos isso aqui. Obrigado.

Dados gerais. Contexto dos Brics. 42% da população, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.

Destaques importantes. Fazem parte do grupo dos países mais populosos do mundo, Índia e China, cada um com 1,4 bilhão de habitantes. O Brasil tem 216 milhões, Rússia, 143, África do Sul, 59.

No total, o Brics tem uma população de cerca de 3,2 bilhões de pessoas. Em conjunto, os países dos Brics têm um PIB de 24,7 trilhões. Segundo estimativas do Banco Mundial, o PIB da China chegou a 17,7 trilhões em 2022.

O segundo maior do mundo. A Índia ficou em sexto com 3,17 trilhões, seguida pela Rússia em 11º com 1,7 trilhão e o Brasil em 12º com 1,6 trilhão. E pela África do Sul em 32º lugar, com 419 bilhões de dólares.

Qual é o objetivo do bloco do Brics? E aqui eu listei. Dialogar sobre sistemas internacionais, democratizar, legitimar e equilibrar a ordem internacional, fomentar o comércio, os investimentos e as trocas entre os países, propor ajustes ou substituição de regras no sistema internacional.

E aqui eu deixei em negrito. Melhorar a qualidade de vida das populações locais. Estimular a cooperação entre os países em diferentes áreas estratégicas.

E aqui eu coloquei um asterisco. Melhorar a qualidade de vida das populações, inclusive da população em situação de rua. E aqui o levantamento de dados da população em situação de rua, ele é de 2023-24 e o contexto é o seguinte.

A população em situação de rua nos países que compõem o Brics, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e depois os que vieram compor Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, varia significamente, refletindo desafios socioeconômicos e políticas públicas distintas em cada nação. A seguir, apresento os dados disponíveis para cada país. Esses números destacam a complexidade e a gravidade da questão da população em situação de rua nos países do Brics, evidenciando a necessidade de políticas públicas eficazes e adaptadas à realidade de cada nação.

Estou na página 5, vocês também estão. A população em situação de rua dos Brics, incluindo os membros recentemente convidados, como eu falei anteriormente, apresenta várias variações significativas. Aqui no tópico 1, aparece o Brasil.

Lembrando que esses dados foram coletados em 23 barra 24, onde os dados foram apresentados em 2025. O Brasil tem estimativas que aproximadamente à época dos dados, eram 327 mil 925 pessoas em situação de rua, a Rússia mais de 11 mil pessoas, a Índia mais de 1 milhão e 700 mil pessoas em situação de rua, a China mais de 2.5 milhões em situação de rua, a África do Sul mais de 55 mil pessoas em situação de rua, o Egito estima-se mais de 330 mil pessoas, Etiópia aproximadamente 500 mil, o Irã estima-se 306 mil, a Arábia Saudita entre 185 mil e Emirados Árabes Unidos 30 mil e 55 e Indonésia aproximadamente 122 mil. Juntando todos esses países, nós temos mais de 6 milhões e 200 mil pessoas em situação de rua nesses países.

Porque o BRICS, ele fala muito em desenvolvimento dos seus países, mas às vezes eu percebi que peca-se muito no desenvolvimento das pessoas que habitam nesses países. Então, quando eu comecei a fazer esses dados e olhando as estatísticas, tanto dos países, no sentido até dos meus dados serem relacionados às publicações de imprensa desses países, ou seja, a gente sabe que os governos, eles tendem a esconder certos dados. Já a mídia, ela divulga.

Então, dados aqui trazidos por mim aqui, BBC, a Euronews, a Aljazeera, CNN, entre outras mídias internacionais, então eu consegui aglutinar esses dados e colocar pesquisa que vocês estão observando. E aí, a partir desses 6 milhões, aqui a gente traz uma observação. Em alguns países, a falta de dados precisos pode ser atribuída a diferenças nas definições de população em situação de rua, métodos de coleta de dados e a visibilidade do problema em cada nação.

Esses números destacam a complexidade e a gravidade da questão da população em situação de rua nos países dos BRICS e nos recém-convidados, evidenciando a necessidade de políticas públicas eficazes e adaptadas às realidades de cada nação. O Brasil... Eu trago uma contextualização dessa população nesses países e depois eu vou avançar um pouco mais para a gente poder ganhar tempo.

O Brasil tem uma população de aproximadamente 216 milhões de habitantes e a pobreza extrema atinge cerca de 9% da população. De acordo com estimativas, na questão dos 327 mil em situação de rua, principalmente em grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o déficit habitacional e a falta de políticas públicas eficientes para moradia são alguns dos principais fatores que levam ao crescimento da população em situação de rua. A Rússia, com uma população de 143 milhões de habitantes, tem 3 milhões de pessoas em vulnerabilidade e aproximadamente 12 mil em situação de rua, com um número significativo de pessoas em Moscou e São Petersburgo.

Os invernos rigorosos representam um risco mortal para essa população e a falta de abrigos e assistência governamental agravam a situação. Além disso, a criminalização da população em situação de rua e a ausência de programas de reintegração dificultam a saída dessas pessoas nas ruas. Na Índia, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, enfrentam os maiores desafios habitacionais do mundo.

Estima-se que cerca de 1 milhão e 800 mil pessoas vivam em situação de rua, especialmente em cidades como Mumbai, Nova Delhi e Calcutá. A urbanização acelerada e a falta de moradias acessíveis e a marginalização de certas castas e comunidades agravam o problema. Muitas pessoas vivem em favelas sem infraestrutura básica e crianças e idosos são os mais vulneráveis.

Na China, a China com também o mesmo número da Índia, 1 bilhão e 400 milhões, tem aproximadamente 2 milhões e meio de pessoas em situação de rua. A maioria está em cidades como Pequim, Xangai e Guangzhou. O país possui um rápido processo de urbanização, que também tem levado a uma exclusão habitacional significativa, forçando pessoas de baixa renda a viverem nas ruas.

Além disso, os migrantes internos enfrentam dificuldades para encontrar moradia e empregos devido à restrição do sistema Hukou, que limitam os serviços públicos para pessoas que não são residentes legais das cidades onde trabalham. O que que é o sistema Hukou? O sistema Hukou é como se fosse um Cade Único, porém só vai ter acesso aos serviços do Estado aquelas pessoas que têm esse cadastro lá na China.

Aqueles que não estão cadastradas nos serviços Hukou tendem a ficar em situação de rua, porque não têm acesso a esses serviços. África do Sul. A África do Sul tem uma população de cerca de 60 milhões de habitantes e um dos maiores índices de desigualdade do mundo.

Estima-se que entre 200 e 300 mil pessoas vivam em situação de vulnerabilidade. Dados apontam para mais de 55 mil pessoas em situação de rua, sendo Johannesburgo, Cidade do Cabo e Durban os principais epicentros do problema. A exclusão racial e econômica, reflexo do apartheid, continua a impactar populações vulneráveis, principalmente negro e sul-africano.

Além disso, a falta de habitação acessível e o desemprego elevado fazem com que muitas pessoas fiquem sem teto, dependendo de assentamentos informais e redes de caridade para sobreviver. No Egito. O Egito tem uma população de mais de 110 milhões de habitantes e a pobreza atinge cerca de 30% da população.

Estima-se que 330 mil vivam em situação de rua, principalmente no Cairo e Alexandria, onde a densidade urbana e a falta de moradia acessível são mais evidentes. Etiópia. A Etiópia é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de 120 milhões de habitantes.

A falta de habitação adequada afeta milhões. Cerca de 40% das pessoas vivem em vulnerabilidade. Já devagar.

Em áreas urbanas, como a de Izadeba, estima-se... Ah, tá bom, desculpa. , vou maneirar.

E aqui eu trago na página 9, por favor. Pode pular pra página 9? ?

No final dela, ? Ah, sim, beleza. Não, beleza.

Comparações. Então aqui eu trago comparações entre os blocos do BRIC G20 e União Europeia. Por que eu trago essa comparação?

Porque como a gente apresentou os dados da população de rua no G20 no ano de 2024, então tinha que ter um nexo entre o que tem nos blocos pra poder fazer essa comparação. E aí a população em situação de rua no bloco do G20, que eu não divulguei aqui pra vocês os dados, mas posso enviar depois, ela tá em cerca de 7 milhões de pessoas dentro desse bloco. Os Estados Unidos liderando em números absolutos e seguido pela União Europeia.

Estados Unidos, de acordo com o National Alliance to End Homeless, mais de 580 mil pessoas estão em situação de rua à época dos dados. Falta de moradia acessível e políticas públicas de saúde mental são fatores críticos para o problema. No Reino Unido estima-se que 227 mil pessoas estejam em situação de rua.

O governo tem adotado algumas políticas de apoio, mas as críticas sobre a falta de soluções a longo prazo são frequentes. Alemanha, a população em situação de rua é estimada em 262 mil. Mas esses números podem variar com base em diferentes estimativas.

O sistema de segurança social oferece alguns benefícios para os sem-tetos, mas ainda é insuficiente. A França, a população em situação de rua é estimada em mais de 300 mil pessoas. A fonte é do INSEE.

O governo implementou algumas políticas, mas a crise habitacional continua sendo um grande desafio. União Europeia. Na União Europeia tem uma faixa de 700 mil a 2 milhões de pessoas em situação de rua, com uma crescente pressão sobre políticas de inclusão social.

Dados gerais da União Europeia, a população em situação de rua na União Europeia, como dissemos no parágrafo anterior, está estimada em entre 702 milhões de pessoas, com países como França, Alemanha e Espanha tendo os maiores números. Políticas variam amplamente entre os países membros, com algumas nações oferecendo redes de apoio mais robustas, enquanto outras falham em fornecer soluções eficazes. Vi ali, sim.

Mas eu peço vênia. Os 17... Peço vênia, com todo respeito.

Eu acho que aqui são dados importantes que eu acho que o seminário precisa se atentar. Aqui, quando a ministra Macaia traz, no início da fala dela pela manhã, sobre a questão da necessidade de se ter um ODS para a população em situação de rua, ao qual ela me disse que eu tenho feito pressão justamente porque eu fui lá levar esse documento para que seja analisado, para que seja criado um GT, para que se discuta, em território nacional, esse ODS. Então, aqui, nesses dados nós fizemos uma interseção muito boa, que tentamos ver aqueles ODS que perpassam pela temática de população em situação de rua, para trazer uma análise daquelas metas que não são cumpridas, porque não há metas para cumprimento.

Então, aqui a gente traz a seguinte questão. Página 10, isso. Os 17 ODS da Agenda 2030 das Nações Unidas visam abordar uma ampla gama de desafios globais, incluindo pobreza, saúde, educação e desigualdade.

No entanto, a população em situação de rua não é especificamente mencionada em nenhum dos ODS, e não é nenhum mesmo, o que leva a uma falta de foco nas necessidades únicas dessa população extremamente vulnerável. Por exemplo, o ODS 1 busca acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares, mas não aborda especificamente as complexas causas e desafios enfrentados pelas pessoas em situação de rua. Da mesma forma, o ODS 11 visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, mas não menciona diretamente a questão da falta de moradia.

A ausência de uma referência explícita à população em situação de rua, PSR, nos ODS, resulta em políticas públicas que não atendem às necessidades específicas dessa população, perpetualizando sua marginalização e dificultando a implementação de soluções eficazes. Portanto, é crucial que os formuladores de políticas considerem a inclusão de metas e indicadores específicos relacionados à população em situação de rua, para garantir que ninguém seja deixado para trás, no progresso rumo ao desenvolvimento sustentável. Eu vou acelerar essa parte aqui, mas é para entendimento de vocês.

Então, aqui, na sequência, a gente vai apresentar dados disponíveis sobre a população em situação de rua nesse bloco do BRICS, incluindo informações sobre grupos específicos como LGBTQIA+, idosos, jovens, migrantes e refugiados, para países ou categorias sem dados oficiais, fornecerei estimativas baseadas em informações disponíveis e padrões observados em contextos semelhantes. Além disso, discutirei como esses dados evidenciam que os 17 objetivos não atendem adequadamente às necessidades dessa população. , você pode pular para a página 11, que eu já vou para o meio fim mesmo.

Aqui, a gente traz uma tabela ilustrativa com números da população em situação de rua, bem como as informações relacionadas de gênero para cada país na língua nativa. Então, por exemplo, vocês podem ver, o Brasil, distribuímos aqui na tabela, por gênero, homens, mulher, pessoa LGBTQIA+, idosa, 60+, jovem de 15 a 29 anos, migrantes e refugiados. E nós tivemos o cuidado de, nessa tabela, trazer a língua nativa de cada país para que possa ser compreendido de forma tranquila para aquele que for ler.

Então, aqui a gente traz os dados na língua russa, na língua da Índia, da China, na linguagem dos outros países, África do Sul, Egito, Etiópia, para que se compreenda, para que esses países possam ser incluídos também e possam também ler, ainda que só a tabela, mas possam fazer isso. E aqui, eu trouxe um exemplo crasso do que nós trabalhamos dentro desses dados. Página 16, por favor.

Eu estudei, nós estudamos os ODSs que perpassam pela temática de população e situação de rua. Então, ali, a gente tem o ODS 1, o 2, o 3, o 4, o 8, o 10, o 11 e o 16. E aqui nós criamos uma tipo uma base de qualificação para essas metas que de 0 a 10, 0 até 10 ela está baixa, de 30 a 50 ela está média, e acima de 55 ela está grave.

Então, por exemplo, aqui no ODS 1, erradicação da pobreza, 60% não cumprido. Então, a gente não tem essa meta para a população e situação de rua não sendo cumprida nesses objetivos. E aqui, para dar um exemplo, na saúde, a saúde e bem-estar, 55% não cumprido.

E se nós formos ler, além do que está aqui, a gente traz um detalhamento desse ODS 3 da saúde, que é na página 17, por favor. Isso, ODS 3 da saúde, que diz assim, a falta de acesso à saúde básica e de qualidade é um problema significativo para a população e situação de rua no Brasil. Esses indivíduos frequentemente enfrentam doenças crônicas, problemas de saúde mental, e aqui eu destaco o TDAH, o TÉ também, e a alta vulnerabilidade a doenças infecciosas, mas não tem acesso regular a serviços de saúde.

Apesar da rede SUS ser universal, a população e situação de rua encontra barreiras como estigma, a falta de documentação e a dificuldade de acesso aos serviços médicos. Além dos problemas físicos, muitos indivíduos em situação de rua enfrentam questões relacionadas à saúde mental como depressão, , TDAH e transtornos psicológicos exacerbados pelas condições de vida precárias e pelo isolamento social. A falta de políticas públicas adequadas para lidar com a saúde mental dessa população resulta em agravamento das condições de bem-estar e longevidade, fazendo com que esse ODS esteja longe de ser cumprido.

Eu vou parar por aqui, ? Eu gostaria que avançasse. A gente faz essa interseccionalidade com todos os ODSs pesquisados nos outros países do BRICS.

Então eu trouxe um exemplo desse ODS3 para o Brasil, mas tem esse mesmo exemplo pro ODS3 da Rússia, da China, da Índia, da África do Sul, e são totalmente respostas, totalmente diferentes da do Brasil, porque as concepções de população em situação de ODS são diferentes. Então eu gostaria que você pudesse adiantar para a página 63, por favor. Pode pular direto.

Foi muito. Iniciando. Vai baixando que eu acho que vai.

E aqui, para fechar, aqui a gente traz o que esses dados falam. Porque lá no início a gente só vê números, só vê texto, só vê essas coisas. Mas no final, estamos falando dessas pessoas.

Está falando de mim que saiu das ruas. Estou falando daqueles lá que tem trajetória de rua. Estou falando desses que ainda estão nas ruas.

Esse é o retrato dos dados que nós trazemos aqui. Pode passar para a próxima página, pode passar, porque a gente vai finalizar com essas imagens para que fique gravado aqui na memória de cada um de vocês, que nós não somos lixos e nem bichos. Nós somos seres humanos que necessitamos e precisamos de todo o apoio institucional da sociedade civil.

Isso é na Rússia. Existem, como eu falei, pessoas em situação de rua na Rússia. Um país frio que faz 70 graus negativos.

E essas pessoas estão lá sendo acolhidas. Pode passar mais um pouco, por favor. E saia na China, para quem acha que não existe gente morando na rua na China.

Olha aí a realidade da China. Isso são dados 23 e 24. A pessoa com QR Code no peito ali, para facilitar a doação.

Isso é um festival que acontece na China, onde pessoas em situação de rua são colocadas em jaulas para que o festival não possa ter interrupções. Isso saiu no Daily Mail lá da Inglaterra, um jornal renomado internacional. Pode passar mais um pouco.

Isso aí é em frente a um templo budista. As pessoas aguardando para poder sair. Aí na Índia.

As crianças. Aí na África do Sul.

[Intervenant 17]
Pode passar.

[Intervenant 1]
Eu queria que colocasse aquele QR Code no final, para que vocês pudessem fazer o download desse levantamento de dados. Tem um QR Code disponível, para que vocês possam baixar. Ele é um estudo de 80 páginas.

Como eu disse para vocês, trouxe a visão da população em situação de rua nesses países. E a gente tentou trazer para dentro desse seminário essa voz internacional. , Natalino?

Você também, como pesquisador, sabe disso. E eu fico muito orgulhoso. Queria fazer alguns agradecimentos antes de passar a palavra.

Queria agradecer a Denise, que está aqui na minha frente. Uma pessoa que tem apoiado essa iniciativa. Uma pessoa que eu gosto, que eu chamo de madrinha.

Ela me chama de afilhado, porque a gente tem uma relação muito próxima. A Irine também, que está aqui também. A galera do Trilha também, que tem feito um trabalho.

Aí está o QR Code, para vocês poderem baixar. E poderem fazer ali as suas observações e divulgarem também esse levantamento de dados. Então, quero agradecer a todos vocês.

Obrigado pela oportunidade. E que esse seminário aqui, ele possa servir como uma atividade lá na COP30, que a Fiocruz, o IPEA, possam colocar no radar. Essa é uma atividade potente sobre a internacionalização e os dados internacionais sobre população em situação de rua.

Então, deixo esse recado. E que nós possamos aqui também, Eline, Denise, sair deste seminário IPEA, Fiocruz, Movimento Nacional de População de Rua, Movimento de Luta e Defesa, meninos e meninas e outras redes aqui, com uma carta de compromissos aqui. Que nós possamos sair daqui com recomendações, para que nós possamos avançar em todas as políticas interseccionais para a população em situação de rua.

E agradeço desde já. Muito obrigado.

[Intervenant 10]
Eu vou falar em três minutos, na verdade, minha função de mediador aqui. Eu acho que foi uma mesa bastante rica no sentido de trazer dados e evidências sobre o fenômeno não só no Brasil, mas no mundo também. Isso mostra que é um fenômeno que não está totalmente atrelado apenas ao tema da pobreza, embora seja bastante relevante, mas acho que na parte da manhã também foi dito a dimensão das subjetividades, a solidão, o nosso modo de vida.

Esse fenômeno mostra para a gente, na verdade, o esgarçamento e a fratura mesmo social. Muito profunda. Não é à toa que nos interroga e coloca tantos desafios.

O Romulo trouxe a ideia da complexidade aqui, para discutir esse fenômeno com o tema da complexidade. E não conheço, eu estudo minha área, o tema da pobreza, da proteção social, e o fenômeno da população em situação de rua ou população de rua, ela é o fenômeno mais complexo, porque, de fato, a gente não consegue identificar uma causa. São conjuntos de causas diferentes, aspectos subjetivos, objetivos materiais, imateriais, relacionais, e, com isso, a gente também não tem ideia clara do que é necessário fazer.

Tem apostas, tem modelos, o tema da intersetorialidade aparece como uma solução necessária, e, de fato, talvez essa seja a questão mais difícil para a gente, de fato, conseguir ter uma política pública capaz de enfrentar esse fenômeno. A Odaísa coloca, que traz que não há integração nem mesmo entre os próprios serviços voltados para a população em situação de rua. Isso é muito sério.

Como que a gente pode pensar uma ausência de integração entre os próprios serviços que atendem a essa população e pensar a intersetorialidade necessária com saúde, com habitação, com trabalho, com qualificação profissional e etc. E eu acho que isso nos desafia, porque, de fato, exige não só evidências, políticas baseadas em evidências. Eu venho de um lugar, de uma escola, de uma instituição que produz estatísticas, produz avaliação, mas a gente estava, inclusive, na semana passada, discutindo políticas baseadas em valores e em evidências.

Então, eu acho que tem essa dimensão. E como o Rinaldo falou também, dependendo da fonte de dados, a gente vai achar uma população diferente. Então, quer dizer, a gente precisa dos dados, mas a gente não precisa só deles.

Eles não são suficientes. A gente precisa de ter ideias e mobilizar nossa inteligência coletiva para pensar como que a gente pode fazer algo diferente. Porque o que a gente tem feito não tem dado certo.

E eu sou de um tempo, viu, Daís? Eu também tenho os cabelos brancos, sou uma mulher de cabelos brancos. E eu tive em 93, eu fui checar aqui essa data, foi inaugurado em Belo Horizonte o centro para a população de rua meninos, que chama o Centro Miglin.

1993. Em Belo Horizonte. E o que que fez com que a gente fosse tão precoce, , como experiência?

Teve um grupo político. Teve um grupo político, foi o prefeito Batruz Ananias nessa época, que chegou e falou, olha, isso é intolerável. É intolerável ter bandos de crianças andando à rua com cobertor, como a Sônia falou, , dos leprosos na estrada.

É inadmissível. Então tinha, como a Daís já falou, centro espírita, outro centro evangélico, a igreja católica, eles iam comer ali, tomar banho ali, pegar cobertor ali, rezava o Pai Nosso aqui, fazia exorcismo ali. Era assim, era essa a realidade que foi encontrada.

Qual que foi a iniciativa que foi tomada? Construir uma rede. Construir uma rede que o setor público, que o governo, assumiu a coordenação dessa rede e padronizou os serviços.

Então, isso é possível, , porque a gente precisa dessas instituições da sociedade civil pra fazer política pública, porque, de fato, a gente não dá conta ainda, sozinho, de incorporar serviços públicos. Mas é preciso trazer o comando e a direção pro governo. É uma política pública.

Agora, por que que, de fato, é tão difícil, , esse fenômeno que vem crescendo e nos colocando desafios tão grandes? Eu acho que a Sônia trouxe um ponto aqui. Porque tem um elemento de exclusão, tem um elemento de estigma, tem um elemento que é de outra natureza.

Que não basta a gente querer achar que é um problema de política pública e com a nossa racionalidade tecnocrática trazendo movimentos, ainda que seja importante ouvir, mas a gente precisa mobilizar outras coisas. Eu acho que esse seminário é um convite pra isso. Eu espero que a gente tenha mais tempo pra debater e pra ouvir.

Porque eu sou uma neófita nesse tema. Eu vi a tese da Joana, que é um trabalho precioso. Que mostra que, além das evidências, a gente precisa conhecer a etnografia, o modo de vida, a percepção das pessoas que estão vivenciando essa situação.

Nenhum de nós tem a experiência de viver na rua. Talvez você possa dizer, mas eu não tenho. E não posso pensar que eu vou saber uma solução se não for, de fato, uma solução que venha de uma compreensão e de uma decisão política.

Porque política não se faz sem financiamento. Não se faz sem capacidade, não se faz sem gente, não se faz sem técnica, mas não se faz sem paixão e sem idealismo. Eu acho que foi isso que eu aprendi na experiência da década de 90, lá com Patrúcia Nanis, que juntou um bando de gente louca, eu tinha 30 anos de idade, tava saindo do mestrado em sociologia da ciência, que não tinha nada a ver, e fui cair num lugar que tinha criança e situação de rua passando o tempo inteiro.

Então, isso mudou a minha vida, e eu acho que isso é o que eu acho. De fato, a gente vai conseguir porque estamos aqui, nesse esforço de juntar conhecimento, razão, sensibilidade, e para que, de fato, eu acho que o padre Júlio Lancellotti vai poder dizer aqui do que é trazer isso como uma missão de vida, e que é possível alterar. Então, é isso, gente.

Eu queria muito o debate, mas me falaram que não temos tempo para isso. Então, fica aí, guardem as questões para a gente falar depois.

[Intervenant 9]
Peço que os convidados da mesa agora retornem os seus assentos. Eu informo que, de fato, estamos com um pequeno problema de tempo, nós temos que devolver o auditório porque tem outro evento aqui hoje a partir de seis e meia. Então, saiba que a comissão está correndo para dar conta de realizar tudo.

Está certo? Os espaços de discussão, a gente vai ter mais folga para discutir amanhã. Iremos tentar sim colocar um debate hoje, mas devido ao horário, a quantidade de convidados que vem de outro estado, que pega avião, que é internacional, isso está dificultando um pouco a nossa agenda.

Está bem? Nós convidamos agora a pesquisadora Denise Campos Paiva para receber o nosso querido padre Júlio Lancellotti, pedagoga e padre da Igreja Católica. Convidamos também Cristiane Xavier, subcoordenadora do Núcleo de Direitos Humanos e Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e membro integrante da Comissão de Defesa de Direitos Humanos da População e Estação de Rua.

Agradecemos também a participação de todos os presentes, em nome dos Ministérios das Relações Exteriores. Agradecemos a presença também de Eric Lucas, da Geisa Carlos, da Fátima Valéria, do Coletivo Pretas Ruas, de Ivânia Geste, de Ricardo Cato e de Pedro Martins.

[Intervenant 17]
Doutora Denise, a mediação agora é contigo.

[Intervenant 15]
Vou ser super rápida, mesmo. Primeiro alegria de estar reencontrando um amigo de mais de 30 anos, quando nós trabalhávamos em liberdade assistida com jovens infratores. Reencontrá-lo aqui agora.

Cristiane, são pra mim, no meu sentir, no meu viver, na minha percepção de país, dois ícones. Dois grandes ícones. Porque não só estão engajados na luta cotidiana, como também formulam e podem realmente ser para nós grandes faróis, para que a gente realmente um encontro mais efetivo com essas nossas inquietações e com os nossos sonhos.

Eu gostaria, Cristiane, que você relatasse aqui a sua percepção sobre as violações. Porque eu sei o tanto que você as vive no Rio de Janeiro e a gente acompanha seu trabalho. Reconhecido não só pelas autoridades, mas também pelo movimento social.

E principalmente aqueles também que sofrem nas ruas. Todos lá te reconhecem. E Padre Júlio, eu gostaria muito, porque o senhor tem uma visão muito forte de que política pública não é só governo, é governo e sociedade.

E eu conheço as suas visões. E gostaria muito que o senhor colocasse aqui aquilo, inclusive, que eu lhe passei antes, pelo nosso zap. Que é exatamente a sua visão do papel da ajuda comunitária e das organizações da sociedade civil.

No enfrentamento dessa questão, desse fenômeno. E também, Padre Júlio, que o senhor nos apontasse com a sua clareza, com a sua inteligência, com a sua vivência, os principais gargalos, os principais desafios e quais são as saídas que o senhor aponta. Eu acho que eu não vou mais fazer mediação, porque não vai precisar disso.

Vocês aqui são plenos demais para dar essa aula, para terminar esse dia maravilhoso que a gente viveu aqui. Muito obrigada.

[Intervenant 6]
Bom, quem me conhece sabe como eu sou. E o Padre, gente, quem já fez, participou junto com o Padre, o Padre é um showman aqui da Pop Rua. Então ele fala, ele mostra tanta coisa.

E eu, como defensora pública, eu não consigo ficar sentada. Então, vou falar a minha autodescrição. Eu estou usando um conjunto azul, um blazer azul, cabelos alourados, já estou quase no estatuto, 38 anos de direito no total, 30 anos de defensoria pública e assumi essa pasta há três anos, depois de 13 anos também da violência doméstica.

Vou pedir licença só para ir até ali o púlpito, vou te expulsar do púlpito só um pouquinho. Porque eu tinha preparado, gente, pode até passar ali para quem quiser copiar dados de contatos, mas eu cheguei a preparar esse trabalho, mas eu vou passar bem rápido, não sei se o controle está aqui. Está aqui, Denise?

Está funcionando? Ah, que ótimo. Isso é mais ou menos sobre a defensoria pública.

A defensoria pública é uma instituição pelo artigo 134 da Constituição e ela está em todo o Brasil. O último estado foi agora do Macapá, eu estive lá até a semana passada, porque, independente de tudo, eu ainda faço parte do Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Então, pela Comissão de Violência e Direitos Humanos e da População em Situação de Rua.

Então isso nos dá uma expertise para saber da situação da população em situação de rua no Brasil como um todo. Eu fico muito honrada, muito feliz da oportunidade de Marcos Natalino fazer um levantamento sobre violência. Todos sabem que a violência é um tema muito presente na cidade do Rio de Janeiro, mas acreditem, Macapá acabou sendo a cidade mais violenta do Brasil, seguida de Bahia.

Aqui, mais ou menos, sobre o que é a defensoria pública. Isso aqui está funcionando ou não, amigo? Qual que a gente aperta aqui?

Se não aperta, a gente fala, olha assim, passa. Vai? Então deixa eu continuar falando para vocês.

A defensoria pública está aí e quando nós... Qual? Ah, então passa.

Pode passar, à vontade. Não, passou muito, viu? Passou demais.

A gente faz esse trabalho de capacitação, informação, esclarecimento, em todos os lugares, porque nós aqui acabamos de ouvir tantas palestras que falavam sobre números, falavam sobre gargalos, academia se debruçando, trazendo as informações, mas eu fazia várias perguntas. E aí? E aí?

O que eu vou tirar disso para a nossa efetividade? Todo mundo sabe que a minha pergunta nas audiências públicas é o que a gente vai tirar daqui? Qual vai ser a carta compromisso, como o Flávio falou?

Quais serão os ofícios expedidos? Quais serão as devolutivas? Porque a gente precisa trazer o conhecimento acadêmico para o conhecimento empírico e daqui a gente fazer uma sociedade melhor.

E tentar reduzir tudo isso que é o do nosso dia a dia. A primeira coisa que eu falo, eu não quero ninguém na porta de ninguém. Eu não concordo que as pessoas fiquem e vivam sobre as calçadas das cidades.

Mas eu não admito violência, eu não admito política de maquiagem. Eu não admito fotos estamagráveis e nada sendo feito. Eu não admito a falta de transparência nas secretarias, nos ministérios, nas secretarias estaduais, onde todos os secretários políticos tiram fotos, apresentam vários locais, mas eu não consigo ver o orçamento, eu não consigo ver o plano de trabalho, eu não consigo ver a prestação de contas.

Então, como instituição, junto com o Ministério Público, Estadual, Federal, DPU, que a gente faz esse acompanhamento, esse monitoramento, esse é um viés que as instituições do sistema de justiça, aí eu também participo do CNJ, que a gente também faz esse acompanhamento. Então, pode passar, meu doce, pode passar à vontade. Esse aí foi um trabalho que a gente começou a desenvolver, por quê?

Não adianta falar da rua, não fale de nós sem nós. Não adianta falar da rua sem ir pra rua. Você precisa estar no território para entender o que acontece, porque senão há um distanciamento tão grande que o papel aceita tudo, a gente tem projetos maravilhosos de leis fantásticas, entretanto, estão tão distantes da necessidade do nosso destinatário.

Então, quando nós fomos para a rua, pode passar, a gente fez esse projeto, que é o Nudete Pop Rua Itinerante. A partir dali, nós começamos a sair durante os dias, durante a noite, que tem o projeto Honda, que ganhou o projeto lá, o Innovare, em 2018, no CNJ, e nós passamos a ouvir, a ver e a conversar e dialogar para identificar quem são essas pessoas. Quem são essas pessoas que, quando a gente fala assim, ah, migrante.

Se o migrante está na rua, ele é pop rua. Ele é pessoa em situação de rua. E o nosso decreto, 7.053, ele é de 2009. Peraí, então a gente tem 16 anos disso? E nada mudou? Só piora?

Quando a gente fala das leis estaduais, de leis municipais, nós também temos o prazo de muito tempo. 2018, lá do Rio de Janeiro, do município. Então, peraí, não é por falta de lei.

É por falta de vontade. É por falta de organização e vontade política. Porque até numa audiência pública eu participei, agora na alerja eu mostrei.

Orçamento para a habitação também tem, mas não é utilizado. Então, olha só, eu acho que está na hora da gente parar com muitas elucubrações, com muitas ideias. Eu acho importante a gente falar sobre o que acontece na rua.

É importante a gente trazer toda essa discussão hipotética, problema, objetivos, projetos que a gente faz acadêmico, mas a gente precisa aplicar na prática. Porque senão não adianta. Pode passar, meu amor.

Isso aqui é o DETRAN, porque a gente também tem um reconhecimento de que a população em situação de rua precisa da identificação civil. Pode passar. Esse é o Ronda.

Pode passar tudo agora. Aí foi tudo que a gente fez. A gente participou da DPF lá em Brasília.

Foi uma construção de partidos políticos como autores, mas as defensorias do Brasil. E foi uma construção muito bacana, porque a gente conseguiu uma liminar. Liminar parece que é essa que a gente está discutindo agora.

Numa ação civil pública, porque eu estava até para amanhã, mas amanhã a gente tem uma ação civil pública, uma audiência, com todo mundo junto, com o Ministério Público Federal, com a Defensoria Pública da União e do Estado, unidos para fazer uma cobrança, fazer valer o cumprimento da liminar da DPF 976. E aí a primeira pergunta é essa atuação decolonial holística. O que é isso?

Pode passar. Corpos esquecidos. População em situação de rua em todo o Brasil que são esquecidas, abandonadas, não identificadas.

Até a pesquisa que o Marco Olino trouxe vai me ser muito útil no meu dia a dia, no trabalho, porque essa é uma realidade da população em situação de rua. População em situação de rua, ele é vedado, ele passa a ser um fato natural e deixa de ser um fato jurídico. E quando a gente fala que ele não tem a certidão de nascimento, que também vai ser um tema amanhã, e também não será dentro da cadeia documental até o final, a declaração e depois a certidão do óbito, a gente vai ter o caso que todo mundo aqui sabe que foi da execução sumária das pessoas em situação de rua lá no Rio de Janeiro em Irajá.

Até há bem pouco tempo agora eu estava ainda conversando com a família, porque o corpo chegou em Salvador para o sepultamento e ainda não tinha chegado no cemitério e ela estava preocupada por conta da hora. Esse caso, pode passar. Esse caso do abandono, recentemente, a gente está falando 5 de outubro de 2025, onde corpos foram descobertos, mumificados e não identificados.

Pode passar. Esse foi um caso, e eu, parece chocante, mas a pessoa me mandou a foto para confirmar que finalmente tinha conseguido sepultar a pessoa em situação de rua. Por quê?

Porque não tinha documento. E aí, neste caso aqui, específico, a gente identificou mediante os cadastros, só que quem ia fazer o sepultamento era uma pessoa em situação de rua. E adivinha o que a funerária exigia?

Comprovante de renda, comprovante de residência. O ofício foi encaminhado. Eu encaminhei o ofício.

Não. Agora você vai esperar 4 dias para a gente saber da gratuidade. A vida é diferente do papel.

A gente tem dados ali de sepultamento, dados de pessoas que entraram nos abrigos, que saíram. Eu dei um pulo porque, muitas das vezes, os números, eles acabam sendo um tanto quanto insuflados. Quando a população, se for lá para pegar um alimento, é uma abordagem?

Um número. Se toma um banho, é outro número? Dois.

É outro atendimento. Se fala com assistente? Três.

E aí você vai ter um número enorme como se houvesse esse atendimento e a gente sabe que não aconteceu. Então eu preciso rever a transparência desses números. Mas voltando àquela história ali, eu tive que baixar o cemitério.

Aquele vídeo, pena que não deu para rodar, mas sou eu falando que eu prefiro os mortos do que os vivos. Porque eu fui até o cemitério conversar com a concessionária para falar, peraí, o que é? Porque há uma má vontade de dar a gratuidade de justiça para o sepultamento.

Então esta é uma questão que a gente também vai se reunir com a comissão que tem lá do cemitério, mais as concessionárias, para saber que gratuidade é essa. Seguindo, esse foi o caso agora, do final de semana, da população que estava dormindo e que foram executados. Seguindo, eu anotei vários tópicos que eu deveria falar com vocês sobre quando falaram aqui sobre hospitais e da população em situação de rua.

População em situação de rua que baixa o hospital sem documento é a mulher preta que está parindo a criança preta. E que detalhe, esse caso é verídico, como a mãe preta estava entubada, a criança preta não podia ser registrada. E nós sabemos que criança sem registro é um perigo.

Da mesma forma que pessoa em situação de rua sem certidão de nascimento ou a certidão de óbito é um facilitador para fraudes. Fraudes porque não vai ter sucessão. Fraudes porque o benefício previdenciário fica aí.

Fraudes porque não vai entrar na contagem do Marcolino, porque essas pessoas não vão ser contadas. E se essas pessoas não são contadas, a gente não tem o quê? Não tem política pública.

Então, veja, quando eu trago, esse aqui é um rapaz que está estudando, pode passar para o outro, por favor. Essas mortes refletem a falha de um Estado na proteção da parcela da população e que também viola os direitos fundamentais garantidos pela Constituição. Qual governo vai produzir um dado que atesta a sua incompetência, mesmo que apenas em uma parcela da sua atuação?

A nossa cobrança com o poder público traz esses vieses. Não adianta a gente destacar funções da Secretaria da Assistência Social ou esvaziá-la com um orçamento não impositivo para traduzir isso em uma plataforma política onde a gente, muitas das vezes, sabe que tem um viés de segregação de comunidades terapêuticas com vieses com um olhar religioso num país laico e que vai praticamente mais uma vez violar direitos dessa população. Eu vou encerrar a minha fala ainda com gostinho de gostaria de dizer muito mais, mas eu vou fazer uma proposta para todos que estão aqui com todo esse potencial e capacidade.

Precisamos de um fundo nacional, fundo estadual, fundo municipal para a população em situações de rua. Não adianta não adianta falar o projeto é lindo, mas a falta orçamentária, muitas das vezes, vai bater na porta desse projeto e o gestor vai negar por conta de falta desse fundo. E a venda desse fundo, as indenizações de dano moral coletivo, tudo aquilo que a gente faz, ou então quando a gente pega uma empresa que violou, seja lá o que for, a gente manda lá para o fundo e a gente vai conseguir fazer um trabalho direcionado para essa população.

Muito obrigada.

[Intervenant 17]
Com a palavra agora, Padre Júlio Lancelotti.

[Intervenant 5]
Olá. Eu agradeço poder falar um pouquinho com vocês, mas sempre eu tenho dificuldade de falar do alto. Eu sempre prefiro falar de baixo, mais perto das pessoas com quem a gente está conversando, para que não haja coisas verticais, mas mais horizontais.

Uma das coisas que eu gostaria de lembrar é que eu vou fazer rápido, não sei quanto tempo a gente tem, quem controla o tempo? 15 minutos. Então só em 15 minutos eu vou agradecer de poder estar aqui.

Já estou indo para o aeroporto, então em 15 minutos eu agradeço bastante. Já vou me despedindo. Mas talvez fazer algumas colocações impertinentes.

Uma delas que todo esse discurso que nós fazemos e ouvimos, está dentro de uma epistemologia. Está dentro de uma maneira de pensar. E nós refletimos dentro da maneira de pensar neoliberal.

Da meritocracia, do individualismo, e a nossa lógica é uma lógica neoliberal. E dentro da lógica neoliberal nós tornamos o capitalismo neoliberal uma religião. E tornamos o capital divino.

E a população em situação de rua e os pobres são os sacrificados. Eles são os sacrificados. Porque dentro de um sistema capitalista neoliberal política pública é manutenção da miséria.

Não saímos da miséria. Não saímos. Quem nasceu pobre vai morrer pobre.

Quem nasceu em situação de rua, na maioria das vezes, vai morrer em situação de rua. Se a gente pegar os dados de quantos pessoas em situação de rua morreram na rua, há quanto tempo eles estavam na rua? Quantos que são filhos que estavam na rua ou na pobreza?

Rico só morre na rua em acidente de carro. Quem morre na rua na calçada de frio, de fome, de solidão, de abandono, são os pobres. Os que têm condições que morrem na rua foi em acidente.

Senão, não morre na rua. A mobilidade no Brasil se dá em nove gerações. Cada geração são 25 anos.

Então, a gente muitas vezes vende o mito de que você faz esse curso, faz isso, faz aquilo, que você vai sair da rua. Não vai. Não vai sair da pobreza.

Ou se sair, vai ser para alguma coisa bastante modesta, bastante simples e com pouca dignidade. Então, as nossas ações, na maior parte das vezes, não são libertadoras. E se nós queremos, então, como sociedade civil, contribuir, a nossa contribuição é questionem, não se conformem, rebelem-se, perguntem, não vendam sua consciência para o dinheiro público.

Não vendam sua consciência para os poderosos de plantão. Não vendam sua consciência para a especulação imobiliária. Não vendam sua consciência para a especulação financeira.

Não se vendam, porque muita gente vê a miséria, a pobreza e a opressão e se calam para não perder o emprego. Para não perder o cabide de emprego que conseguiu no poder público. E fica calado diante da miséria.

E fala é institucional. É o nosso limite. O nosso limite é o amor.

Ou eu amo mais a minha segurança ou eu sou capaz de amar a vida do irmão que está ameaçada. Por isso, muitas vezes, nós somos insubordinados, nós somos desconsiderados, nós somos sancionados. Uma sugestão que eu dou nesse pouquíssimo tempo.

Aliás, são 15 minutos bem caros de eu ter vindo aqui. A gente tem que rever as nossas práticas. As nossas práticas estão muito cristalizadas, muito domesticadas, muito inofensivas.

Nós aceitamos a máquina de extermínio do Estado. Nós nos calamos diante de prefeituras que matam o povo. Que todos os dias põe na rua uma máquina de tortura contra os pobres.

E nós nos calamos porque nós recebemos financiamento da prefeitura. E o nosso projeto não pode correr risco. Nós não podemos perder a subvenção pública.

Nós trabalhamos para o prefeito ou para o povo? É para o nosso trabalho. Para quem é?

Nós servimos a quem? Às vezes determinados projetos mumificados eles estão a serviço do poder e não do povo. Já dizia Leão XIII na Rerum Novarum, os governantes são feitos para o povo e não o povo para os governantes.

O que nós vemos muitas vezes nessas ações, nesses trabalhos, é estarem a serviço do poder. É fazer parte de ações higienistas. É fazer recolhimento compulsório da população de rua.

Para maquiar a cidade. Outro dia o vice-prefeito de São Paulo esteve lá na região da Moca estavam lá na rua todos os técnicos, enfermeiros, agentes, agentes de saúde. Por quê?

Porque o vice-prefeito veio. Aí todo mundo tem que mostrar serviço. Aí todo mundo se cala quando a autoridade chega.

Quer ser internado? Aqui. Quer trabalhar?

Ali. Quer não sei o quê? Pra cá.

E a gente faz parte desse teatro. E fica caladinho. Porque não pode perder o poder.

Porque não pode perder o status. Nós estamos, e aí eu digo isso pra todos vocês, a serviço de quem? Do capital?

Do mercado imobiliário? Da especulação imobiliária? Do agronegócio?

A gente está a serviço de quem? Qual é o sentido ético? Eu perguntaria antes de tudo.

Qual é a direção ética do que nós fazemos? Nós convivemos na gratuidade? Às vezes esses projetos de política pública estão muito ligados a relatórios.

Eu já vi gente lá que tem que fazer abordagem e fala você está aqui ainda? Uma abordagem. Você não foi embora ainda?

Duas abordagens. Você está fazendo o quê? Três abordagens.

Porque tem que bater meta. Isso é novidade pra vocês? Eu estou falando mentira?

Porque depois quem está gravando põe, e aí tem bastante hackers que vão pegar partes da minha fala pra colocar lá na internet. Pra dizer, olha lá o que aquele padre comunista e herege está falando. E o pior que quem fala isso é quem a carapuça serviu.

Que fala está criticando o nosso trabalho. Façamos autocrítica. Sejamos nós os primeiros a criticarmonos.

A exigirmos de nós bússola ética. Bússola de humanização. Bússola de a quem nós estamos a serviço.

As estruturas muitas vezes nos sufocam e nos matam. Elas são necessárias. Mas eu também sei subir nesse palco sem usar rampa.

As estruturas são necessárias. Mas elas têm que estar a serviço da vida. A serviço do amor.

E de um amor que não é só sentimento. É decisão de um amor que apanha. De um amor que leva a cobrança.

De um amor que exige de nós a força e a coragem de insistir. Então eu queria dizer muito isso pra vocês. Sejam capazes de ter essa coragem.

Perguntem pra onde não é que nós estamos caminhando? E com quem nós estamos caminhando? Com os pobres?

Com os abandonados? Com os indesejados? Com os discriminados?

Ou com a estrutura de poder? A estrutura de poder está dentro de nós. E nós a multiplicamos rapidamente.

Nós sabemos muito bem oprimir. E sabemos muito pouco libertar. Porque dentro de nós mora um opressor também.

Todos os dias eu tenho que calar o opressor que está dentro de mim. Porque ele se instalou em nós pelo processo educativo. Pelo processo de socialização.

Nós fomos amamentados pelo capitalismo neoliberal. Porque nascemos nesse sistema. E é muito difícil deslocar o pensamento.

De pensar fora dessa caixinha. Eu acho que está na hora de todos nós revermos os nossos trabalhos. Podemos fazer isso de maneira coletiva com as pessoas que estão envolvidas.

Eu lembro muito quando eu trabalhei numa biblioteca com crianças abandonadas. Eles eram muito reprimidos e não podiam contar o que eles passavam dentro daquele abrigo que era ainda antes do estatuto. Que tinha 300, 400 pessoas.

E foi através dos bonecos de fantoche. Brincando com os bonecos de fantoche, que eles mostravam em cenas imaginadas a história. E contavam a história do que eles viviam.

E eles punham muitas vezes os bonequinhos deitados, com as mãozinhas pra trás, falando Dorme aí! Cala a boca! Fica quieto!

Banheiro só de manhã! E mostravam. Os moradores de rua sabem nos imitar muito bem.

E se eles fizerem um teatrinho de como eles nos veem possivelmente nós iríamos censurar a peça. E não querer fazer do pobre o nosso espelho. Como é que eles nos veem?

Eu lembro do rei Davi na bíblia quando o rei Davi estava caminhando e tinha gente louca caminhando do lado, falando horrores contra o rei Davi. E aí um dos fiéis escudeiros do rei falou Quer que eu passe a espada no pescoço dele? Ele falou, não deixa ele falar, porque o que ele está falando tem muito de verdade.

Nós falamos e repetimos que todos tem que participar. Vamos ouvir as sugestões que tem sobre os nossos horários, sobre as nossas práticas, sobre as nossas proibições, sobre os nossos institucional, sobre o que podemos fazer e não. Ah, o meu convênio é com a Secretaria da Saúde.

Isso aqui é problema social. Ah, o meu convênio é com a Secretaria Social. Isso aí é da saúde.

E não é a mesma pessoa que tem problema social e de saúde? Esse nosso sistema de secretarias é arcaico. É da primeira república e nós continuamos repetindo e continuamos vendendo a nossa consciência, vendendo a nossa humanidade, vendendo o de humano que resta em nós.

Porque esse sistema nos envenena para nos matar, para tirar de nós a utopia, o sonho, a liberdade, a libertação, a humanização. É melhor que nós estejamos frustrados, mas assalariados do que lutarmos e pagarmos o preço da nossa luta. E de uma luta que muitas vezes nós não vamos vencer.

Vamos perder, mas temos que ser fiéis até o fim. Ou nós acreditamos ou não. Nós precisamos ter espaços como esse para saber que a luta de nenhum de nós é sozinha, mas que a luta de todos nós é histórica.

Que cada um de nós tem que ser uma flor e um espinho, um fruto e uma cobrança. Temos que chamar a atenção sem ter medo de incomodar. Porque muitas vezes, é melhor, não incomoda, fica de boa.

Partilhar o pão numa sociedade que mata de fome é um ato político e revolucionário. Alimentar os que tem fome é um ato de coragem quando se tira o alimento dos pobres. Agasalhar os que morrem de frio é uma insubordinação para aqueles que retiram o agasalho dos pobres.

E eles não tem onde dormir. Não tem onde ficar. Eu faço sempre indicações de livros.

Esse livro chegou pra mim ontem à noite. Eu vim lendo no avião. Gostei tanto porque é escrito por um amigo que estudou teologia comigo.

O Jung Mo Sung. Que é um teólogo que estuda o sistema econômico. E se chama O Sagrado versus o Santo.

A rebelião e o pecado original do capitalismo. Nós sacralizamos o capitalismo. Por isso somos servos do capitalismo.

A santidade está em ser humanizados e nos rebelarmos contra esse capitalismo que nos mata, que nos fere e fere nossos irmãos. Nós seremos feridos mas não queremos ferir ninguém. Especialmente com as armas com as quais eles nos ferem.

Nós não queremos ferir ninguém. Mas sabemos que a nossa ação será conflitiva. Será questionadora.

E vai doer. Só queria terminar e antes queria, ela vai dizer uma coisinha pra nós. Se não for pra causar eu não venho.

Por isso que ela vem. Eu já vou passar uma palavrinha rápida pra você, quebrando o protocolo. Mas queria lembrar aquilo que diz Madre Tereza de Calcutá.

Ame até doer. Porque se não doer, não é amor.

[Intervenant 13]
Bem, na verdade, parabenizar esse momento que está acontecendo aqui, esse seminário, pra quem não me conhece sou Rafael Machado. Eu estou na Coordenação Nacional do Movimento da População de Rua em Alagoas. Eu estou conselheira nacional no Conselho Nacional de Agência Social representando a população em situação de rua.

Também sou conselheira no Conselho Nacional de Justiça pelo Comitê PopRuAjude pelo CNJ. Mas assim, dizer que eu estava olhando a programação, como se pensa em um cuidado onde só pensa em homens cisgênero e mulheres cis? Onde é que está a pauta da população LGBT em situação de rua?

Esse fenômeno ele tem crescido. E que pensar em cuidado é esse quando se exclui pessoas desse segmento que está crescendo, que passa por violação, que passa por mortalidade, que passa por inclusão, exclusão. Eu passei 14 anos nas ruas, tem 10 anos que eu saí dela.

Próximo ano estou me formando em serviço social. Através das políticas públicas, a assistência social e a saúde mudou minha vida. O meu problema era muito mais da saúde, mas através da assistência social eu consegui mudar minha vida.

Mas dizer assim que nada para nós sem nós. Vai ter uma próxima mesa falando de gênero, raça. Vai ter mulheres, várias mulheres.

E a LGBT? Fala-se muito da dignidade mestrual, mas não fala da nossa saúde, porque para eu me transicionar muitas das vezes pela falta de médico, antropologista no posto de saúde, eu tenho que fazer minha hormonização por conta própria. E muitas das vezes eu posso morrer de ataque cardíaco, eu posso contrair uma trombose no meu pé, porque não é fácil, porque não existe uma saúde com dignidade para a população LGBT, que é IAPN+.

Eu sou mãe adotiva. Eu adotei um bebê com dois meses de idade, hoje meu filho está com seis meses. Eu não mestrou, mas eu tenho necessidade de falar das minhas necessidades.

Eu tenho necessidade também que as minhas necessidades sejam ouvidas, até porque muitas das vezes o mercado de trabalho é muito excludente. Falou muito aqui de população LGBT, da mortalidade de homens e mulheres, mas cadê a população trans, que muitas das vezes está na beira da pista, não usa abusivo de álcool contra as drogas e na prostituição. Eu venci a estatística, eu venci sete tentativas de homicídio e hoje estou aqui contando história, mostrando que as políticas públicas, ela muda a vida e vindo realmente para causar, porque se não for para causar, eu não venho mesmo não, porque eu venho para contribuir, para trazer realmente essa realidade.

E quando eu pedi ao Padre Júlio Lancerlotti, a professora Marielle, que é lá da UFAO de Arapiraca, que é lá de Alagoas, sabe, todo ano, nós do movimento, a gente parou com essa situação de estar só indo levar alimentação nas praças, mas trabalhar a inclusão da população de rua. Então, todo final de ano, a gente aluga o Parque Aquático, que é um resort lá, o Lindóia Parque, e a gente leva mais de 300 pessoas em estação de rua. Esse ano, nós vamos estar sorteando o Redmi Note 12S, eu estou com algumas rifas, quem puder ajudar comprando uma rifa no valor de 20 reais, você vai estar abençoando uma pessoa em estação de rua.

E lembre-se, quando a gente não for lembrada, enquanto fere a nossa resistência, nós teremos resistência. Tem LGBTA aqui marcando o campo e marcando resistência nesse seminário. Obrigado.

[Intervenant 5]
Após ouvir e voltando para a coordenação da mesa, eu volto a repetir aquilo que muitas vezes a gente diz. Eu não luto pra vencer, eu sei que eu vou perder, mas eu luto pra ser fiel até o fim.

[Intervenant 15]
Esse é o Padre, esse é o Padre Júlio, de tantas lutas e tantas histórias. Não vou ter, não preciso fazer mediação, porque os dois falaram por si, de forma plena, e vamos, então, agradecer e passar para o próximo momento, ok? Muito obrigada.

Vocês dois.

[Intervenant 9]
Agradeço a fala, agradeço os presentes e essa mesa maravilhosa que tivemos.

[Intervenant 12]
Por tempo urge.

[Intervenant 9]
Isso. Convida agora Valéria Maria Massari, coordenadora geral da Proteção Social Especial de Média Complexidade da Secretaria Nacional de Assistência Social, MDS, veio representando o Secretário Nacional de Assistência Social. Pessoal, para que possamos ter um pequeno intervalo, vamos ter um pequeno lanche agora, e cerca de 10 minutos, cravado, iremos começar novamente, tá certo?

[Intervenant 17]
Obrigada.

[Intervenant 9]
Olá, boa tarde. A todos os convidados aqui presentes, vamos agora realizar nossa última mesa. Gostaria de confirmar a presença da Yara Flor aqui dentro do auditório, a presença da Florencia Montes aqui dentro do auditório, Joana, já estou vendo, e Pâmela.

Vamos lá. Dando início ao painel 2, Mulheres em Situação de Rua, Cuidado Integral, Maternidade e Proteção Social na Perspectiva da Equidade de Gênero e Raça, convidamos ao palco Yara Flor, da Universidade de Brasília. Bem-vinda, Yara.

Convidamos ao palco também Florencia Montes, da Organização Não Tão Distantes Mulheres e Dissidentes em Situação de Cali, da Argentina. Parabéns, Florencia, seja bem-vinda. Convidamos agora Joana Dark Basílio, do CIAMP Rua Nacional e do Movimento Nacional da População e Estação de Rua.

Bem-vinda, Joana. Convidamos agora, como mediadora desse debate, Pâmela Oliveira, do coletivo Trilhas de Cuidado nas Ruas. E apenas para informes adicionais, foram encontrados esse pequeno mouse vermelho aqui no auditório, caso alguém sinta falta e está aqui, e também foi encontrado um cartão da entrada de algum hotel chamado Brasília Tower.

Só peço que relembre que faça uma autodescrição.

[Intervenant 16]
Boa tarde a todas as pessoas presentes. Eu sou Pâmela Oliveira. Sou uma mulher negra.

Estou de macacão preto, com tranças e um turbante com estampa africana. Estou aqui como mediadora desse debate superimportante, que tem como objetivo falar um pouco sobre as intersecções que recaem sobre as mulheres que estão em situação de rua, sem esquecer das interseccionalidades que elas passam. A questão do racismo, do sexismo, a LGBTfobia.

E para a gente iniciar esse debate, vou passar para Florencia, para trazer um pouquinho das experiências.

[Intervenant 8]
É uma organização transfeminista. Se chama Notan Distintes. É uma organização conformada por companheiras, por pessoas, mulheres e diversidades, pessoas trans que estão em situação de rua ou que hão estado em situação de rua.

Próximo. Para que conheçam um pouco o que fazemos. Temos um vídeo.

Podemos ver? Aqui também, no local, funciona um espaço que se chama La Madre Que No Fui, que é um espaço que construímos para o acompanhamento de mulheres e dissidências que têm as sociais na rua, e que o Conselho de Meninos saca os filhos justamente para estar em situação de rua ou estar em consumo. Então o que fazemos nesse espaço é gerar uma estratégia legal, de saúde, contemplando o social, para que as companheiras que estão em situação de rua estejam em condições de recuperá-las e de dar essa luta a funcionar.

Essa campanha de discursos é muito importante para a nossa organização, porque nesse momento estamos em crescimento, porque o contexto político e econômico é mais aberto para nossas companheiras, e porque queremos ter, agora, cada inverno, um espaço que seja tranquilo, equipado, que possa dar resposta a todas as companheiras em situação de rua que se aproximam da nossa rua.

[Intervenant 11]
Como elas, estive muitos anos na rua, e o Conselho de Meninos acompanhou-me desde sempre. E hoje acompanho-os, abraço-os, amo-os, e sou NTV com todo o coração. Então o que pedimos, como sempre, é que continuem nos disfrutando, que continuem nos acompanhando, que venham nos visitar, que aqui há muito amor, e nada mais.

Muito, muito obrigada. Estamos em Birelli Nails, 897, na esquina dos Estados Unidos.

[Intervenant 15]
Os esperamos. Quando quiserem. Quando quiserem.

Quando quiserem. Peguem dinheiro. Todos pegam dinheiro.

[Intervenant 8]
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... que é o nosso primeiro e único livro, que agora eu vou falar sobre o livro. E somos parte, armamos uma confluência transfeminista onde estão Uruguai, Chile, Argentina e Brasil com os companheiros de Rede Rua de São Paulo, que é Rutas Ruas Transfeministas Sudacas.

A ideia é construir um corredor transfeminista sud-americano para pensar a agenda de situação de rua e gênero. Nossa organização, não tão distinta, no próximo ano cumpre 15 anos e, neste tempo, nós ordenamos nossa história, nossa história, em quatro etapas. A primeira, mais assistencialista, mais assistencialista, quando estávamos na rua servindo a comida.

A segunda, a da oficina, diz o tradutor, a de criar o espaço de encontro só com mulheres e diversidades, não com homens, não com homens em nosso espaço, só com mulheres. A terceira foi quando nossa organização e nosso governo, não este governo da minha lei, outros governos, quando nossa organização decidiu ser parte, convencer com o Estado e gestionar uma instituição e uma política pública. Ou seja, temos experiência com governos amigáveis e populares gestionando políticas públicas.

Esta é a etapa institucional, a da rigidez, o desafio de ser instituição, mas também ser militância. E a atual, que é a da autogestão. Todos os projetos que eu mostrei a vocês são autogestionados.

Não têm, hoje, suporte do Estado. Todos esses modelos de abordagem, todas essas olhadas, a assistência direta, o talher das mulheres, ser instituição, ser Estado e os projetos, agora, transfeministas autogestionados, tudo isso convive, não é evolutivo, para nós não é assistencialismo. Não, sempre assistencialismo, sempre direitos e, além disso, autogestão.

Agora, 15 anos depois. Isto é, todos os nossos logos, nossas bandeiras, que foram mudando, porque foi mudando o projeto, porque foi mudando o que nós estamos fazendo com as companheiras em situação de roubo. Temos um livro que está em espanhol, não está em português.

Se chama Acompanhar es Político. Temos os princípios do acompanhamento traduzidos para o português. Eu tenho um monte disso, depois vou entregar para vocês, para que vocês possam pegar na sua oficina, na sua casa.

E o que nós estamos agora discutindo, propondo, compartilhando, é uma transformação metodológica no modo de acompanhar a situação de rua. Ou seja, voltar a pensar de onde acompanhamos as pessoas em situação de rua. O livro é um ensaio transfeminista sobre a situação de rua.

Quando eu falo de transfeminismo, eu não falo sobre uma identidade. Não estou dizendo que transfeminismo é acompanhar mulheres e diversidades. Não, não é só isso.

É mudar a forma de acompanhar. Essa é a nossa proposta, uma proposta metodológica. Claro que transfeminismo, para nós, é lembrar que as companheiras trans são protagonistas de qualquer movimento feminista.

Mas também, transfeminismo, para nós, é poder compartilhar o aprendizado doloroso, a parte frustrante, a frustração da tarefa. Não é só um relato heroico sobre o que implica acompanhar pessoas em situação de rua. Quem acompanhamos sabemos que é uma tarefa difícil, que é uma tarefa atravessada por violências.

Então, transfeminismo, para nós, é compartilhar essa dificuldade na tarefa. O livro fala das dificuldades em cada etapa. O problema do assistencialismo, o problema quando fomos instituição, o problema que implica hoje a autogestão.

A autogestão, para nós, não é a superação dos problemas, mas é evitar o problema do trabalho, da moradia autogestionada. Transfeminismo é também, para nós, iniciar como uma organização de quem não estava em situação de rua, para as mulheres em situação de rua. E hoje, ser uma organização com as mulheres em situação de rua, que também acompanham as novas mulheres em situação de rua.

Então...

[Intervenant 17]
Não posso acreditar!

[Intervenant 8]
Só para encerrar com isso, nossa proposta metodológica implica acompanhar desde outra mirada, e armamos uns princípios de acompanhamento, que são esses em português. Depois vamos entregar aos companheiros a serigrafia, para que possam ter.

[Intervenant 16]
Obrigada, Florencia. Foi muito boa a sua fala, porque, apesar de estarmos em países diferentes, os problemas são os mesmos. E, para começar esse debate, pensamos muito em como o Estado pode se juntar com organizações que já estão criando políticas efetivas.

Então, muito bom o seu exemplo, como existem muitos aqui também. Agora vou passar para a Yara.

[Intervenant 7]
Boa tarde, gente. Primeiro, agradecer a oportunidade de estar aqui, acompanhando essa tarde, e apresentando aqui um pouquinho do meu trabalho com mulheres em situação de rua. Então, só para contextualizar o que eu vou apresentar aqui, vem de um trabalho de dois anos que eu fiz de pesquisa e de atendimento clínico.

Eu sou psicóloga. Então, por dois anos eu fiquei em territórios vários dias por semana, prestando um lugar de escuta e de acompanhamento em saúde mental. E, a partir disso, também eu busquei elaborar, entender, essa questão do fenômeno, a partir de uma perspectiva da saúde mental, gênero e as interseccionalidades.

Eu vou tentar ser rápida, que a gente já está... Mas a minha autodescrição... Eu sou uma mulher branca, estou de vestido preto, casaco preto, tênis, cabelo comprido e óculos escuros, óculos de armação escura também.

Então, a questão da maternidade não foi algo que eu busquei entender, que eu busquei olhar, mas emergiu muito a partir das falas, das dores, dos sofrimentos que as mulheres compartilharam comigo. Então, no meio de tantas violências, de tantas dificuldades, a maternidade apareceu como um lugar em que essa violência era ainda potencializada e redobrada, nesse momento em que elas engravidavam, tinham um filho e os filhos eram, na maioria das vezes, separados. Então, a partir disso, ao buscar entender essa questão da maternidade com mulheres em situação de rua, eu percebi que tinha que partir de alguns pressupostos.

Um é que não dava para olhar a maternidade, a partir de uma concepção de maternidade de mulheres brancas e favorecidas, nem a partir de um feminismo branco que olha muito para a maternidade como esse locus de opressão das mulheres brancas. E isso não fazia o menor sentido com o que eu ouvi das mulheres em situação de rua. E uma outra noção também que ajudou muito a entender essa questão foi a noção de hierarquias reprodutivas.

Então, como na nossa sociedade a gente tem maternidades que são enaltecidas, privilegiadas, vangloriadas, momentos sagrados das mulheres, belas e lindas, e como a gente tem maternidades que são subalternizadas, que são depreciadas e, no limite, que são interditadas e proibidas. Então, esses são dois pressupostos que foram necessários para entender o que eu estava ouvindo das mulheres ali. Os trabalhos da Patricia Hill Collins, da Bell Hooks, ajudaram muito a entender que a maternidade de mulheres em situação de rua, que em sua maioria são mulheres negras, em situações socioeconômicas muito desfavoráveis, ela tem que ser olhada a partir desse enquadramento, desse entrelaçamento de raça, classe e gênero.

Inclusive, remetendo à construção histórica de maternidade no Brasil. A construção de maternidade no Brasil, num sentido amplo, e não só nas classes favorecidas, é marcada por nossa história de escravização e isso marca também as formas de maternar, as diferentes formas de maternar que foram constituídas na nossa sociedade. Então, a Patricia Hill Collins trabalha isso dentro do contexto dela, mas a gente vê que é válido aqui também que como heranças das tradições indígenas ou das tradições africanas acabaram sendo incorporadas nas formas de maternar em situações de muita precariedade, em situações muito desfavorecidas, partindo para essa noção de um cuidado menos mãe-centrado e muito mais partilhado, outros arranjos de cuidado.

Isso foi muito importante também para entender a maternidade em situação de rua. Então, dois aspectos que eu acho que vale a pena apresentar aqui. Um é esse, que a maternidade se apresentou como um momento, na perspectiva da saúde mental, que é o que eu estava observando, como um momento ali ímpar de oportunidade, de cuidado e de atenção para essas mulheres.

Então, muitas vezes, olha o melhor interesse da criança. Claro, ninguém quer que a criança seja cuidada na rua e sequer as mães em situação de rua querem que suas crianças sejam cuidadas nas ruas. Mas usa-se muito esse argumento para fazer a destituição familiar.

E não só você promove uma separação ali da dia de mãe e bebê, que por si já vai ter vários impactos, como você perde uma oportunidade preciosa de intervenção sobre a saúde mental e sobre a questão psicossocial das mulheres. Porque o que a gente observou é que no momento em que elas se sabem grávidas e no momento em que se tornam mães, é como se ocorresse uma abertura, uma brecha na subjetividade, na questão da temporalidade. Então, ali se reinstaura uma perspectiva de futuro mais longo, se reinstauram sonhos, se reinstauram desejos de mudar.

Enfim, muitas deixam as drogas naquele momento, muitas decidem sair do crime. Então, é um motor de sonho e de desejo e de movimentação na vida. E, além da separação em si, que já é nefasta, perde-se a oportunidade de uma intervenção psicossocial que seria preciosa, e que nem sempre a gente tem essa oportunidade.

Então, além de cometer uma violência, perde-se essa oportunidade junto às mulheres. Então, mesmo a maternidade sendo esse momento tão privilegiado, para a gente poder, com as políticas públicas, ofertar um cuidado, ofertar uma oportunidade de transformação, caso assim o desejem, isso também é violentado, isso também é destituído das mulheres em situação de rua. Porque, em sua maioria, como todos aqui devem saber, baseia-se a questão da maternidade em situação de rua numa associação direta de que mulheres em situação de rua usam drogas, são criminosas, logo não têm capacidade de maternar.

Então, tem uma associação direta no discurso, inclusive das políticas públicas, nos documentos oficiais, do judiciário, da saúde, fazendo essa associação. Então, mulher em situação de rua é o oposto do que é necessário num processo de cuidado e de maternagem. E isso é baseado unicamente na questão da vulnerabilidade social.

Invoca-se o ECA para dizer que para o bem maior, o interesse maior da criança vai se dar essa destituição, mas o próprio ECA diz lá, muito explicitamente, que a questão de uma vulnerabilidade social não pode ser motivador para a separação e destruição familiar. Mas é exatamente esse argumento que é invocado no discurso público, nos documentos oficiais. Então, é mais uma violação que as mulheres em situação de rua vivenciam, mas o que eu achei interessante também, nesse processo que eu vivi, foi que elas não vivenciam isso de forma passiva, rendida, mas elas, muito criativamente, conseguem desenvolver estratégias de resistência para conseguir manter, conseguir brigar por esse exercício da maternidade, e elas conseguem fazer essa resistência por via dessa nova configuração do que é ser mãe, do que é maternar, muito diferente do nosso modelo dominante, que é focado na mãe, a mãe é a única responsável, e muito mais abrangendo essa ideia que é muito comum em etnias indígenas, em povos africanos, de que é um cuidado muito mais compartilhado. Ele não fica só em cima da mãe, a maternagem é um cuidado enquanto um dever da mãe, do homem também, da família estendida, da sociedade e da comunidade em volta. Então, elas conseguem evitar a destituição dos seus filhos, dividindo esse cuidado com a avó, a mãe da mãe ali, a tia, muitas vezes a avó paterna entra nesse arranjo, e isso não faz com que elas se sintam menos mães, pelo contrário, esse efeito muito potente sobre a saúde mental que a maternidade exerce, se mantém, ainda que elas não estejam no cuidado cotidiano ali daquelas crianças, daqueles filhos, mas tem essa sensação de ser mãe que é muito potente e muito positiva.

Então, é muito interessante entender que, ao contrário de ser esse locus de opressão, que muitas de nós mulheres brancas nos queixamos da maternidade como algo que sobrecarrega, o que é verdade, não deixa de ser verdade, que impede a gente de buscar nossos sonhos, que fica só sobre a mulher, isso é verdade, mas para as mulheres em situação de rua, é muito mais um lugar de voltar a sonhar, de cuidado, de criar laço e de relançar a vida para outros lugares. Então, é isso que eu tinha para compartilhar.

[Intervenant 16]
Gratidão pela contribuição. Eu fiquei pensando muito com a sua fala também, porque a pobreza não devia ser um motivo para a destituição da maternidade dessas mulheres, então a gente não pode deixar de enxergar que a gente vive um interminável 14 de maio de 1888. A gente está aqui olhando na perspectiva de raça e tiveram várias legislações que marginalizaram a população negra.

Lembrei muito da lei do ventre livre, porque as mães já eram separadas e isso ainda acontece. A gente acha que é algo muito distante, mas, se a gente olhar para a história, é uma ferida aberta, porque a gente pode olhar e ajustar isso. A nossa reparação histórica é nesse lugar também.

A gente vai criando esse lugar de comunidade, cuidado, e, diante disso, passo a fala agora para a Joana, representando as mulheres na Estação de Rua.

[Intervenant 11]
Boa tarde. Eu sou uma mulher preta não miscigenada, estou cabelalizada, com a camiseta vermelha do Movimento da Saúde de População de Rua e uma calça de azul escura. Sou uma mulher que traz o trajetório de rua.

Agora, eu represento as mulheres da Estação de Rua nos espaços. Mas eu tenho sempre que estar voltando aos territórios e ter troca com essas mulheres para sentir delas, ouvir delas, que eu, de fato, represento elas, porque, senão, acho que também já tinha me perdido no meio dessa caminhada, porque estão muitas camadas na questão da mulheridade na Estação de Rua, não é só da mulher, já que a coordenadora Maria Sueli está ali, Laura Dias, Rubia, essa galera ali do CIAMB, que a gente conseguiu, com muito esforço, ano passado, organizar o primeiro Encontro Nacional de Mulheres na Estação de Rua, que nunca tinha existido.

E a mulher da Estação de Rua vem ganhando esse espaço político e público, que já ser mulher na sociedade é muito difícil. Imagina dentro do espaço desse como é complicado. É verdade.

São muitas pessoas com muitos estudos, com muitas dinâmicas em relação a nós. E a gente ainda sente muito a necessidade de fazer parte desses lugares, de ter essas trocas, de olhar para as pessoas e falar o que a gente quer, o que a gente sente por nós. Gostei muito do que a Yara trouxe aqui, falando sobre a questão da maternagem, que é algo que me toca, porque eu vivi isso.

O meu processo de saída das ruas, ele começa com essa questão, onde eu olhei para a técnica que estava me atendendo e falei que eu vou doar o meu filho, porque eu não tenho condição de criar ele. Mas é porque a sociedade falou para mim que eu não tinha condição, que era incapaz. E depois que eu fui me tornando mãe, até que eu tive oito, eu gostei, eu gostei de ser mãe.

E aí eu fui tendo, e foi mostrando para a mesma sociedade que me fez incapaz uma época, que eu sou mais que capaz. Eu crio meus quatro filhos pequenos agora sozinha, que os outros mais velhos eu não tive condição. Eu fui julgada pelo Estado, não sei quem foi a porra do psiquiatra que diagnosticou que eu era incapacitada, mas se o juiz tem esse poder, beleza.

O problema é dele. E eu acho que está totalmente errado. A sociedade inteira podia dizer isso para ele, que eu deveria estudar, e ter ali um diploma que dissesse para ele que ele podia me incapacitar enquanto mãe.

Entendeu? A partir da hora que um homem pudesse engravidar, passasse todo o transtorno de uma gravidez, os nove meses, e a dor do parto, a dor do parto, ele poderia me julgar enquanto mãe ou não. Eu preciso de apoio do Estado para que eu crie meus filhos com decência.

Eu estava até hoje falando ali para o pessoal no território do Centro Comercial do Sul. Ah, Joana, você coloca esse tipo de limite para suas filhas. Sim, eu tenho três meninas pequenas, sou mãe de quatro meninas, só que eu estou criando mulheres empoderadas para o mundo.

A Ayla Manuela tem três anos, uma menina que surgiu comigo no coletivo Movimento População de Rua. E hoje, ela tem o mesmo nível de educação que a irmã de seis da escola. É sério.

E ela é filha de uma mulher com trajetória de rua que foi julgada uma época por ser incapaz de cuidar dos filhos. E aí tem outras meninas que brincam de movimento, elas são empoderadas, bicha. Sabe?

Preta empoderada. Maria Clara, você vai colocar esse cabelão em seu pajogo quando? Mãe, a senhora gosta.

Se você não gostar, meu amor, respeito, mas eu queria que você ficasse desse jeito e que você aprendesse a gostar dessa forma. Então, assim, com todo o amor que eu posso ofertar para os meus filhos, eu estou ali educando eles, eu estou ali cuidando deles, eu estou ali criando. E é isso que mais me inspira enquanto mulher na sociedade.

Isso que me inspira mais por ser um ser humano, cada vez melhor não, porque eu não sou boa, não sou perfeita, mas de ser assertiva nas minhas escolhas para que eu deixe bons exemplos, não, mas que eu deixe uma lembrança boa e que eu crie algo bom nos meus filhos. Então, assim, esse papel de ser mãe, coordenadora de movimento, estar na presidência do comitê hoje, desses lugares todos que eu tenho me enfiado, sem dar conta nem de, às vezes, dormir à noite, que fica difícil, porque eu tenho um bebê de um ano e tenho que amamentar, tenho que cuidar, e é toda uma dinâmica que vocês, que são mulheres, sabem como é que passa por isso, mas eu passo, eu estou aqui, e as outras companheiras que estão ali sempre, que nunca deixaram de fora, a gente está aí se inserindo nesses espaços políticos para falar de nós, para as pessoas, vai falar de nós para nós, vai falar para as pessoas o que nós queremos.

O que a gente quer é que mude nessa sociedade para que a gente seja entendida, para que a gente seja acolhida, para que a gente seja participante de tudo. Como diz o meu companheiro antes, a gente tem que ocupar sempre espaços de mais, não de poder, porque eu não acredito que é a questão do poder, mas espaços onde a gente possa demandar e mostrar que a gente é potência, enquanto mulheres, e que toda a experiência que a gente construiu, com toda a invisibilização social, com todo o chute no rabo que a sociedade nos deu e o Estado nos deu, ele tentando nos esquecer, a gente quebrou isso, e estamos aqui falando desse lugar de mulheres que se empoderam politicamente com trajetória de rua, na sua maior parte, mulheres pretas que sofrem o racismo, que passam pelo estupro, que passam por todas as dinâmicas que uma mulher cis, que uma mulher trans, que uma mulher lésbica sofre na situação de rua, e isso são de várias camadas, de vários públicos, de várias pessoas que estão chegando na situação de rua e que hoje ganhariam um espaço nacional, até que, enfim, para que se discuta, de fato, políticas públicas efetivas para mulheres em situação de rua, porque ainda a gente não está vendo isso na prática, mas acho que eu, Sueli, Laura, Rúbia, Maralice e outras companheiras espalhadas pelo Brasil estão se aprontando para isso cada vez mais e trazendo mais companheiras para se empoderar nesse espaço e participar desse espaço e peitar que esse espaço é nosso e a gente vai continuar.

[Intervenant 16]
É isso. Agradecer a fala. São falas muito importantes.

Acho que esse debate não encerra aqui. Para a gente falar de cuidado, ele vai muito além do que é só assistência, saúde. Ele é acolhimento, é escuta, é esse acompanhamento.

Então, agradecer. Aqui a gente não vai ter tempo, infelizmente, para os debates, então vou repassar para a cerimonialista para a gente encerrar aqui a mesa. Obrigada.

[Intervenant 9]
Em nome do Coletivo Trilhas, da Fiocruz Brasília, do IPEI, da Ensp, nós agradecemos a presença de todos vocês. Gostaria de saber que vemos vocês como referências também para o cuidado, atenção e defesa dos direitos da população e situação de rua. Agradecemos essa mesa potente de mulheres tão incríveis também.

Agradecemos a partilha, o deslocamento de vocês. Informamos que amanhã a gente começa a partir das oito horas da manhã com a apresentação dos trabalhos. Está bem?

Que todos vocês serão bem-vindos novamente. E agora só um informe final. Alguém vai chegar em casa e ainda não vai conseguir entrar, porque eu ainda estou com o cartão do hotel de alguém.

Então, se alguém, por favor, puder verificar na carteira, na bolsa. É da Brasília Tower, não vou falar qual apartamento. Está certo?

Fica aqui entre nós. E o último aviso também é que caso alguém tenha visto uma bolsa do Trilhas com um boné daquele que foi vendido pelo Padre Júlio, por favor, me comunique, que a gente está procurando. Está bem?

É isso, gente. Muito obrigada. Até amanhã.

[Intervenant 17]
Boa volta para casa ou para onde vieram. Tchau, tchau.


1) Eixos centrais

  • Intersetorialidade real: SUS + SUAS + garantias de direitos + incidência parlamentar, operando em rede territorial.

  • Participação social efetiva: protagonismo dos movimentos da Pop Rua em todas as etapas.

  • APS corresponsável: cuidado territorial não restrito aos Consultórios na Rua (eCR); gestão de casos como padrão.

  • Redução de danos (sem exigência de abstinência) e Habitação Primeiro como porta de entrada e ancoragem dos demais direitos.

  • Governança com indicadores e fluxos SUS–SUAS integrados; formação continuada e sistematização de práticas.

2) Blocos temáticos e achados

Ministério da Saúde – Coordenação de Acesso à Equidade

  • Comitê Técnico Nacional de Saúde para a PSR reativado; escuta ativa com movimentos.

  • Expansão eCR: 222 (dez/2023) 245 (dez/2024) 289 (out/2025); meta ~320 até dez/2025 (~340 credenciadas).

  • Infraestrutura: 200 unidades móveis eCR com entregas previstas para mar–abr/2026.

  • Financiamento e qualidade: cofinanciamento com componente de desempenho; fase de transição até jun/2026.

  • Formação: curso de educação popular para o cuidado da PSR; editais abertos em SP e PE.

  • Desafio-chave: toda a APS deve assumir a responsabilidade territorial pela PSR (não só as eCR).

Movimento – “Seu Lisboa”

  • Entrega de documento ao MS; apelo por reformas concretas, atenção contínua e reconhecimento de cidadania.

  • Imagem-síntese: A rua é um apartamento que precisa de reforma todos os dias.

Referência internacional – Bogotá

  • Conceito de “exclusão extrema” (privação simultânea social/econômica/participativa + perda de moradia + itinerância).

  • Censo 2024: permanência média 12,6 anos; 1/5 iniciou antes dos 18; 5% tentativa de suicídio (últimos 30 dias); estigma elevado (76% associam à insegurança).

  • Respostas: soluções habitacionais diversificadas (casas de passagem, hotéis sociais, vilas), saúde territorial preventiva, serviços para idosos, ecossistema de inclusão social/produtiva/comunitária.

  • Desafios: sustentabilidade financeira, transformação de serviços, enfrentamento ao uso de SPA, cesta específica de saúde.

Colaboratório Nacional Pop Rua

  • Parceria (Fiocruz + MDHC + Câmara + MNPR + PUC-PR + USP).

  • 14 polos em capitais com equipes-trio (coordenação + técnico + pessoa com trajetória de rua).

  • 920 atividades (mar/2023–set/2025); 30.131 participantes (13,5% PSR).

  • Produtos: guia intersetorial SUS–SUAS (11 fluxos práticos), supervisões clínico-institucionais bimestrais, caderno metodológico da Escola.

Catálogo de Experiências – INSP / Trilhas de Cuidados nas Ruas

  • Objetivo: mapear, sistematizar e dar visibilidade a práticas intersetoriais de cuidado à PSR.

  • Método: informantes-chave + formulário; critérios (necessidades básicas, inclusão, inovação, participação, sustentabilidade, autonomia, baixa exigência).

  • Versão 1 (2025): 22 experiências 6 (saúde), 2 (proteção social), 2 (educação/qualificação), 4 (moradia), 8 (intersetorialidade). Catálogo digital com convite aberto a novas submissões.

3) Números em destaque

  • eCR: 222 245 289 (out/2025) | meta ~320 (dez/2025) | 200 unidades móveis (mar–abr/2026).

  • Colaboratório/Escola: 14 polos | 920 atividades | 30.131 participantes (13,5% PSR).

  • Bogotá (censo 2024): 12,6 anos na rua (média) | 20% iniciaram <18 | 5% tentativa de suicídio (30 dias) | 76% estigma percebido.

4) Encaminhamentos e decisões

  • Implantar/expandir eCR e preparar logística e critérios para a distribuição das 200 unidades móveis (mar–abr/2026).

  • Formalizar fluxos SUS–SUAS (entrada coordenada; gestão de casos; indicadores de qualidade da APS/eCR com avaliação a partir de jun/2026).

  • Escalar formação (Escola Nacional Pop Rua itinerante + cursos de educação popular) com ênfase em redução de danos e cuidado territorial.

  • Habitação Primeiro: consolidar arranjos locais (chaves de acesso, acompanhamento, serviços no território) e pactuar prevenção (evitar ingresso/cronificação).

  • Sistematização contínua: atualizar o Catálogo de Experiências e usar o tripé Catálogo + Escola + Colaboratório para replicar boas práticas.

5) Mensagens-chave (para uso em política pública)

  • Nada para o povo da rua, sem o povo da rua: participação vinculante nos comitês e decisões.

  • APS corresponsável + eCR fortalecidas: porta de entrada no território com redução de danos como diretriz.

  • Habitação Primeiro como eixo estruturante para integrar saúde, assistência, trabalho/renda, educação e cultura.

  • Gestão por dados e por casos: indicadores, prontuários e fluxos SUS–SUAS padronizados; supervisão clínica e interinstitucional.

  • Formação permanente e sistematização para transformar práticas isoladas em política estruturada e sustentável.

[Intervenant 10]
Oi, ok? Bom dia, vamos começando. Pedi pro pessoal chamar o pessoal lá fora, por favor.

Estão todos presentes aí, uns e outros? Vamos só aguardar o pessoal entrar, por favor, pra gente dar início ao nosso evento. Vamos dar início ao nosso segundo dia do seminário Peço por gentileza que vão se acomodando aqui no auditório.

Bom dia, gente.

[Intervenant 8]
Eu sou Mirna Teixeira, do coletivo Trilhas de Cuidado nas Ruas e tenho uma alegria em apresentar pra vocês. Vamos dar início ao segundo dia do nosso evento. Quem esteve ontem conosco viu que tivemos muitas atividades que estão gravadas no YouTube pra que vocês possam rever e pra quem não pôde assistir ainda poder assistir.

E vamos começar nosso dia, que está recheado de atividades hoje, com o nosso painel Experiência de Cuidado. E convidamos para compor o nosso painel Alderon Costa, jornalista, editor do jornal O Trecheiro e membro do Fórum da Cidade de São Paulo em Defesa da População e Situação de Rua. Convidamos também Hugo Fagundes, do programa Seguir em Frente do Município do Rio de Janeiro.

Convidamos Daniel Souza, da Rede Nacional de Consultório na Rua. Convidamos Maria Caetano, da Vila do Reencontro de São Paulo. Convidamos Lilian Gonçalves, da Coordenação de Acesso e Equidade da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde.

E, para fazer a mediação desse painel, convidamos Letícia Lourenço e Gionei Costa, do Trilho de Cuidado nas Ruas.

[Intervenant 10]
Boa. Passo a palavra, então, para Gionei e Letícia, que farão a mediação dessa mesa. Oi.

Bom dia a todos e todas. Bom dia a todos e todas. Eu sou Gionei Costa, integro a equipe do Trilho de Cuidado.

[Intervenant 13]
Vou pedir também que a mesa se autodescreva. Eu sou um jovem baiano, negro, estou usando tranças de Nagôs. Eu uso óculos, estou com calça preta e vou falar sem o microfone, para que as pessoas possam localizar de onde eu estou.

Sentado à esquerda da mesa. E aí a gente...

[Intervenant 10]
Oi. Melhorou?

[Intervenant 13]
Eu sou Gionei Costa, um jovem baiano, integrante do grupo Trilhas de Cuidado. Fiz a minha autodescrição, estou usando tranças de Nagôs, uma calça preta e um blazer azul e branco. Vou passar para a Letícia, que é a minha dupla, que está na mediação da mesa, e depois a gente passa imediatamente para as falas, por conta do horário.

[Intervenant 14]
Pessoal, bom dia. Pedi aí para a galera ir sentando, para a gente começar a mesa. Eu sou uma mulher branca, vestindo uma camisa branca do Trilhas de Cuidado, com uma blusa amarela por baixo, porque está frio aqui em Brasília.

Estou vestindo uma calça jeans e um tênis branco com bege. Queria saudar a mesa, agradecer a presença de todos e já passar a palavra para a gente iniciar as apresentações. Tenho aqui o passador do slide.

[Intervenant 10]
Pode iniciar, que tem o seu passador.

[Intervenant 14]
Podemos iniciar.

[Intervenant 9]
Bom dia, eu sou Alderão Costa, sou uma pessoa de 1,80 m, cabelos brancos, os olhos às vezes são castanhos, às vezes verdes, depende do dia e do humor. Hoje ele está um pouquinho verde, porque eu estou muito nervoso. Então, na minha autodescrição também passo isso aqui.

Não é fácil falar para um auditório desse. Estou com uma camisa preta com o símbolo da Rede Rua, de onde eu faço o trabalho. É isso, está bom?

Gente, vocês já viram que eu estou nervoso por duas coisas. Primeiro, porque encontrei pessoas poderosas aqui, principalmente mulheres, potentes. Doutora Luciana, a Flor lá da Argentina, vocês já conheceram a Flor.

Que coisa linda esse trabalho que ela faz lá na Argentina. Quem não conheceu, conversa com ela, que é um trabalho lindo com as mulheres e está nos inspirando também em São Paulo. E tantas outras, Sueli, Maurici, tantas outras.

Eu fiz uma foto delas, depois eu publico, está bom? Então, eu vou levantar um pouquinho, porque eu não banho para ficar muito tempo sentado. Eu trouxe uma apresentação longa de uma hora.

Então, eu vou fazer em dez minutos. Vocês me cortam. Estou quinze, acho que vai dar.

Então, vamos lá, companheiro. Qual o seu nome? Luiz.

Então, vamos lá, Luiz. Pode passar aí. Esse aí todo mundo já conhece.

Nós vamos falar hoje aqui sobre cuidado. E eu vou trazer um pouco de história. Eu não vou trazer gráficos, tudo, nada.

Vou trazer história e vivência. Está bom?

[Intervenant 10]
Então, pode... Aqui, ? Para lá, para cá?

Opa, tem algum lugar aqui que foi.

[Intervenant 9]
Bom, essa primeira tela, é muito importante a gente trabalhar com que ideia que nós trabalhamos lá na Rede Rua em São Paulo. Eu estou falando ali principalmente da região do Braz e de Santamaro, onde nós atuamos. Está bom?

E no Glicério, onde nós aprendemos. A nossa UNB de São Paulo é o Glicério. Está bom?

Guardem esse nome que a gente vai entender até o final. E aí eu trouxe essa campanha do Ministério Público do Espírito Santo que eu acho importantíssima. E num momento tão bom, ?

De falar que a rua não é uma escolha. A rua não... Vocês concordam com isso?

Quem não concorda com essa ideia de que a rua não é uma escolha? Nunca foi, não é? Obrigado, obrigado.

Parece que é a voz da Sueli. Eu conheço essa voz. As pessoas precisam ser reconhecidas na sua dignidade.

E podia completar de ser humano. Não é? E aí eu queria trazer uma pessoa muito importante, que foi Dom Paulo Evaristo Arnes.

E na década ali do final de 70, a igreja tinha um compromisso muito grande com os pobres. E Dom Paulo era a representação disso. Pela defesa dos perseguidos pela ditadura militar, pela defesa intransigente dos presos, mas também, vocês sabem que ele vendeu os palácios que ele tinha e construiu vários centros comunitários na periferia.

Isso é uma ação muito importante, que é importante a gente recuperar essa história. E aí, do outro lado, vocês vão ver uma sopa. Essa sopa, ela é simbólica, ela é importante.

Foi a primeira escola que eu tive de população, de convivência com a população de rua. O Anderson lavava o caldeirão preto lá, , Anderson, no final, ? Acabou de chegar ali, já deixo meu abraço para ele.

Essa sopa acontecia depois de uma feira, no Glicério. Quem organizava essa sopa? Era o ARF, Organização de Auxílio Fraterno, que é outra instituição que nós temos que recuperar e estudar.

Por quê? Porque ela teve a coragem de fechar instituições assistencialistas e partir para uma convivência com a rua e descobrir, a partir da rua, o que fazer com a rua, junto com a rua. Então é uma metodologia totalmente diferente.

Eu estou correndo por causa do tempo. O Luiz Corrara escreveu aqui esse texto no relatório sobre moradia. 15 minutos?

Então vamos mais devagar. Brincadeira. O Luiz Corrara acabou de...

Aliás, o Ministério de Direitos Humanos acabou de lançar o relatório que o Luiz Corrara fez. E lá tem uma partezinha que ele traz um pouco dessa história. É pequeno, porque a preocupação do Luiz era a moradia.

Mas ele não deixou de recuperar essa história. E aí eu queria trazer principalmente essa frase negrito. De trabalho para os pobres passa a ser um trabalho com os pobres.

Essa metodologia muda tudo. É Paulo Freire. Eu já ouvi aqui que ontem alguém...

[Intervenant 17]
A gente pode reconhecer o morador de rua pelos pés. Geralmente ele tem sapatos trocados, sapatos sujos, sapato maior do que o seu pé, sapato menor do que o seu pé. Então o pé do morador de rua é um dos órgãos bastante machucados.

Porque nunca estão confortavelmente calçados. Numa cidade tão rica, vivendo de restos, de coisas podres, e às vezes passando fome. E para nós, uma das pistas de missão na rua foi conviver.

Conviver bastante tempo. Deve fazer tantas perguntas. Conviver até que se faça a amizade.

E daí podermos projetar algumas pequenas coisinhas, muito simples, mas que são valiosas para a vida. Uma delas, temos um grupo de canto e teatro. E vamos apresentar uma musiquinha nossa, muito simples.

[Intervenant 18]
Mas a vida é muito forte, eu não quero a morte, não. Eu só quero a invontade no meio dessa cidade para você ganhar a visão. Às vezes o que nascer é um atrapalho ou uma mistéria.

[Intervenant 9]
Bom, essa foi a irmã Ivete. Ela foi uma das primeiras professoras de doutorado. Nós, eu, o Anderson.

Não sei se tem mais alguém aqui. Deve ter outras pessoas que a conheceram. Uma pessoa inacreditável.

Ela faleceu já. Mas ela deixou aí um legado. E esse legado estamos aqui hoje.

Esse legado aqui é também dela. Porque elas tiveram coragem de fazer essa mudança radical e fazer esse enfrentamento. E dizer isso, conviver, conviver e conviver.

E aí sempre me lembra aquele ditado africano. Gente simples fazendo coisas pequenas em lugares pouco importantes consegue mudanças extraordinárias. Foi a partir...

Obrigado, gente. Palmas aí para esse ditado africano, como outros nos ensinam muito. E foi a partir desse trabalho pequeno que surgiu a cooperativa Copamare, surgiu as moradias.

As primeiras ocupações de moradia em São Paulo foram feitas lá no glicério, na comunidade. Não sei se o Anderson chegou a morar nos quartinhos. Eu cheguei a morar também, viu, Anderson?

A gente morou lá. Mas é isso.

[Intervenant 10]
Eu não vou aprofundar muito, mas eu queria resgatar isso, que é muito importante. Desse... Se eu consigo aqui, como é que é?

Algum lugar vai ter. Bom, rapidamente.

[Intervenant 9]
Esse livro é o livro que me fez estar aqui hoje. Ele conta a história, essa história que eu contei mais aprofundada. , no segundo livro, tem o livro que é uma das fundadoras das Oblatas e da UAF, que é a Nenuca.

E o terceiro é um livro que a gente fez sobre as comunidades que servia como formação do trabalho. A acolhida sem currículo, a convivência, o respeito à trajetória de cada um, o processo de estabelecer vínculos, os limites, formação, crises, sonhos, experimentar novas formas de sobrevivência. Tudo isso era o que a gente trabalhava.

Realmente, eu não sei aonde que eu aponto isso aqui. Eu vou passar esse aqui, porque o tempo não vai dar, é muito curto. Esse é um pouco mais longo.

Como é que eu passo aqui, amigo? Você pode passar aí pra mim?

[Intervenant 16]
Então, durante 13 anos, a Comunidade dos Sofredores de Rua que nasceu para que o povo de rua tivesse voz, para que o povo de rua pudesse dizer o sofrimento que passa, a injustiça que tem, a justiça que a cada dia ele sofre, o preconceito, a falta de humanidade, a miséria. Então, a comunidade procura ter um espaço onde os sofredores se encontrem. Desse jeito que a situação vai, não dá.

A cada dia, a cada ano, aumenta a população que vive na rua. A cada dia, é mais gente jogada nas calçadas. É mais gente...

É tirado o direito de viver, o direito de lutar, o direito de ter trabalho, o direito de ter pão. Então, essa caminhada aqui é para que a cidade perceba, para que vocês, que estão aqui hoje, nos ouvindo e nos vendo, não nos olhem como se nós fôssemos de outro mundo. Porque não somos, não.

Somos fruto dessa sociedade. Dessa sociedade injusta que gera uma população que não tem casa, que não tem moradia e que não tem trabalho.

[Intervenant 9]
Hoje nós estamos vivendo isso. Essa fala é muito atual. Ela foi feita em 92.

Olha só. É uma fala lá atrás e está muito atual. A gente aprendeu a refazer as relações, valorizar as pessoas, as suas histórias, respeitar o processo de cada um, que é uma dificuldade que a política pública tem.

Respeitar esse processo. E que a gente vai ter que fazer alguma coisa. Não dá para não respeitar esse processo.

Constante reflexão sobre os desafios apontados, fazer memória do trabalho, escrever os aprendizados, investir em estudos e formação e incentivar a relação direta com a rua. Nós não podemos trabalhar do gabinete. É importante.

Cinco minutos, ? Vamos lá, por favor. Vamos dar uma corridinha aí que a gente chega lá.

Pode passar, pode passar. Depois eu disponibilizo. Gente, chegamos agora.

Nós estamos no trabalho da Rede Rua. Nós estamos agora no PAH. Não vou fazer propaganda do governo, mas eu tenho que falar do trabalho que a gente faz.

O trabalho do ponto de apoio foi inspirado no trabalho que é realizado ali na região central. Foi na Estação Cidadania, na Chapelaria do Brás. Chapelaria foi o nome que a gente achou para não identificar.

Eu falo chapelaria, vocês pensam em população de rua? Não. Era isso que a gente queria.

O pessoal foi muito esperto. Eu não estava no dia da reunião, mas achei fantástica essa ideia. E aí a gente construiu junto com o Ministério de Direitos Humanos uma possibilidade do governo federal apoiar um trabalho.

E aí a gente conseguiu o PAH. Naquele momento é o que nós temos hoje lá. Claro que o próximo, o edital, mudou muita coisa, melhorou bastante.

Bastante em termos de atuação, de fluxo. E quem não se inscreveu foi prorrogado. Então procure lá.

Só São Paulo se inscreveu no PAH. Então foi prorrogado para ver se outros estados entram. Basicamente o PAH é acolhida, apoio, articulação e formação.

Tá bom? Eu quero passar o vídeo final. E aí tem uma outra coisa que eu queria contar antes de passar o vídeo final.

Nós temos o jornal Trecheiro. Aliás, eu trouxe dois números, dois últimos números. Tá lá na porta pra pegar.

Junto com ele tem uma cartilha que nós estamos fazendo agora, um trabalho sobre os indígenas em situação de rua. Fizemos um trabalho de pesquisa. Fomos atrás de números.

E tá tudo nessa cartilha lá. E nós precisamos incentivar o poder público a pensar a pensar essa realidade que está cada vez mais forte. Em São Paulo, na última pesquisa, acho que já foi 3%.

Provavelmente, com um olhar mais atento e pelo que nós vimos na pesquisa, esse número vai saltar. Porque as pessoas não sabem quem é indígena. Muitos de vocês já devem ter atendido algum indígena e não sabem.

E o jornal Trecheiro passou por uma reformulação fantástica. Ele foi recuperado desde 92. Todas as edições estão lá pra pesquisa, lá no site.

Quem quiser pesquisar a história da população de rua, ele tá lá.

[Intervenant 10]
Eu vou pegar aqui o nome certinho do pessoal que fez porque eu tenho a cabecinha meio...

[Intervenant 9]
A parceria foi com a UNIFESP, o Centro de Memória Urbana, o CEMURP. Eles é que estão nos ajudando na recuperação dessa história. É uma história muito importante para o Brasil inteiro.

E a gente não pode deixar isso. Então foi feita toda a recuperação. Pode passar.

Já tá aí. Pode ir passando. Aí alguns exemplares.

E agora, eu queria também trazer essa fala do ministro. E terminando a minha fala com essa fala da DPF.

[Intervenant 18]
A DPF que os gestores nos passaram.

[Intervenant 9]
Essa DPF é muito importante, mas, infelizmente, eu tenho que dizer aqui que ela não funciona. São Paulo, o governo tampou os olhos. Ele não vê.

A zeladoria, desculpa até a minha colega de São Paulo, que eu admiro muito, ela vai falar daqui a pouco, mas não tem nada a ver com ela. Ela sabe disso. A zeladoria continua roubando as coisas da população de rua.

A polícia continua expulsando as pessoas. Vocês sabem que agora gradearam a Praça da Sé? Ninguém pode ficar na Praça da Sé.

Estão gradeando tudo. Ontem expulsaram uma favela que estava lá há muitos anos, viu Anderson? Alcântara Machado.

Tiraram todo mundo lá. Tinha um centro de convivência lá e esse centro foi aglomerando pessoas. E aí virou uma grande favela, uma comunidade grande e as pessoas ficaram na calçada.

E as pessoas que fazem uso de droga estão na outra calçada. Está lá. É essa a realidade.

Um minuto. Então eu vou passar, nem vou ler a fala do ministro aí que ele vai falar. ?

Então vamos lá. Pode ler, ? Por último, quantos motivos seriam capaz de auxiliar as saídas da rua?

Olha só o que o ministro fala. É o STF, gente, que está falando. Olha só.

Destacaram-se os seguintes estímulos para a saída das ruas. Emprego fixo, moradia permanente, benefícios financeiros, retorno à casa da família e superação da dependência química. Apenas 2,4 afirmou não desejar sair da rua.

Então aquele começo da nossa conversa lá, ele é reafirmado aqui. A rua não é uma escolha, não é? E para finalizar de tudo mesmo, eu vou pedir um...

pode passar? O último vídeo que eu queria também pedir desculpa aos companheiros, ? É sempre bom dizer que é importante a rua falar.

Mas como um parceiro histórico, acho que me permitem trazer o que eu trouxe aqui, né Anderson? Mas eu queria trazer a rua aqui pra vocês. E vou terminar, já não falo mais nada.

[Intervenant 15]
A rua, ela é uma grande escola. Ela não é boa o tempo todo. Dormir nela não é bom, certo?

Acordar nela não é bom, ter as portas batendo nela com a cara não é bom. Chegar no mercado e eles te olharem de cima ou de baixo não é bom. E mesmo que você cumprir algo, eles te impedirem de fazer algo, certo?

Porque às vezes acham que você não encontrou nada ali dentro, não é bom. É... Às vezes ser negligenciado na saúde, você liga e pede uma ajuda e você tá na rua e eles não veem, não é bom, certo?

Várias coisas na rua, elas não são boas. Mas, a gente tem um exemplo aqui do clã do povo e de várias outras coisas que acontecem na rua, até mesmo de trocar ideia, até mesmo de ser esputada agora pela lente, pela câmera, certo? Dá oportunidade de a gente mostrar o foco do que a rua pode oferecer de bom.

A rua tem coisas boas, ela não é boa o tempo todo e não tem como a gente romantizar, falar, nossa, venha pra rua, é maravilhoso. Mas se você não mora na rua e você julga ela de forma preconceituosa, pejorativa, vá e se permita conhecer pessoas. Não é todo mundo que vai vir e vai te abraçar, não é todo mundo que vai vir e te dar liberdade, não é todo mundo que vai ser bom, mas uma hora vai conhecer alguém e vai falar, mano, que história linda, por que eu sou daqui?

[Intervenant 14]
Obrigada, Alderão, pelas suas palavras. Na apresentação ele destaca que morar na rua não é uma escolha, destaca o respeito à autonomia e à vida da população em situação de rua e um incentivo para estarmos mais próximos para esse trabalho, um convite para a gente sair dos consultórios, sair do nosso local e ir para o território. Então, acredito que foram palavras importantes aqui para abrir nosso debate.

Agora eu passo a palavra para Hugo Fagundi.

[Intervenant 10]
Obrigado. Bom dia a todos.

[Intervenant 3]
Eu queria agradecer a oportunidade, o convite, na pessoa da Eline, da Denise, da Mirna, enfim, aí eu vou começar a falar. É um monte de gente adorável que me deu essa oportunidade de estar aqui falando com vocês. Isso é muito bom.

Eu vou me apresentar. Só que eu já vou dizer que eu sou indisciplinado, eu vou falar andando, enfim, então essa localização é meio... Eu estou no centro da galera aqui, mas enfim.

Eu sou um jovem senhor, jovem pelo meu desejo, senhor pelo princípio da realidade, de cabelos grisalhos, olhos verdes, óculos sem aro, uso uma camisa azul clara, uma calça jeans, um tênis preto. Bem, eu quero ter a oportunidade de falar com vocês aqui e eu quero poder andar um pouco, porque senão eu também não consigo.

[Intervenant 10]
Eu acho que eu preciso... Então.

[Intervenant 3]
Na verdade, a gente iniciou esse trabalho no esforço grande de construir alguma resposta para um número crescente de pessoas se acumulando no centro da cidade e produzindo um incômodo enorme. Pode-se discutir tudo? Ah, isso aí na verdade é todo um esforço de tirar as pessoas de circulação, isso é algo absolutamente inaceitável.

Pode imaginar que construir um lugar para cuidar de pessoas vulneráveis pode acabar num cenário de muito, muito, muito sofrimento. Não tenho a menor dúvida disso. Toda a história da psiquiatria, eu sou psiquiatra, estou superintendente de saúde mental da Secretaria de Saúde e eu quero começar dizendo isso até para entender por que a saúde está respondendo e por que é saúde mental.

Claro que Foucault conta a história do hotel de Dede, de todo mundo sendo naquele grande recolhimento de pessoas e a história da psiquiatria é toda uma história de recolhimento. Eu faço parte de uma geração, a segunda, a terceira geração da reforma psiquiátrica, onde as pessoas eram menos brilhantes do que as iniciais, enfim. Mas a gente fechou 13 hospitais psiquiátricos em Rio de Janeiro, inclusive a Fazenda Modelo, que era o local onde ficavam as pessoas em situação de rua.

Eu participei desse processo. E aí, preciso estar falando isso para dizer para vocês... Para dizer para vocês qual foi o nosso engajamento para lidar com isso.

Primeiro, a cidade do Rio de Janeiro, não sei quem conhece a cidade do Rio de Janeiro, sabe que o Rio de Janeiro só tem duas estações, o verão e o inferno. E aí, no inferno de 2023, temperatura média de 40°C, inferno, insuportável, nós montamos o primeiro par, par pela saúde. Par, o mesmo equipamento dos ruas visíveis, foi montado pela saúde no centro da cidade.

E a ideia era poder responder um pouco isso. Vamos falar um pouco aqui do centro. Ele é criticável.

Não tenho a menor dúvida disso. É uma metodologia ruim. O que eu acho que é muito bom é o fato de ser uma metodologia ruim repetidas sequencialmente.

Então, você compara coisas ruins com coisas ruins, você tem algum parâmetro de análise. Então, a gente tem, no censo de 2022, 7.865 pessoas que foram encontradas nessa amostra. Posso dizer que, pelo CAD único, a gente está entre 14 e 15 mil pessoas, para, bem da verdade, a gente poder trabalhar qual é o nosso nível.

Bom, mas a gente já precisava trabalhar um parâmetro na política pública, vamos trabalhar no parâmetro do censo. A gente começar a trabalhar com isso, a coisa já começa a andar. O censo pegou muito as cenas de uso, as áreas da cidade...

[Intervenant 10]
Peraí, acho que eu passei. Peraí, peraí, peraí. Estou seguindo em frente demais.

Gente, como é que eu...

[Intervenant 3]
, . Então, essa é um pouco a distribuição da cidade. Aqui, o Rio de Janeiro, para quem conhece, o centro não é...

O centro não é no centro, o centro é no leste. O centro da cidade tem a floresta da Tijuca e, enfim, na verdade, a gente lida com um conglomerado urbano de 6 milhões de 300 mil habitantes. Tínhamos que pensar como construir caminhos.

[Intervenant 10]
E aí, assim, é fácil dizer que tem que ser na assistência social, mas também é fácil a gente perceber no primeiro olhar quais eram as enormes barreiras de acesso.

[Intervenant 3]
A gente tem um secretário de saúde, o Daniel Soranzi, que é muito criativo. Resolveu pegar a galera, botar numa van e caminhar de noite no Rio de Janeiro para ver o acesso nos dispositivos pequenos. Aí é o seguinte, se o sujeito está sem camisa, não pode entrar.

Se o sujeito está bêbado, não pode entrar. LGBT, tem um abrigo de LGBT. Ah, mas não importa, está chovendo pra caramba, eu estou na porta, tem um abrigo aqui, tem vaga, não pode entrar.

Quando a gente montou o Seguindo em Frente, no primeiro dia, eu conversei com o senhor e ele dizia o seguinte, olha, eu tenho 62 anos e trabalhei, inclusive sou pedreiro, trabalhei na reforma do Inca. O primeiro par foi montado no terreno da expansão do Inca. Eu não consigo mais emprego, porque eu briguei com a minha família, vim pra rua, estou há anos na rua, eu guardo minhas coisas, meus documentos com o cara da banca de jornal, tomo banho numa farmácia ali na Praça da Cruz Vermelha, zanjo por aqui, tentando emprego.

Mas quem que dá emprego pra uma pessoa de 62 anos que mora na rua? Eu queria trabalhar, não tem essa possibilidade. Bom, também queria, então, pelo menos um abrigo.

[Intervenant 10]
, a assistência social só tem um abrigo pra idoso, que é pequeno e que não tem vaga.

[Intervenant 3]
Tem vaga nos outros abrigos, mas eu tenho mais 60 anos, então, pra me proteger, eu não posso ir pra um abrigo. Pra me proteger, eu fico na rua. Essa foi a realidade que a gente começou a lidar.

Segunda coisa, cães. Como diz o Fernando Pestor, eu vejo os cães que também existem. Os cães, e eu sou uma pessoa que ama os cães, sei que não são filhos, mas são família, são a fé.

Por um bom tempo, a abordagem na rua nos anos pesados do Rio, porque o Rio de Janeiro não tem cataclisma, não tem terremoto, mas de vez em quando elege um crivel.

[Intervenant 10]
, nos anos crivelas, que a gente teve que engolir, nos anos crivelas, a gente lidava com a situação, a pressão pra gente colocar a saúde mental na rua pra abordar as pessoas.

[Intervenant 3]
Eu quero médico na abordagem. Isso é maluco. Não tem médico, nem nos cabe.

É difícil conseguir médico. Você está doido. Não vai ter.

Não tem essa possibilidade. Mas tem que fazer. A comunidade terapêutica precisa, vocês vão colocar médico pra colocar na comunidade terapêutica.

A comunidade terapêutica é um dispositivo que a gente não tem. Não está no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde, não faz parte da política de saúde. Ah, não, mas eu só quero médico, porque a gente tem um contrato com a Senad, e a Senad exige que o médico coloque.

Vocês têm um contrato, vocês têm esse problema, vocês cuidem disso. Não, mas precisa botar o médico. Como botar o médico?

Não tem médico. Não, você fala pro médico pra ele só carimbar. Você volta lá, entra de novo na sala, e a gente recomeça a conversa.

Eu não ouvi isso que você estava falando, certo? Então não vai dizer pra mim que eu vou propor pro médico carimbar uma pessoa que nem viu. Veja, tínhamos esse cenário político.

Também foi um período muito difícil. Eu fiz um curso de samambaia pra não ser visto nos ambientes, porque, na verdade, podia pedir demissão, ficar putinho de demissão, mas quem ia garantir o programa? Alguém tinha que sustentar.

Alguém precisava comprar o DOL. Alguém precisava garantir os CAPs. A gente tem uma rede de 38 CAPs no Rio de Janeiro, 40, na verdade, mas dois são universitários.

38 municipais, dos quais a gente tem 260 leitos em CAPs III, que são os recursos que a gente tem direto da porta de entrada das emergências. Isso, psiquiatria geral. Eu sou superintendente de saúde mental.

Posso dizer a vocês por que a gente entrou nisso? Por que essas pessoas sofrem? Por que essas pessoas...

Não é possível dormir uma noite na rua sem entrar em sofrimento. Acho que quem já experimentou a rua, o Anderson pode dizer um pouco disso, ? Eu não tive isso, não passei por isso, mas já rodei madrugada acompanhando as pessoas e percebo o sofrimento.

É para o sofrimento que a gente trabalha. E eu entendo que a saúde é um equipamento essencial. E entendo que se assistência social não consegue garantir o acesso, a gente pelo menos consegue garantir o acesso.

E, de certa maneira, a gente consegue fazer superar aquilo que o Jessé Souza chama de má-fé institucional. Tipo, vai lá que ele vai te atender. Chegar lá, não vai ser atendido, não vai ter acesso.

A gente conseguiu começar a colocar prótese dentária em pessoas em situação de rua, em pessoas que vivem nas residências terapêuticas do Rio de Janeiro. Só para entender, o Rio de Janeiro tem hoje 98 residências terapêuticas. A gente fechou todos os hospícios.

Inclusive, colônia Juliana Moreira, Península da Silveira, enfim. São 600 pessoas que vivem nas residências terapêuticas. A gente acompanha essas pessoas e tem uma metodologia para cuidar disso.

Bom, a nossa grande questão era conseguir montar uma forma de cuidar dessa gente dentro de uma do arcabouço da atenção social.

[Intervenant 10]
Na verdade, a grande questão não era o mundo. Essas pessoas precisam ter um lugar para ser atendido. O acolhimento.

[Intervenant 3]
A gente desenvolveu também, nos anos crivel, um prontuário eletrônico da saúde mental, pensado a partir da porta de entrada do chão de fábrica. Hoje, ele tem 101 mil registros. Se chama Prontuário Carioca de Saúde Mental.

Está discutindo com o Ministério da Saúde que ele foi produzido por uma empresa pública, que é o Iplan Rio. A gente produziu junto com a galera, nesses anos que não dava para fazer muita coisa, a gente produziu esse desenho. Além de ser samambaia, a gente produziu o prontuário.

E o prontuário foi um recurso interessante para a gente poder trabalhar a entrada dessas pessoas. A gente só tem uma base de informação, que é o prontuário.

[Intervenant 10]
Segundo, montar a partir da lógica da entrada do sujeito, o sujeito precisa reconstituir sua história. Muitos não conseguem contar sua história. Esse é um trabalho de subjetividade.

[Intervenant 3]
Esse é um trabalho de construir com ele um projeto terapêutico singular, que é próprio da saúde mental, que é metodologia que a gente tem na atenção social. Todos eles têm um projeto terapêutico singular. Ah, mas olha só onde se viu saúde mental fazer o papel da assistência social.

Sim, são pessoas vulneráveis em sofrimento. E poder, a partir dali, construir uma lógica de trabalho, construir vínculos de trabalho.

[Intervenant 10]
Seguinte, então, a gente conseguiu...

[Intervenant 3]
Tinha a inspiração, sim, da DPF 976, é uma das justificativas disso. O prefeito editou um decreto e aí, no dia 17 de dezembro de 1993, de 93? De 92!

Para ter ideia, estou atrapalhado. Não, não, em 2024 foi quando saiu a portaria. A gente já abriu o parque em 17 de dezembro de 1993.

Meu Deus, eu só estou começando. Bom, esse é o decreto, não vou mandar. A gente montou uma estrutura, que é a estrutura do parque.

É isso. A gente tinha que poder garantir o acesso e o acesso universal com todas as possibilidades de lidar com a grande riqueza que nós temos, que é lidar com a diversidade. É fundamental que a gente pudesse respeitar isso.

Era fundamental que a gente pudesse respeitar os vínculos das pessoas, elas poderem ficar junto com elas. Então, não são casais, um vai para abrigo de mulheres, outro vai para abrigo de homens ou situações em que o próprio bicho... Chegou um ponto, no tempo do Trivela, que a abordagem na rua não levava pessoas que estivessem em animais.

Então, tinha aluguel de cachorro no Rio de Janeiro. As equipes de abordagem contam disso. Era um real o cachorro.

Alugava o cachorro para não ser levado pela assistência social. Tempos passados. A gente vem construindo a lógica a partir dos centros de atenção psicossocial.

Tudo isso está dentro da lógica da reforma psiquiátrica.

[Intervenant 10]
Que são os princípios de, primeiro, cuidado em liberdade. Segundo, baixa exigência.

[Intervenant 3]
Terceiro, redução de dano. Quarto, continuidade de cuidados. Quinto, construir caminhos para que a pessoa possa de fato seguir a vida, seguir em frente.

[Intervenant 10]
O par.

[Intervenant 3]
O par era essa estrutura, parece um rock in Rio, onde a gente colocou um contêiner de chuveiro, um contêiner, um não, mais de um. Chuveiro, estrutura sanitária, água filtrada, gelada, máquina de lavar roupa, distribuímos roupas, sandália, chinelos. Olha só, você dá o chinelo, o cara troca por droga ali, você diz, cara, eu dou outro chinelo.

Qual é o problema? Eu cheguei a lidar no hospital psiquiátrico e assistência social fazia a mesma coisa. Tinha um cara que cortava sabonete para dar um pedaço de sabonete para as pessoas.

Gente, para e pensa quanto custa a hora de trabalho de uma pessoa para cortar sabonete e quanto custa um sabonete. Qual é o problema de dar um sabonete? Qual é o problema de dar uma sandália para a Havaiana?

Dez vezes não importa. Isso não importa, porque não é ali que vai estar o valor. O valor está na relação e o valor vai estar na discussão que você vai travar com ele.

Mas, cara, é a terceira vez que você vai impedir a Havaiana essa semana. O que está acontecendo?

[Intervenant 10]
Você vai construir essa relação. Qual foi o problema do Paz? Volte um minutinho para mim.

Tudo o que vocês estão vendo em volta, os prédios, começaram a filmar. Porque isso aí funcionava 24 horas, portão aberto.

[Intervenant 3]
A cena de uso era ali, na Praça das Vermelhas, encostado nos muros do terreno. Cena de uso. Eles entraram para dentro e a cena de uso foi para dentro.

Não é uma questão usar drogas. Não é uma questão de ninguém excluído por usar drogas. Enfim, é um convite para um trabalho.

Pois bem, começaram a filmar e colocar assim, olha que absurdo a prefeitura e agora banco um espaço, as pessoas estão usando crack dentro de um espaço da prefeitura.

[Intervenant 10]
Tivemos que sair dali. Nós precisamos entender que a reforma psiquiátrica é um campo de disputa.

[Intervenant 3]
A gente tem que entender que a gente é uma disputa ideológica na sociedade. Já a nossa sociedade não aceita diversidade assim legal, bacana, porque somos todos irmãos. Não existe isso.

Fechando, meu Deus, eu só tenho um minuto, mas eu preciso falar. Você me dá um minutinho a mais? .

Então o par tinha tudo isso que eu estava dizendo e aí, seguindo, a gente foi para montar a estrutura da residencial Unidades de Acolhimento Sonho Meu, em Cascadoura. Isso era um antigo hospital.

[Intervenant 10]
Isso aqui tem coisinha para apontar? Não, ? É.

É. Já fiz desse queiro. Volta para mim, por favor.

[Intervenant 3]
Bom, isso aqui, esses dois prédios, são prédios do tempo do Segundo Império. Aqui, nesse prédio, isso foi um hospital de tuberculose da Santa Casa de Misericórdia que nós alugamos. E agora estamos desapropriando.

Esse prédio aqui, nós montamos o Caps AD Dona Ivone Lara. E desse sai uma linha, para cada estrutura que vocês veem, cônicas. São espaços enormes, de pé direito alto.

Nós colocamos 25 beliches em cada um. São 50 em cada um. São 10, então são 500 pessoas.

Mais duas casas que tem na frente, são 500 pessoas.

[Intervenant 10]
Ah, mas é um absurdo. É. Lidar com muita gente é terrível.

[Intervenant 3]
Lidar com muita gente em espaço fechado é o fim do mundo. O livro mais terrível que eu li na minha vida foi o ensaio sobre a cegueira do Saramago. Não é isso.

A porta está aberta. E a pessoa entra e sai o tempo todo. Qual o nosso grande problema?

Violência. Violência interpessoal. A gente precisou ir construindo formas de lidar com isso.

Toda semana tem um BO. O que é assim? Alguma coisa, faz o BO.

Vai lá, entra lá, a gente ajuda, senta no computador, faz o ofensivo que ocorre. É fundamental. E vamos construir caminhos.

Mas a grande questão são as bolsas.

[Intervenant 10]
Por quê? Nos primeiros...

[Intervenant 3]
A lógica é a seguinte. Os três primeiros meses, a pessoa ganha, se entra no programa de trabalho, ela ganha R$ 1.024. R$ 1.004,00, que é a fase 1. São pessoas que vão trabalhar na estrutura dali.

Lavar banheiro, cuidar das coisas, ajudar a carregar coisas, ajudar... Na base da educação financeira.

[Intervenant 10]
A partir do quarto mês, se a pessoa quiser, ela passa a receber um salário mínimo e vai trabalhar onde? Na rede de saúde.

[Intervenant 3]
Como auxiliar de serviços gerais. Como alguém que ajuda na manutenção predial. Com isso, a gente foi conseguindo colocar as pessoas em contratos estruturados de trabalho.

Porque a grande questão, a antítese da rua não é o abrigo. O abrigo é o lugar de pessoas ainda em situação de rua. Abrigadas, mas em situação de rua.

Para construir alguma coisa de fato diferente, a gente precisa poder garantir moradia. Como que a gente... Primeiro desenho.

Foi o seguinte, olha só. Tu aluga algum lugar, a gente aumenta o salário, tu aluga um cantinho para você. Com monitores, acompanhando-se.

Os monitores seguem acompanhando essas pessoas. E a gente pode oferecer para você possibilidades de crescimento e de inserção no trabalho. Fechando.

Olha, esses números não são números de um prontuário eletrônico. A gente tem registro de tudo. 892 pessoas atualmente estão acolhidas nas duas estruturas que nós montamos uma outra em Jacarepaguá.

7.869 pessoas já passaram pelo serviço e pelo prontuário eletrônico. O CPF, a nossa referência, a nossa marcação, é o CPF. E a gente tem pelo CPF, que localiza no prontuário eletrônico, que tem um pontinho para apontar se é população de rua ou não.

4.401 pessoas já foram acolhidas desde o início do programa. A gente oferece kit de roupa, a gente oferece o investimento de inserção produtiva. Qual é a diferença desse processo?

[Intervenant 10]
É que ele é absolutamente questionado, questionado pelos órgãos públicos.

[Intervenant 3]
Isso deveria ser de assistência social. Isso é estar tirando o sangue da saúde mental para colocar para a população de rua, como se não fossem pessoas que estivessem sofrendo. Outra coisa, é muito comum você ver numa cidade um prefeito investindo para dar infraestrutura para a área de rico.

Ah, vai ter um condomínio legal na península. Sim, vou fazer um condomínio incrível. A prefeitura vai lá, põe toda a infraestrutura.

Todo mundo acha que é legal, fomento do desenvolvimento. É isso, bacana. Quando você põe 80 milhões no ano para cuidar de população de rua, ah, isso é populismo, isso é dinheiro jogado fora, isso não tem menor cabimento, enfim.

A gente lida o tempo todo com debates sobre políticas públicas que questionam isso aí. Só que isso é cuidado e liberdade. Só que isso é a essência da reforma psiquiátrica.

Embora, nos dispositivos que o Ministério da Saúde desenhou há 20 anos atrás, há mais de 20 anos atrás, estão vigentes até hoje, e não foram recomulados, o desenho de uma UA é de 15 leitos. Nós temos outras duas UAs, habilitadas e 15 leitos. Mas nós montamos estruturas para esse número grande.

Então as pessoas vão sair para a saúde, é só dois minutinhos de um videozinho muito rápido. Então isso a gente tem aí, 781 pessoas que já estão domiciliadas por essa história.

[Intervenant 10]
Bom, eu quero achar só o... Põe pra frente o videozinho. É muito curtinho.

Isso. . Dá um play pra gente.

? Não entrou, ? Ah, é uma pena.

[Intervenant 3]
É porque isso é um pouco o relato das pessoas e de como é que elas se enquadraram a partir do desenho. Só para terminar, a gente, no final do ano passado, a gente montou uma república. Com a metodologia que tem dos serviços presidenciais terapêuticos, a gente montou uma república que é a mesma lógica do Housing First, só que para seis pessoas, compartilhando casa.

Como um modelo experimental, a gente desenhou um contrato e a gente quer agora em 2026 trabalhar na montagem de 100 repúblicas. São 600 pessoas. Todas acompanhadas pelos CAPs, todas acompanhadas por monitores de trabalho, todas acompanhadas por agentes territoriais de cuidado, que são agentes comunitários de saúde que a gente tem nos CAPs no Rio de Janeiro.

Então, acho que a gente está tentando fazer um esforço muito grande, entendendo que a saúde tem, sim, responsabilidade, e a saúde mental muito mais. E a gente está mergulhado nisso. A Atenção Primária vem grudado com a gente, vem produzindo trabalhos incríveis.

A gente tem conseguido com isso garantir acesso. Acho que essa é a grande questão que a gente, de fato, consegue sustentar a cidadania. Só dizendo o seguinte, o PAR, que é o desenho do Ruas Visíveis, enfrenta problemas.

Tenho um... Vou só aproveitar para fechar e dizer... Vou fazer uma propaganda, não sei se conhece, um podcast chamado...

[Intervenant 10]
Ah, entrou. Eu ia falar da Rádio Novela Apresenta, que é um podcast interessante, que tem um chamado...

[Intervenant 3]
Passa depois. ... Todo mundo quer que tenha, mas não pode ser perto da minha casa.

Acho que essa é uma questão que a gente tem que enfrentar. Aí as pessoas me perguntam, mas qual vai ser o futuro desse programa? Temos eleição, temos outras coisas...

Como é que vai ser? Eu aprendi com o conselheiro Ayres, personagem central do Memorial de Ayres, do Machado de Assis, do Kim Casborba, do Memórias Póssimas de Brás Cubas. O conselheiro Ayres, quando eu perguntava as coisas para ele, qual a previsão que ele tinha, ele dizia o seguinte...

A boa previsão a gente só pode dar depois que as coisas aconteceram. É isso. Obrigado.

[Intervenant 10]
Desculpa. Agradecer ao Hugo pela fala.

[Intervenant 13]
Tenho certeza que tem muita gente aí se sentindo provocada e querendo interagir, mas como a gente também está com o tempo muito curto, eu vou passar direto para o Daniel, ?

[Intervenant 2]
Bom dia a todos, a todas e a todes. Eu vou me descrever. Eu sou o Daniel, sou um homem negro, eu sou careca, com a cabeça raspada, , gente?

Eu estou com a guia de Oxalá, de camisa vermelha, com casaco, tenho mais ou menos aproximadamente 1,70m e uso óculos, ok?

[Intervenant 10]
Vou levantar para fazer juízo aos demais que antecederam.

[Intervenant 2]
Primeiro, agradecer o convite pela Mirna, pela Alda, quem chamou para poder estar aqui, falando um pouco sobre na perspectiva de um lugar de quem trabalha em uma equipe de quem cuida de quem cuida, ? Assim, das pessoas que estão neste momento vivendo em situação de rua, que estão em situação de rua e que a saúde, com suas equipes de consultórios na rua e de rua, atende, acolhe e a gente tenta fazer essas trocas, facilitando esses acessos e esse cuidado. Eu vou pedir que se puder alguém me auxiliar na passagem, porque com certeza eu vou me enrolar e vai começar a vir um monte de vozes aqui que eu não vou saber se são vozes da minha cabeça, se todo mundo vai estar escutando, então é melhor não.

Se puder, pode colocar. Então, falar que eu sou o Daniel de Souza, eu estou aqui representando também a Rede Nacional de Consultórios na Rua e de Rua, que é uma rede que nasce em 2016 e é uma rede de trabalhadoras e trabalhadores, de equipes de consultórios na rua, que se junta para poder pensar como a gente vai cuidar dessa galera que está aí em voltas de questões de saúde. Hoje em dia, talvez a Lilia vai falar isso melhor, mas a gente está com uma média de quase 300 equipes de consultórios na rua espalhadas por todo o Brasil.

Eu venho da cidade do Rio de Janeiro, na verdade eu sou baiano, não queria me engabar, sou baiano, nasci na Bahia, mas moro há muito tempo, desde a minha mais terna juventude, desde quando eu tinha cabelo, eu moro no Rio de Janeiro, e é lá que eu trabalho, estou na rede, na rede de saúde mental há muito tempo, na rede de atenção primária saúde há muito tempo, enfim. Vou tentar falar um pouco a partir desse lugar de trabalhador. Então, tudo o que for dito até aqui, estou falando a partir de um lugar de trabalhador.

A experiência que eu venho trazer é uma experiência muito localizada, que é uma experiência que eu não vou conseguir, ? Eu juro que eu não vou conseguir. É uma experiência localizada no Rio de Janeiro, ela é dividida em, como toda cidade de grandes metrópoles, ela é dividida em áreas sanitárias, lá no Rio de Janeiro a gente tem 10 áreas programáticas, e eu trabalho na que a gente chama, eu sempre trabalhei, na que a gente chama de AP3, que é uma área onde a gente vai dizer assim, que é um território, onde é um território que é

[Intervenant 10]
onde é, digamos, dominado por algum é confadado,

[Intervenant 2]
enfim, que é dominado pelo poder civil armado, olha que coisa chique, aprendi a falar dessa forma, como poder civil armado junto de outras facções, desde o complexo de Israel, o complexo de todos os complexos que vocês imaginem, todos os comandos, então é uma área aonde, além do cuidado que a gente presta a quem está ali naquele entorno, a gente também tem que ter, tem que cuidar também que alguns códigos têm que ser respeitados, então também isso dificulta um pouco o trabalho, então, a Fiocruz, por exemplo, lá no Rio, ela é dentro de um desses territórios, e às vezes a própria Fiocruz tem que ser chata, tem que abrir, vai depender de como está se está amarelo, se está vermelho, se está verde, é isso, aí pode passar, eu não vou falar, como a gente tem pouco tempo, pode passar, a gente já sabe, quem são as pessoas que estão em situação de rua? A gente costuma muito a pensar que quem está vivendo neste momento em situação de rua, ou quem está em situação de rua, quem são essas pessoas? Aí tem um vídeo até agora, 15 minutos, a partir de agora, tem um documentário muito bom que agora foi lançado agora, inclusive, na UED, chamado Meu Nome Não É Cracudo, que vem inspirado numa exposição, porque uma das coisas que a gente tem muito, e quem não trabalha com o tema tem muito, e eu acho que isso a televisão trouxe bastante, é a ideia de que quem está em situação de rua são pessoas extremamente que fazem o uso problemático de drogas, que é um monte de usuário de drogas, que usa crack, e que não sei o quê, e quem contribuiu muito para essa estereótipo, para trazer esse estereótipo, foi a televisão. Não foi à toa que, durante muito tempo, a gente teve aquele programa do Crack Bacelos, não é?

Enfim, que ele, profissão repórter, que ele ia lá nas grandes cenas e tal, e ia lá mostrar as pessoas lá, os zumbis que viviam, e os usuários de crack, se você usa crack, aquela história toda, uma vez, e aí você vai ficar, eternamente, sendo um cracudo, e esses estereótipos, na época, bem remota, antigamente se chamava os maconheiros, não é? Ah, esses maconheiros, então, você tratava os maconheiros como esses seres, esses seres fejorativos, então, era maconheiro. Eu lembro da minha avó falando assim, eu só andava com maconheiro.

Você só anda com maconheiro, meu neto, você tem que parar de andar com maconheiro. E aí, o maconheiro era essa figura fejorativa, você não podia andar com maconheiro. E ela falava uma coisa que era assim, para de andar com aquele seu amigo maconheiro, porque se ele sofrer na sua cara, você vai ficar muito maluco.

, hoje, eu pensando aqui, talvez a minha avó gostasse de usar, porque ela sabe que se sofrer assim, ia ficar meio, ia dar onda.

[Intervenant 10]
Ah, estranho, mas enfim.

[Intervenant 2]
, pode passar, pode passar.

[Intervenant 10]
Pode passar.

[Intervenant 2]
Está vendo que o problema não é da gente? O problema é da tecnologia. Então, quem é que está na rua?

O que a gente tem de imagem, sempre é essa imagem aí, da galera na cena de uso, dos grandes aglomerados, a galera usando o tempo todo. Ah, essas pessoas, nossa, tadinhos. E aí, a gente vai sempre ver a galera que está em situação de rua, enfim.

Numa perspectiva muito de um lugar da moralidade, que, , ah, é um monte de vagabundo, esse pessoal não quer nada com a vida, está ali porque quer, ou a gente vai olhar naquele olhar bem espiritual, ou do pecador, então vamos lá, gente, vamos olhar essa galera pecadora e vamos cuidar dos pecadores, vamos levar eles para serem curados e salvos, enfim. Ou a justiça vai olhar essa galera como uma galera que é um monte de drogado, vagabundo e que tem que estar todo mundo preso e vai ser preso. E a gente da saúde tem um olhar muito, olha, essas pessoas estão doentes e a gente vai ter que tratar.

E aí, a gente vai sempre olhando desse lugar e esquecendo de um lugar que é dessa autonomia do sujeito. Que é, da onde que se dá isso aí? Se a gente for pensar, se a gente for fazer um recorte histórico, a gente vai ter que racializar esse discurso, porque desde o ano zero, deste continente deste país, que a gente está aqui, que já é uma terra que já tem seus donos, já está aqui totalmente que não é nem dominada, já é.

É como se a gente chega na terra das pessoas e fala que não tem terra de ninguém, agora aqui é meu com a bandeira e agora é de Portugal e aí Portugal ele vai se separar e vai dizer, vamos pegar essa mercadoria. E quem é essa mercadoria? É o povo preto.

É o povo preto que vem lá da África e que aí a gente vai reproduzir isso o tempo todo. Então se a gente for olhar para as caceragens, a gente vai ver, qual é a cor de quem está nas caceragens? Quando a gente vai falar dos manicômios, quem é a cor da maioria de quem está nos manicômios?

E hoje a gente vive o quê? No lugar aonde, quem é a cor de quem está em situação de rua? Então isso não é à toa.

Não é à toa, então a gente não pode nunca pensar, não. É à toa. Antes da suposta libertação das pessoas que estavam escravizadas, foi feita uma lei chamada Lei de Terras, que era para quê?

Para pensar, quando a gente soltar a negrada para onde é que esse povo todo vai? Esse povo vai começar a invadir? Vai começar a querer terra, vai começar a invadir.

Então vamos começar a separar e delimitar o que é de quem, aonde é de quem, o que é que pode de quem. Então a gente vai pensar em várias leis. A lei da invadiagem.

Então sempre as leis vão ser feitas a partir de uma proteção desse território, ? Porque o Hugo falou bem, ? Quando o pessoal fala, ah, o paro é legal, ah, ó, é isso, vamos pensar como é que a gente vai fazer para cuidar dessa galera aqui.

Todo mundo quer cuidar, mas aí quer cuidar longe, ? Então quando a gente vai pensar nas grandes colônias, a gente vai pensar nos abrigões, nos lugares... É sempre longe, é longe, longe daqui dos grandes centros, ?

Então a gente vai sempre pensar que a gente tem que afastar. Quando a gente vai pensar em pessoas em situação de rua, e a gente vai falar assim, naquela época, na época do Trivela, os seis anos que a gente teve bem complicado aqui no Brasil, a gente vai pensar o seguinte, ah, ninguém solta a mão de ninguém, mas quem é que segurava a mão de quem estava em situação de rua? Não chegava nem a soltar porque ninguém segurava.

São pessoas que o tempo todo, quem está vivendo em situação de rua, são pessoas invisíveis, que estão invisibilizadas. Ninguém olha. Quando teve a COVID, que a gente fala, fique em casa, quem está em situação de rua, que casa, ?

Então a gente vai pensar nesses cuidados e nessas possibilidades, a gente vai pensar que o tempo todo, a produção que a gente vai fazendo de cuidado é determinar aonde que a galera que está vivendo naquele território e que está vivendo naquele território, e é pertencente naquele território, como que a gente vai fazer para retirar aquela galera daquele território, porque ou é invisibilizada, ou eu não vejo, e a pessoa está ali, debaixo da marquise do meu prédio, está vivendo ali, e eu não vejo, eu passo lá, não vejo, não sei se você está sentindo isso, está com fome, não vejo, mas está ali, ou quando eu vejo, aquilo é algo que me incomoda, então eu vou ligar para a defensoria, eu vou ligar para não sei para onde, tem um casal de moradores de rua, tem um casal de moradores de rua, que está ali na marquise e tal, que está fazendo badena, é um monte de caracudo, vocês não vão fazer nada, eu pago os meus impostos, e blá, blá, blá, blá, blá.

Então, ou a gente vai falar que essa galera é invisível, não vai nem pegar na mão, então essa mão não vai ser nem solta, porque ela não foi nem pega, ou a gente vai falar, caramba, está me incomodando. E as equipes de consultório na rua, quem trabalha em equipes de consultório na rua, estou vendo vários colegas aqui, sabem que a maioria das pessoas ligam e falam assim, tem um morador de rua em tal lugar, e às vezes, não estou falando que são pessoas que estão preocupadas em cuidar, não. Às vezes, são colegas nossos, de um a outro, que não trabalham necessariamente em equipes de consultório na rua, e falam assim, ah, tem uma pessoa em situação de rua, em tal lugar, assim, assim assado, e está com a ferida no senso de ser assado, vocês do consultório na rua não podem vir aqui, para poder olhar?

Mas, vem cá, responsabilidade sanitária por aquele espaço, por aquele lugar, é de quem? Não é da atenção primária? Não é da saúde?

Então, se a pessoa está naquele território, é descrito de quem é a responsabilidade sanitária por aquele território? É a saúde. Então, os preconceitos, os estigmas, vêm também da gente que trabalha na área da saúde, da gente que trabalha também.

Por quê? A gente está sempre pensando que quando nascem as equipes de consultório na rua, de que as equipes de consultório na rua que vão dar, tem que dar conta daquela galera, e não necessariamente, porque todo, se o SUS é único, universal, é quâneo, ? Então, quem tem que dar conta é todo mundo que trabalha no SUS, ?

Então, a pessoa tem o direito a utilizar daquela quinta, daquela quinta da família, de utilizar daquele centro de saúde que está ali próximo, porque se as pessoas que moram no entorno dali tem o direito a utilizar, as pessoas que estão naquele território também tem o direito a se utilizar. As equipes de consultório na rua, hoje em dia, a gente tem uma demanda muito forte em fazer o matriciamento, porque quando surgiu lá, em 2011, na Portaria, 1, 2, 2, ? 1, 2, 3, a gente teve, eu acho que a gente teve um pouco a ilusão de que a gente ia dar um pouco de conta de tudo.

Então, caramba, vamos atender, atende, pode ligar, pode falar, chamem as equipes de consultório, a gente está aí para atender, porque a gente também estava naquela vamos dar conta. E aí a gente começou a ver que não dá conta e a gente esqueceu um pouco de uma coisa que é de matriciar as equipes, e não só atender essas equipes, porque o importante, se a gente chega para a pessoa e fala, olha, você tem o direito a usar o SUS, você pode ir lá na unidade de saúde e tal, quando ele chega lá, ele é atendido pelo controlador de acesso, ele é atendido pela pessoa que está na portaria e fala aqui você não pode entrar, porque você está sujo, porque você está com seu cachorro, porque você está cheio de coisa, 5 minutos, vou adiantar, claro que eu nem passei, hein, os slides. Quando ele não é nem atendido por uma pessoa da área técnica da saúde, essa barreira de acesso já acontece ali na porta, ? Já acontece direto ali, então, ele não chega nem ser atendido, pode passar, pode passar, pode passar por favor, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, , , volta, volta, volta.

Quando, antes de existirem as equipes de consultório na rua, existiam as equipes de consultório de rua, , que pensavam especificamente, que trabalhavam especificamente para aquela galera que fazia um uso problemático, de uso de outras drogas, que estava no território, e aí era muito ligado à saúde mental, aos CAPs ADs, , que vinha lá daquela época, os PRDs, os programas de redução de danos, e tal, e aí é bem legal. E aí, só que, tinha um limite, , para poder chegar a atendia uma questão específica, que era a questão de saúde mental, mas quem está na rua, e às vezes nem tem nenhuma questão, , de um uso problemático, faz um uso recreativo como a gente faz um uso recreativo, que a gente vai ali na Lapa, ninguém vai na Lapa e fala assim, quem está na Lapa é um monte de, a Lapa Holândia, , então, a cerveja Holândia da Lapa, ninguém fala que lá o pessoal, enfim, a gente não entra, , porque é uma cena de uso, mas ninguém fala que é possível para a gente ter uma vida funcional, para todo mundo ter uma vida funcional, e poder ter uma vida funcional. Mas, se pensou, teve essas equipes de consultório de rua, que não dava conta, porque quando chegava, quem está na rua também tem problemas, tem questões de hipertensão, de diabetes, de outras, todas as outras questões de doença que está em todo o mundo, , então, mas que a gente não conseguia dar conta, então a gente referenciava, quando se referenciava tinha toda essa questão, essa problemática de não ser atendido. Pensou-se, então, na estratégia de saúde da família para pessoa sem domicílio, mas tinha uma questão, que eram equipes que estavam ali meio que esperando que chegasse até lá, falando, ó, vocês podem ter direito, tem acesso, tem uma equipe que vai atender vocês, pode chegar lá na unidade, só que essas barreiras de acesso, como eu já falei, aconteciam. Foi criado, então, essas duas, , consultório de rua e estratégia de saúde sem domicílio e criou-se as equipes de consultórios na rua para pensar um cuidado longitudinal, para pensar um cuidado que pudesse pensar esse sujeito como um todo.

E não é o bastante, porque se as equipes de consultórios na rua não trabalhar em parceria com outros serviços, com outras secretarias, com outros setores, a gente não avança, porque não é possível que a gente cuide de uma pessoa que está com pneumonia, que tem uma tuberculose, que é uma pessoa que tem um cuidado que não pode, por exemplo, naquele momento, estar ali na rua se a gente não tiver também uma parceria com o serviço de assistência social, a pessoa, ah, algumas medicações, ah, que precisa, exige-se o CPF, exige-se a documentação.

Se a gente também não tiver uma parceria e poder trabalhar também com a assistência social, que vai promover uma documentação por esse jeito, porque as mães, que é um grande problema, o direito a maternar na rua, as mães que são extremamente violentadas e que perdem os direitos de ficar com seus filhos na rua, que perdem o direito de ficar com seus filhos, de ficarem com seus filhos, não tem o direito. Isso é uma questão que a gente vem debatendo de muito e muito tempo. Se a gente for ver, pode passar os dados, a maioria das pessoas que estão em situação de rua são homens, pardos, entre 29 a 49 anos, e tal e tal.

E vai reproduzir um pouco também do que é, um pouco, da população brasileira e tal. Só que se você pensar que na população em geral, a gente tem 56% de pessoas pretas e pardas, que aí a gente vai falar, os negros são pessoas pretas e pardas, quando a gente vai falar isso de quem está em situação de rua, esse número vai para 87%. Então, quem está em situação de rua, eu vou fechar, vou encerrar para a gente, a rua tem cor, a rua tem cor, isso não é por acaso.

Eu vou tentar, pode passar, pode passar, eu não vou poder mais falar, porque já mandaram em CR, pelo amor de Deus, por favor, acabe. Mas eu vou mostrar, postei agora o subordinário, vou mostrar pelo menos um pouco das fotos de trabalhos que as equipes de consultórios na rua fazem. Então, aqui a gente tem algumas cenas.

Então, na rua, a gente tem que trabalhar com vários parceiros, então tem que trabalhar com a justiça, tem que trabalhar habitação, trabalho em renda, não dá para cuidar de quem está na rua pensando só no cuidado em saúde, o cuidado tem que ser amplo, tem que ser longitudinal, tem que ser com outras secretarias, não dá, não dá conta, gente, não dá conta só. Aí a gente tem vários trabalhos que a gente faz em loco, as equipes de consultório na rua trabalham em loco, então a gente vai desde vacina, pré-natal, teste rápido, e a gente vai em todos os lugares. Aqui, por exemplo, é ali na Avenida Brasil, na Avenida Brasil, quando você vai lá no Rio de Janeiro, tem uma avenida enorme, e aí no meio da Avenida Brasil a galera fica ali no meio mesmo.

E aí vocês observam, que é importante, eu estou acabando, que tem umas pedrinhas ali no caminho, que a gente vai chamar de arquitetura hostil. Como é que a gente, como é que também o Estado acaba cuidando dessa galera, falando, ó, aqui você pode ficar, assim como eu falei no início, que o poder civil armado estabelece os seus códigos de conduta, mas o Estado também estabelece esses códigos de conduta de cuidado, ou de não cuidado, ou de afastamento. Então quando eles fazem uma arquitetura, e a gente vai chamar de arquitetura hostil, que a pessoa não pode sentar no banco da praça, porque você atravessa no meio ali do banco, você coloca um ferro para que eles não possam deitar.

Quando essas pessoas não podem ir para a praia, uma praia maravilhosa, uma cidade maravilhosa, como é o Rio de Janeiro, mas se ficar três pessoas ali, no meio da areia, e aí fala, opa, rala, rala peito, que aqui você não pode ficar, a gente vai lembrar da época lá, pós-escravidão, que tinha o quê? Crime de vadiagem. Circula!

Circula, meu amigo! Porque você está cometendo um crime de vadiagem. Ou seja, a gente está vivendo grandes quilombos ainda, e a rua são esses quilombos de resistência.

Pode passar, pode passar, que eu já me empolguei demais. Pode passar, pode passar. Bem mais de perto, como estão.

E aí são essas parcerias que a gente vai fazendo. É impossível trabalhar sem parceiros. Pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar.

Juro, juro. Aqui são alguns eventos que a gente faz na rua, pensando que a rua também é o lugar de afeto e deve-se ser o lugar de afeto, porque a gente não consegue estabelecer relação com o outro espinosa. A gente não consegue estabelecer relações de afeto se a gente não vai e tem um contato com esse outro.

E às vezes a pessoa só fala assim, cara, ele passa nem me dá um bom dia, e às vezes só a partir do bom dia, do boa tarde, você fala eu existo, eu estou aqui, pode pegar na minha mão, eu estou aqui e isso, essa relação de afeto você já constrói, você consegue vincular essas pessoas para que elas possam entrar no serviço, para que elas possam ser ouvidas e escutadas. Pode ir passando, já estou acabando, eu juro que estou acabando. Eu juro, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, pode passar, eu só quero mostrar uma coisa aqui, para finalizar, a gente quer dizer que as pessoas que vivem, que estão em situação de rua, elas têm direito a cidade de todas as cidades, então não é só a partir do cuidado em saúde, ah, tome aqui quatro comprimidos para você curar durante seis meses a sua

[Intervenant 10]
tuberculose, enfim,

[Intervenant 2]
existem outras coisas também que vão curando a alma, que vão curando os filhos, que vão fazendo que as pessoas pertençam àquela cidade em que elas vivem, então o que a gente faz?

A gente tem uma oficina que a gente chama de Direito à Cidade, em que a gente leva a galera para curtir a cidade, então aqui estão os pontos turísticos do Rio, pode ir passando, para a Cachoeira, vamos levar ao Olímpico, vamos assistir às Olimpíadas, vamos para o circo, entendeu? E é isso, é um pouco disso, e dizer que agora, dia 29, 30 e 31, a gente está fazendo o encontro das Equipes Construídas na Rua lá em Recife, vai ser um encontro muito massa, com muito frevo, muita potência, e é isso, gente, desculpa, obrigada.

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Daniel, obrigada por trazer vida ao debate, o trabalho vivo do território, passar agora a palavra a Maria Caetano, e pedir para a gente cronometrar certinho para dar tempo de toda a programação hoje que a gente tem planejada. Você se engana, que eu sou tão indisciplinada quanto o governo.

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Eu falo, eu sou rebelde, lá na Secretaria eu sempre falo que eu sou a pessoa mais rebelde que tem dentro da Secretaria de Desenvolvimento Social, de São Paulo. Eu sou Maria Caetano, a chamada está aí, Maria Caetano do Vila Reencontro, mas o reencontro é um programa municipal instituído em janeiro de 2023, pelo decreto 62 149, eu falo que é um programa intersecretarial, onde cada secretaria tem o seu guarda-chuva, e o guarda-chuva da assistência social ficaram as vilas reencontro e auxílio reencontro. Basicamente eu vou falar um pouquinho sobre a Vila Reencontro, me disseram que era 10 minutos, eu também fiz bem um pouquinho, enxuta a minha apresentação, vou falar a minha autodescrição, eu sou uma mulher de um metro e cinquenta e cinco, cinquenta e seis anos, brasiguaia, nascida no Paraguai, de pai brasileiro e filha de uma mulher lutadora e qual a minha família são todas assentadas em Ponta Porá, Mato Grosso do Sul. Gente, desculpa, estou um pouco nervosa, eu falo que eu sou uma boa técnica de futebol, que eu sei escalar time e normalmente quem representa e fala é a minha diretora, a Giovana, deve estar me assistindo, vou dar um beijinho para ela, eu gosto sempre de estar no bastidor, eu sou do território, nasci no território, fui orientadora socioeducativa, técnica, gerenciei o serviço CEAS 4 dentro da cena de uso, conheci doutora Carmi lá em 2012, fui para a secretaria como referência de CEAS e abordagem nas cidades e em 2022 fui convidada a assumir o Núcleo de Desenvolvimento Social, que é o primeiro fomento dentro da Secretaria de Assistência Social com o projeto na área de desenvolvimento social, que são as vilas em encontro. É minha primeira coordenação também, apesar de ter experiência como gerente em território e eu gosto de território, do território que vinha para o território que eu vou voltar, sim.

Eu sou uma funcionária em comissão, eu falo sempre estou, eu não sou, eu sou assistente social de formação de uma família de oito, a primeira formada, a primeira a conseguir concluir o ensino médio e uma faculdade de serviço social, fiz uma aposta também em direito, eu falo assim, eu não tenho um, meu currículo, meu currículo, eu falo até bruxo, meu currículo é bem pequeno, mas eu tenho bastante experiência no território. Então eu vou falar um pouquinho sobre o programa Reencontro, especificamente sobre as vilas em encontro, você pode passar um pouquinho? Dentro da Vila Reencontro, nós temos um gesto, que é cuidado, oportunidade e conexão.

Construindo caminhos de dignidade e autonomia para a população em situação de rua através do programa. Vocês observam que eu não tenho muita familiaridade com o microfone. O desafio, complexidade da necessidade para promoção da verdadeira autonomia requer mais do que oferecer serviços isolados.

Eu falo aqui que a Marta, do Consultor de Rua de São Paulo, é uma amiga que a gente trabalha muito junto e eu falo que saúde e assistência tem que trabalhar juntos. E aí eu até falo que nós temos a questão mesmo da aquele símbolo da Mastercard, um lado assistência, do outro lado saúde, e o meio de quem é. É de todos nós.

É da saúde, é da assistência, é da cultura, é da educação, é da trabalho e renda. E voltando aqui, é preciso construir um caminho integral pautado pelo cuidado que resgata dignidade e oferece pontos de partida seguros. A moradia transitória é a âncora que permite verdadeiro engajamento na garantia de direitos.

Com lar seguro, a pessoa pode reconstruir sua vida. É um modelo, eu falo que é uma inspiração no modelo Hauser-Fuss, porque a moradia transitória, ela não é o primeiro passo, ela não é a porta de entrada da família, e sim já num processo que a família já tem condições do autocuidado, do cuidar do seu módulo, de participar de coletivos de congestão. Então a nossa metodologia, para além de todo o processo que é feito pelas equipes de assistente social, psicólogo, pedagogo, tem a parte da congestão, que são os coletivos, que a família, quando chega na vila, ela tem que se inscrever em algum dos coletivos e participar juntamente com os demais.

Pode passar, por gentileza? E aqui está, conhecendo um pouquinho as nossas vilas-encontro, ela promove ação intersetorial integrada das políticas municipais, direcionada à população de ação de rua, estruturando-se em três eixos fundamentais. O cuidado, que é o atendimento do indivíduo e da família abordando necessidades básicas sociais para uma assistência social integrada.

Conexão, fortalecimento de vínculos familiares comunitários para exercer a cidadania e reconstruir laços. E a oportunidade que é a inclusão sócio-produtiva, atingindo a autonomia através do acesso ao trabalho e à capacitação. Eu digo que o eixo cuidado materializa-se na vila-encontro o primeiro grande passo qualificado rumo ao cuidado integral e direito.

Posso? Posso? Obrigada.

Olha aí, posição de palco. Isso. E a estrutura da vila como é?

O corpo técnico, para além de sócios, assistentes sociais, pedagogos, agente de campo, agente de campo noturno, conzinheiro, auxiliar de cozinha, responsável de manutenção e auxiliar de serviços gerais. Na realidade, no nosso corpo técnico, eu digo que nós somos dois profissionais muito importantes, que eu falo que é a âncora do coordenador. Então, assim, tem algumas nomenclaturas de profissões que nós utilizamos um pouquinho diferenciado dos nossos serviços de famílias, que é os KF, Centro de Acolhida Especial para Família e o Centro de Acolhida Especial para Mulheres, justamente porque nós não estamos debaixo dos SUAS, mas nós fazemos toda a intersecção junto aos SUAS.

Eu digo para as gestoras SUAS do município, a minha amiga Ana e a antiga que era Vanessa, que de momento não trabalha sem os SUAS. Por quê? Porque o material humano é o mesmo.

As famílias que chegam para as vilas em encontro são as famílias que são atendidas no nosso centro de acolhida que estão sobre a gestão dos SUAS. E esses dois supervisores, qual a importância deles? O supervisor de congestão em inserção laboral, ele é responsável pela parte da qualificação, do encaminhamento para o trabalho e também faz a coordenação dos coletivos internos de cada vila.

Coletivo de alimentação, coletivo de horta, coletivo de limpeza, coletivo de brinquedoteca, coletivo que auxilia as mães que precisam trabalhar e a vizinha do lado, do módulo, que não trabalha, tem autorização para cuidar da criança, que a mãe sai para o trabalho. Ele é responsável por esse monitoramento, para ver se essa vizinha está cuidando mesmo dessa criança e todo esse processo. Já o supervisor de saúde, educação e acompanhamento é o supervisor que acompanha toda a parte técnica do serviço social, do psicólogo, técnico-psicólogo, do pedagogo, faz o acompanhamento do FIA, do plano individual de atendimento e também faz toda a articulação com a rede local, com a saúde, educação, cultura e esporte.

Então ele é responsável. A nível de secretaria somos nós lá, especificamente eu, na gestão, e a nível de território, junto com o coordenador são esses dois supervisores responsáveis por buscar parceria e fazer todo o trabalho. A gente vai falando assim que parece que é tudo maravilhoso.

Aí as pessoas me perguntam se tem todas as questões, a dificuldade da parceria das empresas. Esse profissional tem a responsabilidade de apresentar o programa, como funciona para as empresas locais. Eu falo que nós fazemos esse papel a nível da secretaria, mas ele também tem essa responsabilidade de buscar implementar o entorno de onde a vila está inserida.

A infraestrutura de cada vila depende de cada terreno. A prospecção de terreno é feita pela prefeitura e aí são terrenos municipais ou estaduais. As duas primeiras vilas são vilas com 40 módulos de 18 metros quadrados que atendem até quatro pessoas, um arranjo familiar até quatro pessoas.

E temos vilas hoje com 114 módulos que atendem até 114 famílias, um total de quatrocentas e poucas pessoas. Toda a disposição nós temos cozinha, lavedeirinha comunitária com máquina de lave-seca, nós temos brinquedoteca, o playground, a horta comunitária, o refeitório comunitário. Nós ofertamos quatro refeições por dia, café da manhã, almoço, café da tarde, jantar.

No entanto, a família também consegue dentro do módulo, a gente disponibiliza um fogão de duas bocas, elétrico, geladeira, pia, e ela consegue fazer as pequenas refeições. Se ela não quiser comer, retirar a comida, ela pode produzir a própria comida dentro do módulo. Quadro de esporte, vestiário e sanitário para colaboradores, sanitário para moradores, sala de atendimento individual, bicicletário, sala multiuso, oficinas e cursos, depósito para alimentos, itens de consumo e depósito para material de limpeza.

Nós ofertamos também um kit de limpeza mensal e um kit de higiene pessoal.

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Fralda, leite, tudo o que a criança precisa é ofertado durante uma vez por mês. E aqui estão as estruturas do módulo.

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Esse é um módulo de 18 metros quadrados que atende até quatro famílias. Perdão, quatro pessoas. Exato, obrigada.

Então, ele é à disposição dele toda, a gente monta uma geladeira, um armário de duas portas e a configuração do módulo nós configuramos de acordo com o arranjo familiar. Se é uma mãe solo, uma cama de solteiro e um berço, se for uma criança até quatro anos. E aí, de acordo com a configuração, se é um casal e um adolescente, dois adolescentes, aí é um...

uma beliche. Então, aqui tem. Possui unidade de 18 metros quadrados destinada até quatro famílias e 36 metros quadrados que atende até oito pessoas.

Essa necessidade até a quinta vila nós não tínhamos módulos de 36 metros quadrados. E à medida que ia chegando solicitações de acolhimento de famílias maiores, e a gente tem percebido que cada vez mais o número de famílias com integrantes acima de quatro pessoas tem crescido na rua, nas abordagens pelos CEAS, nas solicitações de vaga através do I-56, houve a necessidade de adquirir também os módulos de 36 metros quadrados. Para além dos módulos 36 metros quadrados, nós também temos um módulo adaptado que é para PCD, onde o giro da cadeira, a porta do banheiro consegue acessar o giro da cadeira e a pia do módulo também, ele está de acordo com a disposição de uma pessoa que usa cadeira, ela consegue acessar, lavar a sua louça, fazer a sua alimentação, todo esse processo é bastante espaçoso, o módulo de 36 metros quadrados, a gente diga assim, confortavelmente, oito pessoas, mas se houver necessidade de ter uma família de dez pessoas, nós conseguimos acolher. Como disse, todas as unidades são equipadas com banheiro, pia, cama, cama de casal, cama de solteiro, beliche, berço, ventiladores, geladeira, fogão de duas bocas e guarda-roupa de duas portas.

Para além de tudo, utensílios, fornecemos os utensílios também e o enxoval. Conhecendo um pouquinho a vila, nas vilas, enquanto os moradores têm acesso a várias atividades que garante seu bem-estar e desenvolvimento pessoal, acompanhamento social individual, integração familiar e comunitária. As visitas nas vilas em encontro, ela é de segunda a sexta, basta a família informar à equipe técnica que horário ela vai receber a visita.

Eu falo que é muito importante que, nas vilas em encontro, nos nossos módulos, eles têm o número. Então, a família também consegue receber o seu iFood, a sua carta, ele tem endereço e tem número. Eu acho que isso faz toda a diferença, para além do banheiro, o banheiro privativo numa casa, está a população aqui em rua, esse é o diferencial.

E aí tem toda a parte mesmo, é sócio-educativo, atividades culturais, orientação educacional, projeção do espaço, curso profissionalizante, retivo ao empreendedorismo. Nós estamos já com a nossa feira, a feira de empreendedores. Fazemos a cada três meses uma feira e começamos com um dia, hoje já estamos com dois dias e há necessidade já de ampliar os dias para que todos os artesãos, as pessoas que fazem bolo de pote, chocolate, os artesanatos, consigam vender.

Essa feira a gente faz lá na Secretaria de Assistência Social mesmo, a secretária me deu autorização, a gente utiliza o nosso espaço, como nós ficamos no 35º, 36º e 37º, mas a gente tem todo um prédio de 37 andares ocupados, então nós saímos todos os dias de feira, a gente começa, a gente vai porta em porta, andar e andar, a gente tem a feira e é bem importante esse trabalho que a gente tem feito e é um sucesso mesmo e os moradores ficam nos perguntando cada vez que eu vou, Dona Caetano, quando vai acontecer a nossa feira? E a próxima feira agora em dezembro, estou articulando para fazer no hall de entrada da Prefeitura, para que o pessoal conheça e que a gente consiga expandir mais o empreendedorismo dessas pessoas que, eu falo, são pessoas que são tão capazes, são pessoas tão inteligentes, são sábias e tem tudo para crescer, eu falo, eu que saí lá de uma mãe assentada que tinha tudo para dar errado, estou hoje numa secretaria coordenando um programa desse, tão importante, que tem feito diferente na vida das pessoas, eu falo que quando eu me formei em serviço social, eu disse que se eu fizesse diferença na vida de uma pessoa, valeria a pena, eu perdi a minha mãe no dia da minha defesa de CCC e aí eu falo que tudo vale a pena, então tudo que eu faço, eu faço com muito amor, o Caetano, eu não assinava o Caetano, hoje eu assino o Caetano em homenagem à minha mãe, porque eu dedico tudo isso de onde estou aqui a essa mulher que foi, que militou e que deu um lar digno

[Intervenant 10]
para mim e para os meus sete irmãos.

[Intervenant 1]
É gente, eu não consigo, eu falo, poucas vezes que eu saio para falar, eu não consigo não falar da minha mãe, não consigo, não consigo, gente, é uma filha, uma neta de alemã, já acabou, eu só queria passar um pouquinho aqui, me dá esse, como você deu aos outros, as minhas fotos. Aqui nós temos a nossa nona vila, a vila Guayanazio 2, 46 módulos, todos ocupados, hoje nós temos 96% de ocupação, são 658 módulos, 658 famílias, hoje, que estão acolhidas nas vilas de encontro. Nós temos o projeto COZI, aqui nós temos o curso de design, essa aqui é a nossa primeira vila, Cruzeiro do Sul, inaugurada em 24 de dezembro de 2022, essa é a nossa terceira, quarta vila de Santo Amaro, terceira atividade na Vila Paris, Santo Amaro, que é a nossa quarta, roda de leitura na Guayanazio 2, e muito importante, gente, aqui tem alguns depoimentos de duas reportagens, que é da Folha e da Veja São Paulo, onde aqui o Romualdo, que está em pé, que é um pai solo, nós acolhemos pais solos, muito importante, eu falo que quando eu entrei na assistência, 2012, quase não tínhamos pais solos na rua, e hoje a gente tem muito pais solos também, e é importante esse trabalho que nós fazemos, que é o Gabriel, que ele fala, aqui tem o meu canto e não pense em sair antes dos dois anos, pois estou estudando para tirar o certificado para atuar como corretor de imóveis e conseguir me estruturar.

Eles já saíram, viu, gente? Já saíram. E aqui também a Daniela, que é mãe de uma menina trans, a minha, a família não a acolheu, e ela diz que até em cemitério e garagem de hospital ela já dormiu, com a filha dela.

Nós temos também uma família que também já saiu da Vila Reencontro, Guayaná, Angabaú, que é a nossa segunda vila, família acolhida depois de ter que abandonar o apartamento onde vivia, por falta de condições para aluguel, hoje ela já está com o segundo bebê, e temos um casal, a Adriana, ela faz parte do comitê de pop rua da Secretaria de Direitos Humanos. Esse casal se conheceu na cena de uso, eu o atendi na cena de uso até 2017, quando eu era gerente do Céias Quadro. É isso, gente.

Só para dizer um pouquinho sobre os movimentos. Nós temos uma vila, que é a sexta vila, a Vila Canindé, ela é gerida pelo Sr. Robson. O Sr. Robson viveu dez anos em situação de rua e hoje ele faz gestão de dois serviços na assistência. Eu tive o prazer de ter um fomento com o movimento de população em situação de rua, que é um serviço de baixa exigência, que é o Amor à Vida, que hoje já é um serviço certificado. Eu consegui passar ele no Comas, apanhei bastante, porque é um serviço dedicado para as pessoas, aquelas pessoas que não querem vinculação, mas que só querem tomar banho, dormir, descansar. E terminando, dizendo que é uma das nossas melhores vilas.

Ela está entre os top três das vilas em encontro, gerida pelo Sr. Robson, que é o movimento estadual de população em situação de rua. Obrigada.

[Intervenant 13]
Te peço desculpas. Te peço desculpas. E desculpa também a vocês.

A gente está com o tempo bem apertado e as experiências são muito potentes e provocadoras. Mas a gente precisa garantir que todo mundo tenha tempo de fala também. E aí eu vou passar direto para Lília, que vai trazer também um pouco de experiência de organização de serviço, de cuidado, enfim.

[Intervenant 4]
Bom dia a todas as pessoas. Eu estou à esquerda do palco. À esquerda, não na centro-esquerda.

Eu sou uma mulher branca, cabelos curtos encaracolados, uso óculos com armação azul. Estou vestindo uma calça preta com uma blusa beige com casaco, um blazer beige. Tenho mais ou menos 1,60 m.

Daniel falou boa parte do que eu iria falar, porque essa parceria, vou me levantar também, para a gente conseguir fazer um, como fiquei por último, para fazer um exercício com as pernas. Primeiro, trazer da importância da gente estar discutindo um seminário internacional com as experiências de várias partes do mundo, mas sobretudo com uma articulação intersetorial muito importante desse primeiro dia, que foi ontem e está sendo hoje, a presença do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, ontem pela manhã, o Ministério da Saúde não esteve presente na mesa inicial por uma confusão de agendas do ministro, a nossa secretária vai estar com vocês aqui hoje, agora no final do evento do dia, para tentar minorar essa confusão de agendas entre várias viagens e pautas do ministro e da própria secretária. Vou trazer, porque essa apresentação era para trabalhar e discutir o tema de uma mesa que era para ter sido ontem, que é a questão da proteção social e saúde, mas que dialoga com as experiências de cuidado no âmbito da gestão do Sistema Único de Saúde a partir do Ministério da Saúde.

Eu sou Lilian, sou médica de família e comunidade, estou na assistência na atenção primária desde 2006, sou servidora pública do Distrito Federal, sou médica de família e comunidade aqui do Distrito Federal desde 2011, cedida para o Ministério da Saúde a partir de 2023, convidada para estar à frente de uma coordenação intitulada Coordenação do Acesso à Equidade, onde abraça, acolhe todas as políticas de promoção da equidade que estão incluídas dentro da lógica da atenção primária à saúde a partir da política de atenção básica. Dentre as oito políticas e populações em situação de vulnerabilidade do qual eu estou cuidando, o cuidado da população em situação de rua e a estratégia da equipe de consultório na rua é uma das estratégias prioritárias para o cuidado da população em situação de rua.

Dizer que a gente tem se desafiado a trazer a questão do cuidado, como é que a gestão do Ministério da Saúde tem tido cuidado com essa política e esse cuidado dentro das equipes de consultório na rua, ampliando para a responsabilidade desse cuidado, para as equipes de atenção primária e as equipes de saúde da família, as equipes emulti, e fazer toda uma articulação e cuidado em rede dentro da atenção primária à saúde que se amplia a partir da rede de atenção à saúde, a partir da rede

[Intervenant 10]
de atenção psicossocial. Igor, a apresentação já está aí?

[Intervenant 4]
O cuidado que a gente está trazendo para discutir, falar sobre políticas de promoção da equidade, falar sobre populações em situação de vulnerabilidade, requer que a gente tenha o cuidado de dar voz para quem está nessa situação. Então a gente, quanto o Ministério da Saúde, quanto uma das primeiras ações que eu tive estando à frente da coordenação foi trabalhar para a reativação do Comitê Técnico Nacional de Saúde para o cuidado da população em situação de rua. E isso fez trazer para dentro do Ministério da Saúde, uma das primeiras reativações do que a gente chama no âmbito da saúde da representação da gestão participativa a partir do controle social e a participação efetiva dos movimentos sociais populares na formulação, implementação das políticas públicas.

[Intervenant 10]
Só porque eu fui a última, agora acabou a pilha. Não está passando. Eu quero que seja colocado nos meus minutos, sejam repostos meus números.

[Intervenant 4]
O comitê foi retivado em agosto de 2024. E não foi em março. É 13 de agosto de 2024.

Desde abril de 2023 que a gente começa o processo de articulação junto aos movimentos. Começamos a conversar com os movimentos para entender quais são os movimentos nacionais da população em situação de rua. A partir daí a gente destrava todo um processo de escuta atenta da gestão com relação a essas reais necessidades.

A gente instituiu, tem representação das secretarias.

[Intervenant 10]
Pode deixar que eu passo aqui. Você vai passar aí?

[Intervenant 4]
A gente instituiu esse espaço de governança dentro da gestão participativa parte da premissa de que esse espaço não é um espaço deliberativo igual que os conselhos de saúde. Ele é um espaço consultivo de articulação e produção de consenso, de uma escuta ativa da gestão com relação às demandas e às necessidades colocadas pelos movimentos sociais populares. No caso da população em situação de rua.

E é um outro ponto importante que a articulação que a gente faz pra dentro, intracetorial com os movimentos, também tem a representação da articulação intersetorial porque o SIAMP Rua faz parte também, é membro do nosso comitê, assim como nós, Ministérios da Saúde, somos partícipes do SIAMP Rua. Por quê? Porque a gente vocês estão acompanhando o seminário, assim como eu, embora remotamente, as discussões com relação ao cuidado e como a gente vai superar a situação de rua, ela é de responsabilidade de todos os setores.

E aí a gente traz a lógica do que a gente traz aqui, o que linka com a discussão da mesa que seria a mesa do dia de ontem, da questão da proteção social, que no Brasil proteção social é assistência, saúde e previdência. E aí eu tenho uma grande amiga, a pernambucana, que já transcendeu, ela trazia que, na realidade, a proteção social também tem que incluir a educação. Educação não está constitucionalmente, mas ela faz parte desse tripé, quadripé da proteção social.

E, claro, emprego e renda, cultura, a gente não quer só comida, a gente quer diversão, arte, moradia digna, respeito, cidadania. E tudo isso, as pessoas em situação de rua, por mais que a gente esteja num lugar de cuidado para articular uma política pública que faça sentido para a população em situação de rua, a gente está falando de uma população de pessoas que não estão sendo garantidos o seu direito de cidadania. O que a gente traz aqui é de dizer que o que a gente está fazendo ainda é muito pouco.

Os dados que foram colocados ontem com relação aos números do que a gente tem de estratégia de governo para a superação da pobreza, para a superação da fome, a gente ter um CAD único com um pouco mais de 380 mil pessoas em situação de rua cadastradas e acessando os benefícios, a gente consegue entender e ver que isso ainda está muito aquém. E que o nosso sistema único de saúde também, com uma estratégia importante, potente, que são as equipes de consultório na rua, porém, se sintam ainda isolados no cuidado da população em situação de rua e a gente tem um desafio gigante no âmbito do Ministério da Saúde que é de superar essa questão do cuidado da população em situação de rua ser exclusivo das equipes de consultório na rua. Já há um processo de normatização e orientação para que toda atenção primária tenha a responsabilidade, ou seja, reconheça a responsabilidade desse cuidado no seu território.

Aqui eu trago de que, por conta, você já deve ter falado ontem também da DPF, a gente, enquanto Ministério da Saúde, inseriu como uma meta do Plano Ruas Visíveis a construção da política nacional de atenção integral à população em situação de rua. Isso é um compromisso do Ministério da Saúde e um compromisso com a população em situação de rua e essa articulação intracetorial em diálogo com as demais secretarias do Ministério da Saúde. Da atenção especializada, da vigilância de saúde ambiente, da questão da Secretaria de Gestão e Educação do Trabalho, para os processos de formação desses trabalhadores e trabalhadoras, porque muitos aqui e muitas pessoas em situação de rua e os movimentos colocam ainda a questão da porofobia, do preconceito de que cada um deles sofre em um serviço de saúde, que é um espaço para ser do quê?

De proteção. Então a gente tem uma diferença entre o que está instituído e o que é instituíte, ou seja, a gente tem uma normativa que diz o que precisa ser feito, porém, contudo, entretanto, há uma distorção da prática dos nossos trabalhadores e trabalhadoras. Isso também reflete o que é essa história da sociedade brasileira.

A gente não pode também achar que a gente vai montar uma estratégia e, por simples, ter uma norma da estratégia que as pessoas vão conseguir fazer um processo de trabalho de cuidado diferenciado. A gente ainda tem uma sociedade com resquícios racistas, machistas. A gente tem um processo ainda também de xenofobia, ainda mais agora, a sorte que nós temos uma Constituição Federal e uma política de migração que garante o acesso das pessoas migrantes também refugiadas e apatas, que também são pessoas que, muitas vezes, estão também em situação de rua sem controle colocado pelo uso da população indígena.

Migrantes indígenas em contexto de situação de rua. Então, a gente tem, nesse permeio da sociedade, tem pessoas que estão ocupando espaços no serviço público, dentro da saúde, dentro da assistência, dentro do trabalho, dentro da gestão. Isso reflete, é um reflexo da sociedade brasileira e que a gente precisa enfrentar cotidianamente.

Aqui eu trago um pouco do como que a gente construiu, na lógica da gestão, como que a gente está cuidando, uma experiência de cuidado dentro da gestão para a construção dessa política. A gente construiu cinco oficinas regionais no decorrer desse ano, com a presença de todos os movimentos sociais populares que existem dos movimentos da população em situação de rua, nas cinco regiões do país. Com a representação dos trabalhadores e trabalhadoras, representado pela mobilização da rede de consultório na rua e de rua.

Uma das primeiras vezes, o primeiro foi o sexto encontro que eu participei, ainda no Espírito Santo, da rede de consultório, trabalhadores e trabalhadoras de consultório na rua e de rua. A minha fala foi de dizer que a rede dos trabalhadores e trabalhadoras que cuidam das pessoas em situação de rua, quisera eu que a gente tivesse profissionais da atenção primária e saúde organizados para discutir o cuidado e saúde da forma que esses trabalhadores e trabalhadoras que atuam na rede e atuam no consultório na rua se dispõem, desde 2016, a discutir suas práticas, suas mazelas, suas potências e como que vão superar isso nesse processo.

Então, é isso. Vou passar rapidinho aqui algumas fotinhos dos encontros que a gente fez pelo Brasil afora. A gente está em fase já de consolidação das propostas que foram acolhidas, sistematização das cinco regiões.

A gente teve que articular com o CONAS e CONASEMS, que é a instância de gestores e gestoras do SUS, para estar conosco, para que essa política saia do papel. Articulado também com esse segmento da gestão. E aqui eu vou falar nos meus seis minutos.

Já me dei seis. Já me deu? Então tá bom.

Então aqui, o que hoje a gente traz a questão das modalidades que ainda permanecem desde a construção em 2011. E aqui está o companheiro Marcelo Pedra, que conduziu isso, na época, no Ministério da Saúde, da implementação das equipes de consultório na rua a partir da PNAB de 2011. Quando a gente traz essas modalidades e traz a questão da escolha do gestor por esses profissionais, e aqui quando a gente tem o agente social, a gente tem o assistente social, o terapeuta ocupacional, já pensando na necessidade de uma articulação, de um cuidado integral, que era o que o Dani estava trazendo.

A gente precisa trabalhar com a lógica de uma articulação e um cuidado integral articulado, aonde o médico, ele é um papel importante, porém, contudo, entretanto, a gente vem discutindo essa centralidade do cuidado biomédico e quão potente é a nossa multiprofissionalidade, o trabalho colaborativo, como é que a gente articula isso com a rede, com a própria atenção primária, como é que a gente carrega, não só carrega os nossos pacientes até o cuidado de uma comunidade básica de saúde, mas como é que o colega, que também é médico, que também é enfermeiro, que é também a CS, acolhe esse paciente como sua responsabilidade também de cuidado. Então esse é o nosso maior desafio. Aqui a gente está trazendo a secretária Ana Luíza conseguiu dar um salto de discussão sobre o cofinanciamento federal, que não é um cofinanciamento com aumento apenas das modalidades, mas traz a questão de um aumento do recurso para as equipes de consultório na rua a partir da abordagem de um cuidado qualificado.

Então a gente tem falado de indicadores de boas práticas. Dentro dessas boas práticas, muito foi discutido nesses dois anos com as equipes, com a rede de trabalhadores e trabalhadoras do consultório na rua e de rua. Ou seja, tudo que a gente discutiu também com essa rede de trabalhadores e trabalhadoras é o que a gente vai trazer como mote para os indicadores da atenção primária da saúde referente às equipes de consultório na rua.

Hoje, quando a gente lança a portaria para atualização das modalidades, fizeram muitos questionamentos, muitos dos movimentos que aqui estão. A gente tem um grupo de WhatsApp com 30 pessoas com representação dos 13 movimentos da população em situação de rua que questionaram que foi um aumento apenas de um real, alguns centavos, de uma modalidade a outra. E que a gente de fato arredondou o incentivo de cofinanciamento fixo.

Porém, a gente introduz a questão dos componentes de qualidade que estão aí os valores dispostos à tela que a gente já está pagando para todas as equipes no componente bom. Que é esse componentezinho do meio aqui. Para a modalidade 1, a gente já está pagando para as equipes de modalidade 1 20 mil mais 4.500 por mês. Modalidade 2 5.250 e modalidade 3, 6 mil. O que acontece? A gente está num momento de transição então todas as equipes independente se vão adquirir o que são os indicadores de qualidade que a gente está rodando ainda e vai ter uma oficina com os gestores do Brasil inteiro, das equipes de consultório na rua agora em dezembro é para a gente mostrar como é que estão esses indicadores em cada um dos estados e municípios aonde que eles têm que melhorar e a gente só começa a avaliar esses indicadores a partir de junho do ano que vem.

Então tem um período de transição importante para os gestores e a gente tem uma articulação com uma coordenação de gestão e apoio da Atenção Primária Saúde que são os nossos apoiadores da política nos estados e nos municípios justamente para conseguir elaborar junto com os municípios essa articulação do desenvolvimento de uma boa prática além de inserção do seu fazer cotidiano dentro do prontuário eletrônico isso é uma forma da gente medir o cuidado e uma forma de que a gente possa garantir o que a gente tem chamado, que a gente chama da longitudinalidade do cuidado e a integralidade do cuidado.

Eu vou passar aqui mais rapidinho que são as nossas ampliações de equipes de consultório na rua desde 2022 a gente passa, quando a gente chega no Ministério da Saúde em 2023 a gente fecha 2023 com 222 equipes em dezembro de 2024 245, outubro agora a última competência 289, porém a gente já tem uma previsão de chegar a 320 equipes até dezembro porque a gente já lançou uma publicou uma portaria de credenciamento do qual chega a quase 340 equipes em dezembro, então a gente só está esperando a lotação orçamentária aí como vocês sabem também, se não sabem, a gente ainda até hoje não tem a lei orçamentária de 2025 aprovada pelo Congresso Nacional, então a gente está garantindo todas as estratégias e todos os cofinanciamentos por nós validados por meio de arranjos do que a gente tem institucionalmente aprovado e legalmente colocado na gestão pública e eu vou encerrar com algo que é uma inovação pra gente que é o consultório imóvel é... consultório imóvel para o cuidado da população em situação de rua a gente está chamando de... eu tinha que colocar o Sinar eu tinha colocado Incnar esse é um projeto que a gente começou desde 2023 os processos de formulação de uma proposta de uma unidade imóvel permeiam os processos burocráticos pra construção pra entendimento de como é que a gente consegue trazer elementos importantes pra dentro desse cuidado tanto pra população quanto pros trabalhadores e trabalhadoras.

É uma unidade que vai conter vai dispor de consultório bem projetado a gente não conseguiu trazer a cadeira odontológica ainda, porém isso é algo que a gente já está discutindo a gente já passou pelo processo de pregão, ou seja, a gente já fez uma revisão de preços a gente vai colocar isso na roda até meados de novembro e a partir da previsão de entrega final de março, início de abril a primeira leva de 200 unidades móveis de consultório na rua.

E aí vai ter uma portaria pros estados e municípios fazerem adesão dessa proposta E pra fechar o curso de aperfeiçoamento em educação popular para o cuidado da população em situação de rua que durante todo esse processo de construção também tivemos o cuidado de trazer os movimentos da POP rua pra construir junto construir com a gestão e com a instituição de ensino que está à frente do processo de formação.

A gente lançou o edital piloto para os educadores em agosto já abriu o edital para os educandos pro estado de São Paulo

[Intervenant 10]
e pro estado de Pernambuco Muito obrigada Consegui meu tempo

[Intervenant 13]
Agradecer a Lilian pela apresentação pedir novamente agradecer a todos os integrantes do painel e pedir novamente desculpas à plenária que a gente não vai conseguir abrir pra todo mundo, mas a gente vai garantir a fala do seu Lisboa e saudar também a iniciativa do governo, desse anúncio das 200 unidades de consultório na rua, o novo serviço chegando aí pra população

[Intervenant 10]
enfim o seu Lisboa vai vir pra cá Nós estamos aqui boa tarde, irmãos da rua

[Intervenant 11]
representantes da rua é nós, salve Deus é Lilian acabou de falar em nome do Ministério da Saúde é o que nós mais precisamos eu sou paxoniano tô tremendo porque eu sou paxo mas Deus nos abençoe nós vamos entregar um documento aqui pra essa representante que acabou de fazer a fala um documento, viu

[Intervenant 18]
eu não gostaria

[Intervenant 11]
é aqui meu lugar minha irmã eu vou

[Intervenant 10]
eu vou eu vou tá bom

[Intervenant 18]
pode irmã

[Intervenant 11]
todos são meus irmãos aí da rua representantes de todos estamos aqui então irmãos nós estamos entregando um documento quem quiser verificar o conteúdo nós já entregamos pra representante do Ministério da Saúde uma fala maravilhosa, parabéns viu Lilian então, irmãos nós estamos aqui num ato pra mim é único porque é internacional eu não sei falar inglês só o português mal mal mas bom dia né a gente não sabe falar então, irmãos nós estamos num grito em nenhum momento difícil pra população em situação de rua nós temos cor nós temos rosto e nós temos identidade e isso pra nós é suficiente porque nós somos entendidos como cidadãos não na prática social mas de identidade nós temos e nós estamos aqui pedindo internacionalmente a favor de toda a popularidade do mundo que vive em situação de rua e nós, além disso somos fruto fruto de uma sociedade de família de governo e também de situação né a África são nossos irmãos nós estamos correndo pro desenvolvimento mas a África tá totalmente atolada então em nome dos nossos irmãos africanos em nome dos nossos irmãos de conflito de guerra que tá lá na Ásia nós estamos falando aqui no Brasil e em Brasília capital a fala de que nós somos todos humanos então é essa nossa mensagem e o agradecimento por tanta gente que está aqui representando pop rua e eu sou pop rua faço parte da pop rua e a rua a rua é um apartamento tá, é um apartamento que precisa ter reforma todos os dias e nós estamos aqui pra falar irmãos, vamos nos unir e vamos pedir reformas reformas e reformas atenção, atenção e atenção pra nós moradores de rua tá, essa é a nossa fala de grito tá, Deus abençoe nós Senhor nos ajude bota a mão nos governantes na cabeça, faça eles pensarem que nós existimos nós não nós não temos como pagar IPTU, mas amanhã se vocês tiverem condições nós vamos pagar IPTU é a nossa fala vamos pagar assim que você der condições pra nós obrigado professor graduado em história mas estou na rua estou doente, esperando aposentadoria, Deus abençoe todos nós, amém

[Intervenant 12]
agradecemos a fala agradecemos a mesa retorno aqui ao meu papel de cerimonialista um papel um pouco chato, porque pode frustrar algum de vocês infelizmente a gente esgotou o nosso tempo em alguns muitos minutos então eu peço para que os convidados retornem aos seus lugares eu informo que nós iremos agora retornar ao nosso tempo eu peço respeito do nosso tempo para que nós possamos ter também um tempo de discussão de debate, a gente está aqui há dois dias assistindo essas palestras, assistindo os trabalhos e é muito importante também que a gente possa debater entre a gente o que a gente está produzindo, o que a gente está fazendo então nós iremos dar início a nossa última mesa agora antes do almoço e logo após a tarde a gente também retorna com os espaços de discussão e debate dando início ao painel de experiência de cuidado 2 convidamos ao palco Ravena Lima, da Moradia Assistida de Salvador convidamos o doutor e pesquisador Marcelo Pedra, do Trilhos de Cuidados nas Ruas convidamos a doutora e pesquisadora Mirna Teixeira, do Trilhos de Cuidados na Rua, que apresentará o catálogo de experiência de cuidado integral à população e estação de rua estão também convidados via webconferência Roberto Angulo, secretário distrital da integração social Alcádia Maior de Bogotá e Paula Escobar, consultora de proteção social do Banco Mundial Iremos iniciar a nossa apresentação agora com o Roberto e também com a Paula para que possamos fechar esse debate

[Intervenant 10]
da webconferência e possamos abrir a partilha para a mesa aqui presente Muitas graças por a invitação um especial saludo

[Intervenant 7]
aos organizadores da Webconferência ao Banco Mundial também por todo o apoio e a invitação e aos colegas do governo no Brasil, com quem tivemos um diálogo e um aprendizado

[Intervenant 10]
do qual vou dar conta com esta apresentação Se me estou ouvindo bem?

Queria confirmá-lo Sim, nós te escutamos bem Ah, perfeito Bom, então eu quero apresentar Vou fazer a apresentação em espanhol Vou falar em espanhol em português Quero mostrar a todos o projeto que temos

[Intervenant 7]
em Bogotá para a atenção do habitante de rua Isso implica um processo de redesenho desde o marco de análise os conceitos e as definições mais importantes até os serviços Foi um trabalho que fizemos foi um redesenho que fizemos enquanto operávamos e boa parte dos aprendizagens e conceitos que há aqui tem a ver com a experiência que tivemos ao visitar os serviços do Brasil Primeiramente o que quero falar é sobre este conceito de forma extrema de exclusão Nós dizemos que antes do habitante de rua nós acreditamos que há um conceito que vale a pena colocar sobre a mesa que é o de forma extrema de exclusão Às vezes se acredita que o habitante de rua simplesmente é uma forma de pobreza ou é uma forma de pobreza extrema mas isso pode ser

[Intervenant 10]
um erro a habitabilidade em rua porque

[Intervenant 7]
pode ser compatível com uma definição de pobreza vale a pena entendê-la de um conceito mais amplo que é o de exclusão e o de exclusão extrema em particular Se quiséssemos explicar o conceito rápido poderíamos pensar em uma escada em que no primeiro pedaço em cima há um detonante um detonante dessa situação de exclusão extrema no caso da Colômbia e depois do censo que nós fizemos encontramos que o principal detonante da habitabilidade em rua são os conflitos no contexto familiar

[Intervenant 10]
a violência familiar o consumo de substâncias psicoativas a falta de meios o que o ativa de alguma forma a pobreza, mesmo que não sempre e a decisão personal

[Intervenant 7]
que às vezes se sobrepõe às vezes se acredita que todos estão na rua por decisão personal este detonante gera uma situação de exclusão nós queremos colocar aqui o conceito de Amartya Sen

[Intervenant 10]
de exclusão como uma privação crítica simultânea em uma dimensão social uma dimensão econômica e em uma dimensão

[Intervenant 7]
de participação na comunidade se fala de exclusão extrema se o indivíduo está fora das oportunidades sociais dos serviços sociais que de alguma forma expandem sua canasta de possibilidades se está fora do mercado se não pode entrar no mercado de trabalho está fora, digamos, dessas relações não pode fazer isso apenas de forma periférica se não pode transformar seu entorno comunitário se não pode transformar nem mesmo o entorno de seu casado

[Intervenant 10]
o da comunidade ou o da sociedade quando tudo isso se junta podemos falar de exclusão extrema

[Intervenant 7]
quando começa esse processo de exclusão extrema há um fato que é importante que é a perda de residência habitual quer dizer dentro dessas carências a pessoa fica sem uma residência habitual ao perdê-la começa a ser itinerante na cidade esse ponto 3 é muito relevante para entender a exclusão extrema na cidade a exclusão extrema na cidade está relacionada com essa privação crítica na exclusão como eu disse, mas sobretudo se ativa com a perda de residência habitual a itinerância na cidade e uma manifestação

[Intervenant 10]
dessa exclusão extrema é a perda de residência mas não é a única nós em Colômbia falamos de 3 manifestações

[Intervenant 7]
de pelo menos 3 manifestações de formas extremas de exclusão uma primeira que são a população que vive em inquilinatos de um dia nós lhe dizemos a isso

[Intervenant 10]
inquilinatos tipo pagadiares quer dizer, se pagam ao dia ou em todo caso em uma temporalidade menor a um mês são itinerantes

[Intervenant 7]
não têm uma residência habitual podem pagar um dia sim, um dia não começam a viver na rua e entre o inquilinato alguns conseguem viver todos os dias no inquilinato mas estão sempre com o vértigo de que podem terminar amanhecendo na rua temos a população habitante de rua que é a que nos ocupa nesta apresentação também temos as pessoas geralmente maiores em situação de abandono as 3 são formas extremas de exclusão porque têm essa acumulação crítica de privações sociais, econômicas e participativas

[Intervenant 10]
mas sobretudo são itinerantes na cidade na medida que não têm residência habitual

[Intervenant 7]
a exclusão extrema nós vamos definir como a acumulação crítica de privações nessas 3 grandes dimensões e a residência habitual ou a itinerância isso como conceitos nós fizemos um censo de habitantes de rua quando chegamos aqui ao governo para dar um pouco de contexto, começamos há 2 anos, o governo do alcalde Carlos Fernando Galal e uma das principais inquietudes para poder porque ele tinha em seu plano de governo a redução da habitabilidade em rua esse fenômeno não havia crescido nos últimos anos mas quando chegamos não havia feito um censo desde 2017 quer dizer, desde antes da pandemia, então um dos primeiros pontos do nosso plano de desenvolvimento era fazer o censo de habitabilidade em rua a exclusão extrema é tão extrema que geralmente as pessoas estão em uma situação de invisibilidade estadística também são invisíveis no radar da política social, geralmente nós fizemos o censo em 2024 e já temos algumas conclusões, essas conclusões nos serviram para empreender esse processo de transformação desses serviços aqui vou trazer algumas conclusões básicas do censo, não são exhaustivas mas são as mais importantes para entender as transformações de nossos serviços

[Intervenant 10]
o primeiro que tem que dizer é que a habitabilidade em rua é uma situação crônica em Bogotá o tempo promédio

[Intervenant 7]
de habitante em rua de uma pessoa habitante em rua é de 12.6 anos tempo promédio e um de cada

[Intervenant 10]
cinco iniciou sua vida em rua

[Intervenant 7]
antes dos 18 anos esse dato me parece muito relevante se um de cada cinco iniciou a habitabilidade em rua sendo menino de entrada nós temos que há uma falha nos acordos sociais na garantia dos direitos dos meninos e das meninas e dos adolescentes que operou no momento em que essas pessoas chegaram na rua há uma situação forçada há uma falha na institucionalidade nos acordos sociais na determinação da habitabilidade em rua dos que hoje estão na rua há uma mistura de situações forçadas e de decisões de falhas nos acordos sociais nós não nos conformamos com a argumentação de que quem está na rua está apenas por exercer sua liberdade atrás disso há falhas nos acordos sociais que foram evidentes eu acho que esse dato de um de cada cinco chegando na rua quando menino é suficiente para pensar que nós temos com o fenômeno da habitabilidade em rua, é o resultado de muitos anos de sistemas de proteção social que têm bilhetes para certas populações da política de infância e dos programas de garantia dos direitos dos meninos e das meninas que falharam tudo isso se vê refletido aí entre outras coisas temos que a idade promédia dos habitantes de rua é de 41% e que a condição de permanecer na rua está fortemente ligada ao consumo problemático de substâncias psicoativas se bem que é verdade o grande detonante

[Intervenant 10]
é a violência no contexto familiar o fator de permanência é o consumo de substâncias psicoativas

[Intervenant 7]
essa cronicidade do fenômeno da habitabilidade em rua se vê refletida na saúde

[Intervenant 10]
temos que ver, aí há

[Intervenant 7]
uma característica fundamental sobre as necessidades do habitante de rua que estão relacionadas com as consequências dessa cronicidade na rua então a vida na rua e o consumo prolongado de substâncias psicoativas representam alto risco na aparição de doenças crônicas como o EPOC doenças respiratórias que já começam a ser generalizadas nos habitantes de rua temas de saúde mental por exemplo há um dato que nos parece muito relevante e é que um alto porcentagem, 5% dos habitantes de rua de Bogotá reportam ter tentado se suicidar nos últimos 30 dias é um número muito alto é um número muito alto não é comparável a uma taxa de suicídios, que são suicídios efetivos, mas sim 5% dos habitantes de rua tentaram se suicidar nos últimos 30 dias, os problemas odontológicos também aparecem na cronicidade do fenômeno da habitabilidade na rua e se torna um problema que afeta sua inclusão em várias dimensões não somente pelas implicações que isso tem para a saúde mas pelas implicações que tem para a inclusão produtiva os mesmos habitantes de rua nos comentam que para eles é muito difícil conseguir trabalho, uma vez superam sua condição, sobretudo por problemas de saúde oral que podem chegar a ter o que isso implica também para sua autoestima e apresentação personal esses são alguns dos resultados, há mais no censo, mas queria como trazê-los

[Intervenant 10]
por serem significativos a habitabilidade na rua também pode ser vista como uma trajetória

[Intervenant 7]
de desacumulação de capital humano o habitante de rua, ao estar em uma situação crônica ao estar muito tempo exposto à rua começa a ter afetado o seu resgate educativo, começa a apresentar um resgate educativo e a fechar a janela de possibilidade para ter educação superior a menudo se diz que pode haver habitantes de rua que têm estudado em universidade que têm educação superior e isso resulta em ser um mito no caso de Bogotá os estudantes, os habitantes de rua com educação superior são uma minoria em Bogotá, em geral

[Intervenant 10]
têm baixa, baixo lucro educativo por isso o que temos dito, porque é crônica a habitabilidade na rua chegaram muito jovens que estão hoje

[Intervenant 7]
já estão expostos à escolarização educativa vemos então que apenas o 5,6% tem estudos superiores e o 46% se dedica às atividades de reciclagem

[Intervenant 10]
o resto são atividades relacionadas com a mendicidade e digamos de alguma forma à distância na rua a habitabilidade na rua também gera ou está associada como eu disse no começo

[Intervenant 7]
a dificuldades ou à barreiras ou à exclusão na possibilidade de participar da comunidade poder transformar seu entorno nós aqui falamos de três entornos que seriam a família a comunidade e a cidade em relação ao exercício da cidadania o habitante de rua nós acreditamos que isso é um tema genérico que pode ocorrer em muitos países mas na Colômbia, com particular vehemência, é discriminado é considerado como um problema não apenas está fora da possibilidade de tomar decisões para transformar seu entorno

[Intervenant 10]
mas é expulso no exercício de discriminação pela sociedade e pela comunidade

[Intervenant 7]
76% das pessoas em uma enquesta de percepção que é representativa para a cidade por exemplo, 76% das pessoas consideram que os habitantes de rua são os responsáveis do aumento da insegurança na cidade então, em Bogotá o habitante de rua, e isso é uma diferença de quando nós fomos a São Paulo eu conversava muito com os colegas de São Paulo mas em Bogotá, o habitante de rua é visto como um problema um problema que está relacionado

[Intervenant 10]
e ocorre e ocorre outros problemas digamos, na cidade os habitantes de rua estão em constante risco na cidade em contraste

[Intervenant 7]
o 30% ou seja, 1 de cada 3 tem medo pela sua vida são considerados, pela cidadania como o origem da insegurança mas o 30% tem medo pela sua vida ao mesmo tempo tem debilidades nas redes apenas o 10% recebe apoio das famílias o 8% recebe apoio da comunidade e o 14% recebe apoio institucional

[Intervenant 10]
então, com este diagnóstico temos 5 linhas temos nosso marco de análise que é o habitante de rua

[Intervenant 7]
nós nos aproximamos a ele com uma noção de redução do dano com o fortalecimento de sua livre agência a serviços a uma ruta de serviços que em primeira instância estão baseadas em um análise do caso em particular e que tem uma porta de entrada que resolve o problema habitacional então é um tema que é produto do aprendizado e da experiência de vocês no Brasil a solução habitacional temporal para que possa entrar uma saída da exclusão social e produtiva o habitante de rua chega a uma oferta que pode ser especializada ou não especializada em assuntos de inclusão social inclusão produtiva e participação comunitária primeiro a uma oferta que é exclusiva para o habitante de rua mas pouco a pouco vai entrando a uma oferta que é a oferta de toda a cidade e a inclusão teria que implicar isso que o habitante de rua saia dos serviços segregados então temos aqui um ecossistema de serviços que busca ampliar o conjunto de opções do habitante de rua mediante serviços que contribuem a elevar o seu bem estar satisfazer as suas necessidades mínimas quais são essas linhas transformadoras eu vou passar rápido mas quero contar-lhes quais são as cinco linhas transformadoras em Bogotá o primeiro é a visibilidade estadística temos que trabalhar sobre o censo sobre o registro de habitabilidade na rua sobre a compreensão dessa nova geografia da habitabilidade na rua

[Intervenant 12]
aqui temos o censo

[Intervenant 7]
de habitantes de rua e o instrumento de focalização

[Intervenant 10]
de pagodeados em dois minutos termino temos uma segunda linha de ação que é as soluções habitacionais estamos trabalhando

[Intervenant 7]
e já começamos a criar um ecossistema de serviços que tem soluções habitacionales de diferentes tipos casas de passos, hotéis sociais e estamos trabalhando baseados no modelo do Brasil em uma vila também para o caso de Bogotá temos uma estratégia conjunta com saúde que busca ir à estratégia em rua que se junta também, que é preventiva em abordagem territorial em rua junto com a Secretaria de Saúde em dois serviços e um serviço especializado sociossanitário também temos uma estratégia para enfrentar o envelhecimento desta população de ampliação de unidades operativas para as pessoas maiores temos também entendido que as pessoas maiores requerem espaços e serviços distintos ao resto da população e ao final trabalhamos em um ecossistema de serviços onde o habitante de rua começa a aceder a serviços de inclusão social, produtiva e participativa temos então alguns desafios para terminar que são a sustentabilidade financeira deste ecossistema a transformação de todos os serviços com base no cambio demográfico e no cambio de enfoque uma estratégia que vocês têm no Brasil que nós não, muito forte para a prevenção e superação do consumo de substâncias psicoactivas estamos trabalhando em uma canasta especial de serviços de saúde para o habitante de rua no asseguramento eu acho que este é um resumo do que avançamos e dos desafios que temos temos resultados em todos os frontes isto não é aspiracional 100% já temos resultados em todos os frontes mas seguimos com estes desafios de medida e longo prazo que lhes acabei de dizer muito obrigado

[Intervenant 10]
com a palavra agora Paula Escobar consultora de proteção social do Banco Mundial e em um momento vamos colocar aqui a apresentação de Paula Bom dia a todos e a todas gostaria de começar por agradecer

[Intervenant 6]
aos organizadores deste espaço importante acho que pelo que ouvimos nos diferentes panelistas há muitas oportunidades de aprendizagem e de compartilhar experiências aprendizadas que sem dúvida podem fortalecer o trabalho que todos fazemos em matéria de habitantes de rua o que vou apresentar a vocês hoje é um projeto que surge do trabalho que vem fazendo o Banco Mundial em acompanhamento da Alcaldia de Bogotá em cabeça do secretário Roberto Angulo que me antecedeu mas também o acompanhamento que estamos fazendo no Brasil e no México uma ruta que estamos iniciando para criar uma comunidade prática que nos permita aproveitar estes aprendizagens e a apresentação então o que busca um pouco é trazer alguns elementos que temos identificado em experiências internacionais em experiências internacionais

[Intervenant 10]
nos dizem que não se vê a apresentação me podem confirmar?

um momento por favor que não estão vendo a apresentação do Banco Paula, você me escuta?

[Intervenant 12]
eu peço que o Igor possa realizar a comunicação com ela para que ela realize a comunicação

[Intervenant 10]
mais devagar estamos vendo Paula, se puder falar um pouco mais devagar e espaçado

[Intervenant 12]
ainda respeitando o tempo é difícil, mas vamos conseguir agradeço

[Intervenant 6]
que tem seu origem em Nova Iorque, mas que já demonstrou impactos positivos, em que a pessoa vai primeiro a uma casa, a casa independente, com uma oferta de serviços disponível que lhe ajuda a construir um modelo de vida autônomo e sair da rua. É importante aqui, que nesse espectro que lhes mencionei, há várias soluções habitacionais diferentes que respondem às características da população. Nesta aposentadoria vem um resumo disso, mas basicamente de que se trata?

Pessoas que possam ter necessidades, características que não requerem um acompanhamento intensivo, podem estar em soluções de reubicação rápida, por exemplo, e são apoios temporais. Enquanto que pessoas com adicções fortes ou que levam muito tempo na rua, que tem uma habitação de rua crônica, precisam de soluções habitacionais, ou lhes servem soluções habitacionais tipo vivenda primeiro, nas quais há um acompanhamento permanente e um equipamento especializado para lhes ajudar a construir um projeto de vida na rua. O que é fundamental aqui?

Quais são as características e necessidades da população? Nas apresentações do panel anterior, vimos várias formas de atenção, mas o que essa diapositiva chama a atenção é que as diferentes formas de atenção deveriam depender das características e necessidades, de uma caracterização que se faz no início e de uma gestão de casos integrados em torno das necessidades específicas de cada pessoa ou de um conjunto, de uma família, por exemplo, já que também vemos famílias habitadas na rua. Como mencionei, a forma mais usual agora de manejar as soluções habitacionais é a vivenda primeiro.

Vocês seguramente acederão a essa apresentação. Mas por que a trago? Porque é um modelo que está conseguindo fazer várias coisas no mundo.

Primeiro, reduzir o número de pessoas habitadas na rua, conseguir que permaneçam na casa que lhes é assinada, reduzir o consumo de álcool e drogas, e além disso, à medida que precisam menos serviços de emergência e menos serviços de saúde, o que se está identificando é que modelos desse tipo conseguem compensar os custos de iniciar uma iniciativa de vivenda primeiro, que requer uma inversão significativa na geração de vivenda ou mecanismos de renda social financiados pelo Estado para iniciá-la.

Mas os resultados são, em geral, muito positivos nos países que estão implementando. Agora, além de se é vivenda primeiro ou toda uma canasta de soluções habitacionais, é importante lembrar que a solução habitacional sempre deverá ir de mão de serviços relacionados com a vivenda, mas também serviços de apoio que permitem construir esse plano de vida que resolve as múltiplas carências, por usar as palavras do secretário Roberto. Por isso, aqui há outros serviços fundamentais, como o de saúde, educação, acesso ao emprego e geração de ingressos, entre outros.

Um ponto importante aqui é também de que maneira se faz acessível esse portafolio para as pessoas que passam por nossos serviços. E um elemento importante também, que talvez mencionei no início, é a prevenção. Muitos países estão tomando medidas importantes para assegurar que as pessoas não cheguem à habitação de rua.

Essas são medidas que, por exemplo, podem ser feitas no marco dos sistemas de proteção social que todos os países têm. São medidas que podem prevenir a pérdida de vivenda. Ante um choque econômico no lugar, uma transferência monetária pode evitar uma pérdida de vivenda.

Ou são medidas também que, já se se apresenta o início da vida na rua, que podem evitar que se torne crônica. O ponto aqui é que, na prevenção, a responsabilidade não é somente da Secretaria que tem o mandato de atender a habitação de rua. Aqui entra o setor de vivenda, com políticas de vivenda, com medidas de proteção de arrendatários, contra desalojos, por exemplo.

Entram setores como os que atendem as mulheres para manejar situações de violência intrafamiliar, para que as vítimas não terminem na rua, e esse tipo de coisa. Ou seja, há um desafio importante na prevenção, associado ao papel das instituições, à articulação, e a como se maneja a informação. Então, quero contar algumas experiências internacionais, talvez, que escolhemos, porque podem nos dar elementos para reflexionar sobre como fortalecermos nossas estratégias locais.

Um dos casos que queremos comentar, do Banco Mundial, é o da Finlândia. Mesmo que a vivenda primeiro começou nos EUA, a Finlândia é o país que mais fortemente adotou essa política, fez isso desde 2008, e reduziu em 78% a população habitante de rua. O que fez a Finlândia?

A Finlândia desenvolveu um esquema misto em que há liderança dos ministérios a nível nacional, com uma implementação local. Um financiamento do governo nacional, do governo local, do setor privado, mas também há aportes dos beneficiários, entre, digamos, o máximo de 35%, na medida em que se liga a atividades de geração de ingressos. A Finlândia também é um país que trabalha fortemente na prevenção, na prevenção para evitar a perda de vivenda, ante choques econômicos, fatores de desastres naturais, por exemplo, mas também prevenir situações que conduzem à habitação na rua, prevenção no consumo de substâncias psicoactivas, por exemplo, prevenção e manejo de situações de violência nas casas.

E, claro, eles têm uma política de acesso à vivenda importante na qual eles aprenderam três coisas fundamentais. Primeiro, evitar criação de ghettos. A vivenda que se oferece aos habitantes da rua não se concentra em um mesmo lugar, se dispersa ao longo das cidades.

Isso evita a criação de ghettos e espaços discriminados. Segundo, os serviços se adaptam ao nível de autonomia da pessoa. Ainda no marco de uma estratégia de vivenda primeiro, o serviço, o portafolio que falava há um momento, está ajustado às necessidades de cada pessoa.

E, ainda assim, mantêm os serviços de emergência, refúgios e albergues para assegurar que ninguém dorme na rua em caso de se apresentar a essa situação. Outro caso que queremos contar hoje é o dos Estados Unidos, porque é um caso interessante em matéria de governança de uma estratégia de habitantes da rua. Os Estados Unidos têm uma agência, o Conselho para os Homeless, que coordena as agências federais em matéria, vivenda, saúde, educação, veteranos, serviços generais, que regulam a matéria, mas também definem os recursos que são entregues aos Estados e às cidades para financiá-los.

E o que acontece no nível das cidades? Há uma figura que se chama o Continuo de Cuidado, ou Continuum of Care, que é uma organização que coordena todas essas organizações sociais e outras entidades públicas locais que atendem a população habitante da rua. Além disso, coordenam recursos, coordenam atividades e prestações de serviços.

Há algumas atenções setoriales que se definem desde os departamentos a nível federal e que têm um espelho a nível local, e têm múltiplas formas de atenção. Em matéria de vivenda, há experiências de vivenda primeiro, mas também há experiências na ruta, muito parecida com o modelo de escala de refúgios, vivenda transitória, vivenda temporal. Há muitos programas específicos para grupos poblacionais, e há um papel fundamental aqui dos equipamentos do Departamento de Saúde e das entidades de saúde a nível local.

No caso de Los Angeles, por exemplo, há algo muito interessante, e é que o Continuum of Care reúne todos os recursos que se recebem do Governo Federal, do Governo Estadual e do Governo Local, recursos que se obtêm através de subvenções e que são distribuídos para quem as recebe. Manejam um sistema de informação unificado que permite fazer uma entrada coordenada. E isso o que significa?

Qualquer pessoa pode se aproximar dos centros de atenção, não só do habitante de Cali, mas de outros sistemas, acessar via telefônica ou acessar através de aplicações ou redes sociais aos serviços do Continuum of Care. E um equipo centralizado caracteriza e distribui as pessoas aos serviços que as necessitam, segundo suas necessidades. A cidade tem todas as formas de soluções habitacionales que mencionei há um momento, mas também fortaleceu muito o trabalho na rua, a abordagem na rua, a identificação de pessoas nos recorridos que fazem pelos bairros.

Algumas são apenas aproximações básicas em serviços de saúde que se requerem na rua, mas sempre procurando a forma de conectar a pessoa que encontra nos bairros, nas ruas, à oferta institucional que há disponível. Outro exemplo interessante é o caso de França. A França decidiu, desde 2023, transitar à vivenda primeiro, mas é um país que está em trânsito, para a vivenda primeiro.

E como fizeram? Adquiriram dezenas de milas de vivendas, para tê-las disponíveis em todo o país para os habitantes da rua, mas também têm um esquema muito forte, que existe também na Espanha, de agências de alquimiação social, que mobilizam o mercado imobiliário, o mercado de vivenda, e geram unidades que alimentam e colocam à disposição. Têm, além disso, um elemento muito importante de assinatura de serviços, e é algo que se chama CIAO.

Os CIAOs são espaços que normalmente identificam, que normalmente identificam, que se manejam através da telefônica, mas que as pessoas podem acessar também por outros meios. E lhes dou um exemplo. Um habitante da rua pode se conectar com um CIAO às 5h da manhã, para garantir, através da telefônica, seu cubo em um hospedagem, à noite, seu transporte no hospedagem, seus alimentos no hospedagem.

Mas é um mecanismo centralizado de assinatura. E outro exemplo que queremos mostrar-lhes hoje é um exemplo que vem da Cidade de México, que é uma cidade que está reformulando, neste preciso momento, sua política de atenção ao habitante da rua. Eles fazem uma aproximação na rua, uma atenção, oferecem serviços às pessoas, ativam planos de atenção, e realizam acompanhamento em um modelo de inclusão social denominado o modelo 4A.

Têm serviços de curto prazo que se oferecem na rua, alimentação, higiene, alojamento, mas também têm albergues, serviços de alojamento transitórios, e estão tentando construir a solução de alojamentos temporais e de longo prazo. Então, porque sei também que já está acabando o tempo, já me mencionaram, uma última diapositiva. Todas essas experiências e o relatório que publicaremos do Banco Mundial oferecem mais, nos levam algumas recomendações, alguns aprendizagens.

Primeiro, não esquecer a multicausalidade da habitação de rua, e que essa multicausalidade nos leva a trabalhar desde múltiplos setores. Há alguns princípios orientadores nos quais a autonomia e a não discriminação são fundamentais. Os modelos devem ser adaptados às necessidades das pessoas e às capacidades institucionais locais também.

A prevenção é fundamental, e, de fato, é costo-efetiva contra o que vale atender um habitante de rua, mas se requerem mecanismos de governança claros, porque não podem apenas as secretarias sociais atender esse problema. E algo muito importante, a gestão de casos. Vocês veem o esquema que tem aí na diapositiva, mas a gestão de casos é basicamente caracterizar, ter um plano de atenção, acompanhá-lo e segui-lo para encerrar.

Não são atenções pontuales dispersas, é saber um a um quem são os habitantes de rua e que requerem, segundo suas particularidades, e oferecer a solução habitacional e seus serviços complementários de acordo com esses requisitos.

[Intervenant 10]
Muito obrigada. Nós agradecemos a apresentação e damos a palavra agora para Ravena Lima. Bom dia, gente.

Bom dia, porque lá na Bahia, enquanto a gente não almoça, ainda é bom dia.

[Intervenant 1]
Então, daqui a pouco, a gente é boa tarde.

[Intervenant 10]
Eu sou Ravena.

[Intervenant 1]
Eu sou uma mulher negra, uma gigante de 1,62 metros, estou de cabelos trançados, visto uma calça jeans clara, um blazer marrom claro e um coletivo marrom escuro. E queria saudar todos, em especial os movimentos sociais, os companheiros da Bahia, Sueli e o companheiro Gonzaga e todas as pessoas em situação de rua. Queria agradecer o convite do Coletivo Trilhas, em especial em nome da Denise, que a gente se falou muito, me disse que a gente foi selecionado em meio de muitas experiências bacanas e isso traz uma responsabilidade.

Tenho uma dificuldade em falar em público, então fico ainda mais nervosa em saber que a gente foi selecionada no meio de muitos, mas também muito feliz de falar de um projeto que é tão caro para a gente. Eu falo na terceira pessoa, porque estou aqui sozinha, mas não chego só. Represento uma coletividade, que é a equipe com quem eu trabalho, a equipe da Diretoria de Política Sobre Drogas, da Secretaria de Tomação Social, lá do município de Salvador.

Vou iniciar a apresentação passando um vídeo de um minuto e vou falar em dez minutos e apresentar aqui, já vou cumprir o tempo.

[Intervenant 10]
Eu sou Mariana, de nascimento, tenho oito filhos, morar lá embaixo, lá no viaduto.

[Intervenant 1]
Viver na rua é horrível, ? Você não sabe o que vai passar, vai fazer o mal em você, nos seus filhos. Qual é a mãe que não quer ter um teto para os seus filhos?

[Intervenant 15]
Aí chegou um belo dia, meu celular tocou. Quando tocou, foi a menina me avisando, da Mariana Senhora, foi uma das famílias escolhidas para participar desse projeto.

[Intervenant 6]
Dona Mariana e toda a sua família, eles foram incluídos no programa Moradia Assistida, que é um projeto inovador da Prefeitura Municipal. Esse programa, ele tem a moradia como um fator primordial de estabilidade emocional e comportamental e psíquica.

[Intervenant 1]
É baseado no Housing First, que é um projeto internacional que foi adaptado à nossa realidade. Agora eu vou ter meu fogão, meu bujão, uma boa dormida, no meu bem-estar, no bem-estar dos meus filhos.

[Intervenant 15]
Então, qual é a mãe que não quer o melhor para os seus filhos?

[Intervenant 10]
Então, essa moradia assistida aí, foi tudo de bom na minha vida para os meus filhos. Saudei a todos, mas também queria saudar a minha ancestralidade que me permitiu chegar até aqui.

[Intervenant 1]
Então, vou iniciar falando um pouquinho do histórico, bem brevemente, sobre como nasce o nosso projeto Moradia Assistida, no vídeo ali, que estou falando mais alto, ? Nosso projeto, ele é inspirado na metodologia Housing First, e é inspirado mesmo, não é uma reprodução, a gente fez as adaptações de acordo ao território de Salvador e à população em situação de rua de Salvador. Eu costumo dizer que a gente sabe o que é a definição da população em situação de rua, do que traz o decreto, mas eu acho que a gente se perde na palavra heterogênea, quando a gente se fixa apenas em dizer que é uma heterogeneidade de acordo com a geração, ou a gênero, ou a sexualidade, e a gente desconsidera o fator do contexto, do território.

Então, é uma população heterogênea, então, pensando na nossa população em Salvador, a gente fez adaptações e aí transformou nesse modelo municipal, que é o Moradia Assistida. E a gente conhece essa metodologia a partir do movimento social, e aí, pra gente, é uma satisfação falar de um projeto que ele nasce do movimento social. É o Movimento Nacional de População em Situação de Rua, através de Maria Sueli e da Defensoria Pública do nosso Estado, que nos procura em 2020 pra dizer, olha, o que a população em situação de rua quer é moradia, e a gente tem algo sendo feito fora que está chegando no Brasil agora e que tem dados certos e que a gente gostaria que Salvador implementasse.

Então, ali em 2020, quando a gente é provocado, então entra na agenda da gestão municipal, e em 2021, com a criação da Diretoria de Política sobre Drogas, a gente escreve primeiro o termo de referência com o escopo ali do projeto. Esse é um projeto de execução indireta. Então, a gente fez por termos de colaboração, e a gente faz por termos de colaboração com organizações da sociedade civil, e, à época, a gente fez um projeto piloto, e é dele que eu vou falar mais aqui, com 20 moradias, com capacidade pra atender até 100 pessoas naquele momento.

Então, em 2023, em junho, a gente entrega a primeira casa. Então, o projeto, ele se destina a pessoas em situação de rua crônica, preferencialmente crônica, então, com mais de cinco anos de rua, com trajetória de uso de substâncias psicoativas e que não aderem aos modelos tradicionais de acolhimento que estão previstos na edificação aí, na Resolução 109, que está previsto na assistência social. E ele se constitui a partir da entrega de uma casa mobiliada, e aí com todos os utensílios, todos os móveis básicos, o aluguel da casa é custeado pela gente, toda essa mobília também, e o acompanhamento por uma equipe que é formada com psicólogos, assistentes sociais e redutores de dano.

E essa equipe é a equipe responsável por fazer as visitas domiciliares, todo o acompanhamento, inserção na rede, e, a partir dali, trabalhar junto com essa família, porque o plano de acompanhamento familiar, ele é construído junto com a família, então, é a partir das necessidades, dos desejos e do que eles apresentam para essa equipe, que a gente escreve e constrói com eles ali esse plano de acompanhamento, e a gente tem dito que a gente desenvolveu uma metodologia alicerçada em um tripé, que é a metodologia do Moradia Assistida de Salvador, que é trabalho social com famílias, o cuidado compartilhado, porque o moradia sozinho não dá conta, a população em situação de rua tem diversas outras demandas, e a rede de serviços do município precisou entender isso e acolher o projeto também, entendendo que o cuidado precisava ser compartilhado, e o terceiro tripé, que é o investimento em tecnologias leves e pautadas, mesmo no investimento do vínculo com as pessoas.

Então, é a partir daí que a gente monta essa metodologia de acompanhamento. A inserção no projeto, ele se dá em algumas etapas, então, a gente da diretoria recebe relatórios de toda a rede, dos consultórios na rua, do express, dos centros pop, das unidades de acolhimento, a gente faz a leitura, hoje a gente tem um banco de dados de 100 relatórios lá hoje, exatamente hoje. Então, eu leio todos, eu sou coordenadora, mas eu leio todos, a minha equipe lê todos, toda a equipe técnica lê os relatórios, e a gente, dentro do filmaportaria que a gente escreveu, que tem os critérios de elegibilidade e adesão ao projeto, a gente seleciona mais ou menos quem está no perfil e encaminha para a OSC, que é a equipe da OSC que faz o acompanhamento, vai fazer uma outra etapa que é a entrevista. E por que a entrevista?

Porque às vezes, e a gente sabe, eu já estive na Ponta, fui psicóloga do centro pop, às vezes o técnico tem muito mais o desejo de achar uma possibilidade de cuidado do que a própria pessoa naquele momento. Então, a gente precisa entender se é um desejo, se ele compreende que é uma moradia cedida, que não é minha casa, minha vida, que é um projeto transitório, que é uma preparação para uma vida domiciliada, para que em algum momento ele tenha moradia dele definitiva, e que esse também é o nosso desejo, enquanto operadores da política pública. Então, a etapa de entrevista é uma etapa extremamente importante e que não garante a inserção, porque é a partir disso, desse diálogo com a pessoa em situação de rua que a gente vai entender.

Entre a entrevista e a entrega da chave, efetivamente, hoje a gente tem um tempo médio de 30 dias e isso decorre por diversos fatores. A pessoa é direto da rua para a casa. Então, não tem nenhuma etapa, não tem nenhuma outra condicionalidade.

Então, às vezes a identificação dela do dia da entrevista, achar em que território está. Então, tudo isso a gente foi contabilizando e a gente viu que o tempo médio hoje de entrega da casa é de 30 dias. Só alguns dados de acompanhamento.

Quando eu falei da metodologia, que é trabalho social com a família, da primeira entrega do Projeto Piloto, de junho até dezembro, de junho de 2023 até dezembro de 2025, a gente contabilizou que cada família teve uma média de 58 visitas domiciliares. E aí, fora as atividades culturais, e aí a gente vai à praia, a gente vai ao museu, a gente, porque é uma equipe, as pessoas já estão, mas a gente também acompanha muito de perto essas atividades que são feitas com os nossos usuários. Um outro dado importante que eu acho que eu quis destacar aqui é o investimento que a gente faz no fortalecimento de vínculos e entender o quanto a moradia é um fator importante para diversos outros elementos que perpassam a trajetória da situação de rua.

Então, a gente tem assistido que fazia muito tempo que tinham tido contato com a família, a gente consegue resgatar esse contato, por exemplo, uma senhora que a gente tem e a filha dela passa a deixar as netas conviverem com ela na casa dela e aí depois passar um final de semana. Então, a partir da moradia esse restabelecimento de vínculos com a família e com a comunidade. E aí a gente faz diversas outras atividades, então, a inserção na rede escolar e trazendo os dados apenas das 20 famílias que a gente atendeu no projeto piloto.

Então, a gente inseriu todas as crianças na rede escolar, independente do momento do ano, a gente fez toda uma encaminhada no serviço da rede, na educação, na saúde, para falar que haveria essa necessidade que as pessoas pudessem acessar a qualquer momento. Então, a rede escolar esteve muito disponível a isso. A rede de saúde, nesse período, a gente conseguiu fazer 58 encaminhamentos para consultas.

A gente tem um fluxo específico na média e alta complexidade da saúde de Salvador, onde as pessoas em situação de rua de uma hora de assistida não entram em uma fila de regulação, então, a gente manda e precisa de uma ressonância. E aí, imediatamente, eles são atendidos sem entrar na regulação. Encaminhamentos atrás, então, todas as famílias foram referenciadas nos TRAS, as necessidades que tinham de crédito, solicitação de documentação.

Mercado de trabalho, que é um outro ponto que a gente fez um investimento grande. Hoje, a Secretaria tem um programa que chama Empregabilidade, que a Secretaria entrega pessoas em situação de rua na Secretaria. Então, é prioritário o atendimento das famílias que estão numa hora de assistida.

E, naquele momento, a gente tinha conseguido inserir carteira assinada, trabalhando lá, seja na abordagem social ou dentro do próprio prédio nosso, da gestão. Pelo menos três famílias já estão, agora cinco, porque dois foram para a entrevista foram cedo. Cinco famílias já estão desatualizadas na minha apresentação.

Cinco famílias já trabalhando lá com a gente, acesso a benefício eventual, enfim, introdução dos currículos. E aí, aqui só um dado para destacar sobre a avaliação desse projeto piloto, que encerrou agora em março de 2025. A gente, do início de 23 até agora, a gente teve 15 famílias que permaneceram no projeto.

Então, isso é um dado para a gente muito importante. A gente tem ainda uma apuração maior, muito estatística dos nossos dados, mas a gente tem aí já algumas sinalizações. Isso para a gente ter 15 famílias que permaneceram do início até o fim é muito importante.

Duas famílias que evadiram às vezes sem nem ter entrado na casa. Então, a gente substituiu imediatamente. Três com desligamento a pedido, porque entendeu que o modelo ou o projeto ou o momento não era o momento deles.

Um falecimento, que era um assistido, inclusive, que os três ministérios, quando estiveram lá visitando a gente, conheceu. E era um assistido que estava muito bem no projeto, mas faleceu de causas naturais. E eu lembro que, na época, a equipe ficou muito mobilizada no sentimento de não ter conseguido.

E aí a gente trabalhou com a equipe do quanto foi possível ele ter uma morte digna estando no projeto e a partir da oferta de uma casa. Então, no enterro estávamos eu e mais três da equipe e a gente ficou trazendo para a equipe, mas imagina se eles estivessem na rua. Então, assim, falar da oferta de uma casa é muito mais do que só a casa.

Tem outras coisas, outras dimensões que precisam ser valorizadas também. E uma das famílias que superou a situação. E aí é uma família unipessoal.

Então, hoje eles se mantêm com o BPC e a gente continua, mesmo desligado, do Moradia. A gente continua acompanhando e toda a rede também. Além de todo esse acompanhamento que a gente faz das oficinas de redução de danos, é importante falar que o Moradia Assistida de Salvador, ele é um projeto pautado na redução de danos.

Então, a pessoa não tem que deixar de usar ou tem que diminuir para entrar e nem para ficar. A gente vai construindo isso, se for o desejo dele. No início do piloto, a gente, inclusive, só trabalhava com pessoas em uso problemático.

Agora a gente flexibilizou. É a trajetória do uso. E atividade de lazer, cultural, oficina de geração de renda.

[Intervenant 10]
Atividades em parceria com a rede. Estou finalizando. Só esses dois últimos slides aqui que eu queria destacar, sim.

[Intervenant 1]
Falar que não é um projeto que só tem o lado bom. A gente tem pontos facilitadores e percepção, mas a gente tem desafios grandes. Eu destaquei alguns pontos facilitadores, como a metodologia de governança que a gente tem.

Então, é uma execução indireta, mas uma equipe de gestão muito próxima, sim. Eu conheço todos os assistidos. Eu visito as casas junto com a nossa equipe de gestão.

A gente fez a publicação de um protocolo de gestão integrada. Então, é um documento municipal que está disponibilizado no site, falando como é a nossa implementação, quais são os instrumentos que a gente utiliza. A expertise do trabalho com o público também é um ponto facilitador.

A formação continuada da equipe, que é proporcionada pela nossa equipe de gestão, e o investimento no vínculo mesmo com os assistidos. Eles que vão dando os direcionamentos e o que funciona e o que não funciona no acompanhamento. E aí, os pontos dificultadores.

A gente teve... A gente não tinha previsto, quando a gente desenhou o projeto, a quantidade de mudanças. A gente está falando de a implementação de um projeto municipal com recurso.

O recurso é limitado, ele não é infinito, infelizmente. Então, a gente não tinha se dado conta que esse era um ponto que viria a acontecer. A gente teve 12 famílias que mudaram.

A perda de imóveis. A gente teve famílias... Teve seis famílias com perda total de imóveis.

Isso não é um motivo para desligar. A gente segue acompanhando. A gente trabalha com ele.

A forma como ele vai, de novo, recompor a mobília da casa e a dificuldade em localizar imóveis. Isso por conta do preconceito, dos estigmas ligados à população e situação de rua. Então, por muitas vezes, a gente vai, acha o imóvel e o proprietário diz ok.

Quando a gente leva o nosso usuário lá, ele diz não. Para essa pessoa, é assim. A gente não aluga.

Ou aluguei ontem, já não está mais disponível. Então, esse é um dificultador para a nossa implementação. E, embora a gente fale do cuidado compartilhado, institucionalizar essa intersetorialidade é ainda um ponto muito dificultador para a implementação e o êxito do projeto.

Com isso, eu encerro dizendo que o Moradia Assistida é cuidado integral, é direito já, e falar que nada para o povo da rua sem o povo da rua. Muito obrigada.

[Intervenant 12]
Agradecemos a partilha. Agora, com a fala, Marcelo e Pedro.

[Intervenant 5]
Bom dia, também. Todo o mesmo paradigma. Enquanto não almoçar, não é boa tarde.

Bom dia a todas as pessoas. Eu me chamo Marcelo. Enquanto vai colocando ali, sou um homem branco, com a cabeça ficando branca, com a camisa do Trilhas, um coletivo com o qual eu faço parte, representando a Seu Cruz Brasília, a nossa diretora Fabiana, todo no pote, com muita alegria, junto com Mirna, mais alto.

Pronto. Jóia. Melhorou?

Maravilha. Junto com Mirna, Eline, Alda, todo mundo, Marquinho, todo mundo que está aqui junto desse coletivo. Eu vou, especificamente hoje, apresentar o trabalho do Colaboratório Nacional Pop Rua, que é uma experiência que a gente vem construindo desde 2023, um projeto que é uma parceria construída a muitas mãos, mas em especial, inclusive, reforçando a fala final da colega, construído em especial com os movimentos sociais.

Então, ela é uma parceria da Seu Cruz, com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, com a Câmara Federal, com o Movimento Nacional de População e Situação de Rua, com a PUC do Paraná e com a Clínica Luz Gama da USP, uma clínica do direito da Universidade de São Paulo, que a gente construiu esse projeto a muitas mãos desde 2023. Pode passar. Eu vou me aproximar porque a visão também está ficando cada vez pior.

Aqui é o modelo lógico do funcionamento. Então, o que a gente chama de colaboratório é um grande conglomerado que tem na gestão, no nosso colegiado gestor, no fórum consultivo, a participação dos movimentos nacionais. Então, estava Nilson e Rosângela, representando o Movimento Nacional de População e Situação de Rua.

Estou eu e Kelsey, representando a Seu Cruz, e Kelsey representando o Congresso Nacional, porque é um projeto que se inicia a partir de um pedido do levantamento dos movimentos sociais junto ao Congresso. Além desse fórum consultivo que está aqui representado no meio, nós temos um conjunto de, o que a gente chama de polos descentralizados, que são equipes que funcionam em 14 cidades, vou já falar delas, e que nós temos inclusive um monte de representantes aqui. Estou só para não perder ninguém.

Sheila, de São Paulo, a Ana, de Pernambuco, estava por ali, talvez tenha saído. Estava o Adriano, de Maceió, a Veridiana, de Porto Alegre, Stephanie, uma IP daqui do DF. Então, são 15 equipes, são trios formados por uma pessoa que está na coordenação, uma pessoa que a gente chama de nível técnico, e uma pessoa com trajetória de rua.

Isso para nós é fundamental. Então, cada equipe dessas que está nessas 14 cidades é um trio formado por pessoas que têm trajetória de rua, apoiado por uma equipe que a gente chamaria de técnica para constituir fundamentalmente apoio institucional. Então, são equipes que estão em cada uma dessas capitais, são 14 capitais, já vou falar delas daqui a pouquinho, fortalecendo em especial a qualificação das equipes SUS e SUAS.

A gente tem o que a gente chama de agenda mínima, que essas equipes cumprem mentalmente, que são atividades com SUS, com SUAS, com órgãos de garantia de direitos, Ministério Público, Defensoria Pública, conselhos tutelares, e uma agenda junto às atividades parlamentares, que a gente chama de incidência política. Também já vou mostrar os números dessas equipes. Então, nós estamos 14 dessas equipes espalhadas pelo Brasil.

Além disso, dentro, tudo o que a gente chama de colaboratório. Nós temos a Escola Nacional Pop Rua, que é uma escola, se os polos descentralizados são equipes que atuam com trabalhadores, gestores do SUS, SUAS e políticas de defesa de direitos humanos, a escola tem como público a própria população de situação de rua e os movimentos sociais. A coordenadora, a nossa coordenadora é a Estela, que agora está como mestre da cerimônia também, dividindo as funções.

Cleideson estava aqui também, talvez tenha ido almoçar. Então, a gente tem a Gilberto, também é da escola. Quem mais que eu não estou vendo, eu estou esquecendo.

Enfim, temos a escola. A escola é uma escola itinerante. Já completamos as 14, não é?

Então, já fomos às 14 capitais, 14 cidades que têm polo descentralizado, receberam um conjunto de atividades. Então, a escola viaja pelo Brasil, ela faz uma atividade por mês, já há mais ou menos uns 6 meses, uma atividade no DF e uma atividade em cada uma dessas cidades com polo para formação de quadro político. Então, em cada cidade, cada uma dessas 14 cidades, e vamos expandir isso, obviamente, a escola escuta o polo, que escuta a população que está em situação de rua, para fazer formações absolutamente singularizadas a partir da demanda de cada cidade.

Então, em cada cidade, a população é escutada e aí são construídas formações de diversos modos, de diversos motivos, de diversos temas. Também vou especificar um pouco mais disso mais à frente. E, além disso, nós temos o nosso centro nervoso de informações, que é o grupo de pesquisa, que é quem centraliza toda essa informação e faz disso informação sistematizada.

Pode passar, por favor, Mirna. Já falei disso, pode avançar. Obrigado.

Então, aqui, por região, nós temos polo em Manaus, Belém, Salvador, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió. Aqui, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis. São as 14 cidades que nós temos.

Essas equipes que eu descrevi foram três pessoas que estão fazendo articulação intersetorial em especial. Também vou entrar na especificidade de o que isso significa na concretude. E as 14 cidades já foram visitadas pela Escola Nacional Pop Rua, ofertando atividades de formação, qualificação técnico-política para a população em situação de rua.

Pode avançar. Aqui eu vou trazer alguns dados compilados pela Flávia, que estava aqui também, que é da nossa assessoria. Ontem ela copilou tudo.

E aqui eu vou dar números gerais. Então, como eu falei, a agenda do colaboratório se fortalece fundamentalmente no que a gente chama de ações junto aos SUS e SUAS. São atividades de incidência política ou acadêmica, formação e visita ao serviço.

Então, ao longo, entre março de 23 e setembro de 25, foram, ao todo, 920 atividades realizadas por essas equipes. Pode avançar mais uma, por favor. Pegando também o ano inteiro, dividindo entre atividades dos polos descentralizados e da escola.

Então, já passaram por atividade de qualquer uma dessas 14 equipes ou da escola. 30.131 pessoas. Foram qualificadas.

Passaram por alguma atividade, seja de mobilização SUS, SUA, incidência política. Desse número total, 3.931 pessoas foram pessoas em situação de rua. Mais perto ainda?

Pronto. Volta só mais uma, só para eu olhar para o percentual. Obrigado.

13,5% da população que, em alguma situação, passou por alguma atividade do colaboratório, são pessoas em situação de rua. Mais uma, por favor. Um dos produtos dessa trajetória, para além das atividades de formação, que é o nosso grande mote, foram alguns cadernos que a gente está lançando agora.

O primeiro que eu quero destacar é um produto de uma parceria do colaboratório, em especial do Stefano, por favor. Eu sei que você está filmando, mas só Stefano e Maitê ali para levantar a mão. Guilherme não está aqui, ?

Aquela dupla ali, mais o Guilherme, que é o outro colega. A dupla levanta a mão mais uma vez, por favor. Aquela dupla ali, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do ODS, e com a Secretaria de Saúde, construiu um guia intersetorial.

Uma coisa com tema ontem. Como é que a gente constrói ações objetivas para pensar estratégias de junção entre os equipamentos e os serviços do SUS e do SUS? O que eles fizeram?

Construíram uma metodologia em parceria com a Secretaria do Distrito Federal, seis oficinas juntando todo mundo. População em situação de rua, gestor de CAP, gestor de consultório na rua, gestor de abrigo, serviço de abordagem social, juntou todo mundo aqui na Seu Cruz e em outros lugares, quando não tinha sala, aqui demora para ter sala, juntou todo mundo para construir os fluxos, construir fluxos, estratégias de junção e produção de material que aponta como trabalhar junto, SUS e SUAS. Pode mais uma, por favor.

Disso resultaram esses materiais. Aqui eu estou apresentando o resumo, ? O material completo vai ter quase 170 páginas.

Nós fizemos um resumo também onde a gente mostra o desenho pronto de qual é o fluxo para, aí tem vários, eu não coloquei todos, usuários de álcool e outras drogas. Mais uma, por favor. Integração SUS e saúde mental, e aí é passo a passo, ?

Tem agitação psicomotora, não tem agitação psicomotora, é usuário em que condição, vai para onde, quem atende primeiro, pode mais uma, por favor. Mulher gestante, acolhimento institucional, é gestante, quem atende primeiro, quem atende segundo, qual é a função do consultório na rua, qual é a função do abrigo, quem se responsabiliza por quê? Mais uma, por favor.

Criança, adolescente, pessoas em contexto de violência, mais uma. Acho que tem idoso, são 11 situações, ? E esse documento vai virar, na sequência, agora, um conjunto de atividades de supervisão clínico-institucional.

O que a equipe vai fazer? Vai pegar casos objetivos, criança, adolescente, gestante e todos os outros que estão escrito ali, e vai pegar o caso, vai juntar, todo mundo pode discutir o caso e estressar a ferramenta. O que significa isso?

O fluxo proposto da conta do caso concreto. Então isso vai acontecer em ações, provavelmente, bimestrais. Aqui o logo da escola.

Esse é um outro documento que a gente também entrega, se tudo der certo, até o final do ano. Já tem SBN com tudo. Não é isso, Flávio?

Vai estar tudo lá. A gente vai conseguir diagramar tudo no meio da loucurada toda que a gente faz. E é o caderno metodológico da escola.

Então, cada uma dessas 14 viagens que a escola fez foi gerando um conjunto de atividades. Acho que vai dar tempo. Vou honrar o tempo.

Foi gerando um conjunto de oficinas e de metodologias que foi usado, mais de uma, claro, em cada uma dessas oficinas. Nós fizemos, a partir disso, nós, efetivamente, a equipe coordenada pela Estela, um caderno metodológico que apresenta qual foi a estratégia metodológica, qual era o seu objetivo, inclusive o contexto político daquilo que está descrito na literatura para a metodologia, o que foi usado e o que não coube, porque na estrutura política de qualquer uma dessas 14 cidades que aconteceu, foi inviável o que funcionou e o que não funcionou.

Pode passar mais uma, por favor. Aqui é o sumário, pode mais uma. Aqui é a forma, só como a escola constrói, mas eu já resumi.

A gente tem uma agenda que é semestral, então os folos já sabem seis meses antes aonde vai acontecer a oficina. As oficinas são feitas em geral em dois dias, de dois a três dias. São quatro atividades, duas num dia e duas num outro.

Então tem oficina com a pessoa que está efetivamente na situação de rua, tem oficina feita com os movimentos sociais que representam a população de rua e oficinas feitas com movimentos que atuam com a população em situação de rua. Pode ir mais uma. Aqui, ontem eu estava brincando com o Cleide para a gente ser reconhecido nas fotos, porque a foto passou pela inteligência artificial.

E aí aqui, a oficina, por exemplo, sobre a análise de conjuntura, uma outra sobre conselhos participativos. E aí vai lá. O objetivo...

Não, pode voltar, pode voltar mais uma. Obrigado. Então é, objetivo, método, referencial, teórico, metodológico, para que isso possa ser de fato, como está proposto pelo nome do material, um caderno metodológico, que qualquer equipe que queira trabalhar com a lógica de gestão participativa, de atuar junto aos movimentos sociais, possa utilizar esse acúmulo, uma atividade pública, para poder efetivar estratégias de construção participativa.

Pode avançar mais uma. Para fechar, agora, de fato, dentro dos meus cinco minutos, o grupo de pesquisa fez um trabalho que foi de juntar uma atividade que foi mapear junto a essas quatorze cidades, mais instrumentos, ouvindo as próprias equipes e a escola, juntou no material, que é um relatório que a gente fez para o ano passado, juntando em especial para esses cinco estes temáticos. São cinco estes temáticos que a gente definiu, coletivamente, no colaboratório, para serem os temas de estudo do grupo de estudo, pelo menos ao longo de 25, e provavelmente vai tratar também ao longo de 26.

Redução de danos, participação social, habitação, zeladoria pública e intersetorialidade. Eu não vou, para respeitar meu tempo, não vou ressaltar todos os pontos. Logo o relatório vai ser divulgado na sua íntegra, e aí nós vamos disponibilizar para todo mundo.

Mas pode avançar mais um. Então, só para a questão da redução, eu vou pegando alguns pontos, não vou me deter fortemente, e a apresentação também fica disponibilizada para todo mundo que deixou e-mail e que se cadastrou, vai a essa apresentação para que todo mundo tenha conhecimento do material. Alguns pontos que chamaram a atenção em relação à questão da redução de danos.

Insisto, isso é informado por LAI, então foi pedido informação à prefeitura das 14 cidades, Secretaria de Habitação, Saúde, Assistência ao Desenvolvimento Social, mais a escuta das equipes dos polos, mais a escuta da equipe da escola. Então, alguns pontos só para ir destacando. Todas as 14 cidades que têm polo, todas aquelas 14 que eu citei, têm alguma política relacionada à questão de alfidrodas e funcionam de uma certa maneira orientada pelo referencial teórico das políticas públicas e inclusive as de saúde mental.

Porém, nem todas funcionam na lógica do que a gente chamaria de redução de danos. Um outro ponto importante também, demarcado por essa avaliação, essa história de redução de danos, assim como a história da habitação, trabalhada pela colega, ainda é algo um pouco difuso. O que é mesmo o que a gente está falando.

Então, redução de danos pode virar distribuição, igual a gente faz no Corne Damião, distribuição de preservativo, onde aquilo não é uma mediação, não funciona como absolutamente nada, é só que eu distribuo coisas até uma estratégia de fato de uma mediação relacional, onde há um trabalho sendo construído ali. Então, nas 14 cidades, a lógica da redução de danos ainda é difusa. Nós temos experiências e eu não vou me deter muito mais sobre isso, não.

Pode avançar um pouquinho. Mais uma, por favor. Uma outra coisa que eu acho que é importante demarcar.

Quase todas as cidades, quase todas as cidades, e aí eu vou destacar, vou destacar uma, pegar o polo do Rio de Janeiro, que o polo do Rio de Janeiro está apoiando, inclusive apresentado pelo UGO, o programa Seguir em Frente, na formação dos trabalhadores e trabalhadoras sobre o tema da redução de danos. Então, o trio do Rio de Janeiro está fazendo essa formação, tamanha a distância entre essas diferentes compreensões do que é o tema da redução de danos. Para respeitar meu tempo, eu vou encerrar por aqui, para a gente poder ouvir os falérios.

Muito obrigado. Aplausos.

[Intervenant 12]
Agora, com a palavra de finalização, encerramento da mesa, professora Mirna Teixeira, do coletivo Trilhas de Cuidados nas Ruas, professora da INSP.

[Intervenant 8]
Bom, gente, boa tarde, bom dia. Espero um pouquinho que vocês aguentem a fome, que já está quase servido o almoço, mas que a gente possa, aí está, na verdade, divulgando esse catálogo. Vamos fazer minha autodescrição.

Eu sou uma mulher branca, de pele morena, da minha ancestralidade indígena, tenho 60 cabelos longos, estou vestindo uma roupa preta e um casaco bege. A gente vai estar falando das experiências do catálogo. Enquanto coloca a apresentação, a Ravena pediu uma frase, então vou passar para ela, enquanto coloca a apresentação aqui.

[Intervenant 1]
É só uma coisa importante que eu não disse. Eu falei o tempo inteiro que a gente encerrou o Projeto Piloto em março de 2025, mas a gente segue executando 40 casas no Moradia Assistida. Então, quem quiser, visite em Salvador, vão lá ouvir dos nossos usuários o que é o projeto, a gente está à disposição.

[Intervenant 8]
E só comentando que Ravena, o Projeto Moradia Assistida e o colaboratório estão presentes no nosso catálogo, nossa primeira versão. Vou dar dois avisos importantes. Todos os vídeos foram apresentados, vários vídeos, durante várias apresentações ontem e hoje.

Então, a gente pede, por favor, que vocês possam mandar para o nosso e-mail do Trilho de Cuidados na Rua, para que a gente possa estar divulgando no nosso site, que será lançado hoje no final do dia. E também a todas as pessoas que participaram, apresentaram trabalho científico hoje nas rodas de conversa, que entrem em contato conosco por e-mail, porque nós vamos estar formando uma rede colaborativa intersetorial de pesquisadores sobre população e situação de rua. Já estão presentes nessa rede.

Fiocruz, USP, IPEA e CPDOC, Cidades Saudáveis, do Centro Colaborador da OPAS da Faculdade de Saúde Pública da USP. Tá bom? Então, quem tiver interesse em se juntar a essa rede colaborativa, é só entrar em contato conosco.

Bom, então pode passar, por favor, Marcelo? Então, a ideia justamente da gente estar lançando esse catálogo, e a Ravena estava falando comigo, Mirna não conhecia o colaboratório, ? Então, assim, justamente que a gente possa fazer essa difusão de várias experiências que vêm acontecendo em âmbito nacional desse cuidado população e situação de rua.

Então, a ideia desse catálogo foi justamente a gente fazer essa troca de experiências. Pode passar, Marcelo, por favor? Então, o objetivo é conhecer, sistematizar, dar visibilidade dessas experiências que a gente chama iniciativas, projetos, práticas de cuidado intersetoriais, ?

Então, de todos os campos, tem moradia, tem geração de renda, saúde, proteção social, com o propósito de subsidiar o fortalecimento dessas redes de cuidado e nos embasar para a gente formular políticas públicas e equitativas. ? Pode passar, por favor.

Como é que a gente fez inicialmente? A gente fez uma metodologia de informantes chaves, ? Então, a gente já conhecia alguns atores que vinham desenvolvendo experiências, e aí a gente foi entrando em contato com essas pessoas e foi igual aquele snowball, ?

Bola de neve. Um vai indicando o outro. Ah, eu conheço uma pessoa que faz experiência em outro local.

E aí a gente foi passando, , por meio de um formulário eletrônico do Google Forms, um formulário para que a gente fosse coletando as informações. Só lembrando que esse catálogo foi feito a muitas mãos. Agradeço imensamente a Alice, a Júlia e a todo o coletivo do Vilas de Cuidados que nos ajudou a estar organizando esse material.

Então, a gente enviou esse texto pelas redes sociais, WhatsApp, e as pessoas foram entrando em contato, tirando as dúvidas, e a gente foi montando esse catálogo.

[Intervenant 10]
Pode passar, por favor. E aí, claro que para a gente ter alguns critérios de seleção,

[Intervenant 8]
de entrada das experiências nesse catálogo, a gente colocou alguns critérios, como, por exemplo, atende as necessidades básicas, se promove a inclusão social, se utiliza abordagens inovadoras, se envolve a comunidade, se tem sustentabilidade e impacto a longo prazo, se tem essa visão da geração de autonomia, e principalmente se está baseado no paradigma de cuidado de baixa exigência. Porque a gente também quer estar divulgando as experiências a partir de certos valores. Então, a gente, a partir desses valores, a gente fez seleção das experiências que a gente recebeu pelo Google Forms.

Esse catálogo é um sumo muito importante, porque ele vai ser um espaço virtual desse coletivo, Tríades e Cuidados nas Ruas, ele vai estar disponível no nosso site, para download, gratuito, aberto, e justamente ele visa ter esse espaço dinâmico e interativo sobre o tema. Além disso, as histórias e dados, eles são fundamentais para a gente pensar materiais temáticos, para a gente poder organizar temáticas, seminários, para a gente conhecer o que está sendo realizado em âmbito nacional. E, a partir disso, pensar vários produtos que a gente pode estar fazendo.

E aí, como eu falei, sistematizar e apresentar experiências, inspirar e incentivar a replicação de práticas de cuidado, a gente observa, a gente tem muita coisa boa sendo realizada, e a gente não conhece. Então, o objetivo é que a gente possa fazer esse compartilhamento mesmo dessas práticas que a gente possa replicar, por exemplo, moradia assistida de Salvador para outros locais e assim por diante. Fortalecer essa rede de cuidado, por isso que a gente está convidando a todos que trabalham, que atuam com população de rua, que venham se juntar à nossa rede colaborativa e subsidiar a formulação em políticas públicas.

Como sessões do catálogo, a gente dividiu em sessão saúde integral, proteção social, educação e qualificação, moradia e intersetorialidade de redes. Isso foi uma divisão didática, gente, porque a maioria das experiências elas estão relacionadas a vários eixos, elas têm essa capilaridade, então é uma divisão didática, que inclusive pode ser modificada a partir de novas experiências sendo incorporadas. E a gente, o que a gente fez?

A gente fez um componente porque é claro que é autoral de cada experiência. Só que a gente fez, a partir de cada experiência vocês vão ver que a gente fez um item chamado Refletindo sobre a Experiência e aí o nosso coletivo aqui fez no qual a gente faz uma análise de cada experiência identificando aquilo que tem de mais importante, digamos assim, inovador de cada uma. Então é o único texto do catálogo que é autoral do trilho de cuidado, o resto são autoria das experiências de cuidado, tá bom?

Então, na sessão Saúde Integral você encontra ações e serviços de saúde desde as equipes de consultório na rua, iniciativas de prevenção promoção e reabilitação ofertado no nosso SUS. Ele destaca a importância também da saúde mental, do apoio psicossocial, das estratégias de redução de danos a partir dessas experiências. A sessão de proteção social ela aborda os serviços de assistência social CRAs e CREAs, além de programas de transferência de renda, a sessão Educação e Qualificação tem um foco no conhecimento nas oportunidades que estão sendo feitas, na alfabetização, escolarização, cursos de qualificação que estão sendo ofertados, a sessão Moradia, assim como a Moradia Assistida, ela aborda programas que estão trabalhando com isso, aluguel social, moradia social, residências terapêuticas, afinal ter um teto é o primeiro passo para reconstruir a vida, como diz o Housing First, e a sessão Intersetorialidade de Redes, que mostra que tudo se conecta. Então aqui estamos reunindo projetos de diferentes áreas, de intergeração de renda, participação social, e também dizer que o catálogo ele coletou informações, tanto de serviços públicos, quanto da organização civil.

Então ele é composto pelos dois setores. E aí como é que ficou o formato já finalizando? Então a gente tem o título da experiência, a localização, município, estado e a região, a instituição responsável, o público alvo, se é criança, se é adulto, idoso, enfim, o objetivo específico daquela, as atividades centrais envolvidas por cada experiência, os resultados alcançados de cada experiência, claro, os desafios e lições aprendidas, porque tudo tem desafios, nada é fácil, mas é importante que a gente conheça também como é que aquela experiência superou aqueles desafios, e quais são as lições aprendidas daquela experiência, e, como eu já falei, o item refletindo sobre a experiência, que a gente faz essa análise sistemática de cada uma.

O contato, que é fundamental para que a gente possa estar entrando em contato com a experiência que a gente se identifica, que a gente quer conversar, que a gente quer replicar, e recursos virtuais, a gente pediu link de vídeos, fotos das experiências também. Então, no momento, esse primeiro catálogo, a gente tem 22 experiências, seis na saúde integral, duas na proteção social, duas na qualificação, na educação em qualificação, quatro na moradia de habilitação, uma delas é moradia assistida em Salvador, e oito na intersetorialidade de redes, um deles é o colaboratório. Aqui, só o formato da experiência, então você vai ter a foto, o título, o tema, que está centrado naquela experiência, e aqueles itens conforme eu já coloquei de cada experiência.

Esse é o formato. É um formato digital, ele pode ser impresso, a gente no momento não imprimiu, mas ele pode ser impresso, adaptando-se às necessidades. Então, vai ter uma versão online, a gente vai estar divulgando também nas nossas redes sociais, e também colocando, porque hoje em dia todo mundo tem Instagram, então é uma ferramenta de comunicação importante, já que a gente está falando de redes, Facebook ninguém usa mais, amigos, só Instagram.

E eventos e seminários também, que a gente pode estar compartilhando esse catálogo. Então, aqui fica o nosso convite, essa é a primeira versão do catálogo, esse catálogo ele continua, ele está em aberto, então foram apresentados, gente, 37 trabalhos hoje nas rodas de conversa, super interessante. Então, se você ainda não faz parte desse catálogo, se você se identificou e quer divulgar a sua experiência, por favor, preencha utilizando o QR Code, que está disponível aqui, para que você possa estar sendo apresentado na nossa próxima versão do catálogo, que se Deus quiser vai ser em breve, para a gente fazer parte dessa rede colaborativa e cada vez mais a gente fortalecer esse tema junto, em todos os setores, saúde, educação, vamos ter uma mesa incrível agora da Justiça tarde, então a gente, como diz o poeta Raul Seixas, um sonho que se sonha só apenas um sonho, mas um sonho que se sonha junto se torna realidade. Obrigada.

[Intervenant 12]
Nós agradecemos a participação dessa mesa, agora nós iremos para o almoço, como o tempo está muito corrido, eu espero que durante o almoço vocês também possam questionar, conversar, partilhar as experiências com quem está aqui apresentando os trabalhos, está certo? Nós voltamos daqui meia hora, em ponto, então está bem corrido, mas vai dar certo.


Bloco 1 — O papel da Justiça

Mediação: Igor Rodrigues (sociólogo e advogado)
Participantes:

  • Luciana Ortiz – juíza federal (SP), coordenadora nacional do Comitê PopRuaJud / CNJ

  • Raquel Crispino – juíza do TJ-RJ, Comitê Estadual e Nacional PopRuaJud

  • Giovana Melo – promotora de justiça (MP-CE, Fortaleza), especialista em moradia

1. Introdução – Igor Rodrigues

  • O Judiciário é a última trincheira da cidadania, acionado apenas depois de falhas sucessivas do Executivo, das políticas públicas e até da própria academia.

  • Criticou o “sebastianismo” do Judiciário, como se fosse a instância redentora que resolverá sozinha um problema estrutural.

  • Lembrou que a ADPF do Estado de Coisas Inconstitucional sobre a população em situação de rua chegou tardiamente (Brasil 2023; Colômbia 2007).

  • Enfatizou que a situação de rua revela a falência do capitalismo contemporâneo, que perdeu a capacidade de integrar pessoas pela cidadania e pelo trabalho.

  • Denunciou o uso de explicações superficiais (“fenômeno multicausal”) que diluem a responsabilidade estrutural e ocultam a raiz do problema: a lógica do descarte humano.

2. Luciana Ortiz – CNJ / PopRuaJud

  • Apresentou as barreiras reais de acesso à Justiça: exigência de comprovante de endereço, ausência de documentos, digitalização total do Judiciário e exclusão digital; além de obstáculos absurdos como impedir a entrada de pessoas por estarem de chinelo ou bermuda.

  • Descreveu a Política Nacional PopRuaJud (Resolução CNJ nº 425): construída com base em oficinas, mutirões e escuta das pessoas em situação de rua, com forte articulação interinstitucional.

  • Estrutura nacional: Comitê Nacional, Estaduais e Locais, hoje presentes em 100% dos tribunais.

  • Objetivo: desjudicializar e prevenir litígios, atuando antes do processo por meio de redes estruturantes e protocolos conjuntos.

  • Destacou ações concretas:

    • Protocolos para egressos do sistema prisional (moradia temporária e empregabilidade).

    • Enfrentamento da violência institucional, em especial a retirada de bebês de mães em situação de rua.

    • Mutirões obrigatórios (no mínimo dois por tribunal/ano) para emissão completa de documentos e concessão de benefícios no mesmo dia.

    • Desenvolvimento de uma plataforma digital nacional (em parceria com UFAL e Justiça Federal de Alagoas) para emissão rápida de documentos civis.

  • Encerrou citando Amartya Sen: é preciso agir sobre as “injustiças manifestamente remediáveis” com união e corresponsabilidade.

3. Giovana Melo – Ministério Público (Fortaleza)

  • A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos.

  • Expôs o caso de pessoas com tuberculose que recusavam tratamento por falta de condições de se recuperar nas ruas.

  • Criticou a periferização das moradias e defendeu o uso dos Imóveis da União para garantir moradias centrais, próximas das redes de apoio.

  • Recomendou não desligar imediatamente beneficiários dos serviços (Centro POP, restaurante popular etc.) quando recebem aluguel social, pois ainda estão em fase de superação da rua.

  • Citou a ADPF 828, que impõe remoções humanizadas, com planejamento e participação social.

  • Destacou a ausência de dados censitários sobre a população em situação de rua, o que leva a políticas sem base empírica.

  • Lembrou a Recomendação 60 do CNMP, que exige fiscalização periódica dos equipamentos voltados à PopRua — onde se observam idosos vivendo em locais inadequados.

  • Sobre a pandemia: apontou o abandono e estigmatização das pessoas em situação de rua, tratadas como vetores de doença, e reafirmou o direito à água e à higiene como essenciais.

4. Raquel Crispino – TJ-RJ / Comitês PopRuaJud e Sub-registro

  • Relatou 20 anos de trabalho com erradicação do sub-registro civil (projeto do “ônibus da Justiça” na Praça 11).

  • Explicou a cadeia documental: cada documento depende do anterior; sem tutoria social, a pessoa fica presa numa engrenagem burocrática.

  • Destacou a Carteira de Identidade Nacional (CIN) como avanço integrador (CPF automático, integração com saúde e cartórios).

  • Reafirmou que o registro civil é um direito humano em si, por garantir nome, filiação, origem e data de nascimento — elementos da própria identidade humana.

  • Tratou também dos registros de óbito e desaparecimento, destacando a Resolução CNJ nº 634/2025, que torna o atendimento às famílias mais humanizado.

  • Denunciou a situação das pessoas presas sem qualquer documento (mais de 2 mil no RJ).

  • Enfatizou a necessidade de ampliar a emissão de CINs e garantir biometria pública para acesso a benefícios previdenciários.


Bloco 2 — Ferramentas, Cooperação e Encerramento

5. Jorge Fernandes – TRT-RJ / Manual de Atendimento à PopRua

  • A Resolução 425 foi um divisor de águas no Judiciário Trabalhista.

  • Defendeu que quem aprende a atender bem a PopRua passa a atender melhor toda a sociedade.

  • Relatou que o trabalho com essa pauta quebrou os silos entre tribunais (TRT, TRF, INSS, Caixa etc.).

  • Apresentou o Manual de Atendimento à População em Situação de Rua, construído de forma coletiva:

    • Ilustrações feitas por pessoas em situação de rua (projeto People’s Palace Projects, de Londres).

    • Colaboração da Faculdade de Arquitetura da UFRJ na cartografia da movimentação da PopRua.

    • Conteúdo de linguagem acessível, mas tecnicamente sólido.

  • Exemplo prático: muitas pessoas não conseguiam receber o BPC porque a carteira de trabalho digital permanecia “em aberto”; o juiz do trabalho pode dar baixa de ofício, desbloqueando o benefício imediatamente.

6. Filipe Leite – Banco Mundial

  • Explicou que a PopRua não é tratada como categoria isolada, mas dentro da proteção social ampliada para pobres e vulneráveis.

  • Objetivo: atuar tanto na prevenção quanto na resposta.

  • Enfatizou a necessidade de serviços públicos funcionais, integrados e homogêneos, com atendimento humano e digno — não se pode negar assistência porque a pessoa não tem documento ou endereço.

  • Defendeu o modelo de “case management” (gestão de caso): cada atendimento deve identificar múltiplas demandas (saúde, educação, emprego, documentação, moradia) e encaminhar intersetorialmente.

  • O Banco Mundial trabalha em parceria com governos locais, estaduais e federal, buscando aprender com boas experiências e replicar soluções eficazes.

7. CIAMP e Encerramento

  • A mesa final destacou a coordenação intersistêmica entre Judiciário, Executivo, Defensorias, Ministérios Públicos e movimentos sociais.

  • Enfatizou-se a necessidade de harmonizar protocolos e fortalecer as redes territoriais permanentes, integrando os avanços da Resolução 425, da ADPF e das experiências de mutirões.


Convergências e Pontos-chave

  1. Reconhecimento do “estado de coisas inconstitucional” → o desafio agora é a execução prática dos direitos.

  2. Acesso real à Justiça: eliminar barreiras documentais, materiais e digitais.

  3. Documentação civil (CRVS e CIN) como porta de entrada de todos os direitos.

  4. Moradia central e assistida: fundamental para a autonomia e a dignidade.

  5. Prevenção das violências institucionais e apoio às mulheres e famílias.

  6. Proteção social integrada com gestão de caso e atendimento humanizado.

  7. Trabalho em rede permanente, com ações intersetoriais e resultados mensuráveis.

  8. Mudança cultural no Judiciário e nas instituições: da burocracia para a empatia e a colaboração.


Propostas e Caminhos Comuns

  • Consolidar e divulgar os comitês PopRuaJud em todos os estados como canais de denúncia e articulação.

  • Manter mutirões regulares com metas de documentação (CIN, CPF) e eixos prioritários (egressos, mulheres, migrantes, idosos).

  • Implementar protocolos interinstitucionais para egressos, adolescentes, famílias e pessoas desaparecidas.

  • Estabelecer padrões mínimos de acolhimento digno, inclusive em situações de ausência documental.

  • Garantir a fiscalização periódica dos serviços (CNMP) e criar painéis de acompanhamento público.

  • Utilizar imóveis públicos centrais (Imóveis da União) para moradias assistidas, com manutenção dos benefícios durante a fase de superação.

  • Reforçar a formação e sensibilização de magistrados, promotores, defensores e servidores públicos sobre o tema.

[Intervenant 14]
Que todos tomem seus assentos, para que podamos iniciar a retomada do nosso Seminário Internacional Pop Rua.

[Intervenant 17]
Dando início ao nosso painel do dia, o papel da justiça na atuação da população em situação de rua, convidamos ao palco Luciana Ortiz, juíza federal do Estado de São Paulo, juiz auxiliar da presidência do CNJ e coordenadora do Comitê Pop Rua Juiz Nacional do CNJ. Uma salva de palmas. Convidamos também Raquel Crispino, juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro do Comitê Pop Rua Juiz Nacional do CNJ e estadual.

[Intervenant 14]
Convidamos Giovana Melo, do Conselho Nacional do Ministério Público.

[Intervenant 17]
Convidamos também Igor Rodrigues, advogado doutor em ciências sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de diversos livros sobre a situação de rua.

[Intervenant 14]
Peço que os convidados da mesa, antes de realizar sua fala, possam fazer uma autodescrição.

[Intervenant 17]
Informo que aqui temos a Dani, a nossa colega do tempo. Ela irá ajudar vocês a nortear sobre o tempo do debate.

[Intervenant 9]
Novamente agradeço a presença de todos. Eu me lembro dos meus direitos trabalhistas.

[Intervenant 14]
Eu precisei... Boa tarde a todos.

[Intervenant 7]
Eu me chamo Igor.

[Intervenant 14]
Eu me chamo Igor de Souza.

[Intervenant 7]
Primeiramente dizer da minha felicidade em estar neste evento com vocês e também da responsabilidade que é trazer algumas questões. Eu sou um homem branco, olhos verdes, statura 1,70, visto roupa preta, com uma camisa verde embaixo do paletó. Inicialmente eu gostaria já de fazer uma reflexão, cumprimentando aqui essa banca, que eu acho que traz uma reflexão importante sobre o sistema judiciário e qual é a contribuição que, afinal de contas, o judiciário pode dar nessa questão.

Bem, ao longo do tempo, quando a gente chega no judiciário, é uma questão que eu acho que ela é importante, é que nós já tivemos falhas de diversas outras instâncias, tanto do governo, quanto dos fazedores de políticas públicas, quanto até mesmo dos pensadores de políticas públicas. Então o judiciário, nessa última trincheira da cidadania e da dignidade, chega num momento de litigância quando ele precisa intervir. Então isso é uma questão, um dilema que se coloca dentro da questão da democracia, muito sensível, porque é justamente nesse momento de litigância e de falha que o judiciário coloca-se, sobretudo, em operação.

Então eu tenho colocado, não sei se existe de fato, depois abri para as colegas colocarem, mas um redentorismo do judiciário, um sebastianismo de que o judiciário vai, de fato, ser a última capitania para a gente resolver algo que não está resolvido no campo social. Então é um debate do caos. Todos vocês, a gente assistiu muita coisa até aqui, e todos marcaram isso.

Nós estamos no debate de um pântano que é colocado na democracia, algo caótico, um panorama extremamente ruim. Os dados só crescem, a população em situação de rua só aumenta, os investimentos, por outro lado, aumentam e não conseguem dar conta da complexidade do que o fenômeno necessita. Nós temos vivido um tempo também da crise de alternativas dos debates intelectuais, e aí eu quero fazer uma crítica e uma autocrítica também à academia, que a academia mostra o enguiço do debate público, as políticas que completamente são anódinas nesse respeito, uma política pródiga que coloca a situação de rua numa falta total, uma ausência total de direitos constitucionais.

E aí, nesse momento, veio a ADPF, que veio tardiamente. A ADPF, na Colômbia, veio em 2007. Nós estamos em 2023.

A ADPF chegou em 2023 no Brasil. Então, a ADPF foi celebrada, mas, ao mesmo tempo que foi celebrada, nós temos que lembrar o quanto foi tardio o debate do estado de coisas inconstitucional, que é isso que a ADPF levanta, desse estado de coisas inconstitucionais que acontece cotidianamente com o massacre que é feito à bancarrota da população em situação de rua. Todos os dias, essa população é massacrada por instâncias das mais diversas.

Então, se a gente pegar a Arendt, que fala como nós participamos dessa engrenagem como peça-chave desse show de horrores que está colocado no mundo, na democracia. Democracia, às vezes, me pareceu um nome muito sofisticado para nós pensarmos essa barbárie que nós estamos vivendo com a população em situação de rua. Não dá para chamar isso de democracia, de fato.

Então, a situação de rua, eu quero colocar também, dentro da teoria do resíduo que eu tenho colocado, para a gente abrir esse debate aqui sobre a justiça, que a situação de rua é o elemento mais importante para que nós compreendamos a crise do capitalismo atual. A população em situação de rua é talvez a fresta no sistema que eu tenho pensado ao longo desses anos para que nós entendamos o que é a ruptura, a questão dos resíduos do capital e da questão do fetiche da mercadoria. Porque no capitalismo, veja bem, só há valor aquilo que tem valor de troca.

O capitalismo só movimenta aquilo que ele legitima a partir do que tem valor de mercado, de troca, de gerar lucro. E a população em situação de rua, nos debates, mesmo se a gente pegar os debates lá, claro, o Marx não vai tocar nesse tema como população em situação de rua, mas o Lumpen. Então, a população em situação de rua é o que mostra essa fresta no sistema.

E entram vários termos enguiçados que nós temos. A população em situação de rua é um fenômeno multicausal. Eu tenho ouvido isso ao longo do tempo.

Claro, todo fenômeno social, desde Durkheim, quando nós estudamos na Ciência Social, nos tempos mais remotos, todo fenômeno social é multicausal, todo fenômeno jurídico é multicausal. Violência contra a mulher, multicausal. Não é isso?

A questão das habitações subnormais, formação de favelas, é um fenômeno multicausal. Então, lança-se uma cortina de fumaça como a população em situação de rua é multicausal, como se isso explicasse tudo. Mas, de fato, isso não explica nada.

É o que é colocado. E a situação de rua, é claro, sim, é um fenômeno multicausal. Mas a questão é que o essencial escapa às mãos.

E que nós não temos tocado na raiz do problema que, de fato, é como o capitalismo, a partir dos anos 80, como ele perde a capacidade de inserção via cidadania e trabalho de uma grande parte da população. O capitalismo está perdendo a capacidade de absorver as pessoas via cidadania. O que foi aquele lampejo mínimo do welfare state, do estado de bem-estar social, que é uma questão que eu acho que pode discutir isso aqui na mesa.

E que foi aquele lampejo mínimo, aquela faísca do estado de bem-estar social que todos nós aqui acreditamos de uma certa forma. Porque nós tentamos resgatar instituições que foram levadas à banca rota, no mundo moderno, e nós estamos aqui tentando resgatar esse estado de bem-estar social, que não sei se, de fato, no sul global se aplicou de alguma certa forma, mas que essas instituições, elas colocam o centro da discussão a esse. É como o capitalismo tem traçado a cidadania de alguns indivíduos.

E nós deixando em tocada essa raiz do problema, esse eixo que traz a articulação, ou seja, a situação de rua é um objeto jurídico da saúde, é um objeto também da psicologia, é um objeto das ciências sociais, da sociologia, da antropologia, etc. Mas, mais do que isso, desses objetos de disputa que nós temos colocado. Porque a maioria das instituições ou dos governos vê a população e a situação de rua como objeto de disputa político, ideológico, etc.

E, enquanto isso, nós estamos produzindo, produzindo tsunamis do descarte humano. O capitalismo tem produzido a cada dia algo que nenhum governo conseguiu ser bem sucedido, que é a produção do descarte humano. Então, nós temos assistido isso em São Paulo, nós temos assistido no Rio, nas grandes cidades, nas médias cidades do Brasil, e nas pequenas cidades.

Então, esse panorama é um panorama geral, esses retumbantes fracassos do Brasil, esses retumbantes fracassos do Brasil, a população e a situação de rua, é aquilo que coliga esses fracassos, é o objeto que coliga esses fracassos com a crise das alternativas do mundo, do mundo da cidadania e do mundo do capital. Esse é o desafio mais emblemático que hoje nós temos no debate público, os sujos, os feios e os malvados do capitalismo. É esse tipo de colocação, de eliminação que nós temos colocado.

Então, agora, eu vou abrir esse debate para as nossas operadoras aqui da justiça, para que elas coloquem esse papel da justiça diante dessa complexidade tão problemática que nós temos vivenciado no capitalismo. Então, eu gostaria de abrir. Posso começar por vocês?

Obrigado.

[Intervenant 1]
Boa tarde a todas as pessoas. É uma alegria imensa estar aqui neste evento. Eu sou uma mulher branca, baixinha, de cabelos pretos e curtos, uso um óculos grande, estou aqui com um blazer preto e uma roupa, uma saia e uma blusa mesclada de preto e branco.

Eu gostaria, inicialmente, de agradecer, em nome da Denise, esse convite honroso de estar aqui compondo esse seminário tão potente. Para mim, realmente, é muito especial estar aqui. E, como dizíamos ontem, reunidas lá no Conselho Nacional de Justiça, eu acredito que são os primeiros passos de um grande caminho junto com a Fiocruz, o que é uma alegria para o Conselho Nacional de Justiça, considerando que é uma instituição tão respeitada no nosso cenário nacional.

Cumprimento também os integrantes da mesa, o Igor, parabenizando pela fala inicial, a doutora Giovanna, com quem já tenho uma amizade e um trabalho conjunto, Giovanna, no Comitê Nacional Pop Rua Jude, e também a doutora Raquel, que está no Comitê Nacional Pop Rua Jude, uma amiga querida, estamos aí compartilhando grandes projetos. Vejo aqui queridos amigos e amigas, estamos juntos nessa batalha, no Comitê Nacional Pop Rua Jude, mas também na rede, vejo o Sueli, o Anderson Fugiu, e tantos outros, eu não vou nominá-los todos, porque pode ser que eu incida aí em um erro de realmente demonstrar como nós estamos fazendo um trabalho que é um trabalho em rede, colaborativo, horizontal, e estamos efetivamente construindo possibilidades dentro do Poder Judiciário. Igor, eu vou partir de uma posição que eu concordo tudo com você. Eu não vou me aprofundar nessa discussão de ausência de concessão de direitos num sistema que está falhando efetivamente, o Brasil falha, e falha de uma forma muito profunda, com uma desigualdade, uma das maiores do mundo, uma concentração de riqueza em 1% da população, de mais de 30% do nosso PIB.

Então, efetivamente, nós temos que nos debruçarmos nessas questões sociológicas, filosóficas, políticas e sistêmicas da nossa nação. Mas eu vou me centrar um pouco mais em trazer a perspectiva do Poder Judiciário. Embora eu vou trazer um pouco da nossa experiência, vocês vão perceber que nós estamos com um projeto bastante profundo e dedicado a essa pauta, mas existe na sociedade, na academia e também dentro do próprio Poder Judiciário um questionamento muito grande de qual é o papel e por que o Judiciário está fazendo um trabalho que deveria estar sendo feito pelo Poder Executivo e demais órgãos.

E aí é um debate profundo que nós fazemos, e eu sempre digo o seguinte, que nós vivemos, em relação a essa população e situação de rua, efetivamente, um estado incondicional de coisas. A Colômbia foi o primeiro país a utilizar essa expressão e, efetivamente, nós vivemos um estado incondicional de coisas, uma ausência absoluta de direitos para essa população. E não só isso, nós temos algumas questões, alguns marcos sociais e econômicos que têm empurrado essas pessoas para viverem em situação de rua, inclusive dentro do Poder Judiciário, como eu vou estar trazendo.

Então, vejam que, para a concessão de direitos, quando esses direitos são efetivamente negados, o Judiciário não pode fechar as suas portas, ele precisa se abrir e precisa ir a um encontro dessa população para garantir o acesso à justiça. Ocorre o seguinte, que o acesso à justiça não é fácil. O acesso à justiça depende de um comprovante de residência.

Então, você traz aspectos processuais que efetivamente impedem que pessoas que estão em situação de rua, que estão em busca do seu alimento diário, que estão com seus pertences, que eles se dirijam até os prédios públicos, onde a falta de identificação civil era um obstáculo e continua sendo muito grande para o acesso à justiça, mas também a exigência de documentação. Todos nós aqui que trabalhamos com essa realidade sabemos que quem está em situação de rua não tem local de guarda e de possibilidades de locomoção de prédios em prédios públicos para obter a documentação. As dificuldades de comunicação em relação aos seus direitos, à sua história de vida.

Então, muitas vezes, a gente quer saber onde você trabalhou, você tem direito ou não tem direito a um benefício previdenciário. Então, uma dificuldade grande desse entendimento e, atualmente, uma exclusão digital absoluta para quem está na rua. O judiciário hoje é 100% digital.

Nós temos alguns atendimentos presenciais a fim de garantir o acesso à justiça, mas nós temos uma dificuldade muito grande de acesso. E aí vejam como é que eu transpasso toda essa realidade de ausência de documentação civil, de ausência de documentação, de dificuldade de locomoção para assegurar o acesso à justiça. Eu recebo diariamente, ou digo uma vez por semana pelo menos, o pessoal me mandando vídeo, a pessoa na frente do fórum para comparecimento mensal de cumprimento de pena, e não deixam ela entrar, porque ela está de chinelo e bermuda.

Então, vejam que são barreiras inimagináveis. Então, vejam o que nós fizemos. Nós, em 2021, começo de 2021, eu já trabalhava com essa pauta desde 2011, um trabalho com a Defensoria Pública da União em São Paulo, que fazem um atendimento no Chá do Padre, e eu passei a identificar esses processos e dar toda atenção para que ele chegasse ao fim em 45 dias, com toda a instrução.

Então, eu fui convidada para fazer esse trabalho no Conselho Nacional de Justiça. Na época, o doutor Renan Sotomaior, que é uma liderança nessa pauta, ele era presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos e provocou o Conselho Nacional de Justiça dizendo, olha, uma ausência absoluta de direitos, o judiciário precisa se envolver com essa pauta. E eu passei a coordenar um grupo de trabalho, eu tenho todo um lado de inovação, de trabalho colaborativo, empático, e essa resolução foi construída em seis meses, com muitas oficinas, fomos na Praça da Céfala com as pessoas em situação de rua, com várias organizações sociais que já estavam à frente, movimentos sociais.

Então, trazendo de uma forma muito intensa todas as demandas, as dificuldades de acesso à cidadania e acesso à justiça. Então, a nossa resolução, inegavelmente, ela teve que trabalhar com medidas de cidadania, porque sem cidadania a gente não consegue garantir o acesso à justiça. E, fazendo um parênteses rápido, salvo para questões criminais.

Então, se for para criminalizar, a pessoa rapidamente já tem um processo contra si, mesmo estando sem documentação. Mas, no mais, a gente tem essa dificuldade. Então, nós passamos a trabalhar nesses eixos, medidas de cidadania, então, emissão de toda a documentação civil, que a doutora Raquel é especialista e vai falar sobre a questão, medidas dos nossos prédios, fluxos processuais permanentes, e também toda uma gestão de como a gente iria fazer esse trabalho todo dentro do judiciário, estabelecendo uma rede de governança.

E nós passamos a chamar carinhosamente essa política de Pop Rua Jude. Foi algo também escolhido por todo o grupo, nós sempre trabalhamos por meio de oficinas e trazendo esses princípios da nova governança pública. Então, nós trouxemos muito forte o trabalho em rede interinstitucional.

Todos os órgãos públicos de emissão, organizações sociais, movimento social, sempre conosco e nos dando parâmetros e uma luz para que a gente efetivamente pudesse atingir os obstáculos para acesso à justiça. Então, não um processo de empatia muito grande. Então, falava aqui da rede interinstitucional.

O que são as nossas redes interinstitucionais? Nós mapeamos em nível nacional quem eram esses parceiros e, a partir daí, formamos um comitê nacional, Pop Rua Jude. E ali todos nós nos reunimos e temos diversas ações para superar as dificuldades que nós elegemos todo começo de ano numa oficina interinstitucional como objetivos principais da nossa política.

E essa rede está sendo formada em todos os estados do país. Então, trazendo o governo do estado, prefeituras, órgãos estaduais e municipais, as organizações sociais. Então, formando uma rede forte de potencialidades institucionais.

Nós entendemos que a única forma de nós atendermos uma pessoa em situação de rua em sua completude, em sua integralidade, é quando nós nos juntamos e conseguimos emitir documentação e entregar os seus direitos. Essa é a nossa visão. Então, em todos os locais, nós orientamos a fazer esse mapeamento e a formar essa rede.

E nós entendemos como essencial o movimento social estar conosco. São pessoas que têm uma vivência forte de situação de rua e representam uma voz importante e indispensável para a gente pensar políticas judiciárias para as pessoas em situação de rua. Fizemos agora um curso de três dias de formação de formadores na nossa escola e estávamos ali juntos fazendo essa partida.

Então, isso é fundamental. Desde dezembro do ano passado, os tribunais foram obrigados a fazer um comitê único estadual. Então, temos aqui algumas pessoas que conhecem o nosso trabalho, o Jorge, que faz um trabalho incrível lá no Rio de Janeiro, onde esses comitês nós entendemos como indispensáveis para a governança.

Por quê? Porque não é uma ação, um mutirão, um fluxo que vai resolver o problema. É preciso uma atuação constante, coordenada e formada a partir dessas multivisões.

Então, nós formamos uma rede nacional. Os tribunais tiveram prazo para a implementação do comitê, esse prazo já se esgotou, então, hoje nós temos 100% de comitês com todos os segmentos de justiça. Nós entendemos isso também.

Não adianta a justiça estadual estar sozinha ou a federal. Todas as justiças precisam estar juntas. Então, nós modificamos a resolução e é uma resolução para nós dentro do judiciário, só para explicar.

O Conselho Nacional de Justiça faz toda a parte administrativa e fiscalizatória do Poder Judiciário. E o CNJ emite resoluções disciplinando as políticas judiciárias. Então, nós temos a 425, que é a que regula a política de atenção a pessoas em situação de rua.

E nós temos diversos níveis de comitês que formam essa rede e esse comitê nacional atua em demandas estruturantes. Então, nós nos conectamos com órgãos em nível nacional para a superação e construção de protocolos conjuntos de atuação para que a gente possa superar questões estruturantes em nível nacional. Então, nós, dentro do comitê, temos toda a sociedade civil conosco e nós fazemos essa atuação em nível nacional.

E temos os comitês locais. Os comitês locais vão fazer toda essa conexão nos seus estados, formando rede e fazendo as ações. E aí, a gente já falou da rede interinstitucional, que ela não se resume aos mutirões.

A gente tem os mutirões hoje sendo realizados. Eles são obrigatórios, mas elas não se resumem aos mutirões. Nós temos, efetivamente, um trabalho de mudança da nossa burocracia.

Nós não podemos mais trabalhar da forma que nós trabalhávamos. Cada um na sua caixa. Nós temos que trabalhar de forma conjunta.

Conjunta e superando as nossas burocracias. Para isso, é preciso diálogo entre nós. É preciso conexão.

É preciso superação de visões ultrapassadas. Nós temos que dar um passo à frente, efetivamente. Então, nós mapeamos os problemas pelo comitê e redefinimos os nossos modelos organizacionais de serviço e, inclusive, os nossos fluxos processuais.

Então, nós temos, como lá no TRF da terceira região, no Tribunal Regional Federal, um fluxo permanente que funciona desde 2011. Agora foi formalizado numa resolução também. E esse fluxo permanente prevê essa celeridade, essa desburocratização, essa humanização do atendimento que deve ser feito em rede.

Então, vejam que o judiciário não está construindo políticas públicas. Nós estamos nos juntando à rede interinstitucional que tem trabalhos em todos os estados para que juntos possamos, dentro de uma perspectiva de desjudicialização, ou seja, eu estou numa situação de litígio. Situação de litígio, de briga, de divergências de ponto de vista, de ausência de direitos, a rigor, o judiciário tem que atuar por meio da provocação do Ministério Público, das defensorias.

O que nós estamos fazendo? Olha, o litígio é muito grande, a ausência de direitos é muito grande. Vamos conversar antes do processo?

Vamos formar uma rede antes do processo para que a gente consiga, de forma estrutural, resolver essa ausência de direitos? Ver onde estão os pontos de dificuldade, nós temos que falar de forma concreta de mudança. Então, nós estamos fazendo isso e estamos fazendo procedimentos, protocolos, construídos dessa forma que eu estou falando.

Vocês sabiam que um grande número de pessoas em situação de rua são pessoas que acabaram de cumprir pena e acabam indo para as ruas por falta de alternativa? Como que o sistema criminal, passando por uma vara de execução penal, deixa que uma pessoa saia do sistema e não tenha nenhuma possibilidade de se reorganizar na vida? Então, nós estamos com um protocolo, com um projeto para que essas pessoas possam ter uma moradia temporária e empregabilidade para que ela não incorra nessa ida para as ruas com uma pena de multa às vezes altíssima, pendente.

Isso é problema do judiciário? Como não? Então, nós enxergamos dessa forma e estamos trabalhando profundamente nesse tema que é o tema do sistema criminal.

Temos outros protocolos, avançamos nas questões de medidas socioeducativas, nós também temos que cuidar, nesse processo de saída, para que as crianças tenham também uma excepcionalidade da intervenção judicial e uma colocação de possibilidades de construção de futuro. Também em relação aos imigrantes, as dificuldades são enormes, o meu tempo é muito curto, por isso estou dando só uma passada e pincelada, para que possam entender o nosso trabalho. Estamos atuando muito, porque chega muito forte para nós, no CNJ, a questão da violência institucional.

Então, nós fizemos uma consulta pública, temos agora esse relatório, com várias indicações de tomadas de providência, como que a violência institucional em relação às pessoas em situação de rua não é problema do judiciário, do sistema de justiça. É claro que é. Esse tem sido o nosso xodó, porque, olha, de todos os assuntos, esse é algo que me impactou profundamente, a retirada dos bebês, das mães em situação de rua, e isso chancelado por fluxos dentro do próprio Poder Judiciário, com a assistência social e todo o sistema de justiça, é algo que nós temos que enfrentar de forma muito séria, porque é um assunto da maior gravidade.

Esse protocolo mulheres em situação de rua, ele está lindo, foi um trabalho de fôlego, tivemos aqui a ajuda do PNUD, vale a pena vocês conhecerem. Faremos dia 29 aqui, um mutirão, Pop Rua Jude, específico para as mulheres, aqui na Casa da Mulher Brasileira, em Brasília. Temos feito, abordado questões de moradia e empregabilidade, mas Giovana certamente vai tocar no assunto, porque ela é especialista, então, trazendo forte a pauta da empregabilidade indo para o fim já, para não levar aqui mais uma chamada, mais uma placa, temos realizado em todos os estados da federação esses mutirões.

Esses mutirões servem para nos mostrar como nós podemos trabalhar de forma conjunta. São pessoas que estão chegando no mutirão sem documentação, sem documentação há tempos, porque não conseguem registro de nascimento, não conseguem identificação civil, e nós conseguimos, no mutirão, emitir toda a cadeia de documentos, acesso a benefício social, e se não for concedido pelo NSS na hora, já é proposta a ação, feito o laudo, e o juiz já concede ali no mesmo dia. Então, nós temos tido concessões de aposentadorias, de benefícios sociais, e muitas vezes até com atrasados, agora no Acre, sexta-feira, houve um caso de concessão de benefício assistencial com atrasado de 60 mil reais, e a gente estava com essa pessoa vivendo em situação de rua.

Então, os mutirões, eles ocorrem, pelo menos, cada tribunal tem que fazer dois por ano, e eles nos mostram, eu acho que é a principal, é o principal resultado desse mutirão, que nós podemos estar juntos. É uma aproximação muito grande e de concessão efetiva de direitos. E aqui, para terminar, a gente tem que trabalhar com demandas estruturantes.

Nós temos focado a nossa atuação nesse aspecto, essa daqui, nossa, um mosquito parou no meu dedo, vocês acreditam? E morreu, não sei o que tinha aqui no meu dedo. Aqui, um mosquito morto.

Sei lá, acho que estou meio perigosa, hein, gente? O coitado do mosquito. E aí, olha só, a gente está construindo, era um sonho antigo que eu tinha desde a pandemia, a gente começou a fazer um fluxo digital para emissão de documentos.

A Justiça Federal de Alagoas pegou esse projeto por meio de residência da Justiça Federal com a Universidade de Alagoas. Essa plataforma está sendo assinado um convênio no Conselho Nacional de Justiça para que, junto com a Corregedoria, Cartórios, a gente consiga, a partir do atendimento de uma pessoa em situação de rua sem documento, acionar essa plataforma e emitir rapidamente toda a documentação. Nós temos que sair dessa absoluta exclusão que a doutora Raquel vai trazer aqui das pessoas não conseguirem ser identificadas, porque a gente adota ainda um modelo praticamente imperial de emissão de certidão de nascimento.

Termino com a Martha Sen, eu adoro a Martha Sen, o economista Nobel da Economia. A Martha Sen, que ele fala uma frase assim, o que nos toca é que à nossa volta existem injustiças manifestamente remediáveis e que temos vontade de eliminar. Nós temos que estar juntos para que isso aconteça.

É uma situação remediável, depende de cada um de nós nas suas localidades nos unirmos nessa força para a superação dessa situação, sobretudo do ponto de vista de risco de situação de rua. Nós temos que fechar essa torneira, nós temos que reconhecer as nossas dificuldades, reconhecer os nossos pontos fortes de convergência para que a gente evite essa situação, como colocou tão bem o Igor, tão dramática desse fenômeno da população em situação de rua. Com minha gratidão, mais uma vez, pela oportunidade de trazer um pouco a experiência do Poder Judiciário, eu estou sempre de portas abertas para nós dialogarmos.

Obrigada.

[Intervenant 7]
Obrigado, Luciana. Luciana, só uma última pergunta. Quando as pessoas querem fazer denúncia do canal de comunicação do ProRuAjud, como que faz para fazer denúncias relacionadas a não estar nas instituições, alguma coisa do tipo?

[Intervenant 1]
Veja, nós temos os comitês locais, nos estados. É claro que uma denúncia, ela pressupõe uma violação de direitos e o que nós dizemos é assim, o judiciário ele é inerte. Em princípio, nós temos as defensorias, temos o Ministério Público para fins de judicialização.

Outra questão é dentro do comitê levar essas questões estruturantes e recorrentes para que a gente possa construir juntos, dialogar dentro do comitê para essa superação. Todos os tribunais têm comitê, é só colocar o nome do tribunal do seu estado e comitê ProRuAjud que você tem acesso ali ao comitê do seu estado.

[Intervenant 7]
Agradecer a Luciana, também agradecer aqui a nossa companheira amiga Denise, também a mãe da nossa vereadora Letícia, um grande abraço, está na China, não pôde estar presente, mas mandando um grande abraço. Bem, nós vamos continuar agora com um debate, pegando esse gancho da moradia, com a Giovana Melo, que eu gostaria de chamar representando aqui o MP a nossa Giovana.

[Intervenant 14]
Boa tarde a todos e todas.

[Intervenant 5]
E agora eu vou me descrever, eu sou uma mulher de coparda, cabelos presos, eu tenho um metro e setenta, sou promotora de justiça, atuo na temática da moradia no município de Fortaleza. Então eu faço parte com muita felicidade do comitê ProRuAjud, comitê nacional. Agradeço a oportunidade de ter passado a semana com você, doutora Luciana, ter aprendido com você, com a doutora Raquel e com tantos colegas valiosos, mas principalmente com o movimento.

Eu acho que o maior aprendizado que a gente teve essa semana foi com o movimento, foi com a Sueli, que está ali, eu já tinha falado com ela, o Anderson, o Vanilson. Tão enriquecedor a gente poder ampliar o conhecimento da realidade, porque muitas vezes a gente atua como sistema de justiça brasileiro como um todo, muito desconectado ao que acontece na realidade. A gente está vinculado a uma cidade legal, a uma cidade oficial, mas a gente não percebe a cidade que é a exceção, mas que, infelizmente, é o que prepondera.

Eu estou me dividindo entre esse curso que foi oportunizado pelo CNJ, pela Infam, e também estou no Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico, que está acontecendo aqui, próximo na UNB, na Faculdade de Direito, e a gente está discutindo exatamente o acesso à terra, o direito à cidade, o direito à moradia. E por que eu trago essa fala sobre o direito à moradia? Porque se a gente perguntar aqui e a gente fizer uma interação de qual a principal pauta da população em situação de rua, vai surgir o direito à moradia, o direito a ter onde morar.

O direito a ter onde morar simboliza a entrada para outros direitos. Então, a gente não concebe uma pessoa, e vou citar aqui um exemplo que chegou lá na minha provotoria, porque a minha especialização é direito à moradia, a pessoa era para ser tratada, porque ela tinha tuberculose. E aí todos focados no tratamento.

E o tratamento, a gente sabe que tem efeitos, que apresentam efeitos. E como vivenciar esses efeitos nas ruas? E muitos se recusavam, e eram julgados por isso, por recusar o tratamento, porque eles diziam, doutora, eu vou começar a sentir dores abdominais, e vai ser deflagrado.

Processos que eu não tenho agora, e eu vou ter que vivenciar todo esse processo na rua, esquecido e sem estrutura. Então, eles diziam, é muito fácil vocês solicitarem isso, mas vocês não sabem o que é um efeito colateral de um tratamento. E aí, por isso que é bom a gente trazer essa fala, porque a gente percebe a transversalidade, quando a gente fala de população e situação de rua em termos de políticas públicas.

A gente tem essa questão da moradia, e a gente precisa perceber e conversar sobre o que é que estamos fazendo em termos de política habitacional no país, e em termos de direito à cidade. A gente tem isso, uma política urbana encartada na nossa Constituição, que traz dois princípios, que são os princípios da democracia, que é uma participação democrática, quando você fala de planejamento urbano, e também a função social da propriedade. E isso é tão esquecido, e isso a todo momento é revisitado nos programas habitacionais que são apresentados.

E aí, a gente está agora com um programa habitacional importantíssimo, que é o Democratização de Imóveis da União. Inclusive, doutora Luciana, foi feito um levantamento pela Superintendência do Patrimônio da União, de imóveis que são passíveis de serem habilitados para a habitação de interesse social. E aí, esse programa possibilita uma coisa que talvez foi o maior erro do programa Minha Casa, Minha Vida, que foi espraiar a cidade e periferizar essas moradias.

A partir do momento dessa possibilidade de utilização desses imóveis da União, a gente tem a possibilidade de centralidade das moradias. E isso é muito importante para as pessoas em situação de rua, porque a centralidade das moradias simboliza que elas vão estar próximas da sua rede de apoio, que já está concretizada. E eu falo isso porque, na minha promotoria, a gente já tinha um grupo de pessoas em situação de rua, em atendimento, e foi interessante que, quando chegou para mim a demanda da população em situação de rua, tinha sido uma violência institucional que tinha sido realizada, e o colega percebeu que a atuação do Ministério Público, ela teria que ser transversal.

É como, eu vou buscar agora a fala dos nossos professores no curso que a gente fez, ele citou Edgar Morin, e eu vou citar Edgar Morin quando ele aborda a teoria da complexidade. Para problemas complexos, é inadmissível a gente compartimentar soluções. E é bem isso.

Então, quando chegou essa violência institucional contra a população em situação de rua, eu fui procurada pelo colega e ele disse Giovana, eu acho que o problema deles é moradia. Eles estão sofrendo todas essas violências porque eles estão vulnerabilizados. E aí a gente começou a atuar.

E como a gente só tinha o programa Minha Casa Minha Vida, a gente fez essa interlocução com a Secretaria das Cidades e procuramos efetivar esse direito à moradia. Então, tudo é muito árduo, não é, Sueli? Para a gente concretizar esse direito.

Primeiro eles fizeram nós temos duas formas de provimento nesse programa habitacional, que é uma demanda chamada aberta, que é uma demanda por sorteio e a demanda fechada que são unidades habitacionais destinadas para moradias que estão no traçado de obras, não é, obras públicas. E aí eu construí juntamente com a Secretaria das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação, a possibilidade dessas pessoas estarem inseridas no programa sob o aspecto de uma demanda fechada, e aí, a todo momento, eu era questionada, Sueli, e aí, como é que a gente faz essa poligonal? Eu digo, posso dizer aqui o nome de vários locais, de várias poligonais, porque eles se encontram em todos os locais da cidade.

Posso trazer o nome de uma praça, mas o importante é que essas moradias sejam concedidas. Mas, infelizmente, a gente tinha a realidade do espraiamento da cidade, dessa moradia periférica. E aí, quando a gente fez essa provisão, e é importante que a gente considere que a moradia é um primeiro passo, que a gente tem que estar, essa moradia assistida com outros serviços ligados à assistência social, à saúde, porque a maior problemática, doutora Luciana, quando chega a essa questão, é que quando eles assumem alguma unidade habitacional, quando eles recebem um aluguel social, de imediato, eles são desvinculados dos programas de assistência para a população em situação de rua, e isso impacta negativamente para eles, ou seja, muitas vezes, as pessoas chegavam para mim e diziam, doutora, eu prefiro deixar meu aluguel social, mas eu ter direito a acessar o refeitório social, eu ter o direito de acessar o centro pop. Então, assim, a gente, como Ministério Público, recomendou que não fosse feito o desligamento, porque se você considerar a conceituação da população em situação de rua, é população em situação de rua e em superação de rua.

Então, essa fase que eles recebem a moradia, eles estão em superação, por isso que você não pode promover esse desligamento de imediato dos serviços que são prestados a essa população. E aí, quando a gente atendeu essa população, a gente observou, e quando houve o processo de desfavelização do Rio de Janeiro, capitaneado pela então secretária de serviço social Sandra Cavalcante, que foi a primeira presidenta do Banco Nacional de Habitação, a gente percebeu que eram moradias periféricas, e por isso que quando... Tem um livro que eu gosto muito, que é o Mito da Marginalidade, que a Nidiane Sperma fala sobre esse processo de desfavelização do Rio de Janeiro, ela fala que, muitas vezes, esses empreendimentos se transformam em cidades dormitórias.

Por quê? Porque as pessoas, muitas vezes, elas ficam tão longe de seus trabalhos, essas moradias ficam longe, que elas apenas vão lá para dormir. E, no caso da população em situação de rua, a gente evidenciou que, muitas vezes, elas acessavam só aos finais de semana.

Ou seja, elas permaneciam nas ruas. E aí a gente começou a construir essa possibilidade de acessar esse programa de democratização de imóveis da União, para a gente ter garantido essa centralidade das moradias. E também é importante, gente, a gente perceber que esse acompanhamento da população em situação de rua antecede a chegada nas ruas.

É importante que a gente perceba que a gente tem também que acompanhar essas comunidades fragilizadas, passíveis a todo momento de remoção. Quando eu digo isso, eu trago muito essa questão da DPF, Ação de Descobrimento de Prefeito Fundamental, a 828, que ela controla essas reintegrações de posse, tornando essa remoção humanizada. Ou seja, com a participação de vários atores.

Vai ter uma reintegração de posse para ser cumprida? Para onde essas pessoas vão? Essas demandas habitacionais que vão ser geradas, de que forma que elas vão ser atendidas?

Então é preciso e é necessário que a gente acompanhe sobre o aspecto de, antes de chegar às ruas, durante a chegada, a vivência nas ruas, e esse processo de superação. E é muito interessante, quando a gente aborda essa questão de você estar nas ruas e quais os equipamentos que você tem disponível. E aí a gente percebe que, muitas vezes, a quantidade de equipamentos que estão disponíveis estão em descompasso com a demanda que se apresenta.

E por que isso acontece? A política encartada no Decreto 7.053 determina a realização de censo. E a gente não tem censo.

A gente não tem o número de pessoas que vivem nas ruas. Então a gente realiza políticas sem dados. Então, muitas vezes, esses equipamentos, afora, não estarem em números suficientes para atender a demanda, eles se apresentam precários.

E aí, por isso que eu digo que é tão importante o papel do Ministério Público. Porque nós temos uma recomendação do CNMP, a número 60, que determina uma fiscalização periódica dos equipamentos voltados a pessoas em situação de rua. E aí vocês podem dizer assim, mas, e aí, o que é que vocês evidenciam?

Vou responder. Olha, eu cheguei no... Eu tenho um colega que atua com a população idosa e tinha sempre uma narrativa de que não precisava de instituições de longa permanência para idosos, porque a demanda não justificaria.

E aí, quando a gente chega no equipamento voltado para a população em situação de rua, o que mais a gente encontra é a população idosa estando em equipamentos inapropriados, que não seguem a tipificação necessária para atendimento de um idoso, um idoso grau 3, um idoso grau 2. E que tem a necessidade específica. Não à toa que a instituição de longa permanência para idosos tem toda uma assistência voltada para esse público específico.

Então, é importante que a gente realize essa fiscalização para perceber se o equipamento está recebendo a demanda a qual se destina e se está sendo atendido à população de forma eficiente. É muito importante que a gente faça essa fiscalização nesses equipamentos. E aí, para a gente também trazer um vetor que trouxe um aumento da população em situação de rua, a gente não pode deixar...

Muito obrigada. A gente não pode deixar também de trazer a pandemia, que foi um período extremamente desafiador para nós, operadores do direito, em termos de atuação, para convencimento dessa população de que deveria recolher-se. E eu lembro que muitas vezes eu recebia denúncias que diziam assim Doutora Giovanna, eles estão se acumulando.

Não, eles não estão se acumulando, eles estão numa fila para alimentar-se. Mas não pode, está todo mundo trancado em casa. E eu dizia, não, mas eles não podem deixar de se alimentar porque vocês têm onde estarem recolhidos, eles não têm.

Então, a gente tem que ter a percepção e eles tinham o entendimento seguinte, olha, nunca olharam para nós e agora estão enfrentando a gente como se fôssemos vetores de transmissão de uma doença. Então, isso foi muito delicado para ser trabalhado e, ao mesmo tempo, a gente não tinha como criar uma exigência de um isolamento para uma pessoa que nunca foi visibilizada. A gente teve, primeiro, que trabalhar com a possibilidade de locais de hidratação e de higiene, que eles tinham o direito de acessar sim.

Nós temos um marco civil do saneamento e a gente ainda negligencia essa questão do acesso universal à água, à água potável. Então, a gente trabalhou com essa questão, foram criadas estruturas e o que mais me chama atenção é que, no período do pandêmico, a gente tinha que resolver tudo muito rápido e as soluções surgiam, não é, Luciana? Então, assim, que a gente avance, que avance com essa mesma disponibilidade que a gente teve quando a gente vivenciou um momento desafiador para todos.

E aí, eu acho que eu preciso resgatar que a gente tem como princípio o princípio da dignidade da pessoa humana. Nós temos objetivos da nossa República Federativa do Brasil a cumprir. Erradicar a pobreza, erradicar a marginalização, diminuir desigualdades sociais e regionais.

E isso a gente só vai atingir se a gente efetivar direitos, se a gente emancipar o cidadão através da efetivação de direitos. E aí, eu vou também aproveitar aqui a oportunidade que eu tive de escutar agora, no Congresso Nacional de Direito Urbanístico, um rapaz de Salvador, que estava fazendo uma fala, e ele citou Milton Santos, que é um geógrafo que eu gosto muito de fazer a leitura dele para a compreensão da cidade. É importante a gente acessar Milton Santos.

E ele diz o seguinte, ele falou, ele citou Milton Santos, e eu acho que é muito apropriado aqui, ele diz, o mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir. Então, eu acho que a gente tem essa missão, como operadores do direito, como sistema de justiça brasileiro, de alterar o cenário, mas é necessário que a gente amplie o nosso conhecimento da realidade. Então, muito obrigado.

Obrigada a todos.

[Intervenant 7]
Giovana, obrigado. Obrigado. Me lembrou uma situação, me lembraram duas situações, você narrando assim, acho que foram questões que você colocou muito bem.

A primeira foi a questão da pandemia. Demoraram uma pandemia para os governos locais verem que a população em situação de rua não tinha onde lavar as mãos, porque aí ficava aquele negócio de vamos lavar as mãos. Demorou uma pandemia gravíssima o mundo inteiro parar para ver que as cidades não tinham acessibilidade, uma pia e uma torneira.

Aí fizeram umas improvisações em alguma cidade, colocar aquelas pias de plástico, etc. Também me lembrou um caso da Janaína, antes de eu passar para a gente dar seguimento ao debate com a doutora Raquel. A Janaína foi uma interlocutora que muito me chamou a atenção.

Eu acompanhei a Janaína durante um bom tempo e ela falou o seguinte, que muitas vezes ela ia na casa de um vizinho e que eles colocavam comida para o cachorro, não era ração. E que aí ela comia o que o cachorro deixasse, ela comia. Eu comia o que o cachorro deixava.

Eu tenho até um vídeo que ela falou assim, teve uma vez que a gente fez um documentário sobre a vida dela e tem até o vídeo para não dizer que é exagero, que é algo muito dolorido de a gente ouvir isso enquanto ser humano, a gente escutar uma coisa dessa. Então eu queria chamar agora o debate para a gente continuar, a doutora Raquel Crispino, que vai falar um pouco sobre as experiências no comitê também Pop Rua Júlia.

[Intervenant 3]
Muito obrigada, Igor. Boa tarde a todas as pessoas aqui presentes. Eu não sei onde é melhor eu ficasse lá ou aqui, tem alguma preferência?

Acho que não. Bom, a minha audiodescrição, eu sou uma mulher branca, tenho cabelos escuros médios, uso óculos, tenho 1,68m, estou com vestido preto e um blazer avermelhado. Eu estou aqui por convite, agradeço muito a Eline, a Denise Paiva, essa interlocução com a Fiocruz já é antiga, porque a gente trabalha com registros de bebês nas maternidades a longa data e de pessoas sem documentos a longa data no Rio de Janeiro.

Eu vou tentar passar aqui no slide e cumprir mais rápido que eu puder a minha tarefa.

[Intervenant 14]
Como é que eu falo? Foi. Eu coloco essa minha apresentação, não é porque os títulos importem nada, porque nada importa.

[Intervenant 3]
Mas para as pessoas que não conhecem poderem agregar valor ou deixo valor à minha fala e saber de onde eu venho. Eu sou juíza no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no Estado do Rio de Janeiro, 28 anos, sendo que fiquei 16 anos juíza de uma vara de família e registro civil em São João de Miriti, uma das 100 cidades brasileiras com maior índice de pessoas sem documento do Brasil, segundo o IBGE de 2010. Naquela época, o Ministério de Direitos Humanos elegeu 100 cidades que eram as piores do país e São João era uma delas.

Então era comum, quando eu cheguei em São João em 2007, eu receber pessoas com pedido de registro tardio. Pessoas adultas, geralmente com problemas de saúde, e esse problema de saúde tomava premente a obtenção de documentos, me pedindo documentos. Eu achei aquilo muito fora do sentido, eu estava a meia hora do centro da cidade do Rio de Janeiro e comecei a me interessar como é que aquela pessoa adulta conseguiu viver uma vida inteira sem nada.

Eu lembro que eu atendi uma senhora de setenta e poucos anos que disse para mim o seguinte Doutora Raquel, estou aqui porque estou sentindo algumas coisas, algum mal estar, e meus filhos trabalham muito, eu tenho muitos netos e eu não quero dar problema para os meus filhos de morrer e não terem como me enterrar. Então era extremamente inacreditável que eu estivesse tão perto do Rio de Janeiro no Sudeste e vivesse um drama daquela situação. Com o tempo a gente passou a trabalhar no Movimento Nacional de Erradicação do Subregistro de Acesso à Documentação Básica que foi determinado por um decreto de 2007 e tem um comitês da mesma forma que a doutora Luciana descreveu aqui o nosso movimento no Poder Judiciário tem um comitê gestor nacional no MDH, tem os comitês estaduais do subregistro e eu como juíza entusiasta do atendimento às pessoas indocumentadas passei a trabalhar no comitê estadual.

Depois houve a criação do comitê de pessoas desaparecidas. E por que eu estou falando isso? Porque a gente está aqui em um evento de pop rua, mas pop rua, pessoa desaparecida, pessoa sem documento, são políticas de jeitos humanos que se comunicam o tempo todo.

Como eu comecei a entender naquela época que era necessário registrar os bebês nas maternidades e tirar a carteira de identidade das crianças ainda na primeira infância, eu acabei assumindo a presidência do comitê gestor da primeira infância do Poder Judiciário do Rio de Janeiro, que reúne o Poder Judiciário do Estado, o Poder Judiciário Federal e do trabalho conosco. Trabalho no comitê Pop Rua Juiz Nacional a convite da Luciana, que é a nossa liderança, a nossa professora, pessoa que está trabalhando nisso há muito tempo, e também estou no comitê Pop Rua Juiz Estadual. O meu convite ao Pop Rua Juiz Nacional foi por causa dessa minha especialidade, a vida me levou nesses últimos quase 20 anos a tentar saber superar o problema da exclusão documental.

E o meu mestrado, início na academia, foi com essa temática também. Vamos ver se eu consigo me entender com isso aqui. O problema da população em situação de rua, moradia retirada dos filhos, falta de assistência à saúde, dificuldade de acesso a serviços públicos e dificuldade com a documentação.

É sobre isso que a gente vai falar. E tudo que a gente vai falar a gente aprendeu nesse comitê estadual da erradicação do subregistro e na nossa experiência. Além da nossa vara, lá em São João de Miriti, agora eu estou na titular da quarta vara de família do Fórum Regional do MEER e auxilio a vara de registros públicos da capital.

É uma vara de registros públicos que cuida do registro civil de toda a capital do Rio de Janeiro. Eu estou lá desde 2012, quer dizer, faz bastante tempo, 14 anos, 13 anos que nós estamos lá. Mas eu aprendi tudo muito mais nesse ônibus.

É o ônibus da justiça gerante do subregistro, que funciona todas as sextas-feiras, entre 9 e 15 horas, ali na Praça 11, do lado do sambódromo, onde funcionam as varas da infância. E para lá, toda essa rede que trata de pessoas indocumentadas, leva as pessoas para serem registradas. Esse ônibus fez 10 anos no ano passado, ele foi inaugurado por nós, eu tenho a honra de poder trabalhar lá, vou para lá amanhã de manhã trabalhar lá.

E esse ônibus foi objeto de uma pesquisa, é muito interessante, que alguns de vocês devem conhecer, se não vocês, os filhos de vocês que fizeram vestibular em 2021, ela foi tema, o nosso tema, o subregistro, foi tema da redação do Enem. E o porquê? Porque uma pesquisadora do FGV, a Fernanda da Escócia, uma jornalista muito experiente, que em 2009 fez uma reportagem com pessoas indocumentadas, resolveu estudar isso no doutorado dela, e no ônibus foi a pesquisa etnográfica dela, ela documentou nesse livro, então se alguém tiver interesse numa leitura leve, feita por uma jornalista com doutorado em antropologia, descrevendo todo o fenômeno da exclusão documental, a gente indica os invisíveis, uma etnografia sobre brasileiros sem documento. A primeira percepção nossa, aconteceu em 2007, a gente sabia que havia duas questões envolvendo os indocumentados. Primeiro a pessoa que nunca foi registrada, há pessoas que nunca foram registradas no registro civil de nascimento, mas existe a pessoa que foi registrada e perdeu o documento, e não conseguiu tirar a segunda via, porque migrou para outro estado, porque faltou dinheiro, porque não conseguiu encontrar, porque o cartório perdeu o livro, porque o livro foi queimado, e tudo isso leva, é o que a gente chama do subregistro, do equiparado ao subregistro.

O perfil social é o perfil de exclusão completa de todos os direitos. A gente precisava acionar o sistema de justiça, foi isso que a gente fez. Depois a gente percebeu, em 2010, que era necessário a intersetorialidade, não era possível trabalhar sem assistência social, e eu adoro poder falar para a gente que trabalha na saúde, na assistência, porque entendem muito mais do que estou falando do que quem trabalha no direito.

Quem trabalha no direito tem que convencer que isso existe, quem trabalha na assistência não precisa convencer, todo mundo já viu e já teve problemas de promoção social ou da saúde, médicos que não conseguem dar o remédio porque a pessoa não tem CPF, não dá para fazer inscrição, não consegue fazer as internações mais difíceis. E a gente percebeu que a intersetorialidade era importante e começamos a trabalhar no comitê e a intersetorialidade, saúde, assistência, educação e sistema de justiça juntos. Isso que a Luciana falou, que a Giovana falou, que o Igor falou, não é o sistema de justiça fazendo sozinha, é o sistema de justiça junto com todo mundo.

E a gente precisava do comitê. O nosso comitê do Rio tem muitos comitês municipais, mas a gente tem alguns trabalhos em GTs. Eu vou trazer aqui só para vocês saberem quais são os temas.

GT das unidades interligadas para registrar os bebês na maternidade. GT dos municípios para dar apoio aos municípios que têm comitê. GT documentação em que a gente trabalha com todos os emissores de documento.

Capacitação. De GT óbito e desaparecidos. Ontem à tarde, quando cheguei aqui, vocês estavam falando sobre óbito em pessoas em situação de rua.

Nós temos um GT sobre isso. Sistema socioeducativo dos adolescentes que cometem atos infracionais. Sistema penitenciário de pessoas sem documento.

População em situação de rua, população de assistência, pessoas idosas e pessoas que estão em acolhimento institucional. A terceira percepção é que a gente precisava trabalhar na territorialidade. Não adianta a gente querer ficar lá no tribunal se a gente não chega nos lugares.

Não chega no território porque lá no território que existem os aglomerados de exclusão é onde as pessoas estão sem documento e é necessário lidar com o território. Na quarta percepção, uma das mais interessantes nossas, a gente chegou em 2013, a gente percebeu que havia um encadeamento de documentos. A cadeia documental ela não era só o registro civil.

Era o registro civil, a carteira de identidade e todos os outros que a gente vai ver aqui rapidamente. E a gente fala de uma realidade que para a saúde é muito clara e se chama internacionalmente de estatísticas vitais. CRVS.

Fora do Brasil, o registro civil e as estatísticas vitais são vistas em conjunto. No Brasil, as estatísticas vitais ficam com a saúde e o registro civil fica com os cartórios. E a gente precisa conectar mais essas duas realidades.

Então, dados vitais estão na saúde, registro civil está nos cartórios de registro civil e identidade civil. Identidade civil está nas Secretarias de Segurança Pública dos Estados. Polícia, gente.

Quem faz a identidade civil dos brasileiros é a polícia, com exceção do Rio de Janeiro que é o DETRAN, um órgão civil. E aí a gente tem uma variação de documentos e cada estado brasileiro tem uma carteira de identidade diferente. Tinha.

Vamos ver aqui as nossas boas notícias do momento. E há uma falta de organização. E a gente tem alguns emissores de documentos que são estaduais e outros que são nacionais.

Os estaduais são registro civil de nascimento, a carteira de identidade e os nacionais. Certificado do alistamento militar, o título de eleitor, o CPF e a carteira de trabalho. Então, imaginam os problemas que a gente tem com documentos no Brasil.

O TCU acabou de aprovar uma resolução de uma auditoria que nos últimos 10 anos, 4 bilhões e 400 milhões de prejuízo por não dar baixa nos benefícios previdenciários de óbitos não esclarecidos no Brasil e não anotados pelo Brasil. E a gente tem algumas palavras difíceis, que são palavras usadas de forma técnica. Eu não vou explicá-las aqui.

A diferença entre registro e certidão, identidade e identificação, confirmação de identidade e os cadastros administrativos governamentais. Essa é a carteira, a nossa cadeia documental, quando nós descobrimos em 2013. Antes da carteira de identidade nacional, chamada de SIM, carteira de identidade nacional.

A gente só podia fazer a certidão de nascimento com a declaração de nascido vivo da saúde, a carteira de identidade só com a certidão de nascimento, o certificado de alistamento militar só com a carteira de identidade, o título de eleitor só depois do certificado de alistamento militar e o CPF. O CPF que era o quinto documento, mas a porta de entrada dos direitos sociais do Brasil, ele só podia ser tirado depois que fizesse todo esse caminho. Então a gente chama de cadeia documental porque é uma cadeia que prende a pessoa em vulnerabilidade.

Ela não consegue sair dessa cadeia se não tiver um tutor social para auxiliá-la, apoiá-la. Mas a gente chama de cadeia também pelo encadeamento. Um documento condiciona a emissão do outro.

Só que esses atores não conversavam entre si. Ninguém fala com ninguém. E há momentos que um exige o outro e aí surge o que a gente chama de síndrome do balcão.

Eu vou a determinado balcão, esse balcão alguém diz pra mim que não é naquele balcão, é em outro balcão e assim a gente vai perpetuando a exclusão. Hoje a gente tem um projeto importante no Brasil, da carteira de identidade nacional e a gente tem um outro modelo de cadeia documental e vocês observam que o CPF, que é a porta de entrada dos direitos sociais, ele veio para terceiro documento. A partir de 2013, inclusive, quem tem bebês na família ou conhecidos, sabe que as edidades de nascimento já vem com o CPF, mas se a pessoa nasceu antes de 2013 e vai tirar a carteira de identidade nacional naquele ato também é emitido o CPF, se ela já não tiver CPF.

Então isso facilita muito o acesso a todos os benefícios existenciais no Brasil e a gente tem esse exercício aí da cadeia. Olha, nós estamos aqui na Fiocruz, o verdinho é tudo documento emitido pela saúde e a gente vê como a gente tem que ter essa conversa entre nós. A quinta percepção, aconteceu em 2013 também, quando a gente percebeu que o registro civil não era um passaporte dos direitos sociais no Brasil, ele era um direito humano per se, ele era um direito humano por si mesmo, porque ele traz o nome, ele traz a filiação, a filiação é o direito personalíssimo ao conhecimento da nossa ascendência genética, a nossa ancestralidade.

O local do nascimento que dá o direito à nacionalidade e a data do nascimento, que é vinculada a muitos direitos, inclusive porque o ciclo da vida vai dizer pra gente se a gente é criança, se é adolescente, se a gente tem 17 anos é tratado de um jeito, se tem 19 é tratado de outro, se tem 59 é de um jeito, se tem 60 é de outro, se tem 80 é de outro diferente. Então o ciclo da vida é muito importante, o registro civil tem que ser correto. Digo isso por quê?

Porque tem gente que acha que pode fazer um registro civil qualquer, uma certidão de nascimento qualquer. Não, absolutamente. A certidão de nascimento traz todos os dados da nossa vida, muito caros à nossa origem e à nossa família.

Porque é uma necessidade subjetiva saber a própria origem. Então quantas vezes eu já atendi pessoas que não tinham nenhuma referência maior do seu documento, chegavam pra mim e diziam que nasci na Paraíba, num lugar chamado Casa Amarela, tinha uma cidade tal, em tal lugar, e a gente corria atrás do documento. Por quê que a gente corria atrás do documento?

Porque aquela história foi coletada proximamente à data do nascimento, então é uma história verdadeira. Eu não posso sair daqui e fazer um registro qualquer, com nome qualquer, com uma data de nascimento qualquer, porque se eu fizer isso eu vou estar violando, como juíza brasileira, os direitos humanos daquela pessoa. Cabe a mim procurar o registro lá em Casa Amarela, na Paraíba, cabe a mim ir atrás.

E a gente percebeu, muitas vezes, ao encontrar esse registro pra pessoas que ficaram 30, 40, 50 anos sem documento nenhum, na hora que a gente entregava, eles choravam, ajoelhavam, se emocionavam, não era pelo passaporte, era pela história resgatada, porque essa história é uma necessidade subjetiva. Pra nós que tivemos acesso à história, isso pode parecer pouco, mas eu tenho certeza que nessa sala deve haver pessoas só com registro materno, sem o nome do pai, e isso é um vazio de uma parte da história. Há pessoas nessa sala, provavelmente, que são filhos por adoção.

Se eles são filhos por adoção, que não tiveram acesso à sua história, há algo que se perde e que precisa ser resgatado. É uma necessidade humana o conhecimento da própria origem, e o registro civil e a documentação traz isso. Ficamos felizes com a ODS, quando a gente percebeu que na agenda 2030 havia uma meta só pra gente, 16.9, até 2030 fornecer identidade legal para todos, incluindo o registro civil de nascimento, e sobre crianças, uma entidade internacional chamada Child Identity Organization, que fala de No Rights Without Identity, que trabalha com crianças e o direito das crianças terem essa identidade desde o primeiro momento.

Sexta percepção, foi a conversa de ontem quando eu entrei nessa sala, vocês falando do óbito. É necessário cuidar do óbito, porque o registro civil de óbito é um dos documentos básicos da nossa vida no ciclo da vida, ? E era necessário então a gente também entender o fenômeno do desaparecimento.

Desaparecer, ninguém desaparece, as pessoas continuam existindo. Elas desaparecem em referência a alguém. A família não sabe onde está.

E no Rio de Janeiro nós temos um drama muito grave, de pessoas em situação de rua, que morrem em um ou dois hospitais no centro da cidade, cujos corpos, muitas vezes indocumentados, não são lavrados, os registros civis de óbito, e também não são reclamados por ninguém. E quando o companheiro de rua quer dar, fazer o rito fúnebre daquele companheiro de rua que foi seu irmão durante muito tempo, não consegue, porque não tem vínculo familiar para ter o direito à liberação daquele corpo. Quantas vezes, na vara de registro público, eu tive de dar o vará para liberar o corpo para o amigo, para poder passar pelo rito fúnebre.

Depois da pandemia, ficou muito mais claro para a humanidade o direito humano a esses ritos fúnebres. É direito humano morrer com dignidade e passar pelos ritos fúnebres. Isso já está cada vez mais claro, inclusive nos documentos internacionais de direitos humanos.

As pessoas em situação de rua, elas estão misturadas com todas essas pautas que estão aí no nosso slide. Criança e adolescente em situação de rua. Pessoa privada de liberdade em situação de rua.

A questão de carregar a tornozeleira eletrônica. Como é que a pessoa vai carregar a tornozeleira eletrônica, botar na carga, se está na rua? Pessoas desaparecidas, pessoas ameaçadas, migrantes, pessoas com deficiência, LGBT, tráfico de pessoas, trabalho escravo.

Tudo mistura com a população em situação de rua. Criança e adolescente, desafio imenso registrar os bebês na maternidade. Pessoas privadas de liberdade, dados do Rio de Janeiro.

Muita gente aqui é do Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, nós tínhamos no início de setembro 45.186 presos. Isso no primeiro de setembro.

Desses, 3.770 só que têm carteira de identidade nacional. E tem 2.250 que não têm nada. Nada.

Não sei o nome deles, mas eu prendo. E eles têm o nome para serem punidos. Mas eles não têm carteira de identidade.

Eles não têm nada no sistema. Mas a gente prende aqueles corpos sem nome. Eles declaram o nome.

A gente condena com aquele nome declarado. E assim vai, sem documentação. Óbito e pessoas desaparecidas.

Isso que a gente falou. Temos uma grande conquista no CNJ que é a resolução 634 aprovada no dia 26 de agosto de 2025. Que quer tornar o Poder Judiciário Igor mais humanizado, mais amigável no atendimento das famílias dos desaparecidos.

Então, acho que a nossa tentativa no Poder Judiciário é tornar cada vez mais acessível alguns direitos que a gente talvez olhasse como um processo qualquer. O registro tardio não é um processo qualquer. E o processo de morte presumida das pessoas que morrem nas milícias, nas violências e desaparecimentos também não são processos qualquer.

São processos de direitos humanos. Seguindo mais um pouco, para terminar, com relação à população em situação de rua, como é que a gente obtém a certidão de nascimento para a emissão da carteira de identidade? Como é que a gente faz a reimpressão da carteira de identidade nacional?

Já é possível agora. A dispensa de apresentação da carteira de identidade nacional nos serviços públicos. Se essa carteira é nacional e é a primeira vez que está se integrando tudo, por que a gente precisa mostrar a carteira se já não pode ter?

Essa carteira nos serviços públicos do SUS e do SUS brasileiro, para dispensar a apresentação do documento e as vítimas das fraudes que eles são. Último slide, penúltimo slide, urgência. Uma lei de dezembro do ano passado, 15.077, disse que é requisito obrigatório para concessão, manutenção, renovação de benefícios de seguridade social, o documento de cadastro biométrico realizado pelo poder público. Quais são os três meios de ter esse documento de cadastro biométrico para receber benefício previdenciário? Carteira nacional de habilitação, PopRu, tem em CNH, o TRE, a biometria do TRE e a terceira, a carteira de identidade nacional. Então, vamos divulgar, a proposta do Brasil é até dezembro do ano que vem, ser emitida de 130 milhões de carteiras de identidade nacional, a gente está em 35 milhões, precisa de 130 milhões.

Ah, doutora Raquel, mas não tem vaga, já tentei tirar a minha, entrei no site e não consegui marcar. É verdade, mas é preciso cobrar do gestor público que consigam as vagas para que isso aconteça, porque a gente precisa garantir o benefício previdenciário dessas pessoas e elas estão com dificuldades no recebimento do benefício previdenciário. Esse é o modelo da carteira de identidade nacional, a ela vão se anexar os outros documentos, se é doador de órgãos, se é pessoa com deficiência, todas as outras questões que a gente precisa vão ser anexadas no mesmo documento.

E fico aí à disposição de todos para dúvidas. Agradeço muitíssimo a atenção, o convite é sempre um prazer imenso falar com a saúde. A saúde é um dos grupos que mais entende o que a gente diz, então a gente quer manter essa interlocução sempre viva, ?

[Intervenant 14]
Muito obrigada pelo convite.

[Intervenant 7]
Eu gostaria de agradecer à doutora Raquel, agradecer à doutora Luciana e à doutora Giovanna. Bem, eu comecei fazendo uma fala um tanto quanto dramática para a gente trazer, eu acho que, como é que a justiça pode nessa luta entre nós indivíduos e o sistema e a estrutura social? O que nós estamos falando é disso.

Então aqui, espero que a gente tenha tirado, jogado um pouco de óleo nesse inviso, nessa forma que o sistema está travado, que a gente tenha colocado um pouco de discussões aqui, um pouco de luz sobre cidadania e reciprocidade, porque às vezes concordo com a doutora Raquel, muitas vezes a gente fala assim a população em situação de rua tem que ser emancipada, a população em situação de rua tem que ser emancipada.

Ninguém aqui é emancipado socialmente, todos nós dependemos do INSS, do SUS, quem quer que a população em situação de rua seja um campo da pura e simples autonomia do indivíduo. Não é assim que funciona, todos nós estamos subvertidos a uma lógica do sistema, a uma democracia, a uma forma de governo, a políticas públicas, e é isso que a justiça também quer para todos, inclusive a população em situação de rua. Nós não vamos abrir para perguntas, eu deixo aqui.

Muito obrigado em nome de todos dessa banca.

[Intervenant 14]
Agradeço a todos os presentes, peço que possam tomar os seus assentos. Agora nós teremos uma apresentação do seu Silvio Humberto. Boa tarde, pessoal.

Obrigado.

[Intervenant 13]
Vou cantar uma música minha aqui que o Penia gravou, Sonhos, e depois vou cantar uma outra que foi para o Paulo Ricardo, e também que é minha. Legal. Obrigado.

Obrigado.

[Intervenant 17]
Pessoal, como a gente não tem os equipamentos necessários, eu vou pedir para que o auditório fique em silêncio durante a apresentação do Silvio, tá bom?

[Intervenant 14]
Agradeço.

[Intervenant 13]
Tudo era apenas uma brincadeira E foi crescendo, crescendo e absorvendo E de repente eu me vi assim completamente seu Vi a minha vida amarrada no seu passo Vi que sem você não há caminho, eu não me acho Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia Quando o meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia Uma mudança mais calma mais alegria No meu jeito de me dar Quando a canção se fez mais clara e mais sentida Quando a poesia fez folia em minha vida Você veio me falar Dessa paixão Inesperada por outra pessoa Mas não tem revolta não Eu só quero que você se encontre Ter saudade até que é bom É melhor se caminhar vazio A esperança é um dom Que eu tenho em mim Eu tenho sim Não tem desespero não Você me ensinou um milhão de coisas Tem um sonho em minhas mãos Amanhã será um novo dia Certamente eu vou ser mais feliz Mas não tem revolta não Eu só quero que você se encontre Ter saudade até que é bom É melhor se caminhar vazio A esperança é um dom Que eu tenho em mim Eu tenho sim Não tem desespero não Você me ensinou um milhão de coisas Tem um sonho em minhas mãos Amanhã será um novo dia Certamente eu vou ser mais feliz Quando você disse Nunca mais Não ligue mais Melhor assim Não era bem O que eu queria ouvir E me disse decidida Sair da minha vida Que aquilo era loucura Era absurdo E mais uma vez Você ligou Dias depois Me procurou Com uma voz suave Quase que formal De repente as coisas Mudam de lugar E quem perdeu pode ganhar Minha amiga Minha namorada Quando é que eu posso Te encontrar Eu sei Que eu Eu queria estar contigo Mas sei que não Sei que não é permitido Talvez se não Se nós tivéssemos Fugido E ouvido A voz Desse desconhecido O amor O amor Essa voz Que chega a verbochar Do meu pavor Mas ao pular Eu me vejo ganhar Asas e voar Eu sei Que eu Eu queria estar contigo Mas sei que não Sei que não é permitido Talvez se não Se nós tivéssemos Fugido

[Intervenant 14]
Talvez se não Se nós tivéssemos Fugido Talvez se não Se nós tivéssemos Fugido Talvez se não Se nós tivéssemos Fugido Se nós tivéssemos Fugido Talvez se não

[Intervenant 21]
Se nós tivéssemos Talvez se não Talvez se não Fugido Fugido Fugido Fugido Fugido Fugido Talvez se não E manda o inferno pra outro lugar Fogo eterno pra consumir o inferno FORA DAQUI!!! LA LAIÁ, LA LAIÁ, LA LA IÁ Então fora daqui!! LA LAIÁ, LA LAIÁ, LA LA IÁ Então fora daqui!!

LA LAIÁ, LA LA IÁ, LA LAIÁ FORA DAQUI!!! LA LAIÁ, LA LAIÁ, LA LA IÁ Venho pra festa, eu sei que muitos têm na testa O Deus só como sinal, um sinal Eu como devoto trago o cesto de alegrias de quintal Trago o tropeio, o cantaro, pedindo o Deus da música Pedindo pra deixar, pra deixar Derramar o balsamo, fazer o canto, cantaro, cantar Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar Fogo eterno pra consumir o inferno Fora daqui! Então fora daqui!

Então fora daqui! Fora daqui! Vai lá, vai lá, vai lá, vai lá, vai lá, vai lá Uh, uh!

Muito obrigado, viu! Falou pessoal, falou pessoal. Obrigado!

Essa música também eu dei pro Gilberto Deeu Papapapa, papapa, papapa Eu!

[Intervenant 14]
Melhor parte da cerimônia. Eu que agradeço. É o fim.

É o fim.

[Intervenant 17]
Para darmos continuidade à nossa celebração e Seminário, chama agora Jorge Fernandes para apresentar o Manual População e Situação de Rua.

[Intervenant 14]
Ele é gestor da ouvidoria do Tribunal Regional de Trabalho do Rio de Janeiro. Jorge, daremos a você o tempo de 10 minutos.

[Intervenant 9]
Eu vou tentar ajudar. Gente, meu nome é Jorge, eu tenho 60 anos, cabelos brancos, 1,90 m. Estou com sapatênis bege, uma calça jeans e uma camisa do evento que, aliás, foi o único evento de população de rua que a camisa coube em mim, porque todos os outros ficavam frente única e eu não podia usar.

Então eu estou muito feliz que é o primeiro evento que eu posso usar a camisa, não tenho que dar para ninguém, vou guardar com o maior carinho. Segunda coisa, agradecer a Denise Paiva, que me convidou para estar aqui, e a Lízia também, representando toda a equipe da Fiocruz, que nos acompanhou até a minha vinda aqui. Então, gente, eu sou do Poder Judiciário Trabalhista e eu queria dizer que a Resolução 425 foi um divisor de águas para o atendimento da população de rua no Poder Judiciário.

Em função disso, minha cabeça aqui, que não é pequena, está explodindo de tantas coisas que eu ouvi, tantas filosofias, tantas discussões acadêmicas importantes, que com certeza vão me ajudar. Só que eu vou sair daqui e vou ter que voltar para o tribunal, e ao voltar para o tribunal eu vou lidar com uma realidade que eu tenho que enfrentar. Então, primeiro, é que são dez minutos, a gente tem que correr muito.

Cumprimentar todas as pessoas, em especial os protagonistas do evento, que são as pessoas que estão acontecendo aqui. Então, voltando para o meu tema, eu vou voltar para o tribunal e vou ter que trabalhar lá. Então, o que é que eu vou fazer?

Quando a gente tem um conflito, eu sou mediador de conflito, a gente aprende o seguinte, quando você tem um conflito você tem quatro situações, você corre, você foge, você paralisa, você briga, e tem uma expressão em inglês que é to flock, você se junta com outras pessoas para tentar resolver o problema. Eu acho que o que a gente está discutindo aqui é justamente isso, nos juntarmos, cada um na sua competência, em forma de rede, para tentar, de alguma maneira, se não solucionar, pelo menos mitigar o problema. E aí eu vou cometer uma heresia, eu vou falar que eu discordo do padre Júlio Lancelotti, eu acho que a gente não vai sempre perder.

Eu acho que a gente vai ter conquistas, vai perder e vai ganhar, e vai sempre lutar para ganhar. Então, a minha filosofia é, nós vamos ter vitórias, mas só podemos ter vitórias juntos. E a segunda coisa que eu vou falar, e outra fala aqui do representante do CIAMP, que eu não me recordo o nome agora, esteve aqui falando, ele falou uma coisa muito boa, população de rua não é problema, é solução, e a gente tem que ver isso como solução, e eu vou dizer para vocês dois grandes benefícios que trabalhar com população de rua trouxe para o Poder Judiciário e Trabalhista.

O primeiro, eu paro do princípio seguinte, quem atende bem população de rua, atende bem qualquer um. Então a população de rua está trazendo para o Judiciário uma tecnologia, uma habilidade, uma empatia nunca vista antes no atendimento ao público em geral. Então ao atender pessoas em situação de rua bem, que é nossa obrigação, nós estamos atendendo bem a todo mundo.

E a segunda é o seguinte, os órgãos do Poder Judiciário não se falavam, absolutamente não se falavam, e a população de rua trouxe esse excelente benefício. Hoje eu falo com o TRF, falo com o TRT, falo com o INSS, falo com a Caixa, e a partir daí nós estamos conseguindo excelentes soluções para as pessoas em situação de rua. Então a população de rua faz bem para o Poder Judiciário.

Agora voltando lá para o meu mundinho do Rio de Janeiro, o que eu percebi? As pessoas não têm a menor noção da realidade da população de rua. As pessoas não têm a menor ideia e a maioria delas não estão nem aí, não estão nem um pouco preocupadas.

Chamam pessoas que são moradores de rua, algumas acham que são pessoas fracassadas e um mito da meritocracia, outras acham que se elas dão um dinheirinho ou se elas distribuem comida elas estão mitigando a sua culpa e estão resolvendo o seu problema. E aí, eu vou esperar o CNJ, com a doutora Luciana Nofis, inspiradora, doutora Raquel, para me dar tudo mastigadinho para que eu possa agir? Não, eu vou tentar fazer no meu mundinho o que eu puder.

O que eu puder fazer, eu vou fazer. E aí nós tivemos a iniciativa de fazer um manual básico de atendimento a pessoas em situação de rua. Você pode projetar?

Esse manual básico de atendimento à população de rua é um manual que pretende, tem a pretensão de fazer um letramento das pessoas sobre a realidade da população de rua. E aí, qual é o desafio? Ele não pode ser um documento básico, muito básico, que ninguém tenha interesse, nem um documento acadêmico, porque a maioria das pessoas não vão ler.

Então, esse era o grande desafio. E aí, falando da questão do conflito, a gente falou do Dufloque, ? Dufloque, vamos nos unir.

Então, eu contei com a colaboração do Alexandre Trino, não sei se vocês conhecem, ele é do colaboratório da Fiocruz, ? Contei com a colaboração da Faculdade de Arquitetura, que tem um trabalho maravilhoso no Rio de Janeiro, que ela faz a cartografia da movimentação das pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro, que ajuda a identificar as profissões das pessoas, as profissões que as pessoas tinham ou têm, estão na rua, como elas se movimentam, até para facilitar a aplicação da política pública. Infelizmente, a minha companheira tinha cinco minutos para apresentar essa questão da cartografia, infelizmente, por conta das necessidades do evento, ela não vai poder apresentar.

A Brenda, ? Ela é da Faculdade da UFRJ do Rio de Janeiro, e depois, se vocês quiserem, a gente passa para vocês todo esse trabalho de deambulação, para que vocês possam conhecer. Então, vamos falar agora do manual, ?

O manual nasceu em 2023, da necessidade da efetividade ao que consta na Resolução 425. Surge como desejo de servidores judiciários de criar um recurso prático e acessível com ideias coletivas. E aí, gente, a gente contou com um trabalho maravilhoso também que eu queria divulgar para vocês, olha como é que é o mundo, ?

Tem uma universidade em Londres chamada Queen's Mary, que tem um instituto chamado People's Palace Project, que tem um coral de pessoas em situação de rua, ? Porque a gente também tem que entender que população de rua também tem que ter direito a lazer, ? Tem direito a poder, além de comida e bebida, a gente não quer só comida, a gente quer diversão e arte.

Então, eles fazem um trabalho, eles pagam um maestro que se apresenta no Museu do Amanhã, é o único museu do mundo que recebe pessoas em situação de rua para fazer arte. E esse coral, os membros do coral, pessoas em situação de rua, fizeram os desenhos do manual que nós criamos. Esses são alguns desenhos das pessoas em situação de rua que compõem o manual, ?

A gente explicou para eles o que era o manual e foi desenho livre, ? Depois vocês podem olhar com mais cuidado. Daqui a pouco eu vou apresentar o QR Code e vocês podem botar no celular e ter acesso e também ter meu contato, todos quiserem colaborar, estão muito, muito bem-vindos.

A gente está trabalhando na quarta edição e até o primeiro trimestre do ano que vem a gente vai estar publicando a quarta edição. A primeira capa foi essa marronzinha, a segunda foi essa com olhinho e a terceira foi a que contou com a colaboração da Faculdade de Arquitetura, da UFRJ, e aí é um manual bem mais, projeto gráfico bem mais elaborado e bem mais amigável. E aqui tem um sumário, gente.

Primeiro, ele explica os recortes conceituais de pessoas em situação de rua. Depois, o perfil estatístico e características das pessoas em situação de rua. Depois, trabalho e subsistência, ruas e vínculos, depois atendimento humanizado, agenda 2030, recomendações para conduzir possíveis conflitos, principalmente nas atuações de mutirão, serviços e órgãos públicos nacionais e internacionais que cuidam de população de rua, importância do trabalho em rede.

Gente, não tem como trabalhar isso. Estou falando, é meio óbvio, sem ser em rede. Estratégias para ações.

E aí, não adianta ficar lendo tudo. Esse é o sumário do manual que eu estou apresentando a vocês, que eu estou pedindo ajuda, inclusive aos companheiros da rua. Se pudessem, leiam e deem o feedback para a gente fazer cada vez um manual melhor para que as pessoas que estão na ponta, principalmente do Poder Judiciário, tenham uma melhor compreensão da realidade das pessoas em situação de rua e possam melhorar o atendimento.

Eu só queria, antes de terminar, dar um exemplo aqui, doutora Luciana, de como esse trabalho em rede é fantástico. Nós descobrimos que as pessoas em situação de rua não recebiam BPC porque não tinham a carteira de trabalho baixada. Eles não tinham a carteira de trabalho baixada, eles iam receber o BPC e a pessoa dizia, olha, você não pode receber o BPC porque a sua carteira não foi dada o baixo.

E é digital que as pessoas não têm acesso. Então, como é que vai resolver isso? Muitas vezes a empresa faliu, a empresa sumiu.

O juiz do trabalho pode dar baixa na carteira de trabalho por um simples ato de ofício. Então, nós já estamos entrando em contato com a superintendência do INSS, com a superintendência do Ministério do Trabalho, orientando as pessoas que vão receber o BPC, que, caso a carteira de trabalho delas ainda esteja aberta, que elas compareçam à Justiça do Trabalho, sem custo nenhum. A partir daí, o juiz, de ofício, vai baixar, vai dar baixa na carteira dela e ela vai poder receber.

Então, vocês imaginem quantas pessoas podem ser beneficiadas com um simples ato de ofício que nós só descobrimos com o trabalho em rede. Muito obrigado.

[Intervenant 14]
E qualquer dúvida, o meu e-mail está no corpo do manual. Muito obrigado. Eu que agradeço.

Agora, no nosso último momento de trilhas com vida, gostaríamos de chamar no palco o Filipe Leite, economista sênior em proteção social do Banco Mundial. Filipe, o nosso tempo é de dez minutos. Posteriormente, nós teremos a mesa do CIAMP, onde será aberta o debate.

Alô? Boa tarde a todos.

[Intervenant 10]
Eu vou ser breve, porque eu não estava nem esperando que eu ia falar alguma coisa, mas me foi pedido para falar. E eu queria, em primeiro lugar, antes de falar, eu queria parabenizar a organização, porque esse evento está sendo, eu acho que, muito rico e muito importante para o debate. Então, parabéns.

E todas as apresentações até agora foram muito boas. O ponto daqui que eu quero fazer é um ponto institucional. Como o Banco Mundial está tratando dessa questão?

Para nós, do Banco Mundial, nós não estamos tratando isso como uma categoria à parte. O nosso trabalho na proteção social do Banco é para trabalhar para proteger os pobres e vulneráveis e para promover a saída deles dessa situação. Então, é um trabalho que não é um trabalho somente para a população de rua, é um trabalho para todos os pobres e vulneráveis.

A população de rua é um ator, é um ator, não, é uma... É uma consequência. Ninguém está ali se a proteção social, se a assistência social fosse suficiente.

Porém, a assistência social, sozinha, não vai resolver o problema. Todos que passaram aqui falaram que é um problema complexo. E, se fosse fácil, nós não estaríamos aqui, porque não existiria esse problema.

[Intervenant 14]
Então, como é que a gente pode tratar de um problema complexo quando a gente pensa em somente um setor? E foi isso que as apresentações aqui mostraram.

[Intervenant 10]
Esta situação, estar numa situação de rua, não é única e exclusivamente uma falha da assistência social. Existe a questão de habitação, existe a questão de emprego, existe a questão jurídica, a pessoa não tem documento, tem tantos fatores que podem nos levar a essa situação. Então, para resolver o problema, a gente tem que trabalhar para ter uma visão mais ampla.

A proteção social, então, a gente está pensando, como o Banco Mundial, é como a gente consegue desbloquear o sistema atual. E, no Brasil, o sistema de proteção social é excelente. Como é que a gente consegue desbloquear esse sistema para que ele seja mais amplo e que evite que uma pessoa caia em situação de rua e que, para a pessoa que está em situação de rua, seja incluída de volta na sociedade?

Então, não é um trabalho somente de resposta à situação, mas é um trabalho também de prevenção. Se o nosso sistema de proteção social fosse 100% efetivo, e nunca vai ser, a gente não teria essa possibilidade de uma pessoa cair na rua, cair nessa situação. Então, quais são os problemas, quais são os desafios que as pessoas têm?

E esse é um desafio não somente da população. Pessoas não têm acesso à documentação, pessoas não têm acesso ao endereço, pessoas não têm acesso à informação, pessoas não sabem aonde ir para demandar um serviço, as pessoas não conhecem os serviços que existem e são ofertados, as pessoas não sabem o que fazer. Outros têm a informação, e, quando chega, o serviço não está funcionando, o serviço está de baixa qualidade, o serviço não é funcional, o atendimento não é correto, isso desmotiva a pessoa também a continuar procurando o serviço.

Então, o que a gente está propondo como instituição é como pensar num sistema de proteção social que seja funcional, onde as pessoas conheçam os serviços, que a acessibilidade dos serviços esteja lá e que seja facilitada pelos atores, que as pessoas, quando chegam ao serviço, sejam tratadas dignamente, humanamente. Se a pessoa não tem um documento, que ela seja informada onde conseguiu o documento, seja facilitada como conseguiu o documento. Se a pessoa não tem um endereço, como a gente pode solucionar a questão do endereço enquanto a gente está atendendo essa pessoa?

A gente não pode evitar atender a pessoa porque ela não tem algo. A gente tem que tratar isso. Então, nós estamos tentando facilitar e trabalhar com as equipes em diferentes países nessa melhoria dos serviços.

Ontem teve uma fala que foi isso. É serviço. Então, quais são os serviços necessários?

Como executar os serviços? E como ser eficiente na qualidade desse serviço? A gente não pode ter serviços que não sejam...

O serviço tem que ser homogêneo. Eu não posso ter um bom serviço em um bairro e um mau serviço em outro bairro. Então, como harmonizar?

Como trabalhar no que a gente chama de case management? Que é quando uma pessoa qualquer chega num serviço social e ela fala que quer, por exemplo, um Bolsa Família. Nesse momento, o serviço social não deveria dizer que aqui está o Bolsa Família.

Faz o cadastro e aqui está o Bolsa Família. Então, por que um agente social não conversa com essa família para entender qual é o problema que ela está tendo, além do Bolsa? O Bolsa está aqui, mas tem algum outro problema?

Tem algo mais que precisa? A gente tem esses outros programas, esses outros serviços. Tem algo mais que eu possa fazer?

E fazer o referenciamento dessa pessoa a diferentes serviços. Não vai ser a assistência social sozinha, a proteção social sozinha, que vai resolver. Você vai ter que fazer referências à saúde, referências à educação, referências para o emprego.

Então, a proteção social é um conector. Ele te ajuda a conectar os pontos e ele te ajuda a ser visível. Então, esse é o tipo de trabalho que a gente está fazendo.

E, para terminar, os nossos projetos são projetos com o governo, governos locais, municipais, Estado e o governo federal. Então, a gente está trabalhando, a gente tem parceria já com São Paulo, a gente tem um projeto com São Paulo e Salvador, a gente tem um projeto com Salvador, a gente tem diálogo com o governo federal para emergências, calamidades. Então, a gente tem uma ampla rede de serviços para a proteção social, que ajuda a prevenção e também a resposta a um problema qualquer.

E a gente trabalha de forma coordenada dentro do setor do banco com educação, saúde e faz facilitação para outros setores também. Então, é um trabalho que não é um trabalho único da assistência social, é um trabalho bem colaborativo com todos. Então, a gente também quer aprender mais com a experiência de vocês.

Então, essa rede que está sendo criada aqui para nós é muito boa porque ela nos dá a visão de todos os atores e que isso vai nos permitir também melhorar os serviços na ponta, mas também de outros locais, de outros países ou de outros municípios que não tenham serviços que existem em determinadas áreas. Então, a gente quer melhorar, aprender com as boas experiências e expandir essa para uma cobertura maior, para que o maior número de pessoas seja protegido e que a inclusão social seja parte da vida delas.

[Intervenant 14]
Muito obrigada. Nós agradecemos. E agora iremos iniciar com a nossa última mesa.

[Intervenant 17]
Dando início à mesa, Desafios e potências do plano Ruas Visíveis como estratégia de política pública. Convidamos ao palco Maria Luiza Gama, do Departamento de Políticas Públicas para a População e Estação de Rua do MDHC. Bem-vinda, Maria Luiza.

Carinhosamente conhecida como Malu. Chamamos também Laura C. Dias, conselheira do CIAMP Rua Nacional.

Convidamos também Sheila Costa Marconino, conselheira do CIAMP Rua Nacional.

[Intervenant 14]
Tenham todos um ótimo debate. Olá, boa tarde a todas as pessoas presentes.

[Intervenant 8]
Eu vou começar me apresentando aqui como mediadora da mesa, um pouco envergonhada. Não sou muito de fazer esse papel, mas vamos lá. Eu sou a Sheila Costa Marconino.

Sou representante do CIAMP Rua pelo Fórum da Cidade de São Paulo. Também trabalho em São Paulo, no Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, e acompanho as equipes do Polo de São Paulo do colaboratório. Vou me autodescrever.

Eu sou uma mulher negra. Estou de tranças, sem óculos, então estou enxergando bem pouco. Vestido preto, com, sobretudo, preto e branco.

E um calçado vermelho. Para a gente começar essa mesa, que vai falar um pouco dos desafios e potências do plano Ruas Visíveis, acho que é importante a gente resgatar um pouco, antes de passar aqui para a Malu e para a Laura, que vão compor essa mesa, que vão ser as debatedoras, um pouco do contexto do CIAMP Rua. O CIAMP Rua estava suspenso e foi retomado em 2023.

Então, essa composição atual do CIAMP, ela teve a posse em outubro de 2023. E aí, nesse momento de posse de outubro de 2023, a gente já inicia com um grande desafio, com vários grandes desafios. Um é reconstituir esse espaço democrático, participativo, onde as vozes da população em situação de rua, principalmente, elas vão olhar a política, vão olhar, monitorar e contribuir para o fortalecimento da política da população em situação de rua.

Essa definição da participação através do comitê, ela é prevista no decreto 7.053 de 2009. E ela havia sido suspensa. Então, a gente retorna nesse momento com a grande questão.

Havia acabado de sair a decisão da DPF 976, onde houve a decisão do ministro Alexandre de Moraes que define o estado de coisas inconstitucionais a partir de um processo amplo de participação, onde foram saídas todas as questões que violam gravemente a população em situação de rua. E aí, eu sempre fiquei pensando isso. Eu fico pensando, alguém tem dúvida que a situação de rua em si é um estado, é uma questão extremamente violadora de direitos?

E a gente precisa que o Supremo Tribunal Federal diga isso para a gente, que as pessoas não podem viver na rua, que as pessoas não podem morrer na rua. Então, a gente é uma sociedade onde a gente precisou chegar a esse ponto nas nossas políticas, de serem motivadas a partir do sistema de justiça, a partir de uma decisão que foi extremamente importante, que fosse assim, que a gente tivesse essa decisão. A gente precisa reconhecer isso.

E isso motiva que o Ministério de Direitos Humanos inicie esse trabalho dentro do prazo que foi dado, que era de 120 dias, para apresentar um plano que dê uma resposta a esse estado de coisas inconstitucionais. Então, quando a gente, esse grupo que compõe de 22 integrantes, 14 ministérios, movimentos e cinco entidades, a gente assume o CIAMP-Rua, a gente já assume, em outubro de 2023, com esse grande desafio, monitorar um plano, ajudar na construção de um plano que seria apresentado em dezembro de 2023. Então, pensando, um plano de resposta a uma situação extremamente grave que vai sair na primeira versão do plano, que tem aí o prazo de outubro, para a gente do CIAMP, até dezembro de 2023.

Então, esse é o pontapé inicial da participação do CIAMP na construção desse plano. As debatedoras que vai apresentar é a Laura, que é do Movimento de Luta e Defesa da População e Situação de Rua, e a Malu, que é a coordenadora da Política de População e Situação de Rua no Ministério, da diretora. Então, eu vou deixar para elas falarem.

À medida que a gente for aqui passando as falas, a gente vai trazendo, contribuindo também com um pouco mais do contexto de como o CIAMP esteve na participação desse plano. Lembrando também aqui que a gente tem outros integrantes do CIAMP-Rua que estão participando aqui, hoje, desse evento. O Gonzaga está aqui também doido para falar.

E acho que em algum momento, já que vai abrir fala, o Gonzaga finalmente vai poder falar. Viu, Gonzaga? Então, vou começar aqui pela Malu.

Oi, gente. Boa tarde.

[Intervenant 2]
Enquanto o pessoal vai colocando a minha apresentação, que eu enviei, vou me apresentar, fazer a autodescrição. Eu sou a Malu. Eu estou, atualmente, com o pequeno grande desafio de coordenar a política para a população em situação de rua.

Então, eu estou diretora de políticas para a população em situação de rua, que a Joana, nossa coordenadora do CIAMP-Rua Nacional, muito bem me lembrou, agora há pouco, que foi muita luta dos movimentos sociais para transformar o que era só uma coordenação em uma diretoria nacional e, quem sabe, futuramente, uma secretaria nacional, pelo tamanho que a nossa pauta tem. Eu sou uma mulher branca, estou com os cabelos presos, estou de brincos dourados, de roupa preta, e muito feliz de estar aqui com vocês hoje. É lindo ver a discussão sobre população em situação de rua ganhando espaço em todos os lugares, especialmente nesse espaço de discussão teórica acadêmica.

A gente precisa estar debatendo com a população de rua. Como o Anderson, meu coordenador geral do CIAMP-Rua, sempre diz, é com a rua e não para a rua. Então, esse espaço integrado é muito importante para a gente.

Eu vou fazer uma breve explanação aqui do que a gente tem enquanto política nacional para a população de rua e espero que a gente consiga abrir um tempinho para conversar depois sobre isso.

[Intervenant 14]
Vamos lá. Deixa eu entender como isso aqui funciona. Eu que passei ou você que passou?

Fui eu que passei.

[Intervenant 2]
Então, está funcionando. Vamos lá. O que a gente tem atualmente que regulamenta o que a gente faz no tema da população em situação de rua?

A gente tem o que todo mundo conhece, o Decreto 7.053, de 2009, que ele instituiu a política nacional, instituiu o CIAMP-Rua, e ele é muito importante. Eu queria frisar quatro questões muito importantes nesse decreto. Um, ele estabelece uma corresponsabilidade entre as políticas setoriais.

Então, antes, você tem um atendimento que é muito difuso das políticas. Você tem assistência atuando aqui, a saúde atuando ali, e não se entendia que falar sobre população de rua era também tema de cultura, de trabalho, de educação, de habitação. Pelo menos, não se entendia legalmente.

Os movimentos sociais já entendiam há muito tempo, mas isso não estava na legislação. Então, esse decreto, ele estabelece a obrigatoriedade das diversas pastas atuarem com a população de rua. Garante a participação social, garante que os estados e municípios têm que fazer adesão à política nacional, e, muito importante, ele garante a definição de população de rua, que eu acho que a gente observa pouco essa definição, e a gente tem que observar um pouco mais, porque ela é muito interessante.

E eu queria frisar uma questão aqui, que eu sempre friso. Considera-se a população em situação de rua um grupo populacional heterogêneo. Ou seja, cai por terra aquela ideia que a gente tinha, aquele estereótipo que a gente tinha da pessoa em situação de rua como um homem, de meia-idade, sozinho na rua.

É uma população diversa. Uma colega que estava aqui antes estava apresentando. A gente tem crianças em situação de rua, mulheres em situação de rua, pessoas egressas do sistema prisional, pessoas LGBTQIA+.

E parece bobo, mas não é, porque se você entende que as pessoas são diferentes entre si, você também entende que as soluções, as saídas e as políticas, elas têm de ser diferentes entre si. Você não tem uma única solução aí para a população em situação de rua, já que são pessoas que têm necessidades diferentes. Então, isso garante que a política tem que ser diversa.

Política é lá de 2009. E lá na política, ela colocava que os estados e municípios tinham que fazer a adesão à política. O que aconteceu?

Lá em 2022, menos de 1% dos entes federativos tinham realizado a adesão à política nacional. Então, a gente tem mais de 5 mil só de municípios, vamos contar que são 5 mil. Menos de 50 estados e municípios tinham feito adesão à política nacional.

Então, o que acontece? Se ajuiza uma ação no STF, o STF entende que há um descumprimento constitucional, já que a gente tem garantias constitucionais da população em situação de rua, quer dizer, de toda a população que estão sendo violadas no caso da população de rua, e que os estados e municípios não estão cumprindo. Então, existe uma decisão judicial que coloca obrigações para a União e para os estados e municípios.

E aí eu queria compartilhar um pouco aqui do que é que essa decisão judicial coloca. Não é um para trás, na verdade. Para a União, o que a União tem que fazer?

Ela tem que coordenar a política nacional para a população em situação de rua, governo federal, elaborar em 120 dias, que foi o que a Sheila contou aqui para a gente, um plano de ação para efetivar a política nacional para a população de rua, monitorar os estados e municípios, garantir a segurança e integridade da população de rua. E os estados e municípios? Implementar a política, proibir remoções forçadas, garantir ações intersetoriais e garantir comunicação com a União e com o STF.

Ou seja, o que é decidido aí pelo STF? A União monitora e acompanha a implementação, os estados e municípios garantem a execução. E aí, assim, nasce o Plano Ruas Visíveis, em 2023.

Um plano que é separado em sete eixos. Assistência social e segurança alimentar, saúde, violência institucional, cidadania, educação e cultura, habitação, trabalho e renda, produção e gestão de dados. Então, todo mundo viu, todo mundo comemorou, quase um bilhão destinado à população em situação de rua.

O Plano Ruas Visíveis é um plano interessante porque... Pode voltar um, por favor. Porque a gente separa as ações de formas setoriais e aqui a gente tem a previsão de algumas ações que elas são inovadoras e algumas ações já existentes.

Obrigada. E algumas ações já existentes. Então, por exemplo, o Plano Ruas Visíveis garante o repasse, fundo a fundo, das políticas de assistência e saúde.

Que é uma ação que já acontece, independente. Mas o Plano Ruas Visíveis também estabelece a execução de uma modalidade de programa moradia primeiro pela União. Que é uma grande inovação em termos da política brasileira para a população de rua.

Até esse momento, a gente não tinha nenhuma modalidade de política habitacional e não podemos dizer que temos em grande escala uma modalidade de política habitacional para a população de rua. Então, a gente está trabalhando com algumas ações mais convencionais e algumas ações que elas são, de fato, mais inovadoras. Então, um marco temporal aqui.

Lá em 2009, o decreto. 2023, a DPF. 2022 para 2023.

Que a DPF em si é 22 e a decisão é 23. E o Plano Ruas Visíveis também em 2023. Então, veja a quantidade de tempo também que a gente demorou para entender que aquela política que a gente instituiu lá atrás não estava sendo bem executada.

Tem um ponto... Fiquei pensando bastante no que eu ia trazer para a gente discutir aqui, porque todo mundo aqui é muito bem entendido sobre a pauta. Então, acho que a gente tem que avançar nas discussões que a gente faz.

E um ponto que a gente tem debatido muito aqui no governo federal, enquanto o Ministério, que é responsável pela coordenação da política nacional e do Plano Ruas Visíveis, é que a gente tem dois níveis de articulações para fazer. Um que a gente chama de articulação interministerial, que é garantir que todas as pastas, habitação, cultura, trabalho, educação, saúde e assistência atuem com a população em situação de rua. Então, viabilizar que todas essas políticas, garantir que todas essas políticas estejam atendendo a população de rua.

Só que tem uma articulação interfederativa, que eu avalio que é um dos nossos maiores desafios no presente momento, que é o quê? Qual é o papel da União? Qual é o papel dos estados?

E qual é o papel dos municípios? E isso é uma coisa que eu digo para vocês. Não está bem estabelecido.

Nem na DPF, nem na política nacional. O que a gente tem? Que a União coordena e monitora, que o município executa.

Pensem comigo, cadê o estado? Onde estão os estados nesse processo? Os estados eles ficam perdidos.

A gente tem muitos estados que atuam muito firmemente com a população de rua e a gente tem muitos estados que a gente nem ouve falar. Vamos lá. O que a gente avalia que a gente tem que ter nesse processo de articulação interfederativa?

Uma avaliação aqui do governo federal. Um, a União coordenando a política nacional, definindo as diretrizes, as metas e os padrões de atendimento, apoiando técnico e financeiramente, que é fundamental, cofinanciando os entes federativos, os estados e municípios, e monitorando e avaliando em conjunto com os estados. Estado.

Os estados têm que elaborar diagnósticos da situação da população e situação de rua no seu território, de forma integrada em todos os municípios, monitorar e avaliar a execução da política nos municípios, organizando as informações locais, promover a integração entre os municípios, então trocas, um município tem uma política interessante, pode trocar com outro, e apoiar técnico e financeiramente também.

Mas vejam bem, aí a gente tem um papel muito mais bem definido dos estados. E, não é tentando facilitar o nosso trabalho não, mas uma coisa é a União monitorar 5 mil municípios. Outra coisa é a gente monitorar em conjunto com os estados os municípios daquele território.

É um trabalho que ele fica integrado, a gente tem um fluxo, a gente tem uma lógica. E os municípios executando as ações, desenvolvendo seus planos municipais, realizando atendimento direto com a população de rua. A gente tem aqui, ali eu trouxe o ideal, do que a gente avalia que tem que ser essa pactuação inter-federativa entre União, estados e municípios.

Aqui eu estou trazendo como é que as coisas acontecem atualmente, como é que está o nosso fluxo real. A gente está fazendo a articulação e o monitoramento com os estados e municípios através do plano ruas visíveis. Então, o que a gente faz?

Agora, a gente não trabalha mais com adesão à política, porque a DPF estabeleceu que a adesão tem que ser automática independente de instrumento legal. Então, você, município, não precisa ter assinado um papel comigo para você ter que cumprir a política nacional. Então, a gente está fazendo pactuação com o plano ruas visíveis.

No momento que o município entra em contato comigo, realiza a pactuação com o plano ruas visíveis e assina um termo de compromisso com a política nacional e com o plano, a gente faz um processo integrado de monitoramento daquele município, daquele estado, através de uma iniciativa nova que temos chamado de Integra Pop Rua, ou o Índice de Esforço Municipal e Estadual com as Políticas para a População e Situação de Rua.

Vamos ver, eu quero mostrar para vocês como é que funciona o Integra Pop Rua. Não sei se vocês estão conseguindo ver bem. A gente tem algumas dimensões.

Então, é um questionário integrado com mais de 80 perguntas para aquele município que envolve controle social e institucionalização da política, assistência social e segurança alimentar, moradia, educação escolar e não escolar, cidadania, segurança e garantia de direitos, cultura, esporte, lazer, trabalho, emprego e renda, saúde, planejamento urbano, mobilidade e mudanças do clima. O que é isso? O município, nós respondendo sobre que políticas ele dispõe para a população de rua.

Você, município, você tem uma política habitacional específica para a população de rua? Independente se sim ou se não, você, nas suas modalidades de políticas habitacionais, você tem vagas exclusivas para a população de rua? Você tem bebedouros públicos?

Você tem banheiros públicos para a população de rua? E aí, o Integra Paupe Rua ficou um pouquinho pequeno, mas vocês conseguem ver que ele te dá uma dimensão de gráfico. Então, como é que você, município, primeiro município, ele está muito bem em relação à saúde ali no canto, mas ele já não está tão bem em relação à segurança alimentar.

Então, a gente consegue ter um diagnóstico de fato do que aquele município está fazendo, o que é fundamental e é uma obrigação legal. Eu, enquanto União, tenho a obrigação legal de garantir que a política está sendo bem executada nos estados e municípios. Mas, atualmente, por não ter um instrumento legal mais fortalecido que estabeleça que os municípios e estados têm que repassar informações sobre essa rede, a gente faz a partir da possibilidade de troca com o Estado e com o município.

Então, do desejo do Estado no município. Então, a gente tem grandes municípios que não fizeram adesão e que a gente não consegue fazer o monitoramento da política. A partir das respostas do Integra PopRu, a gente vê que esse município está muito forte em saúde.

Ele tem estratégias de saúde para a população de rua que são bacanas, mas, em questão habitacional, ele está muito ruim. A gente elabora, em conjunto, um plano de ação do Plano Ruas Visíveis, onde a gente destaca quais ações do governo federal vão ser executadas em conjunto com aquele município. A partir das fragilidades dele e da condição real daquele município.

Agora, imagina se a gente tem os estados com a gente para potencializar essa articulação. E aí a gente implementa e monitora. Atualmente, eu trouxe aqui...

Vou aproveitar e divulgar cinco minutos. Eu estava vendo aqui. Você está até sendo generosa.

É menos de cinco segundos. É três minutinhos aqui, mas eu estou finalizando já. Eu trouxe aqui para vocês...

A gente inaugurou recentemente o site do Plano Ruas Visíveis, que é para a gente potencializar a nossa comunicação institucional, principalmente com gestores das políticas municipais e estaduais. Aqui é um processo de comunicação menos com a população em situação de rua em si, apesar de que é muito bem-vindo ser divulgado e etc. Mas é um site para a gente divulgar como você faz a sua adesão e qual é o processo para você...

Quais são os benefícios de você pactuar o Plano Ruas Visíveis com o governo federal? Então, compartilhem. Tem um QR Code justamente para vocês poderem entrar e ver.

Vou deixar o QR Code para vocês conseguirem pegar. Mas qualquer coisa, é só entrar em ruasvisíveis.mdh.gov.br. Lá a gente tem todas as ações do Plano. Lá a gente tem também...

Deixa eu mostrar para vocês. O mapinha com as pactuações. Vejam.

Onde tem bolinhas ali são os municípios pactuados. Uma grande angústia nossa. A gente sabe que o Sudeste é a região de maior concentração de pessoas em situação de rua.

Mas vejam como as pactuações estão centradas no Sudeste. Então veja como falta a gente expandir para o Centro-Oeste, para o Norte e para o Nordeste. Tanto as nossas pactuações, nosso diálogo institucional, quanto as nossas políticas e as nossas ações.

Por último... Então, vamos lá. MDHC...

Preciso de mais dois anuncinhos aqui. Além da gente ter essa atribuição de monitorar e garantir a implementação, garantir essas duas articulações. A articulação horizontal, que é com os nossos pares ministérios, e a vertical, que é União, Estados e Municípios.

Além de toda essa coordenação, a gente não pode se furtar do papel de, de fato, trabalhar o que é a política de direitos humanos para a população em situação de rua. Porque direitos humanos não estão aqui só para articular. A gente também está aqui para garantir a nossa política, para defender direitos.

A gente está atualmente... Uma grande vitória nossa foi ter garantido a instalação de 40 equipamentos que vão atuar na perspectiva de promoção e defesa dos direitos da população em situação de rua em 21 municípios, na verdade, 20 municípios mais distrito federal. Se chama Cidadania PopRua.

Cidadania PopRua é um serviço que vai garantir, através do atendimento de uma equipe técnica, o atendimento em direitos humanos. Então, a gente vai atender violações de direitos humanos e todas as suas possibilidades que integram. Então, a gente vai ter uma equipe que é especializada com agente redutor de danos, com mediador de conflito, agentes de direitos humanos, para a gente poder fazer essa promoção de direitos no território, auxiliar na articulação das políticas.

A gente tem falado sobre a importância da territorialização de uma política de direitos humanos de fato. Porque você, cidadão, se você precisa de um benefício social, você sabe que você tem direito a receber o Bolsa Família, você sabe que você vai no Crass, você vai no Centro Pop. Se você sofrer uma violação de direitos, qual é o seu espaço de referência enquanto cidadão?

A gente sabe que a gente pode procurar a defensoria pública, vai na delegacia, etc. Mas qual é a resposta do Poder Executivo para a violação de direitos? E a gente sabe que tem aumentado a violação de direitos com a população em estação de rua.

Então essa é a nossa resposta. É uma rede territorializada, integrada de equipamentos que garantam, que promovam os direitos da população de rua. E aí eu trouxe, por fim, alguns pontos de atenção que eu queria compartilhar com vocês, que eu avalio serem alguns desafios em relação à política para a população de rua.

Um, o que eu falei, estabelecimento de um fluxo interfederativo de execução da política. Dois, necessidade de garantia de repasse orçamentário continuado para as políticas existentes. Então, fortalecimento do SUS e do SUAS e de todas as suas esferas de atendimento à população de rua.

Três, inclusão permanente da população em situação de rua como público prioritário na política nacional de habitação. Quatro, regulamentação nacional sobre remoção de pertences de pessoas em situação de rua em ações de isoladoria urbana. Pessoas em situação de rua estão sendo roubadas e furtadas nos municípios, com a desculpa de realização de limpeza urbana.

E a gente sabe que isso é roubo. Então, a gente precisa de uma regulamentação forte a nível nacional. Cinco, garantia da instalação e manutenção de equipamentos que atuem, que atendam à demanda de violação de direitos desse público.

Seis, que eu esqueci de colocar aqui, regulamentação da política nacional de trabalho digno para a população de rua. E sete, garantia de políticas de prevenção da situação de rua. Não adianta a gente estar tirando gente da rua todos os dias, se a gente ainda está fazendo remoções forçadas, se as famílias ainda não estão tendo direitos aos seus benefícios, não estão conseguindo cesta básica, e se a gente tem gente indo para a rua todo dia.

Então, a gente vai começar a realmente trabalhar, de fato, com a diminuição do número de pessoas tendo que usar as ruas como forma de moradia. Não só quando a gente fizer uma porta de saída, fizer portas de saídas adequadas, mas quando a gente entender que porta de entrada é essa que continua e continua.

[Intervenant 8]
Vamos ver, acho que eu acabei. Obrigada, gente. Malu, a gente agradece pela sua exposição.

E aí eu fiquei pensando que ontem aqui no auditório surgiu uma pergunta, que eu acho que foi do Rio de Janeiro, que uma pessoa trouxe aqui na plenária, perguntando qual era a resposta do Ruas Visíveis. E aí, quando você traz em relação a essa dificuldade da pactuação, da responsabilização dos estados e municípios, a gente vê que tem um grande desafio, porque quando um município pergunta para a gente qual é a resposta do plano que é do governo federal, eu fico pensando como é que esses municípios, como é que esses estados estão implicados também na execução desses planos locais. E a gente viu que isso é um problema, essa falta de articulação entre os estados e municípios, falta de articulação intersetorial, a gente tem visto o quanto isso tem impactado no CIAMP, e a gente tem visto, dentro do CIAMP, principalmente, a partir da própria participação dos ministérios nas discussões.

Porque, como você mesma falou, quando a gente recebe a primeira proposta para a gente trabalhar do plano Ruas Visíveis, dentro do CIAMP Rua, a gente tem ali em primeiro momento um conjunto de ações que já estavam sendo executadas pelos estados e municípios. Então, isso, para a gente, trouxe um pouco de susto, porque eram ações que já estavam sendo executadas e, ainda assim, elas aparecem no plano de uma forma muito frágil, faltando diretrizes para que essas ações fossem, de fato, representarem resposta para aquilo que o plano se propunha. A gente tinha, de um lado, isso, que a maioria das ações são ações que já existiam, inclusive, antes da DPF, e que já não estavam respondendo às necessidades da população em situação de rua, mas estavam sendo colocadas ali, inseridas como resposta, e eu não estou aqui dizendo que não são ações necessárias.

Acho que é importante essa organização dentro do plano, mas elas aparecem nesse contexto. E uma outra coisa é que uma resposta em termos de orçamento é muito tímida, porque o valor que estava lá, embora ele pareça um valor significante, mas, em termos de resposta, aquilo que se propunha, ele precisava de maior robustez e que isso não apareceu dentro do plano. Então, a gente tinha ali um contexto de muitos desafios.

A gente foi, enquanto representantes do CIAMP, a gente trabalhou uma versão com diversos indicativos e análises, enviamos documentos dizendo o quanto precisava melhorar, quais eram as ações, eixo por eixo, fomos respondendo, e assim a gente foi tentando construir essa proposta do CIAMP Rua. Mas eu acho que esse contexto inicial diz muito para a gente do que você está trazendo. E aí eu acho que, além da não participação dos ministérios efetiva, porque dentro do CIAMP o que a gente tem em uma construção cotidiana mais efetiva são alguns poucos ministérios.

Saúde, que é sempre assistência social, e, eventualmente, algum outro ministério que apareça. Mas no cotidiano, no trabalho... Ah, o Ministério das Mulheres.

Isso, o Ministério das Mulheres também, que tem uma participação bem efetiva. Mas, por exemplo, o diálogo com a educação, ele foi muito difícil, porque a educação não conseguia pensar, e aí pensar em educação, como construir um diálogo para ações para a população em situação de rua. Não tinham referências.

Então, as primeiras e poucas discussões que houveram no CIAMP foi nessa direção, da ausência de possibilidade de construir ações de educação.

[Intervenant 14]
Eu vou passar para a Laura, e aí ela vai trazer mais questões e a gente vai seguir nesse debate. Respira. Bem, gente, meu nome é Laura Elias Dias.

Meu nome social é Laura Dias.

[Intervenant 6]
Sou uma mulher negra, de estatura... Sou baixinha, sou gordinha, tenho um cabelo pichainho maravilhoso. Sou uma mulher que venho de uma história de 20 anos de uso abusivo de crack, álcool e cocaína, mas que, por muita luta, eu, há oito anos, estou na persistência total, saí dessa situação.

Eu conheci o movimento de luta em defesa da população de rua, onde eu sou coordenadora nacional hoje, em oito anos de luta. Eu sou conselheira estadual em São Paulo, no Conselhas, e sou conselheira estadual também na Defesoria, na Obedoria da Defesoria Pública, e tenho uma cadeira como conselheira titular aqui no CIAMP em Rua Nacional, em Brasília. Falar sobre o plano de ruas visíveis.

Como a... Sim, desculpa, gente. Eu sou coordenadora da Comissão Mulheres, Gêneros e Raças dentro do CIAMP Rua aqui em Brasília.

[Intervenant 14]
Eu escrevi fofinha.

[Intervenant 6]
Não viu que eu sou fofinha? Então, gente, falar depois de tantos professores, tantos... Vamos lá.

Eu escrevi muita coisa, mas eu vou falar do jeito Laura, porque o negócio de ficar lendo demais é difícil para mim. Então, falar sobre o plano visível. Como nossas colegas já falaram aqui, o plano visível, ele chegou a nós do CIAMP já pronto.

Foi um plano que foi feito de cima para baixo, enfiado na goela, como sempre fazem com a rua. Porque o governo tem esse problema, as pessoas têm esse problema de achar que eles sabem o que a rua precisa. Tem que ser do jeito deles.

Eles não conversam com a gente. Eles não querem saber das nossas reais necessidades muitas vezes. A população de rua que está aqui sabe bem disso.

Porque a gente tem um lema, nada de nós sem nós. Nada da rua sem a rua. Porque ninguém é melhor para falar do que aquilo que necessita do que aquela pessoa que faça.

Então, o plano veio pronto para a gente, dizendo a seguinte situação. O plano está pronto, está posto e temos que executar, apresentar e já tem uma data com o presidente Lula. Então, temos que aceitar e executar rápido.

Nós protestamos contra isso, é claro. E nós não queríamos mais uma vez engolir nada à força. Mas fizemos um acordo que sim, queríamos aceitar o lançamento do plano com a condição que iríamos depois ter reuniões e modificar o plano, adequar às necessidades reais da rua.

E é isso que nós estamos fazendo. Está aí, assumiu agora a nossa ministra Macaé, a secretária executiva Janine. Então, nós estamos tendo essas reuniões no CIAMPE com a sociedade civil.

Porque no plano está citado 14 ministérios, mas nas reuniões ali, na verdade, só participam ministérios das mulheres, assim, efetivamente. A saúde vem e a assistência vem. Agora, os outros ministérios não aparecem.

Eles não estão tendo ou compromisso com as pessoas em situação de rua, com o que está escrito no plano, aquilo que o nosso presidente lançou. Esse compromisso não existe. Nós estamos ali, ralando, mas eles não vêm.

E eu até ia perguntar aqui para a Malu. Malu, o que a diretoria está fazendo para sensibilizar esses ministérios que compareçam, que estejam na mesa discutindo com a gente? Para que levem a sério, porque população de rua não é brincadeira.

São vidas de seres humanos. A gente não está aqui brincando de fazer política. A gente está deixando as nossas vidas, porque eu já saí da rua.

Eu podia estar na minha casa, com a minha família, de boa. Mas eu estou lutando para quem está lá, porque eu sei o que eles estão passando, porque eu já passei por isso. Então, a gente está lutando para isso, porque o Plano Rosa existe aí, mas na realidade, na real, a gente não vê nada acontecer, nada mudar.

Poucos, poucos pontinhos em tantas palavras mudam. Então, a gente vê nossos irmãos sendo mortos, nossas mulheres sendo estrupadas, nossos irmãos sendo roubados. A zeladoria diz que é limpeza.

Olha a coisa bonitinha. Limpar a sujeira do canal, da rua que eu moro, eles vão lá limpar. Mas retirar o pouco que pertence, que a rua tem, eles vão.

Então, eles fazem isso como zeladoria. Então, é isso. Eu falo para vocês.

Nossos irmãos, tanto é que no plano que veio enfiar o goela abaixo para nós, é uma coisa tão absurda que as mulheres não estavam inseridas. Prestem atenção, gente. As mulheres não estavam inseridas no Plano Rosa, inclusive.

Depois das nossas reuniões e reivindicações, conseguimos colocar mulheres, crianças e adolescentes no plano.

[Intervenant 14]
Ele está ficando baixo? Magistão, como é a minha voz? Oi.

Oi. Quem está na rua não são apenas homens.

[Intervenant 6]
É uma diversidade. Como deixar mulheres de fora? E outra, a política que vai caber a nossos companheiros homens não é a mesma que vai caber a nós mulheres.

Nós menstruamos, nós engravidamos, nós temos câncer no seio, no útero. E cadê a nossa política? Cadê a nossa inserção na política de saúde, de cuidado?

Cadê a nossa proteção a esse rápido desumano de beber que fazem com a gente quando a gente está na rua? Roubam nossos filhos sem nos dar nenhuma assistência, nem psicológica. Jogam nossos filhos em orfanatos e depois, quando fazem 18 anos, jogam eles na rua de novo.

Cadê o tratamento continuado, cuidado para essas crianças? E viram lá adolescentes em situação de rua. Muitos pais são presos e as crianças ficam em situação de rua.

Quer dizer, como é que pode não ter no plano ruas visíveis essas pessoas? Não tem como isso não existir. , vamos falar um pouquinho de cada coisa.

E sobre a Minha Casa, Minha Vida. Olha que legal, nós conseguimos 3% para a população em situação de rua. Eba!

Só que não. Porque nem todos os municípios, nem todos os prefeitos, querem aderir a isso. Aceitam isso.

Eles querem burlar a lei. Não aceitam que a pessoa em situação de rua entre nessa cota. Aí eu venho para lá.

Venho pedir para que o governo federal e o Ministério Público venham punir essas pessoas. Venham olhar. Dê um olhar mais severo.

Porque os prefeitos, eles têm uma zoaninha quando vem uma o que é? A verba. Vamos lá.

A verba para operação inverno. Vamos pôr um exemplo. Eles não usam com a população em situação de rua.

E ela é devolvida. Aí eu perguntei. Eles falam assim, não tem público para isso.

E eu perguntei assim, qual é a penalidade que esses prefeitos sofrem? Retirada a verba deles. Que legal.

Quem é que está sendo punido? A população em situação de rua não é o prefeito. Porque ele já não quer fazer.

E se você ainda gira a verba, é só mais uma desculpa para ele não fazer. É simples assim. Por que as pessoas em situação de rua estão sendo mortas?

Estão sendo expulsas? Que há prefeitos e vereadores expulsando da cidade. Porque eles não têm punição.

Porque eles ficam impunes. São bandidos, são assassinos. Eles descubrem a lei federal, a lei nacional.

Mas eles não têm nenhuma punição. E aí, incentiva para que outros façam mesmo. Então, o que a gente quer pedir?

Que o Ministério Público, que o governo federal venha a punir essas pessoas realmente. Porque só sendo punidos, só tendo exemplos de punições severas, isso vai parar. Porque eles se sentem à vontade para fazer o que falam.

[Intervenant 14]
Deixa eu ver aqui. É isso, gente. Está vendo?

Se eu falar por mim, eu falo rapidinho.

[Intervenant 6]
Eu quero ler esse trem aqui. Eu me embanano.

[Intervenant 14]
Perdi o foco. Pois é, gente. Eu perdi o foco, ?

, vamos lá. É isso. Eu perdi o foco.

Eu perdi o foco. Agora eu passei vergonha, porque eu perdi o foco, tá bom? É isso, gente.

[Intervenant 6]
Assim, ?

[Intervenant 14]
Outra coisa também que eu queria falar.

[Intervenant 6]
Vamos deixar isso para lá, porque eu já perdi o foco dessa peste. Gente, eu falo muito bem, mas eu falo sem ler. Outra coisa que eu acho um absurdo, vamos lá, é sobre cotas, ?

Por que a população de rua não entra nas cotas, nas conferências de certos tipos de editais, de certos benefícios? A população de rua também, a gente tem o direito de ter chance em um curso, em um edital, não é porque eu estou na rua que eu tenho que ser desprezado. As conferências agora, nós tivemos a reunião com a nossa ministra das Mulheres e conseguimos fazer conferências livres.

Por quê? Porque não havia cotas para mulheres de situação de rua. Todas as conferências que estão acontecendo, da saúde social, da saúde, estamos fazendo cotas para que a população de rua entre.

Então, eu acho que a dignidade das pessoas tem que ser respeitada. A rua tem que ter espaço, tem que ser ouvida. As pessoas têm que ouvir o que a rua precisa.

[Intervenant 14]
Gente, eu perdi o foco. Gente, eu nunca passei tanta vergonha em público, é a primeira vez. Então, gente, é isso.

Exatamente. A rua precisa de cotas para trabalho, para universidade.

[Intervenant 6]
Olha, Laura Dias e muitas outras pessoas que estão aqui, estão para mostrar para esse sistema, para esses pensamentos retrócitos, bolsais, que quem está na rua é gente. E que após o creque, existe vida. Eu estou aqui.

Minhas companheiras e companheiros estão ali. Nosso companheiro se formou mês passado, assistente social. Eu tenho umas três em Santos que saíram do creque e estão se formando assistentes sociais.

É possível. Quem diz que a rua não tem jeito, não sabe o que fala. Porque nós temos jeito, porque nós somos seres humanos.

Nós temos que ter respeito, chance e dignidade para que a gente possa mostrar a nossa potência. Porque nós somos potentes, sim. Nós não fomos para a rua por uma escolha, não.

Foi por alguma necessidade. Porque ninguém pergunta o que te levou para a rua. É fácil apontar o dedo, mas a mulher está sendo lá, estrupada pelo próprio marido, Laura Dias, espancada pelo próprio marido, Laura Dias, o próprio marido, amarrando as mãos dela e ligando o fogão e acendendo uma tocha de fogo, dizendo que vai matar ela e os dois filhos.

Vai todo mundo morrer com ele queimado, Laura Dias. Como é que uma mulher dessa consegue ficar dentro de uma casa? Ela tem que fugir para salvar a vida dela e dos filhos.

Como essa Laura Dias, tem várias por aí que precisam, infelizmente, quando não tem o apoio, não tem para onde ir, ir para as ruas, se esconder, mudar de cidade. E várias outras histórias que temos aí. Então, a população de rua tem jeito?

Sim. Tem potência? Sim.

E merecemos a dignidade e o respeito de todos. Então, a oportunidade tem que estar sempre aberta para nós. As portas falam que a população de rua é vagabunda e não quer trabalhar.

Quantos projetos, programas tem de trabalho para essa pessoa? Quantas oportunidades de emprego tem?

[Intervenant 14]
Aí falam que não querem trabalhar. Mas, vem cá, como que uma pessoa que está em situação de rua tem profissão?

[Intervenant 6]
Como o nosso colega falou aqui, ele é professor, mas, de repente, ele não tem um lugar para tomar um banho, trocar uma roupa, preencher um currículo e se apresentar. Aí ele acha o trabalho e não tem onde dormir para no outro dia voltar limpo para trabalhar. Por que não tem projetos para isso?

A gente ainda acha um ou outro, graças a Deus, que são seres humanos como os que estão aqui, porque quem está aqui é gente que gosta de cuidar de gente, que está preocupada em mudar a situação das pessoas. Mas ainda somos poucos. Mas não desistimos, como disse lá.

A gente não vai ser derrotado. A gente não vai perder. Nós estamos ganhando e lutando por isso que estamos aqui.

E nós vamos conquistar muito mais do que isso. É isso, gente.

[Intervenant 8]
Laura, a gente se agradece pela sua fala, sempre potente. E o que eu tinha dito para a Laura o tempo inteiro é esse, para a Laura, para a Joana e para tantas outras mulheres que estão assumindo esse lugar difícil, que essa é uma liderança, enquanto mulher. Esse desafio que a gente tem realmente, falar, às vezes, espaço de fala para nós, principalmente mulheres negras, não é fácil ocupar esse local.

A gente sabe quais são os desafios para a gente conseguir se colocar. E isso é difícil para qualquer uma de nós. E principalmente em determinados contextos que você mesma trouxe aqui.

E é importante que a gente esteja aberto para ouvir a voz de vocês do jeito que elas são. O nosso papel é a gente fazer o exercício de escuta e não vocês terem que se esforçar para falar de forma a agradar as pessoas. Nenhum de nós devemos fazer isso.

Nem vocês, nem nenhuma de nós. Então, parabéns pela fala, por trazer pontos importantes do plano. A gente tem construído esse plano sempre em discussão e pensando o quanto é difícil que a rua tenha de fato essa escuta.

Dialogar que as necessidades da rua de fato se expressem nas letras dos documentos que a gente tem construído. Esse é um grande desafio também, porque muitas vezes a Malu trouxe aqui de um lado o desafio de monitorar a política, de trazer os aspectos legais, de fazer as pactuações com os estados e municípios. Só nesse percurso a gente já sabe quanta coisa se perde do que a rua realmente traz da sua própria necessidade.

E aí, a gente vai passar agora a fala para o Gonzaga, que ele está aqui. Ele também é o representante do CIAMP-Rua. E depois do Gonzaga, a gente vai convidar a nossa secretária Janine Melo para compor a mesa aqui com a gente.

[Intervenant 11]
Alô, alô. Bom dia. Bom dia, não.

Estou errando no começo. Mas a fala é para começar assim. Boa tarde a todos e todas que estão presentes aqui nesse evento.

Meu nome é Luiz Gonzaga Alves de Jesus. Vocês vão primeiramente receber uma linguagem modificada aqui. Ela vem sem 2S.

Qual é a linguagem sem 2S? Que instituição que vem plantada pela rua? Por caso de quê?

Esse Luiz Gonzaga é uma liderança que passou 35 anos na rua. Para a minha idade, passar 35 anos na rua, que idade eu entrei na rua? Com 13 anos de idade.

Então eu me formei muito bem com a linguagem da Escola da Vida. Para saber falar, garantir a voz forte e com energia na frente dos órgãos social, público, municipal, estadual e nacional do Brasil. Por caso de quê?

Que eu me formei na escuridão. E esse povo, essa população que está na minha frente, se formou na sociedade com a leitura. Oi?

Esse está mais alto. Até disse que eu gosto de falar grosso e falar alto. Porque nós, na rua, nós tínhamos muita voz, muito pulso e muita coragem para poder falar e atender, respeitar quem respeitava a gente.

Certo? É muito importante eu estar aqui na frente dessa sociedade com esse projeto aqui da Fiocruz. Agradeço muito ter patrocinado o nome de Luiz Gonzaga e colocado para estar aqui na frente dessa sociedade falando, porque eu estava bem preparado para sempre falar com a rua, com a escuridão e com a minha família que foi criada lá fora, debaixo dos viadutos, debaixo das fontes e debaixo das calçadas e gurites de todas as 24 horas, que era o horário da gente.

Como eu estou aqui, gostei muito dessas apresentações que foram apresentadas. Não dediquei quem é a minha função ainda hoje, mas vou dedicar no meio da fala, porque eu não adorei a fala do padre que esteve aqui. Todas as outras falas eu oligiei.

Por causa de quê? Eu sou natural da Bahia, entrei em São Paulo, morando na rua com 13 anos de idade. No estado dele eu passei 32 anos morando na rua.

E ele falar que a população de rua não sai da rua. Sai sim, porque eu saí com 35 anos na rua, entrei criança com 13 anos e estou aqui agora falando na frente de uma grande população social que está aqui representando. Eu queria falar ontem para debater em cima da fala dele, mas só que não teve tempo, não tive a oportunidade de falar, porque a coragem para falar eu sempre tive e sempre vou ter.

Sempre vou respeitar. Porque eu respeito a sociedade para poder ter força na minha voz. Na fala deles, na frente deles, falar com minha voz sem 2S.

Enquanto eu escuto a voz de muita leitura com 2S sociais. Entendeu? E é muito importante esse órgão de estar aqui presente.

Foi muito importante, agradeço muito estar aqui, porque aqui não tem só eu que vim de rua, só eu que saí de rua. Eu conheço aqui Antônio Lopes Miranda, que foi um morador de rua, já esteve no meu estado, em comunidade, onde já estive colhido. Tem a afinada Maria Lúcia, que foi uma das fundadoras de movimento do Brasil, junto com Antônio Lopes Miranda, certo?

Que trabalhou junto com Anderson e me pegou em 2009, me levou para Cajamar, em São Paulo. Ela me pegou na Praça da Irmã Dulce, na rua, onde eu estava com a minha maloca. Aí me levou em Cajamar, em São Paulo, em 2009, me colocou junto com Anderson Lopes Miranda, e falou, esse Luiz Gonzaga que vai fundar o movimento na Bahia, junto comigo.

E fundemos. Ela foi embora, deixou o legado dela muito positivo, que está ali, Sueli, que representa o movimento do MNPR, certo? E Luiz Gonzaga, que representa o movimento MNLDPSR. É o mesmo movimento que a Laura coordena. Laura coordena no estado dela, eu coordeno na Bahia, e agradeço muito de hoje eu ter uma cadeira no Conselho Nacional do Siam Pirrua, colocada por nosso coordenador Anderson Lopes Miranda. Agradeço demais e parabenizar e sou líder do movimento e tenho minhas representações todas sociais e com respeito para todos que estão aqui presentes. Defendo a rua, minha maior fala, minha maior mistura de estar junto é com o campo, na rua, onde estão os viadutos, onde estão os maloqueiros, onde estão os saciseiros, onde estão todos que precisam de que a gente pegue na mão e levante onde ele vai sair da rua como eu saí e outros saíram.

É isso que a sociedade tem que olhar e reparar. Fala muito, mas vá para o campo, vamos para o campo, porque você vai ver como é que está lá aquele povão, aquela família que precisa sair, ok? Obrigado a todos e parabéns a esse evento que teve bem aplaudido aqui dentro.

Pô Gonzaga e a toda a população, ok?

[Intervenant 8]
Obrigada, Gonzaga, sempre nos ensinando com a sua experiência de vida. Agora a gente vai chamar para compor a mesa aqui com a gente a nossa secretária do MDHC, a Janine Mello.

[Intervenant 6]
Gente, enquanto a nossa querida Janine sobe, eu queria falar uma coisinha, que depois que ela janeira eu não vou falar mais. Eu quero agradecer por esse evento, é um evento maravilhoso, muito potente, mas eu quero pontuar uma coisinha. É que quando vocês tragam pessoas de outro país, que vocês tragam aquele aparelhinho maravilhoso que a gente põe no ouvido e já vem transmitido, ou um tradutor, um intérprete, porque não só nós, população de rua, mas muitas pessoas que estão aqui não conseguiram entender bulufas da palestra, e foi uma palestra maravilhosa.

Deve ter tido umas duas ou três palavrinhas, porque eu não hablo espanhol, mas tudo bem. Então, a gente queria pedir para, encarecidamente, isso para vocês, porque a gente está aqui e a gente quer prestar atenção e ver todas as conquistas de todos os países possíveis. Está bom?

[Intervenant 4]
Boa tarde. Estão me ouvindo? Não.

Primeiro, meu nome é Janine. Estou como secretária executiva do Ministério dos Direitos Humanos da Cidadania. Vou fazer minha autodescão bem rápido aqui.

Sou uma mulher branca, cabelo castanho, hoje estou com interno aqui. Estou super arrumadinha, estava em vários eventos, hoje estou na Estica para ver vocês também. Estou muito atrasada, então queria pedir desculpas para vocês disso.

Era para eu ter vindo ontem. Estou quase 24 horas atrasada, na verdade, porque era para eu ter estado com vocês aqui na mesa de ontem. Quero pedir desculpas, mas quero dizer que fiz questão de vir, porque acho importante não só prestigiar o evento, mas conversar com vocês.

E aproveitei nessa mesa que a gente ia falar com o CIAMP, com a nossa diretoria de população e situação de rua do ministério, para reforçar o compromisso do ministério com essa agenda. Então, acho que só para pedir minhas desculpas pelo atraso, pela correria aqui, pelo atabalhamento. Quase que não foi, gente, está vendo?

Eu falo rápido, com pressa, então é uma tristeza. Mas espero que tenha sido, acho que, uma discussão... Eu sei que a gente sempre, em relação à população e situação de rua, tem um acúmulo de discussão com o CIAMP, com a cidade civil como um todo.

Eu falo isso e falo realmente em todos os espaços quando eu posso. O CIAMP é um dos colegiados e uma das instâncias de participação social mais qualificadas para a discussão política pública em que a gente tem contato no governo federal, o diálogo, e tenho o privilégio de participar. Então, não só pela pressão qualificada que faz, pela honestidade no diálogo, mas também pelo respeito nessa troca.

Então, acho que a gente não pode perder isso. A participação tem mudado e tem ganhado feições e nuances muito diferentes nas últimas décadas. A gente sabe que passou por um período muito difícil de diálogo interrompido, de diálogo bloqueado.

A gente está tentando retomar esses lugares, essas pontes, esses espaços. A gente sabe que não foi fácil a cidade civil nesse momento. Também não foi fácil quem é servidor público e teve que trabalhar no governo.

Não foi fácil, foi difícil para todo mundo nas suas diferentes dimensões. Mas quero dizer que acho que o CIAMP é um dos colegiados que mais entendeu e rapidamente tem feito, voltado para esse diálogo, numa base democrática. Então, quero de novo aqui agradecer esse diálogo franco e aberto que a gente tem.

Eu repito também sempre que posso. Eu não vou mentir. A gente vai lá como ministério, a gente tem limites.

O governo federal, o Poder Executivo têm limites. Acho que o Malu deve ter tocado um pouco nessa discussão. A gente se debate, inclusive, dentro do ministério, o tempo todo, dentro do governo o tempo todo, dentro do poder público como um todo.

Então, a gente não tem... A gente tem limites, inclusive, do que é possível fazer em relação a obrigações para estados e municípios. Apesar de a gente ter leis aprovadas para a população em situação de rua, apesar de a gente ter decretos aprovados, apesar de a gente ter normativos, decisões judiciais, a gente ainda tem muita dificuldade de implementar planos intersetoriais voltados para as diferentes necessidades e demandas da população em situação de rua nas três esferas.

A gente tem dificuldade na União, gente, no Poder Executivo Federal. Quanto mais a gente pensar nos 5.560 municípios. Então, a gente precisa admitir isso para conseguir avançar.

Eu sei que a gente tem um acúmulo de discussão. Esse seminário é mais uma materialização desse compromisso. Queria agradecer o convite da Fiocruz e a iniciativa, que também tem sido uma parceira nossa de muito tempo em diferentes temas, mas também, em especial, no tema de população em situação de rua.

Quero agradecer mais uma vez a realização desse seminário, da discussão, acho que de alto... Eu não vi nenhuma, mas eu vou acreditar em vocês que foram todas de alto nível, tirando a que a gente não entendeu, mas assim, Laura, o resto... Na próxima, gente, é isso.

O pessoal tem que falar para a gente aprender e, na próxima, garantir toda a acessibilidade para todo mundo durante o seminário. Mas o momento agora é não só da reflexão. Acho que a gente já refletiu demais.

Todos vocês sabem exatamente o que a gente precisa fazer para as políticas de população em situação de rua. A gente sabe, e é por isso que a gente fica agoniado todo santo dia, quando a gente vê que a gente não conseguiu avançar o quanto quis. Não só nos últimos anos, mas desde 2009, quando a gente começou a formalizar, porque essa luta é muito anterior a 2009, mas quando a gente começou a formalizar, do ponto de vista do governo federal, o que seria esse arranjo normativo mais geral para políticas voltadas para a população em situação de rua.

Eu acho que a gente precisa, efetivamente, pensar em estratégias de organização ADPF. A gente teve uma esperança e uma crença de que, agora, talvez, alguma coisa vá... Acho que coisas foram, mas a gente ainda sabe que são, em quantidade, em montante, em velocidade, insuficiente para as demandas da população que hoje está na rua e são as mais variadas.

Então, eu queria que, mais uma vez, não vou prometer que a gente vai resolver todas as coisas, mas eu quero me comprometer enquanto Ministério dos Direitos Humanos, em nome da Ministra Macaé, em nome da nossa equipe que atua tanto na Secretaria Executiva quanto na Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, para que a gente consiga dar concretude para essas entregas. Vocês me viram falando na reunião do CIAMP, a primeira que eu fui, acho que no ano passado ainda, não é, Malu? A gente estava e falei, gente, vamos reformular o plano, vamos passar o plano pela validação do CIAMP, vamos resolver o que tem.

Não é para pegar o plano e jogar fora, mas vamos ver se a gente consegue recuperar o que está aqui, avaliar, ter um olhar, uma lógica validada com a sociedade civil, com o CIAMP e com o olhar do povo da rua. Porque não adianta a gente fazer uma coisa de gabinete e isso não tem nenhum respaldo. Então, a gente tem tentado agora, com o PARTAM, avançando, ouvindo vocês, as críticas, inclusive, tentando resolver, vamos ver se vai dar certo, são tentativas.

Então, a gente é uma política inovadora e toda política inovadora vai depender de ajustes ao longo desse momento. Então, quero mais uma vez contar com a parceria de vocês para a gente conseguir caminhar. Acho que dentro dos limites orçamentários, vocês já sabem, vocês têm todo esse panorama, a gente não vai dourar aqui a pílula, mas dizer que o Ministério dos Direitos Humanos, assim como outros ministérios que são nossos parceiros e que estão com a gente na educação das ruas visíveis e em outras instâncias também, tem o compromisso de a gente conseguir seguir avançando.

Se tudo der certo, há passos mais velozes no que depender de nós. É isso, gente. Obrigada e desculpa mais uma vez o meu atraso.

[Intervenant 8]
A gente agradece a presença da secretária, ainda que atrasada, mas chegou para finalizar aqui com a gente, acho que finalizar o encontro e finalizar aqui a mesa também. E acho que é importantíssimo, a gente vem sempre debatendo, a secretária vai, a gente fala um monte de coisas para a secretária, olha aqui, a gente quer o censo da população em situação de rua, a gente precisa de dados para formular as políticas, a gente vem trazendo, precisa olhar para a questão das crianças e adolescentes, a política precisa representar também os diferentes graus de autonomia das pessoas que estão na rua, é diverso, é heterogêneo, como a Malu falou, mas também tem diferenças em questão de autonomia. Eu vou passar agora a fala para o debate, a gente encaminhar aqui as falas abertas, são quantas falas a gente consegue fazer?

[Intervenant 14]
Então a gente faz um bloco de quatro perguntas. Ana Alice, nós temos o Juney desse lado, organizando a inscrição, e desse lado, a Alessandra. A gente vai ficar pingando, ?

Então faz uma aqui, vem para cá, vem para cá, vem para cá, tá certo? Pode fazer? Pode, Janine?

[Intervenant 23]
Então, eu quero fazer minha pergunta para a secretária executiva Janine, é um prazer vê-la aqui, estamos juntos em diversas partes, mas no campo internacional, você sabe que é a minha praia, onde eu tenho atuado bastante, nas datas internacionais da população de saúde rua. Gostaria de saber como que o governo federal tem atuado naquele projeto do ODS-19, acho que você pode falar alguma coisinha importante, o ministro já falou na abertura aqui também, sobre a questão que o Brasil está ocupando agora a presidência pró-tempora do Mercosul, e na sexta conferência de desenvolvimento social América Latina e Caribe, ao qual eu participei representando a MNPR. A gente conseguiu aprovar um documento para os chefes de Estado da CEPAL, que é a criação da Comissão Permanente de População em Situação de Rua, que não tinha, e também, dentro desse documento, Janine, também foi colocado o dispositivo do apoio à criação desse ODS na região.

[Intervenant 14]
Então, eu queria saber como estão essas tratativas, e creio que você deva me chamar futuramente para a gente poder também avançar com isso. Obrigado.

[Intervenant 20]
Oi, sou a Annalice, do colaboratório Pop Rua Polo Pernambuco. Vou falar um pouco só da experiência que a gente está tendo lá, que foi assinado, tanto em Recife como em Olinda, o plano. E, nisso, a gente tem discutido no CIAMP, dentro do CIAMP estadual, que tem lá, a importância do CIAMP nesse processo de estar ali o tempo todo colocando a questão do plano estadual, colocando cada questão que precisa estar, que vai ser um plano.

Foi um plano para a população em Situação de Rua, um plano decenal. Esse já foi outro desafio, de dizer que a gente não queria só um plano, tem que ser decenal para garantir que aconteça. Outra questão de estar brigando para ter o orçamento lá discriminado bem direitinho, porque é uma coisa que a gente acaba esquecendo um pouco.

É que precisa ter lá uma questão do orçamento bem delimitado e que a gente até queria colocar essa pergunta para aproveitar, tanto para o Malu como para o secretário, essa questão de como fazer os municípios quando traçarem essa questão do plano, a população em Situação de Rua no PPA, nesse Plano General, como é que está destinado o orçamento para isso, para a população em Situação de Rua, ter isso garantido também nos planos. Então, essa parte para dizer que vai fazer o plano, é muito bonito, mas precisa ter certo, vai tirar de onde, vai ser quanto, destinado, e que isso vá para o portal de transparência, que as pessoas tenham acesso. E aí, lá em Pernambuco, a gente, enquanto colaboratório, a gente tem estado muito junto com os comitês, tanto municipais como estaduais, para a gente estar dando esse apoio, essa força no que a gente puder colaborar no sentido de estar nessa escrita, estar nessa construção junto com o movimento da PopRua.

Então, é só essa questão que eu queria colocar. Obrigada.

[Intervenant 18]
O meu é mais agradecer à secretária executiva, Janine, e dizer do compromisso. Tanto que Janine, quando assumiu, quanto a Élida agora, eu, toda semana, o CIAMP Rua criou uma autonomia. É claro que a gente está na dire...

Eu estou na diretoria, mas o CIAMP Rua, ele é do MDHC. E a Élida colocou isso muito bem claro, da autonomia do CIAMP. Eu acho que isso até para o plano das ações.

Eu tenho despacho com a secretária toda semana. Toda semana. O que nós não conseguíamos no passado, a Malu até falou, ó, se você tem autonomia, vai lá, despacha direto.

Vai lá, faz direto. Mas não, tem momento que é. Mas eu queria trazer, só rapidamente, o informe.

O CIAMP Rua fechou o edital de eleição e, pela primeira vez, a segunda nós tivemos muito problema, a primeira nós tivemos muito problema, ? Agora, pela primeira vez, com essa democracia, autonomia que o governo está dizendo, nós conseguimos 17 OSCIS. 17 organizações se inscreveram para o CIAMP Rua, para o processo eleitoral e seis movimentos sociais.

Para nós, é uma conquista dessa democracia e participação do CIAMP Rua. Então, o edital se encerrou no dia 20. Nós agora estamos com a equipe eleitoral lá fazendo o processo e nós vamos ter a eleição bem democrática e participativa do CIAMP.

Eu peço a quem está nos assistindo, a Ensp e a Fiocruz, também convidou o CIAMP a agradecer aqui, a Ensp e a Fiocruz. E, claro, eu queria só este informe, que o ano que vem nós não vamos fazer agora, por causa da Conferência Nacional de Direitos Humanos, da 13ª, o CIAMP Rua está na organização da conferência, mas o ano que vem nós iremos fazer o terceiro encontro nacional de política pública para a população de rua. Já está lá, já estamos organizando, o CIAMP Rua vai organizar.

Então, a própria secretária executiva, tanto a ministra, perdiu para o CIAMP e o CIAMP atendeu de fazer até maio o terceiro encontro nacional, porque depois vem a eleição, vem o processo e a gente não quer fazer incisão. E é esse convite que eu faço a todos, todas aqui, de nós melhorarmos com este Seminário Internacional com a Ensp e a Fiocruz promoveu e fazer um de alta potência, escuta e democrática. Vou passar aqui, porque não era só um emboragador de informe.

[Intervenant 19]
Boa tarde a todas, todos e todos. Eu sou a Thais Matos, sou médica do consultório na Rua de Fortaleza. Eu me inscrevi só para fazer um comentário mesmo, bem rápido, e também para falar sobre a questão das mulheres em situação de rua.

O que a Laura me falou me tocou muito, porque eu sou médica, atuo no consultório na rua, e a sua história, Laura, é a história de diversas mulheres que eu escuto em situação de rua, e eu acho que a situação das mulheres em situação de rua, o Estado é muito corresponsável do que acontece com as mulheres. Eu estou com a situação de uma paciente que está em situação de rua desde os 10 anos de idade, e, assim, ela foi para a rua porque a mãe dela faleceu, e ela disse que deram um papel para o meu padrasto como responsável da minha vida, e ele era o estuprador dela. E toda vez que ela fugia de casa, o Estado devolvia ela para o estuprador.

E ela engravidou aos 14 anos de idade. Ou seja, o Estado é responsável dessa mulher que hoje está com 38 anos, está em situação de rua desde os 10 anos de idade. Então, a gente se depara com situações terríveis como essa na nossa vida, vivendo com essas mulheres em situação de rua.

E aí eu queria falar sobre a questão da lei que garante a distribuição de absorventes, da questão da pobreza menstrual, e o quanto é difícil ainda para as mulheres em situação de rua receber os absorventes. Se no plano ruas visíveis tem algo que garanta essa distribuição dos absorventes, e seria muito bom. A gente teve um tempo lá em Fortaleza que esses absorventes eram distribuídos pelo consultório na rua, mas agora não está sendo mais distribuído.

E eu acho que seria ótimo que esses absorventes fossem distribuídos nas unidades de saúde, pelo consultório na rua, porque essas mulheres não têm acesso a receber esses absorventes de outra forma que não sejam através dessas políticas que elas têm mais acesso. Era isso. Obrigada.

[Intervenant 16]
Boa tarde. Eu sou Hugo Fagundes, sou médico-psiquiatra da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, da Superintendência de Saúde Mental. E a gente desenvolve um trabalho, e eu acompanhei quando talvez o município do Rio tenha sido o primeiro município que assinou a adesão ao Plano Ruas Visíveis.

Se não foi o primeiro, foi um dos primeiros. Isso é completamente irrelevante. Mas o fato é que...

Como é que é a implementação? A pergunta é meio pouco para a Malu, para a Janine, mas a Laura também, do lugar da potência que ela tem, pode falar um pouco disso. Como é que a gente consegue fazê-los?

Primeiro, é uma questão de como colocar o Plano Ruas Visíveis realmente visível para a população. Porque nós, que trabalhamos no campo, às vezes o perdemos de vista. Em 2023, tinham 304 milhões para a saúde.

Nós montamos em 2023, no Rio de Janeiro, atrás do Inca, no centro da cidade, um par. Eu acho o equipamento estratégico, acho que ele é o ponto inicial de toda a aproximação, de toda a construção do acolhimento junto à população de rua. Desde que ele esteja plural, aberto, acompanhe liberdade, tenha a possibilidade de, a partir dali, você fazer a inserção.

Esse recurso, executado como? Como é que implementa? Como é que a saúde pode utilizar uma parte desses recursos para implementar?

O Rio de Janeiro precisa de mais par, não tenho a menor dúvida disso. É uma experiência extremamente potente. Então, a gente tinha agora um par no pé da mangueira, que a gente teve que desmontar porque, na verdade, vai ser a Casa da Mulher Brasileira, muito justo, interessante, mas precisamos de outros.

A gente precisa desse equipamento. Eu queria ouvir um pouco de vocês como é que a gente está pensando e, sobretudo, como é que a gente deixa isso visível para a população.

[Intervenant 14]
Obrigado. Oi. Eu estou voltando.

Eu sou o professor Lisboa.

[Intervenant 16]
Tenho mal de Parkinson. Desculpem o meu tremor. Essa mesa é repleta de mulheres e faz feliz.

Como executoras, como articuladoras. E eu queria dizer uma coisa só. Hoje, para nós, é histórico.

Porque nós tivemos a capacidade de lotar esse plenário por várias vezes. Isso é uma bênção de Deus. Quem segurou Brasília, nós estamos falando de uma conferência internacional.

Quem segurou Brasília comercialmente, durante a pandemia, foram os moradores de rua, porque tudo fechou. E nós estávamos lá gastando. As casas...

É. Foi lockdown, ? O nome?

É englesado, ? Mas nós estávamos lá comprando e não deixamos o comércio parar. E hoje o setor comercial de Brasília está funcionando.

Assim como é São Paulo com qualquer outra capital. Obrigado. E Deus abençoe todos nós.

Representantes, moradores ou situação de rua. Obrigado. Tá aqui, Joana.

[Intervenant 12]
Ixi, já é muito surpresa representar a senhorita Joana aí, forte guerreira do movimento. E foi uma ótima oportunidade conhecê-la, porque uma guerreira que saiu das ruas e cria seus filhos praticamente sozinha. Uma mulher muito exemplar, uma mulher muito guerreira.

E que a gente se espelha nela, porque sozinha, eu estou custando dar conta. Hoje, de manhãzinha, sofri uma violência verbal. E a pessoa falou, eu vou te matar, vou te matar.

Uma mulher estava... Ninguém defendeu. Eu e minha senhora estávamos sendo agredidas verbalmente por ela.

Uma moça, uns 20 anos, estava drogada. E ninguém defendeu. Foi só nós duas mesmo que nos defendemos um pouco.

Mas eu estou com medo, receosa, por causa da senhora. Porque quando a pessoa implica com a cara, eu nunca nem falei nada para essa pessoa. E aí, uma vez, eu chamei a polícia para outra pessoa para falar, às vezes mediar, não é entrar em conflito.

Às vezes mediar, igual falou o senhor. E a polícia nem procurou falar. Ficou, foi curtindo com a minha cara.

Aí Deus fechou a minha boca, porque tem vezes que Deus não fecha a minha boca. Eu falo. Deus fechou a minha boca para não falar, por isso está curtindo com a minha cara, porque você não vai levar ela nem para conversar nem nada.

Uma pessoa que está falando que vai te matar, ela não precisa de nome, depois você vai lá e faz o B.O. Sem nome, sem nada, sendo que o policial... Então, temos que parar de falácias. Nós estamos cheios de falácias.

Falácias tem um monte no papel. A gente quer saber de ação concretizada. Qual ação vocês têm aí para defender nós mulheres, principalmente, que nos pop, a gente não encontra, nos capos.

Estou indo no capos, tem a mensagem aqui. Eu conheci a coordenadora, subsecretária, subsecretária sei lá de quantas. Falou assim, vou te ajudar na consulta.

Nada, só está adiando. Um capos que eu fiquei traumatizada de ir. Eu tinha ido dois anos atrás.

Primeiro eu procurei por causa de uma insônia. Pensava que era só uma insônia. Mas não era só uma insônia.

Aí fui parar nas ruas por causa disso, de ficar doente. Aí você perde o trabalho, perde a dignidade, perde a casa, e o sistema de saúde, e o sistema político, e as políticas públicas que fica falando aqui. Cadê?

Cadê? Eis a questão. Cadê?

Cadê essas políticas públicas sendo concretizadas? Gente, eu nunca tinha tido, eu tinha tido outra vida. Já estudei em melhores colégios de Goiânia, já convivi com gente rico, de outras classes, mas agora, e aí não adianta.

Eu fui numa sala ali, eu estou vendo, a sensação é de mestrados, doutorados apresentando a tese. Aí o cara falou lá, ah, lá a gente é cobaia. E eu estou me sentindo uma cobaia aqui.

Eu quero ver concretização. Quais as concretizações que vocês têm para mostrar no papel, no papel mesmo. Que negócio de falar se um monte de gente está morrendo aí na rua.

Morrendo por uma implicar com a cara, porque está limpo. Morrendo pela mulher. O outro policial, não tendo treinamento, tem que ter um dos movimentos e ir nos órgãos públicos, treinar o pessoal, treinar o pessoal dos órgãos públicos para atender a população de rua.

A população de rua não é bicha. Eu vi um apanhar e não pude falar nada. Levou lá para depois, primeiro chutou o cara, chutou a cabeça, quase pôs a arma na minha cabeça quando eu ia descer no setor comercial.

Eu passei na linha da cruzada. Eu levei um susto. Uai, o que é isso?

Do nada, os dois policiais ali, costas na parede, era o outro cara. Mas a arma estava cruzada assim na minha cabeça, na linha reta. Então, gente, não é assim, não.

A gente não põe em perigo a vida de outro que está passando na rua para abordar o outro. Então, a polícia não está sabendo nem abordar as pessoas. Me abordou de um jeito que eu mesma fiquei rindo.

De onde a senhora veio? Do hospital. Quando a senhora chegou?

Agora. Uai, que tipo de abordagem é essa? Não, então...

E a gente também vai no café com escuta da senhora Márcia, uma senhora muito prestativa, que escuta a voz, escuta a nossa voz, e a gente vê lá que eles vão lá só para serem escutados. Então, a gente precisa ser escutado. Eu quero saber de vocês que estão na mesa aí quais as concretizações, sair essas palácias do papel.

[Intervenant 22]
Gente, obrigado. Meu nome é Caio. Eu queria fazer uma pergunta sobre o plano pelo seguinte.

Eu estou com o plano aberto aqui, fui checar para não falar bobeira, mas o único momento em que a palavra óbito aparece no plano é no eixo 4, Cidadania, Educação e Cultura, sobre a ação proposta Operação Inverno Acolhedor. A minha pergunta é qual a prioridade dentro do plano de prevenção e monitoramento dos óbitos da população em situação de rua nacionalmente. Hoje, o IPEA, e aqui o Marco Natalino ao meu lado, tem trabalhado nisso, mas me admirou desde o primeiro instante isso não ser um ponto no plano ruas visíveis de uma política de monitoramento de óbito de população em situação de rua, sobretudo após a pandemia, a atenção que esse tema ganhou.

Hoje, à luz de toda essa discussão, depois de quase dois anos de plano, como isso está sendo pensado no plano ruas visíveis e como isso está sendo debatido no CIAMP-Rua?

[Intervenant 14]
Acho que agora a gente vem para a mesa para responder.

[Intervenant 8]
Acho que a gente pode começar pelo Malu e a secretária e a Laura. Quem quiser comentar aí as perguntas.

[Intervenant 15]
Oi, oi.

[Intervenant 2]
Gente, eu estava falando aqui para a Sheila que eu precisava de 20 minutos para responder a complexidade de tudo que foi perguntado. Então, assim, eu vou tangenciar, mas fica em aberto esses diálogos aqui e eu estou à disposição. Vamos lá.

A Ana e o colega aqui do Rio de Janeiro, eles tocaram ambos num ponto que ele é fundamental, o orçamento. A Ana até falou uma coisa que é engraçada, ? Às vezes a gente esquece dele, que é o fundamental.

Não adianta a gente elaborar política, a gente elaborar plano de ação sem ter uma garantia de repasse orçamentário. O orçamento hoje, tanto no governo federal quanto nos estados e municípios, ele é por pastas. Então, cada pasta gere o seu orçamento e tem a obrigatoriedade, ou não, de colocar a previsão orçamentária para programas e políticas para a população em situação de rua.

Eu vou ser honesta com vocês. Qual é o mecanismo de garantia de previsão orçamentária que a gente tem hoje? Mobilização social, participação social e poderes judiciários e legislativos que também contribuem nesse processo.

Então, por isso, eu queria tocar nesse ponto que a Ana também trouxe. Instituição de Ciampi Rua. É com Ciampi Rua que se constroem os planos.

A Laura e a Sheila, que estavam aqui, inclusive, durante a construção dessa primeira versão apresentada do Plano Ruas Visíveis, que eu ainda não estava aqui, trouxeram esse resgate histórico, que é muito importante, que foi um plano que poderia ter sido muito melhor construído com Ciampi. A gente sabe, a secretária Janine trouxe, da potência do Ciampi Rua enquanto esse órgão de discussão mesmo, que traz vozes de diversos territórios, etc. Então, ponto um, não funciona tentar construir plano de ação, tentar construir política municipal, política estadual, sem participação social e sem Ciampi Rua.

E o Ciampi Rua, os Ciampis Ruas e os movimentos da população em situação de rua, precisam estar cada vez mais munidos de informações sobre o processo orçamentário para que possam cobrar e acompanhar. Porque é isso que faz a gente ter uma garantia orçamentária. Isso e a decisão judicial da DPF 976.

Então, Janine trouxe... Nós, enquanto Poder Executivo Federal, não podemos tudo. Não consigo obrigar um município, não tenho poder de obrigar um município a executar alguma coisa.

A gente tem que ir utilizando das instâncias possíveis e dos arranjos que a gente consegue. Sobre o Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, a gente tem uma situação complicada, porque o Rio de Janeiro não assinou o termo de compromisso com o Plano Rua Visíveis.

Não assinou. A gente fez uma cerimônia, a gente se reuniu para fazer uma assinatura simbólica, mas, na hora da prática, a gente ainda não garantiu essa assinatura no município do Rio de Janeiro. E, aí eu vou trazer o segundo ponto, a gente não tem a instituição do Ciampi Rua no município do Rio de Janeiro.

O que dificulta bastante a nossa atuação, porque aquele processo que eu trouxe para vocês, assina o Plano Rua Visíveis, a gente faz o diagnóstico do município do Rio de Janeiro. Eu não tenho o diagnóstico do município. Eu não sei quantas vagas de acolhimento tem no Rio de Janeiro.

Eu não sei se o município do Rio de Janeiro tem política específica para a hidratação da população de ruas. Se tem banheiro. Não sei quantas vagas habitacionais o município do Rio de Janeiro tem.

Por que eu não sei? Porque o município do Rio de Janeiro não responde ao Integra PopRua, a ferramenta do governo federal de monitoramento das políticas locais. Então, essa é a nossa dificuldade de entrar no município.

, quando a gente tem esse diagnóstico, a gente entra e constrói o Plano de Ação Conjunto. Mesmo o município do Rio de Janeiro não tendo garantido a assinatura do Plano Rua Visíveis, atualmente eu tenho um convênio no valor de R$ 8 milhões com a Secretaria de Assistência Social do município do Rio de Janeiro para a execução de 50 unidades habitacionais na modalidade Moradia Primeiro, que não começou a implementação, mas a gente está esperando que essa implementação comece no ano que vem.

Por quê? Porque a gente já conseguiu identificar que era um ponto de fragilidade no Rio de Janeiro. Habitação, que a gente sabe que é na maior parte dos municípios.

São poucos os municípios... Eu sei que Niterói... Eu não estava aqui, mas minha equipe me contou que Niterói veio aqui e apresentou que, mesmo sem a obrigatoriedade legal, está instituindo 5% das unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida para PopRua.

O Flávio foi lá e viu. Está lá garantindo a boa execução. Então, vejam bem, não existia essa obrigação legal e o município de Niterói está executando.

Isso aí é raridade, a gente sabe. Mas essa é a nossa dificuldade. A gente não tem um instrumento legal assinado e um diagnóstico do município para a gente entender onde estão as lacunas.

Então, a nossa transferência de recursos, como é que é? Ela é por pasta. Saúde transfere fundo a fundo.

Assistência transfere fundo a fundo. MDHC, Ministério de Direito Humano, não tem fundo. A gente faz, então, transferência para estradas e municípios por convênio.

Mas, sem esse diagnóstico, a nossa situação fica difícil. Então, por isso, a gente conta sempre, a gente anda lado a lado com os movimentos sociais, com o processo de participação social muito bem instituído. Fazer a PopRua caber no orçamento para responder a colega que falou sobre a questão da dignidade menstrual, eu juro que eu não vou me alongar, gente.

Estou sendo mais rápida que eu consigo. Não falo rápido igual a Janine. Não consigo.

Tem dois caminhos que a gente costuma dizer que eles são fundamentais. Um, garantir que a população em situação de rua esteja incluída nas políticas já existentes. Então, eu não vou criar uma política de saúde mental específica para a população de rua.

É CAPS. É RAPS. A rede está instituída.

Em alguns casos, a gente precisa da garantia de uma política específica para a população de rua. No caso da dignidade menstrual, a política que a gente tem atualmente, que é você faz um cadastro no GOV e leva, para quem não sabe, você leva na farmácia e aí você retira o seu absorvente. Como é que a gente vai fazer isso para uma população que a gente não monitora quantos por cento tem acesso ao celular e à internet?

Não se sabe. Mas a gente sabe que a maior parte não tem. Como é que a gente faz isso?

Então, a gente precisa de mecanismos de garantia de acesso. Isso a gente está trabalhando com o Ministério da Saúde. Dizendo para a saúde.

Saúde, legal, mas não contempla o nosso público específico. E aí, por isso, esse olhar específico para a população de rua é sempre necessário. Caio trouxe monitoramento de óbitos.

Tema fundamental. Eu não trouxe essa questão dos dados hoje. A Sheila até tangenciou, mas a gente vem construindo esse processo.

Inclusive, em parceria aqui com a Fiocruz, com o Ministério da Saúde, é urgente e fundamental que a gente trabalhe dados sobre população e situação de rua. É fundamental. Então, para além de pesquisa sensitária.

Pesquisa sensitária é uma coisa, ir na rua e contar. É fundamental que a gente entenda como é que a gente pode integrar os dados. Hoje, a gente não sabe do que a população e situação de rua está morrendo.

Caio está certíssimo. A gente não tem uma meta forte suficiente dentro do plano ruas visíveis que responda a isso. Se a gente não sabe quantas morrem e do que morre, como é que a gente vai prevenir a mortalidade da população de rua?

Então, atualmente, a gente não está atuando da forma que a gente deveria atuar neste ponto. E é por isso que a gente precisa, principalmente dos ministérios que têm grandes bases, saúde, desenvolvimento e assistência social, a gente precisa criar estratégias. O que a gente quer monitorar e como é que a gente quer monitorar?

E a gente vai precisar de um esforço integrado. A gente espera que, no próximo período, o governo federal consiga responder essa demanda tão importante. Acho que é isso.

Eu queria trazer muitos outros pontos, mas o tempo é curto. Espero que a gente se encontre em diversos outros momentos. Eu estou à disposição.

Obrigada.

[Intervenant 8]
Obrigada, Malu. Você falou do contexto histórico e também contribuindo aqui com a resposta do Caio. Nessa tentativa dos conselheiros da sociedade civil em possibilitar que no plano ruas visíveis tivesse mais informações, quando a gente recebeu a primeira versão do plano, mesmo com o curto tempo que ele foi apresentado, a gente tentou voltar para as nossas bases e aí, Caio, a gente construiu um documento e encaminhou para o CIAMP, pelo Fora da Cidade de São Paulo, e uma das questões que a gente colocou nesse documento como indicativo foi justamente, entre vários pontos, a gente foi indicando item por item, mas um dos pontos que consta nesse documento que está lá, mas embora não apareça no plano ruas visíveis, é a necessidade

[Intervenant 14]
desse monitoramento dos óbitos. Eu queria falar para a Diva, mas ela nem está mais aqui.

[Intervenant 6]
Não, mas é isso. É concordar com a palavra da nossa companheira Diva, porque o plano de dignidade menstrual realmente não nos alcança, porque a população de rua não tem celular. Sim, um ou dois, três, mas a gente não tem celular.

E mesmo quando a gente tenta fazer no celular para mais de uma pessoa, não vai. E mesmo quando alcança, nós temos aquele estigma em cima da gente, o preconceito. Quando a gente chega lá na farmácia para pegar o dito do absorvente, eles falam, ah, não tem.

Você está vendo lá um monte de aldais sempre livre, não sei o quê, mas eles falam para a gente que não tem, porque o que é dado para a população de rua é o mais inferior possível. E nós, mulheres, sabemos que nós temos fluxo diferente. Mulheres precisam de absorventes diferentes.

Então, não tem como quando aceitar, quando chegar, ser aquela folhinha de papel. Para mim, eu ia ter que pôr o pacote inteiro na época que eu menstruava, porque, graças a Deus, eu não menstruo mais. Mas, na minha época, eu teria que pôr aquele pacote inteiro.

Você entendeu? Então, a gente está lutando, sim, nós, mulheres lá do SIAMP Rua, estamos lutando, sim, para mudar essa lei, para mudar a forma de ser projetada isso para a população de rua. A gente já tivemos reunião com a Janine, ela deu muita atenção, ela vai também falar sobre isso, e a gente pede que, sim, seja disponibilizado nos postos.

Por que a camisinha pode e o absorvente não pode? Porque o consultório na rua tem acesso, porque eles estão na ponta, ali, com as pessoas. Os movimentos sociais, como nós, nós estamos na ponta.

Eu tenho vídeos, vários vídeos, que sempre que eu faço uma ação na rua, eu vou no consultório na rua, pego uma sacola de absorvente, faço a minha roda de conversa, e depois eu distribuo para as mulheres. Ah, mas o meu é forte, dou dois, dou três. Ah, porque a gente tem que ter, realmente, a dignidade menstrual e acesso a essa dignidade.

Não é só na palavra, tem que se cumprir.

[Intervenant 4]
Bom, gente, vou fechar aqui. Malu, acho que passou por quase todos os pontos, deixou os mais difíceis para mim. Queria só deixar isso aqui bem dito.

Estou brincando. A pessoa fala, deixa eu, deixa eu. Só para deixar brincando.

Gente, é o seguinte, acho que deixa eu tentar, vou pegar o gancho da Laura para a gente falar sobre o programa de dignidade menstrual. Tem problemas de desenho, tem de formulação, a gente já tinha feito um diagnóstico um pouco disso para outros públicos também, em especial para adolescentes, então também é uma outra questão. Adolescentes, situação de vulnerabilidade, não necessariamente situação de rua, mas é isso, achar que a menina vai chegar lá na farmácia, vai entrar sozinha, vai pedir, não sei o quê, tem todo um estigma, não sei o quê, então tem algumas lacunas que precisam ser resolvidas.

No caso de população em situação de rua, eu estou achando que a gente pode avaliar, viu, Malu? Tem uma conversa com a saúde, eu não sei se tem alguém do Ministério da Saúde aqui, porque eu cruzo um vale. Da saúde eu sei que tem muita gente, mas assim, do Ministério da Saúde específicamente.

Ah, . Ah, boa. Eu acho que a gente precisa fazer um diálogo para ver se, primeiro, qual é efetivamente o impedimento de ter um consultório na rua, porque eu acho que esse é um...

Eu acho que devia ter em vários locais, eu não acho que um local só resolve. A gente precisa ter uma rede ampla em relação a isso, inclusive porque o próprio governo tem uma avaliação de que a distribuição está abaixo do esperado, então eu acho que há intenção de rever esse desenho e começar a repensar a estratégia. E eu acho que a gente devia avaliar se não dá para colocar os PARS, os novos que a gente vai colocar, como um dos pontos de distribuição, se vocês acharem que é uma ideia que faz sentido.

Então, assim, a gente vai ter que ver um pouco com a saúde como é que efetivamente é esse procedimento, mas eu estou dizendo aqui que é uma intenção, ? A gente vai estudar para ser uma possibilidade além de outros pontos que possam ser interessantes, porque o que a Laura falou é isso, gente, assim. Não adianta pressupor que uma mulher de situação de rua vai entrar na farmácia e vão dizer, tá aqui, minha senhora, chegue por favor, veja bem, não sei o quê.

Preconceito está em todos os lugares, nos teatros, em todos os lugares, a farmácia não é livre, ela não é um lugar, um paraíso no meio do mundo, ela é um lugar em que essas coisas também são replicadas. Então, partir do pressuposto de que todo mundo entra na farmácia da mesma forma, não é verdadeiro e não tem aderência com a realidade. Então, acho que a gente precisa fazer essa discussão, e acho que esse é um ponto bem concreto, do tipo de demanda que eu gosto, assim.

Que a pessoa chega, nós temos um problema, vamos resolver isso, vamos fazer uma conversa ali, Anderson também, com o pessoal do Ministério da Saúde, para apresentar essa demanda de maneira bem objetiva. Então, sobre dignidade menstrual, acho que é isso, a gente dá um retorno para vocês na próxima reunião do SEMPRE, porque eu não sei quando é, mas deve ter alguma esse ano ainda. Então, é para a gente fechar o nosso calendário do ano.

Sobre a pergunta do Flávio, sobre a coisa internacional, Flávio também chegou para mim, acho que o Flávio foi uma das minhas primeiras reuniões. Cheguei no Ministério, o pessoal falou, parabéns, estamos aqui. Uma reunião assim, mil BOs, um deles era o Flávio, já dizendo, vocês, não sei o quê.

Eu falei, cara, acabei de chegar. Eu sou do Ministério, eu entendo, eu sou do governo, mas ainda não fui eu, não. Eu falei, daqui para frente sou eu.

Para trás eu só peço desculpa, mas eu não tenho exatamente como explicar. Mas desculpa aí qualquer coisa. Então, foi um pouco essa a linha.

A partir de lá não, a partir de lá tudo é culpa minha mesmo, viu, Flávio. Mas, enfim, gente, acho que tem uma coisa para a agenda internacional que a gente combinou que foi. O Flávio chegou com uma demanda muito específica, não só dele, mas uma discussão mais geral do movimento de maneira mais ampla para como é que a gente leva a discussão de população em situação de rua para a agenda internacional, que pode parecer estranho quando a gente ainda está discutindo como é que a gente entrega modos para a mulherada na rua.

E como é que nós agora queremos discutir lá em Genebra, não sei o quê. Mas, assim, essas discussões não são excludentes, elas precisam acontecer em conjunto, porque eu acho que a gente ganha força e ganha uma dimensão maior. Então, assim, acho que são duas coisas que precisam acontecer de maneira coordenada.

E vocês estão percebendo aí também ao longo do, eu acho que nos últimos anos, tem acontecido um movimento, outros países aparecendo, semana passada várias matérias no jornal. Então, essa é uma coisa que tem aparecido de maneira mais estruturada na agenda internacional. Então, Flávio chegou com a demanda de, ó, ODS19.

A gente acabou de aprovar o ODS18 enquanto país. E, assim, para aprovar um ODS pode parecer que é super assim. O povo senta, chega em uma reunião, faz um texto, todo mundo vota, é aquele jeito de reunião da ONU lá, todo mundo bonitinho, naquele microfone, paísinho, Brasil em cima.

Não é assim. Então, tem toda uma agenda e demorou um tempo para a gente recuperar, , Flávio? Inclusive, como é que foi esse processo?

Mais de uma década de discussão em relação ao ODS18. Eu olhei e falei, Flávio, não adianta a gente partir do pressuposto que nós vamos montar um comitê e daqui até o final de dezembro de 2026 nós vamos fechar um novo ODS, que não funciona com essa lógica. Então, a gente vai ter que fazer aquela estratégia antiga de várias frentes para a gente começar a fazer com que o assunto pipoque em diferentes lugares.

Isso seja, quando for fazer a discussão mais estruturada do ODS, isso já não ser mais um debate, isso ser um consenso. Na área internacional, você precisa de consenso. Nada é decidido ainda quando o povo tem dúvida.

A verdade é essa. Anos e anos as coisas demoram. É outro tempo.

É um tempo completamente diferente do nosso tempo da política pública dentro do país. Então, tem uma outra discussão. Então, a gente foi montando, Flávio, fazendo várias articulações junto com o movimento, para entrar nessa agenda em diferentes locais, uns com mais, outros com menos entrada.

Mas, vou dizer, acho que quatro grandes, três ou quatro grandes estratégias que a gente tem tentado atuar do ponto de vista internacional. Um é colocar nas falas da ministra, oficiais, que ela vai, aí sim, Chico, Genebra, Nova York, aquele negócio todo. Ela começou a inserir a discussão sobre uma agenda internacional de população em situação de rua, pensando as suas diferentes dimensões.

Inclusive, em alguns países, uma sobreposição muito forte no nosso, inclusive em algumas regiões, com a discussão sobre migrantes. Então, uma discussão complexa, uma discussão que tem várias dimensões, várias camadas, e que a gente precisa fazer. Então, a gente agora, do ponto de vista...

Primeiro, ela fez isso na fala dela. A gente definiu que lá... Mais uma vez, gente, tempos de ano.

, fez isso em fevereiro desse ano, que foi a agenda dela em Genebra. Eu voltei em setembro lá para fazer uma segunda conversa, depois de seis vezes, para uma pessoa ansiosa como eu. Isso é desesperador, mas eu estou aprendendo.

Cheguei em setembro para falar, vamos fazer o rascunho do DRAT lá, que é o negócio que vai ser aprovado, a nota conceitual. Tudo, ? Com vários países.

Só que isso parece pouco, mas, do ponto de vista dessa lógica de funcionamento da ONU, é um passo essencial e é super difícil conseguir. A gente precisa agora, só para vocês entenderem assim, cinco países, um de cada região do mundo, apoiando essa nota. Então, a gente está exatamente nesse momento.

A gente tem o Brasil, já a França, e a gente está tentando regimentar outros três países. Então, já estamos, a gente e o Macron, roladinhos aqui, tentando fechar já essa nota conceitual em fevereiro do ano que vem. Macron, nosso amigo aí, já de várias discussões, nessa também está junto com a gente.

Então, falei com a embaixadora da França em setembro, que assim, a gente vai conseguir avançar nessa discussão, do ponto de vista de inserção do tema em Genebra. E essa nota conceitual é colocada para votação, os países aderem ou não a ela. Feito isso, tem eventos, discussões, protocolos comuns, não sei o quê, aí a agenda entra.

Então, esse é um lado. Vamos colocar esse assunto na ONU. Esse é um pedaço ali.

A outra questão é esses organismos multilaterais que a gente tem regionais. Então, Cepau, Raad. Na Raad, a gente tem uma agenda que é fechada, de dois em dois anos.

Para a Raad, agora, a gente tinha dois temas que já tinham sido aprovados. Então, a gente tem pouca flexibilidade para inserir novos temas. Mas a gente quer colocar para a discussão das próximas a Raad e a do Mercosul.

É onde eu estava hoje, um pedaço do dia lá no Itamaraty, porque a gente está sendo presidência pro tempore da Raad esse ano, esse semestre. Então, essa é uma discussão para a gente inserir lá. Só que, para além disso, construindo tudo isso, a gente fez, com as critérias gerais, uma discussão interna.

Porque uma coisa é a gente fazer propaganda para fora. Outra coisa é o que a gente garante internamente para começar a caminhar para esse futuro GT para discutir os ADS. E aí, a gente tentou montar, junto com as critérias gerais, a gente está discutindo montar um grupo para garantir consenso em relação aos dados.

Porque se a gente tem dificuldade de dados no âmbito nacional, avalie o que a gente não tem de dificuldade no âmbito internacional. Então, tem levantamento. A Flávio capturou um deles.

A gente tem outros levantamentos feitos por instituições. Semana passada saiu um pessoal acho que do Insper, também, que apareceu com os dados internacionais. Então, este é um tema em franco debate.

Eu só acredito quando Natalino e Flávio sentarem e fecharem um dado para mim internacional. Entendeu? Eu acho que a gente precisa andar, além dos outros dados que a gente precisa fazer, Marco, acho que essa é uma decisão para a gente começar a apresentar do ponto de vista de estratégia regional e internacional.

Então, só para dar uma visão mais ampla. Não vou dizer para vocês, assim como eu falei para o Flávio, nós não vamos aprovar um ADS-09 até dezembro do ano que vem. Não vamos.

Não é possível. Mas a gente vai construir um caminho de consenso para que, quando a gente proponha, não tenha mais o mais veja bem, as pessoas não vão aprovar, porque isso, no ano internacional, a gente não pode perder. Por isso que eles só botam em votação quando eles têm certeza que vão ganhar.

Então, a gente precisa entender essa lógica. É muito diferente da nossa discussão interna aqui. Então, acho que este é um ponto sobre internacional que estou falando para caramba, mas deixa eu acabar aqui meus pontos.

Diva, acho que também Diva fez a... expressa o incômodo que todos nós temos. Esse corpo que não é um corpo que está em situação de rua, não é um corpo que nunca passou sobre isso.

Eu não tenho ideia. Eu consigo imaginar, consigo ser solidária, consigo ter empatia e ter o compromisso político e institucional com a luta da população. Mas eu não sei exatamente o que é dormir na rua, gente.

Então, assim, eu não vou fingir aqui que eu entendo exatamente o que é passar pelo que a Diva disse, porque é desonesto da minha parte. Eu não entendo. Mas eu tenho, como servidora pública, o compromisso e a obrigação de conseguir tentar garantir concretude, porque a gente faz dentro do Ministério, o que eu vou fazer em qualquer Ministério que eu tiver.

Quando eu estive na MDS, essa era uma agenda que eu queria sempre participar. Na MDHC, eu tenho o privilégio de poder participar dessa discussão junto com vocês. Então, acho que tem um compromisso que a gente precisa assumir.

A concretude, vou repetir o que eu já disse, é insuficiente. Mas a gente, este ano, tentou, acho que, atuar em três frentes de... de uma parte de uma frente que era a correção.

Eu acho que é esse o diálogo com o CIAMP, que a gente tentou corrigir um rumo. O Malu, todo mundo que tem acompanhado a gente, o Anderson, chegou também e falou isso de maneira muito clara assim que eu entrei no Ministério. Ele disse, olha, está tudo errado, a gente precisa começar de novo e refazer essa discussão.

Então, eu cheguei lá e disse, gente, esquece o que foi, vamos começar do zero de novo aqui, se for possível. Então, uma coisa é essa reconstrução do diálogo com o CIAMP, para a gente conseguir pensar daqui para frente. O outro foi a gente conseguir transformar exatamente as ações que a gente fazia em ações com escala.

Então, quem me conhece sabe que eu sou uma neurótica por escala. Então, assim, o Brasil é um país gigantesco, a população de estação de rua teve um crescimento muito grande, não adianta a gente dizer que vai fazer um TED com uma instituição e isso vai resolver o problema. Não vai.

Então, assim, não adianta dizer, ah, eu fiz 50 TEDs aqui. Não é isso. A gente precisa tentar, do orçamento que a gente tem, fazer com que isso seja minimamente com alguma escala, com cobertura nacional dentro dos limites do nosso orçamento, obviamente, e que consiga girar o ponteiro.

Então, essa é a tentativa que a gente tem feito. A gente sabe que o número de par que a gente colocou no edital agora é suficiente. Sabemos disso.

A gente tem total concordância com isso. Mas é o que dá para fazer esse ano. Onde que vem a gente quer fazer mais.

Vai ser uma outra rodada e aí a gente vai aprimorando e testando até que a gente consiga universalizar isso no país como um todo, onde qualquer município que tiver necessidade, que a gente consiga daqui a alguns anos ter um par, porque é isso, ele é o mínimo. Ele é um ponto, é o básico, é essa porta de entrada e ele não compete com outros serviços que a gente tem. Ele não é o equipamento de saúde, ele não é o equipamento de assistência social.

Ele é o equipamento que talvez seja esse, para entregar o absorvente, para conseguir ajudar na mediação de conflitos que não dependam da polícia, para a pessoa poder entrar e ter onde deixar as suas coisas, tomar banho, beber água e receber um kit de higiene, receber minimamente, ser direcionado para outro serviço e para atender qualquer outra demanda que a gente defunda, obviamente, com a nossa equipe multidisciplinar, vocês vão ajudar a gente a treinar, inclusive, para que isso seja feito de maneira mais adequada.

Então, assim, e uma outra discussão que a gente fez, que é em relação à habitação, que era isso, eu confesso, vou dizer para vocês, eu tenho muita, eu tenho críticas ao moradio de assadão, não a metodologia, mas a nossa capacidade de escala, mais uma vez. A gente não tem orçamento suficiente para fazer o moradio de assadão no Brasil inteiro. Então, são poucas unidades ainda que são feitas.

Eu acho que isso é importante como um projeto inicial, para a gente saber corrigir rumos, que também se me dessem 100 milhões de reais hoje para fazer, não ia ser suficiente ainda, mas se me dessem um bi de dinheiro só para fazer o moradio de assadão, eu ia ter medo de a gente saber, eu não tenho convicção hoje que ele dá certo exatamente nos moldes que a gente está pensando. Então, esses primeiros, essas primeiras unidades que a gente está fazendo, elas vão servir, inclusive, de aprendizado para o governo conseguir avançar nessa agenda. Então, eu vou conseguir dizer, ó, deu certo e agora eu preciso de X milhões para fazer tantas unidades.

Mas a gente conseguiu avançar com as cidades na questão do 3% de unidades habitacionais Minha Casa Minha Vida, que pode parecer fácil, pode parecer que é pouco, mas foi difícil para caramba, , Malu? Conseguir isso. E agora, ano que vem, a gente tem que ver se vai funcionar, porque agora, ano que vem, a gente precisa efetivamente dar entrega dessas unidades no âmbito do Minha Casa Minha Vida e vocês vão ajudar a gente a controlar para saber se está dando certo ou não.

Então, é um pouco essa tentativa ainda é suficiente para a gente conseguir dar materialidade para as coisas e explicar para vocês os caminhos que a gente tem assumido lá no Ministério. Obrigada, gente. Desculpa que eu falei demais.

[Intervenant 8]
Bom, a gente vai finalizar essa mesa com os agradecimentos e aí, acho que para o evento ainda tem apresentação de um vídeo antes de terminar, ? Querem fazer os agradecimentos ainda e aí finaliza com o vídeo.

[Intervenant 19]
Gente, muito obrigada.

[Intervenant 2]
Estamos à disposição aqui, vocês sabem onde encontrar a gente.

[Intervenant 6]
É, gente, obrigada a todos e desculpa aí, a próxima vez eu prometo eu não pego mais caderninho, ? Não, gente, beijo e tchau.

[Intervenant 4]
Vão para casa, vão viver suas vidas, vão aí fazer o que vocês têm que fazer. Tchau, gente, tchau.

[Intervenant 17]
Obrigada. Agora teremos um pequeno vídeo da Ana Luíza Caldas, nossa parceira e articuladora do Projeto Trílias.

[Intervenant 15]
Olá, pessoal. Se vocês estão vendo esse vídeo, é porque infelizmente eu não pude estar aí com vocês. É por uma agenda externa brasileira e tentando chegar a tempo do encerramento do nosso Seminário Internacional de Trílias nas Ruas, mas se a gente está assistindo esse vídeo, é porque infelizmente eu não consegui estar aí presente.

Primeiro eu queria saudar, dar os parabéns por esse espaço incrível, que foi muito pensado, muito planejado, com muito carinho, com muito zelo por toda a equipe da Fiocruz, em especial da Escola Nacional de Saúde Pública, nossa ENSP, e com muita parceria com o IPEA, com o MDHC, o Ministério da Saúde e o Ministério de Desenvolvimento Social e dizer que é uma enorme felicidade para mim, enquanto Secretária Nacional de Atenção Primária da Saúde, poder trabalhar com a pauta das equipes de postura na rua, trabalhar direito a assistência à saúde, veterantina na nossa Constituição. E, claro, vocês melhores que eu já sabem, mas não custa lembrar que saúde é direito, não pode e nem deve ser um privilégio das pessoas que têm mais acesso em centros urbanos, e a gente precisa cada vez mais da voz, da ouvido e que essas ruas sejam visíveis, visíveis aos órgãos públicos, visíveis a nós que estamos na gestão aqui, enquanto Governo Federal e enquanto Ministério da Saúde, é uma pauta prioritária para nós, trabalhar com as pessoas que estão em situação de rua, que estão com seus laços estragilizados e, de alguma forma, estão ali com esses laços rompidos e hoje se encontram nessa situação de estar nas ruas.

A gente vem trabalhando muito em parceria, tanto com o MDHC, com o Ministério das Mulheres, enfim, uma gama de áreas técnicas aqui da espanada do Governo Federal, para a gente avançar cada vez mais na articulação do cuidado que a gente oferta para essas pessoas. A gente tem que evitar o máximo e a gente vem trabalhando muito para isso, para a gente centralizar os nossos personagens de saúde, sistema único de saúde, potencializar cada vez mais a atenção primária à saúde, que a gente também oferta para essas pessoas. E a gente sabe o quanto compacta, o quanto é importante a articulação de redes de atenção à saúde.

Acho que esse espaço, como Seminário Internacional, trouxe muitas provocações, debates. Eu tive o prazer de estar com vocês aí na tarde de ontem, ter ouvido o Padre Júlio. Você é uma grande figura, um grande profissional, incrível, trabalha com assistentes, as pessoas que estão na situação de rua, no município de São Paulo, mas tem muito a agregar e um protagonismo absurdo nessa pauta.

Acho que a gente tem muito a aprender, com as pessoas que também trabalham e transitam no nosso sistema judiciário, porque a gente sabe que mexer com políticas transversais não é simples, a gente tem que envolver de maneira intersetorial todas as áreas possíveis para melhorar cada vez mais o que a gente oferece de cuidado para as nossas populações. E as populações em situação de rua não são diferentes disso. Então, um especial agradecimento à professora Eline, que eu tenho um apreço e uma sensibilidade absurda.

Foi minha professora e é quem eu admiro muito, muito, muito, muito. É uma grande referência de saúde pública para mim, mas a professora Denise e os diversos atores que tiveram envolvidos nesse processo para a gente poder ter o êxito que está sendo esse seminário. E agradecer demais, demais, demais a participação dos movimentos sociais que estão presentes, que trouxeram debates, trouxeram vozes e a gente precisa dar cada vez mais espaço para vocês trazerem a realidade do território.

Sem vocês a gente não consegue avançar. Então, vale meu agradecimento muito especial a todos vocês e a toda a coordenação de acessibilidade do próprio Ministério da Saúde, que trabalha de maneira muito transversal essas pautas, com todos vocês que estão aí representando. A Lília, a nossa coordenadora, Lília Gonçalves, um grande abraço.

[Intervenant 17]
Nós agradecemos a Ana Luíza Caldas, o Trílias agradece a participação de todos. Fechamos o seminário internacional. Agora, divulgando o nosso site com QR Code, para que você, aí da sua casa, a partir da transmissão, possa acessar também.

Informamos que no dia 29, 30 e 31, ainda deste mês de outubro, ocorrerá em Recife, Pernambuco, o oitavo encontro da Rede Nacional de Consultórios na Rua. Informamos também que no dia 13, 4 e 5 de novembro, ocorrerá a formação de liderança comunitária para a população em situação de rua em Maceió.

[Intervenant 14]
Muito obrigada a todos.


As observações e reflexões apresentadas a seguir não têm caráter de crítica, acusação ou certeza. São apenas hipóteses e percepções a posteriori, construídas a partir da escuta e da experiência durante o seminário e no contato com o tema. O objetivo é contribuir de forma respeitosa para o debate sobre políticas públicas e inclusão social.

Percebe-se que o Brasil conta com pesquisas e ações significativas voltadas à população chamada de “em situação de rua”. Essas iniciativas demonstram comprometimento institucional e uma preocupação legítima com a dignidade e os direitos dessas pessoas. As pesquisas, certamente, têm a função de orientar as autoridades públicas e de permitir uma compreensão mais detalhada dos fenômenos sociais, para que o Estado possa agir com maior precisão e eficácia.

Mesmo assim, alguns participantes do evento reconheceram que, apesar dos esforços e recursos aplicados, a população de rua segue aumentando. Essa constatação convida à reflexão sobre as limitações das abordagens teóricas e sobre a necessidade de fortalecer o vínculo direto com as pessoas afetadas. Também se pode levantar, com toda a cautela, uma hipótese sensível: em determinados contextos, o aumento das medidas assistenciais — como abrigos, alimentação gratuita ou programas emergenciais — pode, de forma não intencional, reduzir a pressão de saída das ruas. Essa ideia não pretende criticar as políticas existentes, que são essenciais, mas apenas sugerir uma análise equilibrada entre ajuda imediata e soluções estruturais, como moradia, emprego e acessibilidade social.

Outra reflexão importante diz respeito à linguagem institucional. No Brasil, utiliza-se a expressão “pessoa em situação de rua, que buscou substituir a antiga “população de rua, considerada estigmatizante. Essa mudança representa um avanço linguístico, pois evita a impressão de que se trata de um grupo fixo e permanente. Ainda assim, a expressão “em situação de rua” pode, involuntariamente, dar a entender que essas pessoas pertencem a uma categoria social estável ou natural, como se viver na rua fizesse parte de sua identidade.

Também merece atenção a própria palavra “população”, que causa certo desconforto por transmitir a ideia de um grupo homogêneo, quase como uma comunidade ou povo dotado de identidade própria e automática solidariedade interna. Quando se fala em “população de rua” ou mesmo “população em situação de rua”, corre-se o risco de transformar uma condição social em pertencimento, como se quem passa por essa realidade se tornasse membro de um “grupo” à parte — uma espécie de categoria social fixa, um “clube dos esquecidos, ainda que involuntariamente.

Essa forma de nomear pode acabar diluindo a individualidade de cada pessoa e reforçando estigmas. Do ponto de vista mais humano e civil, é importante recordar que não se trata de uma população distinta, mas de cidadãos e cidadãs que, por diversas razões, se encontram sem abrigo ou sem moradia. Cada um possui sua própria história, e não necessariamente partilha de uma identidade coletiva.

O uso do termo “população”, além disso, pode soar redutor e estigmatizante, pois tende a confinar os indivíduos e suas singularidades dentro de uma comunidade à qual não escolheram pertencer. A maioria das pessoas que acaba nas ruas não o faz por opção; trata-se de uma circunstância de exclusão, não de adesão a um grupo social. No entanto, ao rotulá-las como “população de rua”, a linguagem as transforma em membros de um coletivo forçado, o que é injusto e impreciso.

Para efeito de comparação, pode-se notar que a sociedade evita empregar a palavra “população” em outros contextos sensíveis: não se fala “população homossexual”, “população estrangeira”, “população judaica” ou “população de origem africana”. Em todos esses casos, tal formulação seria percebida como discriminatória ou redutora. Por que, então, se normalizou dizer “população de rua”? Essa expressão parece supor a existência de um segmento fixo da sociedade que pertenceria às ruas — uma ideia que, além de linguística e logicamente equivocada, contradiz o princípio da cidadania universal.

Tal reflexão reforça a importância de rever a terminologia oficial e adotar expressões mais neutras e humanas — como “cidadãos sem abrigo” ou “pessoas temporariamente sem moradia” — que descrevem uma situação transitória, e não uma identidade social. Essa abordagem reconhece que cada ser humano, independentemente de sua condição momentânea, permanece um cidadão com direitos e dignidade.

Essas considerações finais pretendem apenas abrir espaços de diálogo e reflexão construtiva, na esperança de que a terminologia, as pesquisas e as ações públicas possam continuar evoluindo em direção a uma sociedade verdadeiramente acessível e inclusiva — para todos, inclusive para as pessoas autistas que permanecem invisíveis nesse contexto.

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